Relato(rio)s semanais 2009-2010

RELATÓRIOS ANO 2010.1

TEMAS: Interculturalidade – Colonialidade – PER – Educações Ambientais – EAD

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Encontro GEAD do 19 de fevereiro de 2010

Anotações de: Patrizia Imelda Frosch

Presente: Eleni, Fernanda, Fernando, João, Karla, Manoel, Marcelo, Marclécio, Mazinho, Patrizia, Pedro, Teresa, Vanessa, Vivi.

João inicia o encontro pedindo desculpas por não poder apresentar uma música prevista para este momento, porque o pen-drive não aceitou a “salvação”.

Em seguida Mazinho pede a permissão para convidar Cecília para a apresentação de sua pesquisa sobre arte africana no dia 26.02.

Como temos dois novatos no grupo todo mundo se apresenta.

João resume o objetivo dos estudos do GEAD deste ano: Como integrar as reflexões sobre colonialidade dentro da Educação Ambiental e Popular. Em seguida apresenta alguns membros do grupo ausentes. Adriana, Magda, Karla (que mais tarde se junta ao grupo e apresentará seu projeto que está desenvolvendo em Irauçuba), Beatriz que trabalha com a pedagogia da alternância onde os alunos permanecem 15 dias na escola e 15 dias em casa fazendo um trabalho no campo relacionado à sustentabilidade, modelo de educação realizado primeiramente na França após a segunda Guerra Mundial, quando famílias de agricultores se reuniram em comunidade para se ajudar e educar mutuamente. Trata-se de unidades produtivas que mantém diferentes unidades de produção nas quais todos os membros da comunidade trabalham em rodízio.

Mazinho pergunta por que não existe uma ressonância maior deste modelo.

João explica que o Governo Lula retomou a idéia e que tenta ampliar, mas que “ainda não é o que deve ser, mas que já é alguma coisa” e que é preciso criar estratégias de adaptação nas escolas públicas no campo. Depois ele segue na apresentação dos ausentes. Viviane Coutinho que é Arte-Educadora, Lívia professora do Estado, Mayara Assistente de comunicação do TerraMar e que faz um trabalho com vídeo e gênero nas comunidades do litoral cearense, Ana Maria que é coordenadora do GEAD e que trabalha com grupos que atuam na preservação do meio ambiente. Neste instante Vanessa se junta ao grupo e se apresenta como bióloga.

Terminada a apresentação João lembra o cronograma dos relatórios e Fernando faz a proposta de definir para cada reunião dois relatores e um suplente caso faltar um dos comprometidos. Se os dois relatores estão presentes o suplente automaticamente passa a ser um dos relatores do próximo encontro. Também João faz questão que os relatórios de uma reunião anterior sejam apresentados na seguinte.

Para o mês de fevereiro e março se comprometeram as seguintes pessoas:

19/02/10   Fernanda, Fernando   

26/02/10   Pedro, Teresa     -       suplente: Mazinho

05/03/10   Mazinho, Priscila -       suplente: Eleni

12/03/10   Eleni, Vivi          -       suplente: Manoel

26/03/10   Manoel, Patrizia -       suplente: Marclécio


Eleni chama a atenção para o cronograma dos temas dos encontros de 2010 e pede inscrição das pessoas que não estavam presentes no planejamento-avaliação.

Para o dia 26/02 além da Adriana, da Magda e da Ana Maria está prevista a apresentação da Cecília, os temas do dia 05/03 e do dia 12/03 são trocados, Mazinho muda do dia 26/03 para o dia 23/04, Patrizia se inscreve para o dia 23/04, 14/05 e 11/06 (não peguei se houve outras inscrições).

Em seguida Eleni fala sobre o Atelier Bibliográfico a ser realizado nas quintas feiras no horário de 18:30h – 21:00h. Nestes encontros é estudada a metodologia e os participantes fazem a própria bibliografia. O texto já está disponibilizado.

João explica que esta metodologia foi aplicada em 2008 em Irauçuba e que é parte da tese da Karla. Trata-se de escrever a própria história para nos ajudar a escrever a história. Nós nos formamos na relação com os outros. Cada um escreve sua história que é compartilhada e integrada pelos outros. Houve uma demanda no grupo por isso foi decidido oferecer esta oportunidade valiosa.

Ainda falta a distribuição das restantes obras de Paulo Freire que deverão resultar em um texto a ser publicado em setembro. Deverá ser apresentado um esboço em maio e uma elaboração mais avançada em julho. Ficaram responsáveis :

Obra                                                Pessoa(s)

Pedagogia do Oprimido                               Manoel, Patrizia
Pedagogia da Esperança                             Lívia
Pedagogia da Autonomia                             Vivi
Educação como prática da Liberdade             Eleni
Por uma Pedagogia da Pergunta                   Ana Maria
Educação e Política                                    Magda
Educação e Atualidade Brasileira                  Fernando
Extensão ou Comunicação                           Fernanda
Medo e Ousadia                                         Mazinho
Ação cultural para a Liberdade                     Mayara
A sombra dessa Mangueira                          João


Eleni ainda fala sobre o Encontro de Educação Popular que vai ser realizado pelo GEAD. Surge a proposta de incluí-lo dentro do primeiro congresso de Educação Ambiental que ocorrera no Ceará.

João chama a atenção para a mudança de coordenação no grupo Mover e informa que Vivi assumirá a coordenação dos encontros no Gead. Também informa que material como artigos publicados estão a disposição na sala do GEAD e Eleni se compromete a imprimir artigos publicados sobre temática ligada ao GEAD se alguém quer enviar ou entregar tais artigos. Também o GEAD mantém um acervo de livros que estão à disposição do grupo.

Terminados os assuntos formais e re-estabelecidos depois do intervalo as 10:26h Manoel inicia a apresentação de seu projeto.

O objeto dele é investigar sobre o uso que as famílias do assentamento de Angícos fazem dos recursos da natureza. Ele já fez um fichamento e está reorganizando o material para a primeira qualificação. Nesta altura ele sente falta de uma linha filosófica que dá embasamento ao trabalho. Está pensando em utilizar a contribuição de I. Carvalho.

João comenta que é possível trabalhar com a hermenêutica, mas que não é viável se restringir a esta autora já que defende uma hermenêutica tradicional. A hermenêutica avança em direção específica e não é bom se delimitar a um diagnóstico que é o que a hermenêutica faz. No se agarrar nela deixa-se de levar uma contribuição para a comunidade. Seria mais viável uma perspectiva dialética, dialógica, ver a característica que marca o grupo que é a pesquisa intervenção. Pode usar a perspectiva hermenêutica da I. Carvalho, mas não deveria se restringir a ela. A Educação Ambiental Dialógica pode ajudar como trampolim.

Manoel pensa em incluir a questão do semárido e de trabalhar a colonialidade da mãe natureza. Aqui João chama a atenção do grupo para uma questão importante que é aproveitar o que já foi produzido pelo grupo nesta área reclamando que “a gente está lendo pouco a gente”, ressaltando mais uma vez o trabalho da Beatriz que inclui autores muito antigos que trabalham a questão do semiárido,  também aconselha procurar o acervo do Instituto do semiárido e as obras do professor Botelho da UECE, que se especializou nas questões climáticas.

Segundo João, Manoel deveria se perguntar se existe uma lógica que mobilizou a comunidade a gerar o assentamento ou se foi instalado pelo próprio Estado. Seria interessante, por exemplo, discutir o MST a partir da experiência do assentamento.

Segundo Mazinho uma intervenção pode partir da resposta da experiência da comunidade na questão ambiental.

Manoel relata que aquele assentamento é muito organizado, mantém uma associação é ligado ao Sindicado dos Trabalhadores Rurais da Terra, apresenta projetos para o Estado, já tem cinco açudes e as famílias possuem parcelas.

Fernanda comenta que os assentamentos podem ser da Organização do MST ou de outras, ou dos moradores locais que posteriormente assumiram o MST ou somar comunidades onde uma é a favor outra contra o MST. Em Itarema, por exemplo, os jovens já negociam com a União terrenos para serem agregados e não mais assentados, eles têm radio, tem escola de ensino médio existe muita diferença de desenvolvimento e organização, mas todos se ajudam mutuamente mesmo tendo divergências. Segundo ela o que causa problemas em assentamentos é a separação em parcelas, quando não há um espaço comunitário compartilhado e uns decidem de plantar o que se torna nocivo para todos, como, por exemplo, semente transgênica distribuída pelo próprio Estado.

João pergunta o que é que se quer identificar e que é outra coisa entrar em uma comunidade para conviver, porque a própria convivência com o grupo forma a pesquisa. A discussão com a comunidade é a fonte da qual temos que beber (interpretação minha). A definição dos objetos fica mais clara.

Para encerrar Manoel formula a seguinte pergunta:
Quais práticas educacionais podem contribuir na construção de uma consciência ecorelacional? (será que entendi bem?)

A palavra final é com Mazinho que se incomoda (não somente ele) com a palavra “desenvolvimento ambiental”, ele assume o desafio de (des)construir este conceito para “envolvimento” (concordo Mazinho posso entrar no debate?)

É a vez do Pedro apresentar sua pesquisa. Ele trabalha no Tribunal de Contas que fiscaliza a gestão dos órgãos públicos. Gestão também tem a ver com meio ambiente. Uma boa gestão inclui o meio ambiente em seus projetos, uma má gestão faz projetos de qualquer jeito sem se dar conta das consequências ambientais. O TC em seu trabalho fiscaliza se os recursos são bem “gestidos”.

Se, por exemplo, a SEMACE emprega terceirizados para vagas de concursados, ou seja, profissionais do meio ambiente, o TC exige substituição, haja vistas que os terceirizados não sendo profissionais podem dar pareceres errados com consequências gravíssimas para o meio ambiente. Pergunta-se Pedro então (e peço desculpas se entendi errado) se os funcionários do TC estão cientes de ter intervenido (se bem indiretamente) para preservar o meio ambiente?

Pedro já fez 20 entrevistas semi-estruturadas com analistas, técnicos, auxiliares de técnicos e conselheiros. O que segundo ele mais marcou a discussão nas entrevistas foi que na política da qualidade ninguém aponta em relação ao meio ambiente exceto a conselheira que já reconhece que a política da qualidade pode trazer questões ambientais. Pedro se pergunta por que não apontam? Como o tema não surgiu, ele quer tematizá-lo e problematizá-lo através do circulo de cultura focando na Educação Ambiental Dialógica e na perspectiva Ecorelacional.

Terminada a apresentação de Pedro, Karla encerra o encontro resumindo seu projeto de pesquisa.

Ela apresenta seu trabalho em construção como parte de um projeto maior do GEAD. Ele é um projeto de transformação da realidade de nós mesmos, nossa individual e do grupo. Em seu trabalho ela quer estabelecer um diálogo entre Paulo Freire e a dimensão afetiva, ou seja, como sentimentos e emoções interferem com o ambiente sócio-físico (natureza/comunidade).

O objeto de Karla é a formação dos educadores ambientais destacando a dimensão afetiva como espaço de transformação das pessoas, da realidade de nós mesmos.

Como instrumentos metodológicos ela utiliza entre outros o atelier autobiográfico e os mapas afetivos. No atelier autobiográfico as pessoas relatam suas experiências, nos mapas afetivos transcrevem seus sentimentos da forma que acharem melhor (escrita, desenho, fotografia etc.). Na aplicação destes instrumentos ela se inclui com sua história de vida e seus sentimentos. Para não somente ouvir, mas também sentir as dificuldades pelas quais os moradores de Irauçuba passam, ela partilha momentos de seu dia à dia usando por exemplo, o transporte público, assim pode entender melhor as revoltas e discussões em torno da má gestão do transporte e da água. Quando no atelier autobriográfico trabalha o seu próprio conceito de identidade ela percebe que tem a ver com sua própria historia e relação afetiva com o lugar.

No entanto teve que constatar que a comunidade, que ao conhecê-la lhe parecia forte na luta e organizada, está fraca e apresenta um quadro de fragmentação comunitária, ou seja, lhe falta identidade e que a escola reflete o que a comunidade está passando, justamente esta fragmentação comunitária.

Os pais não querem se mudar do lugar, mas pelejam para que os filhos se afastem dele, ligando este ato a um futuro melhor. Ao transcrever seus sentimentos os participantes percebem que não se identificam mais com o lugar, não há mais apropriação do espaço.

Depois da coleta e organização dos dados obtidos nessa primeira etapa Karla volta à comunidade e apresenta os resultados para saber o que pode ser feito para mudar alguma coisa e se depara com o fato que o aluno é identificado pelos educadores como problema. Os educadores então são confrontados com seu passado, o tempo em que eles eram alunos. Faz-se uma análise posterior trabalhando o passado para poder pensar o presente e o futuro.

Fernando questiona aqui a questão do não se identificar mais com o lugar. Ele se pergunta se isso é um problema geral, global e se as pessoas não se identificam mais porque as coisas mudaram, porque entram outras idéias que não são aceitas.

(Comentário meu: para mim não é questão de outras idéias, mas estritamente ambiental, ou seja, uma de rural e urbano. Nós somos seres da natureza e a urbe é um artifício que afasta a natureza do homem, o aliena, faz dele um abstrato, um objeto e o faz acreditar que isso é natural, daí a violência contra objetos pode ser uma reação da natureza que somos contra a invasão de objetos para se defender e se manter viva e a não identificação também).

Segundo Karla o aumento da população faz com que a comunidade tem que enfrentar problemas da cidade. Por que? O fato de ter água atrai as pessoas, mas também é um problema. A água pode ser vista como um elemento formador. É algo de bom que traz coisas boas como o banho no rio, a chuva para a roça etc., mas também traz coisas ruins como as enchentes, chegar molhado na escola sem ter como trocar roupas, poluição das águas, sua contaminação que afeta a saúde, por exemplo, pela cólera etc.

Segundo Mazinho há também a tendência de lembrar só as coisas boas do passado, por exemplo, andar de cavalo que depois foi trocado pela moto com todas suas consequências.

Seguindo no seu relato Karla descobriu que mesmo diferentes as histórias de cada pessoa se encontram nas experiências que fizeram juntas, que se tornaram “história”. Elas se encontram nos sofrimentos, na dificuldade de estudar e do acesso à meios de transporte decentes, no contato com a natureza e no trabalho, na mistura de trabalho e lazer (banho no rio, sentar na calçada para conversar), nos sentimentos das mágoas, nas conquistas etc.

Para resgatar a história pelas recordações, brincadeiras, educação etc. dois grupos se aprofundaram mais usando material diversificado. Também foram realizados encontros com professores e os idosos e professores e alunos para conhecer o outro lado. Uma exposição de fotos acompanhada de música despertou sentimentos e mais outras lembranças. Foram apresentados dois textos para resgatar lembranças do texto que mais chamou a atenção. Outros meios utilizados foram poemas e músicas e por fim os participantes tiveram que reelaborar seus relatos para descobrir pontos em comum.

Termina aqui a apresentação de Karla com o aviso que logo ela estará na França divulgando Brasil afora a Educação Ambiental Dialógica e sua Perspectiva Ecorelacional.

Boa Viagem Karla e muito sucesso!
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Relatório do GEAD
Data: 19/02/2010
Autor: Fernando Leão

“Todas as teorias são legítimas e nenhuma tem importância. O que importa é o que se faz com elas”. (Jorge Luís Borges)

Primeiro encontro do ano de 2010.  Bastante gente na sala. Muitas relações a se fortalecer, outras a se constituir, algumas já constituídas a serem cuidadas para continuar a florescer. Em florescência. É assim que vejo o grupo em suas relações, brotando suas flores, se organizando em sua estrutura orgânica, sem ordens, sem leis, a não ser as que o próprio grupo elege como fundamentais para a fecundidade do trabalho. Estávamos lá eu, Mazinho, Patrízia, Fernanda, Priscila, Vivi, Manoel, Tereza, João, Maclécio, Marcelo, Eleni, Vanessa e muitos outros “eus” e muitos outros “outros” que se gestam nas relações de cada um. E é exatamente essa legião que arregimenta a argamassa de cada um de nossos encontros. Discutimos propostas do ateliê auto-biográfico, dos temas do semestre, dos livros do Freire que escreveremos artigos, do encontro de educação popular, das vídeo-reuniões com o MOVER... Que existe mais se não afirmar a multiplicidade do real? A igual probabilidade dos eventos impossíveis? A eterna troca de tudo em tudo? A única realidade absoluta? Seres se traduzem. Tudo pode ser metáfora de alguma outra coisa ou de coisa alguma. Tudo irremediavelmente metamorfose. (Paulo Leminski). Trabalho do Manoel no Assentamento Angico. Seria o nome do assentamento uma homenagem ao Paulo Freire? Não! Seria um assentamento do MST? Não! Então, avia, Manoel, vai procurar tua corrente filosófica, vai ler o professor botelho, atenta aos artigos do GEAD, me diz se a produção é em parcelas, visita o “Lagoa do Mineiro”, mapeia os assentamentos, define teu objetivo. Porque cultura é tudo aquilo de que a gente se lembra após ter esquecido o que leu. Revela-se no modo de falar, de sentar-se, de comer, de ler um texto, de olhar o mundo. É uma atitude que se aperfeiçoa no contato com a arte. Cultura não é aquilo que entra pelos olhos, é o que modifica seu olhar. (José Paulo Paes) E vamos ao trabalho do Pedro. Práxis educativa? Prática educativa? Dimensão educativa da prática? Não entendo. Não entender é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completo quando não entendo.(...) o bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doido. É um desinteresse manso, uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais, mas pelo menos entender que não entendo. (Clarice Lispector) E o trabalho da Karlinha? Com professores da Josefa Clotilde no Missi. Fala de uma formação que transforma, pequisa intervenção, educação ambiental dialógica amalgamada com a psicologia ambiental e no final dá nisso: afetividade, mapas e poemas. Bom trabalho a tod@s, companheir@s. Todavia prossigamos! Seja de que maneira for! Saiamos a campo para a luta, lutemos, então! Não vimos já como a crença removeu montanhas? Não basta então termos descoberto que alguma coisa está sendo ocultada? Esta cortina que nos oculto isto e aquilo, é preciso arrancá-la! (Bertolt Brecht).
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RELATÓRIO DO GEAD 26/02/2010 (Pedro e Mazinho)
    Cantina da Gina. Nosso encontro começa naquele espaço. Chegamos de mansinho com sorrisos, beijos, abraços, lamentações e novidades. Desta vez lembramos fatos que já queríamos ter esquecido, mas ainda estão vivos entre nós. Entre conversas e risos é chegada a hora de buscarmos um novo lugar. Lá onde serão dadas as contribuições para as pesquisas individuais após breve apresentação do andamento destas. Hoje quem protagoniza o momento são: Adriana, Magda e Ana Maria. Digo melhor, Adriana e Ana Maria. Onde está a Magda? Não sabemos, mas já temos um grupo composto por Pedro, Adriana, Eleni, Marclécio, Ana Maria e Bebê, Manoel, Lívia e Mazinho. Quem serão os relatores? Pedro e Mazinho. O próximo será feito por Tereza e Priscila com a suplência de Eleni. Mazinho irá faltar no dia 05/03/2010, pois tem compromisso de trabalho.
         E o relato do encontro passado? Fernando mandou, aliás, mandou ver, e vimos: poesia, literatura e texto acadêmico. Esta salada deliciosa a qual foi complementada por uvas trazidas por nossa parceira Eleni. Ela nos pediu que tirássemos de um depósito plástico uma uva entre tantas e comêssemos. Assim foi feito. A maioria na esperança de comer outra doçura foi rápido no engolimento da deliciosa fruta. Ela nos pediu que fizéssemos tudo de novo, mas com a vagareza,  mordendo lentamente  e saboreando o delicioso fruto. Tarefa fácil! Depois nos questionou sobre os sentimentos da vivência fundamentada no livro Para viver em paz: o milagre da mente alerta de Thich Nhât Hanh. O texto do livro é: fazendo as pazes com um gomo de tangerina. Quem fazia as pazes com a tangerina era Lívia que saboreava a fruta cítrica trazida de casa num cantinho localizado ao funda da sala.
         Quem começa a apresentação? Adriana começou a apresentação do seu trabalho em andamento, cujo o título é : Reciclando o cotidiano da relação homem-“lixo”: uma abordagem dos aspectos sócio ambientais-formativos, a partir dos marcadores do discurso do lugar no assentamento- “Boa Esperança/Lagoa do Mangue em Sobral Ceará.
                           Vi ontem um bicho
                    Na imundície do pátio,
                    Catando comida entre os detritos.

                    Quando achava alguma coisa,
                    Não examinava nem cheirava:
                    Engolia com voracidade.
             
                    O bicho não era um cão.
                    Não era um gato.
                    Não era um rato.

                    O bicho, meu Deus, era um homem.
   
         (O bicho, Manuel Bandeira)
            Adriana começa a descrever suas impressões e sentimentos das  viagens em busca de conhecer “Por que as pessoas não jogam o lixo nos espaços públicos do assentamento Boa Esperança / Lagoa do Manga.”
MAZINHO INTERROMPE: Você já sabe que eles não jogam o lixo...?
ADRIANA DIZ:    É verdade, preciso explicar, mas antes você vai ter de esperar, pois logo chego lá...e chegou e disse, são vivências companheiros, frutos de outros momentos parceiros...
     Então Adriana continua dizendo que quer  “CONHECER OS ASPECTOS SÓCIO-AMBIENTAIS FORMATIVOS  DA RELAÇÃO HOMEM – LIXO”
     MANOEL interrompe: Por que não trocar CONHECER por INVESTIGAR... ELENI concorda e parece reforçar: no investigar você vai conhecer os hábitos... Adriana mais que vexado aceita e já escreve o recado (contribuição).
     Adriana lentamente continua sua viagem...( só lembrei de nossa ída no Fiat para a Taíba), Adriana proseando com Lívia e eu prá tomar a direção...
      Ela fala nas relevâncias e volta a dizer que vai INVESTIGAR – ELUCIDAR e  DESVELAR...e nós  quietos a APRECIAR...
      Uuufa! Chegou na METODOLOGIA...a companheira retorna a viagem e Eleni sinaliza que quer perguntar – É Pesquisa Participante? Houve momentos de trocas ao longo da pesquisa?
      Adriana na ponta da língua menciona; É participante no sentido de técnica, mas realmente ainda não houve no sentido de interação grupal.
       E a viagem continua...(vamos garantir a fala da companheira não é prof. Manoel?)... Adriana apresenta as falas dos marcadores e como se estivesse apreciando um chá da tarde...foi contando os causos e suas impressões...
       Quando pensávamos que era a hora da Aninha narrar...eis que Adriana vai começar...brincadeira ela vai é nos agraciar com as imagens de suas ídas ao assentamento... ela aproveita para contar  a história de cada fotografia...
        Ressalvadas as brincadeiras, o chá da tarde de Adriana foi bastante apreciado por todos, foi até generosa, pois para não nos engordar com biscoitinhos ela nos serviu chá com recheios de SENTIMENTOS DE PERTENCIMENTO AO LUGAR – COMUNIDADE.
        É isso aí companheira, como diz Manoel, seu trabalho está indo muito legal...aproveite o  que falou o pessoal!
Soneto para Ana Maria
Florescimentos e florescimentos!
Glória às estrelas, glória às aves, glória
À natureza! Que a minh'alma flórea
Em mais flores flori de sentimentos.

Glória ao Deus invisível dos nevoentos
Espaços! glória à lua merencória,
Glória à esfera dos sonhos, à ilusória
Esfera dos profundos pensamentos.

Glória ao céu, glória à terra, glória ao mundo!
Todo o meu ser é roseiral fecundo
De grandes rosas de divino brilho.

Almas que floresceis no Amor eterno!
Vinde gozar comigo este falerno,
Esta emoção de ver nascer um filho!
(Glória, Cruz e Sousa)
            É a sua vez ANA MARIA  e o soneto não adivinha?  São folhetins de MAZIM para você e a Sofia (?)...
Aninha com o buxo pelas guelas...ataca as uvas e as panelas... (gente foi tentativa de rimar, ela comeu apenas uma banana, dois cachos de uvas e uma tangerina da Lívia)...
            Abastecidas as meninas, apresentou o DILEMA atual e as questões que estão presentes no projeto...falou em SABERES e PRÁXIS ambientais...
Diz que tem como proposta o SABER PARCEIRO – perspectiva educativa (intervenção)
Eleni como sempre contribuindo, foi logo sugerindo: Pense em definir seu cronograma, as etapas do projeto, o período para a intervenção, pois logo vem o presentão (nascimento da pequenina Sofia ?)...
            Aninha falou também na 1ª qualificação, com medo da sugestão, da então progressão...são quatro lagoas? Pergunta Eleni, é eles sugeriram (responde Aninha).
            Então muda tudim (a banca da qualificação), pois num aguenta com o buxão. É só mostrar o buxão que a banca:  “tadinha” quatro não...
            Pedro pede licença, pois agora é ele que já não aguenta, tem que retomar prá sua agenda...
                                           beijos a tod@s
                                           Mazinho e Pedro
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Relatório do encontro do GEAD – 05/03/2010

Inicialmente há comentários sobre a beleza do quadro de retalhos construído no ateliê autobiográfico na quinta-feira. Em seguida, Pedro faz a leitura do relatório da reunião do GEAD do dia 26/02/2010. João homenageia Patativa do Assaré ao destacar que este estaria fazendo cento e um anos neste dia.
Fernando conduz dinâmica integradora através da escuta de diversos ritmos musicais e atividade com balões na sala ao lado. Todos retornam a sala e João faz um resumo do que foi feito até aquele momento e explica a dinâmica como um trabalho de exercício e experimentação de outras linguagens. E, Fernando diz que a dinâmica ajuda a entender que se pode interagir com o outro “sem perder de vista o que é nosso”. Há uma troca de idéias de como todos estavam na dinâmica.
Num terceiro momento, Elenir trata do assunto da Interculturalidade e Práxis docente, apresentando slides. Assim, cita alguns textos e livros de autores comprometidos com movimentos sociais e com a interculturalidade. Ao final da exposição, percebe-se que a interculturalidade é um assunto ainda recente, já que a utilização do  termo intercultura passa a ser usado pelos documentos oficiais do Conselho Europeu a partir do início dos anos 80.
É uma pena que uma dimensão da valorização, respeito e interação das diversas culturas seja tratado no Brasil a tão pouco tempo, pois num país marcado pela miscigenação a cultura do colonizador branco se impôs com violência e desrespeito. E, a discussão a cima traz a lembrança de um movimento muito peculiar e pouco estudado que aconteceu no Brasil nos tempo da dominação portuguesa, período colonial, chamado de santidade ameríndia, a qual foi duramente esmagada. Em poucas palavras, foi um culto religioso com dinâmica própria repleta de elementos das culturas dos índios, brancos e negros, na qual a religião trazida e imposta pelos portugueses alcança o indígena. Contudo, foi, também, um reflexo da colonização que busca colonizar até mesmo o imaginário, invadindo a mitologia tupi. E, ainda, poderia se pensar numa interculturalidade no Brasil já na segunda metade do século XVI, uma vez que os membros da santidade ameríndia eram de raças diversas e unidos proferiam uma mesma crença, no tocante a religiosidade?
 Depois de um intervalo, Fernando reinicia o tema da interculturalidade, colocando trechos de dois documentários com os respectivos títulos Nanook e Nascidos em bordéis. Ao final dos vídeos, todos debatem sobre os elementos de culturas diferentes que se chocam e também interagem.
Nesta sexta estavam presente no encontro do GEAD: Adriana, Pedro, Tereza, Danielle, Mazinho, Patrizia, Lívia, Ana, Elenir, Magda, Manoel, João, Fernando, Mayara, Marcelo, Maclécio e Priscylla. Os colaboradores deste relatório são Tereza e Priscylla.
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  Relatório Reunião GEAD 06/03/2010


Presentes: Adriana, Pedro, Tereza, Danielle, Mazinho, Patrízia, Lívia, Ana, Eleni, Magda, Manoel, João, Fernando, Mayara, Marcelo, Maclécio e Priscylla. Os colaboradores deste relatório são Tereza e Priscylla.
Tivemos o prazer de iniciar nossa manhã, contemplando um maravilhoso trabalho de pintura produzido pelo gead no planejamento semestral, chamado por Eleni, de dinâmica do tapete. Todos admiraram, elogiaram e se divertiram relembrando sua produção.

Pedro, caprichoso como sempre, leu o relatório da reunião anterior elaborado juntamente com Mazinho, embalado com muita alegria e riqueza de detalhes. Como se não bastasse de arte, poesia e repente, ainda tivemos na entrada a maravilhosa dinâmica do Fernando, mais um dos nossos talentosos artista, agora na arte sensibilizar.  Ouvimos, sentimos musicas dos mais variados ritmos com muita dança, atividades com balão individual, em dupla, trio e finalmente em grupo.
Depois de todo esse preparo, estávamos no ponto para mais um fabuloso dia de troca, discussões e muito aprendizado, embora quase mortos de cansados.

De acordo com a temática Interculturalidade e Práxis docente, relativo à nossa programação semestral, tendo como responsáveis: João, Fernando e Eleni, a última iniciou apresentando a contextualização da cultura através dos slides sobre Interculturalidade e práxis docente. Inicialmente apreciamos uma linda amostra de fotos que expressavam diversidades culturais relativo à construção da identidade, suas principais colocações foram sobre as relações que envolvem a interculturalidade. Entre os comentários, João relatou o interesse do professor José Marín pelo tema, embora não seja professor com vínculo universitário, ressaltou também o engajamento de Fleuri como membro do grupo que está responsável pelo mapeamento das culturas no Brasil. Eleni explica que é necessário mostrar diferenças e diversidades como principais pontos a serem observados para estudar o tema interculturalidade.

Relativo à dimensão histórica que tem como base na colonialidade – colonialismo até chegar a Interculturalidade, João comenta que trabalha a partir da invasão das Américas, iniciado pela imigração que entra em choque, antes tratado como multiculturalismo. E posteriormente pela hegemonia do mundo europeu, que se coloca no mundo acadêmico através dos processos de formação da intercultura. Magda e Mayara discutem os conceitos de inter e intraculturalidade e João complementa que Lipovetsky um defensor da pós-modernidade, trata da hipermodernidade no sentido do aqui e agora, comenta também a idéia de Deleuze e Guattari de que o capitalismo tem a plena capacidade de se transformar. Explica também que Strauss, inicia os seus estudos sobre Interculturalidade no pós-guerra, onde foi organizado grupos de estudos que deram inicio no colonialismo até chegar à Influência cultural e ideológica que acompanha a dominação econômica. João continua comentando que Catherine Wash mostra em seus estudos o interesse atualmente em formar técnicos para alimentar as intenções do sistema capitalista.

De acordo com as perspectivas de transição histórica da primeira para a segunda fase da interculturalidade, João pede que o grupo faça um rápido diagnóstico a respeito dessa transição no Brasil, ou seja, do colonialismo até chegar aos conceitos de intercultura.

As 11:00 – INTERVALO

Após o intervalo todos retomaram as discussões. Infelizmente tive que mais uma vez sair mais cedo para trabalhar, então não deu para participar do fechamento das discussões, fica essa parte para ser complementada pelo relatório da Priscylla.
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Encontro do GEAD do 12 de março de 2010

Tema: Interculturalidade e suas Mediações
Responsáveis: Mayara, Manoel
Relatório do dia: Mazinho

Presente: Adriana, Ana Maria, Eleni, Fernando, Magda, Manoel, Mayara, Mazinho, Pedro, Patrizia, Teresa, .
Teresa inicia o encontro com a leitura do relatório da reunião passada.

Em seguida Manoel abre as apresentações com o poema “A gente se acostuma” de Maria Colesanti.

Neste poema “que toca a alma, mesmo que a autora seja de primeiro mundo” (palavras do Manoel) ela descreve uma realidade típica de primeiro mundo em que o ser humano vai se afastando sempre mais da mãe natureza, se acostumando a um ambiente artificial por ele mesmo produzido, esquecendo além do sol que ele substitui pela luz artificial todas suas origens, acabando com sigo mesmo sofrendo, se calando se apagando aos poucos como um pássaro em uma gaiola. Se tornando insensível, acomodado, adaptado, seguindo mecanicamente caminhos préfabricados e padrões postos, cultivando seu medo pela liberdade.

Depois de uma variedade de depoimentos em relação ao poema Mayara inicia sua apresentação baseada na obra de Nestor Garcia Canclini “Dos meios das Mediações”. Ela foi buscar no México a discussão em torno da interculturalidade porque segundo ela na América Latina está mais avançada neste país. Antes dela se voltar para a teoria podemos apreciar várias fotos que representam que representam diferentes culturas através da dança, da música, do teatro, da arte.
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RELATO DE REUNIÃO GEAD 12/03/2010

PRESENTE: Teresa, Ana Maria, Adriana, Fernando, Mayara, Magda, Mazinho, Patrízia, Manoel, Eleni, Tirza, Alexandre e Pedro.

            Este encontro foi coordenado por Mayara, com colaboração de Fernando, e Manoel. O momento foi iniciado com o texto (?) “a gente se acostuma...” de Maria Colaçans. O som não estava bom, mas a voz de Fernando sim.
            Mayara iniciou apresentando algumas referências importantes para a discussão contemporânea sobre cultura: Jesús Martin-Barbero, com Dos Meios às Mediações: comunicação, cultura e hegemonia; Nestor Garcia Canclini, com Diferentes, desiguais e desconectados e Culturas Híbridas.
            A música “traduzir-se”, cantada por Fagner, trouxe-nos a beleza da musicalidade e poesia: “uma parte de mim é solidão...” e aí vai. Deu para mergulhar também nas imagens de diferentes feiras, em lugares diversos, uma metáfora da diferença cultural e da “latinoamericanidade”. A metáfora da feira foi muito bem escolhida, para mim representa a idéia de trânsito, mas também de encontro, de intercâmbio, de interação.
            Nesse ambiente, Mayara apresenta-nos o conceito de hibridização cultural, o qual identifica as resistências, não a nega e não coloca tudo no domínio somente da cultura hegemônica. Em Medo e Ousadia, Paulo Freire já falava isso. A idéia de contra-cultura.
            Outro aspecto da discussão foi a idéia de hibridização e identidade na América Latina. A discussão foi instigada com as questões: que matrizes culturais compõem a conjuntura atual? Onde está o popular? Onde está o massivo? Que meios nos conectam? E o que nos desconexta?         
            Como exemplo, falou-se sobre a discussão sobre o que faz ser indígena? E sobre as manifestações culturais, questionou-se quando é que se passa do rito ao espetáculo? É mais apropriado se falar em folclore ou manifestação popular? Mayara explicitou que há a diferenciação entre cultura massiva e o culto, bem como o popular.
            Parece um paradoxo que ao mesmo tempo que se difunde a cultura de massa, também há o ideário propagado da busca da personalização/individualização. Pensamos que os modos de reprodução do capital são muito fluidos, metamorfoseantes para incorporar os desejos e ao mesmo tempo garantir seus ciclos.
            Falou-se no melodrama como um exemplo de manifestação de cultura de massa muito apreciado no Brasil, como constituinte de nosso gosto cultural. Lembram da novela “Vale Tudo”? Pois foi este o exemplo, assistimos um trecho. Outro exemplo de envolvimento das emoções populares foi o funeral do Tancredo Neves, com imagens e reflexões de Barbero. Houve uma diferença entre a cobertura jornalística que foi feita no rádio, na televisão e nos jornais escritos.
            Manoel deu continuidade ao momento sobre interculturalidade, explicitando de onde veio a perspectiva de se discutir as mediações. Inspiração de Reinaldo Fleuri. Iniciando a apresentação com a imagem do globo terrestre preenchido por diferentes bandeira das nações.
            E bem nos trouxe à memória Manuel Zapata de Olivella (1997), com um pensamento seu eu não deu pra eu registrar. Manoel, socializa a apresentação, assim relembro.
            Bom, mas o pensamento de Paulo Freire registrei: “as culturas se educam em relação, mediadas pelas pessoas”. Explicitando a interação como mediação fundamental para a interculturalidade.
            Mazinho lembrou um pensamento que ouviu por aí: “a prática na teoria é diferente”. Esse inverteu o pensamento mais comum que diz “a teoria na prática é diferente”. Se for o termo teoria no sentido vulgarizado de discurso ou formulação dissociada da realidade, acho que a primeira formulação é mais coerente, pois nesse caso a prática é o que é a “teoria” é que foi inventada (blábláblá).
            E Manoel falou sobre as conseqüências da globalização, a situação de crise mundial. Deixando o questionamento: que retorno do racionalismo temos hoje? Que modelo, projeto de nação queremos? Queremos continuar seguindo o modelo Europa/EUA? Isso é insustentável.
            Lembrou-se sobre a problemática socioambiental e demográfica. Sobre o fato de que o Chile teve um deslocamento de 3 metros com a última manifestação de crise ambiental. Mayara lembrou que Fortaleza também teve ou terá um deslocamento de 3 cm.
            Outra questão mencionada foi o novo colonialismo de agricultura, no caso dos países que não mais têm como desenvolver essa atividade em seus territórios e recorrem ao uso do de outros países. É o que acontece também no caso da carcinicultura, lembrou Mayara. Revolução Verde? Revolução Azul (disputa pela água).
Por fim, falou-se nas diferenciações entre multiculturalismo e interculturalidade.
Alguém tem algo a acrescentar???

Abraços,
Ana Maria.
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Relatório encontro GEAD 16.04.2010


Por: Patrizia Imelda Frosch

Presente: Adriana, Alexandre, Ana Maria, Dani, João, Lívia, Maclécio, Manoel, Marcelo, Marjori, Mazinho, Patrizia, Pedro, Pryscilla, Teresa.

O encontro inicia com a Dança do Toré puxada por Mazinho que nos deixou energizados e em plena forma para assistir à apresentação e participar ativamente do debate.

Antes de iniciar a apresentação João propõe repensar a produção de canequinhos, bolsas e camisas para contribuir com o movimento de mudanças na FACED em relação ao meio ambiente e informa que já está sendo abordada a questão da separação do lixo.

Além disso, ele sugere estudar a tese de doutorado de um professor do Rio Grande do Norte que trata de políticas públicas, legislação ambiental e educação ambiental.

Depois de todos ter apresentado os temas e objetivos de suas pesquisas João e Lívia iniciam sua apresentação com o tema “Colonialidade do Poder e Modernidade”.

João inicia falando dos filósofos e cientistas da modernidade como Descartes, Newton, Galileu, Bacon.

Uma das características da modernidade é a dimensão da subjetividade. A modernidade estabelece um conjunto de valores próprios, uma própria epistemologia.

Na filosofia cartesiana o discurso do método é tudo e o resto é o resto. Segundo Bacon é preciso romper com a lógica medieval, mas partindo dela dominar a natureza, nominá-la para construir o conceito de modernidade.

Descartes diz que a verdade é inalcançável, mas que existe um método para aproximá-la isto é separando as  partes (fragmentação).

João apresenta conceitos sobre modernidade disponibilizando-os para o diálogo. Permito-me reportar aqui somente os conceitos que foram comentados.

I. AFIRMATIVAS SOBRE MODERNIDADE

- Queda de valores, costumes e tradições

Comentário João: a liberdade de fazer o que está dito de fazer.

Mazinho fala de culturas em que uma comunidade inteira cuida de uma criança entre outros repetindo várias vezes seu nome quando fizer algo de errado para lembrar-lhe quem ela é. Nas culturas modernas a pessoa não sabe mais quem ela é. É preciso que ela entenda suas raízes não somente o presente, mas também o passado.

Segundo Lívia não pertencemos ao mundo sem identidade. A pessoa pertence a isso depois àquilo, o homem não é formado sozinho.

- Desconstrução do tradicional

A tradição se torna show, espetáculo, folclore, exótica.

- Revolução industrial – Progresso

Para Ana Maria o conhecimento científico é uma dimensão política e não social apropriada por determinados grupos com interesses específicos.

Dani dá um exemplo de progresso como a construção de aeroportos em paises “subdesenvolvidos”, tema que problematizou em sala de aula onde prevaleceu entre os alunos a questão do progresso alegando que as comunidades precisam disso para progredir. Ela avalia que para os alunos a vida só tem sentido ligada a essa idéia de progresso. Os meninos são impregnados dessas idéias do lucro, difícil de quebrar. Para eles estar fora deste padrão é ser primitivo.

Manoel problematiza a invasão das terras dos índios pelo capital que responde à sua resistência com violência justificada pela geração de empregos. Ainda tematiza o custo do progresso dando o exemplo das plantações de eucalipto que promovem a desertificação de grandes territórios.

- Transição evolucionária

A idéia de mudar para algo melhor alegando que o anterior é pior (macaco-homem, selvagem-civilizado, primitivo-moderno, moderno-pósmoderno) situação precária – benefício. Resta a pergunta evolução de que? Tecnológica, espiritual. O que evoluiu? Só serve para algumas pessoas prejudicando outras. As pesquisas favorecem a quem? Por exemplo, na saúde a tecnologia sofisticada e remédios caros.
Comentário próprio: por outro lado me pergunto será que toda essa “evolução” faz bem? Por milhões e milhões de anos o ser humano viveu tranquilo e com saúde dentro de um contexto natural, do qual ele é parte, aos cuidados da Mãe Terra sem hospitais, sem parafernália tecnológica e artifícios que lhe propiciam efeitos colaterais. Evolução neste sentido seria erradicar o ser humano de um ambiente onde foi posta sua semente, colocá-lo em um contexto contrário à sua natureza inibindo assim o pleno desenvolvimento de seu ser a risco de se tornar fraco e doente, seria inverter um benefício doado em prejuízo com consequências catastróficas.

- Técnicas e mecanismos que ajudam a viver

Patrizia fala de uma amiga na Alemanha em cuja casa a maioria da tecnologia domiciliar era movida a energia até a faca para cortar o pão à contrário da tecnologia amiga divulgada pelos movimentos ambientalistas que é movida pela força humana. Também fala sobre um sistema de ventilação milenário que até hoje é usado no Jemen e que funciona a partir de uma arquitetura especifica que canaliza o vento para dentro dos prédios contrariando o benefício da tecnologia moderna tão proclamada pelos produtores de aparelhos de ar condicionado.

- Ciência – Conhecimento

João explica que ciência é uma foram de conhecimento não é conhecimento.

- Quebra da Hegemonia e do Misticismo

Patrizia comenta que a modernidade cria novos mitos como o mito da necessidade.

- Novas descobertas – Novidades

Manoel dá o exemplo de um médico chinês que faz o diagnostico da doença pelo pé.
Comenta-se sobre a irisiologia, o rei-ki, o eneagrama e a quiromancia como conhecimento.

Para Patrizia a cura pela natureza tem lógica porque o ser humano é natureza e se submetendo a artifícios a-naturais não pode que ficar doente.

Segundo Mazinho a modernidade suga a tradição. A comunidade é invadida e todo mundo cai nessa do mito do progresso. Aos poucos as pessoas esquecem certos saberes de saúde, usam antibióticos, o conhecimento vem se perdendo. Depois vem alguém da academia para fazer pesquisa para dizer que os antigos remédios servem de novo.

- Melhoria na Qualidade de Vida

Patrizia fala da comunidade em que atua onde as pessoas entendem como melhoria da qualidade de vida poder ganhar mais para ter acesso a certa mercadoria. Não se tocam com a melhoria da qualidade do ambiente em que vivem. No mínimo se queixam com o lixo espalhado em todo canto e sugerem como solução a busca de um terreno não usado para concentrar todo o lixo, sem se dar conta que isso não resolve o problema só o afasta de perto de suas casas.

Mazinho compara o ar condicionado com o estar à sombra de uma mangueira.

Manoel toca no assunto “bem viver” e se refere a um autor que fala do retorno ao bucólico. Segundo este autor que compara cidade e campo o retorno ao campo seria uma fuga que resulta do medo de encarar o presente.

Lívia nos informa que em 1871 Londres já contava com 18 milhões (?) de habitantes mostrando a partir desta aglomeração de pessoas a tomada do campo pela indústria. Nos campos viviam os ricos que fugiam das cidades.

Patrizia dá dois exemplos de relação cidade – campo onde a cidade se aproveita do campo para manter sua estrutura causadora de doenças que serve aos interesses de uma minoria:

1. Cura campestre

“Na Grécia antiga como hoje em dia, os habitantes da cidade ficavam doentes com frequência. Iam então ao Esculápio, uma grande área no campo com pomares, riachos, bastante capim e cabras pastando. Os  médicos usavam tratamento de uma simplicidade admirável: aconselhavam  o  paciente a andar até se cansar e então deitar e repousar, ao sol ou à sombra de uma árvore.

Quando estivesse descansado, deveria recomeçar a andar e assim por diante, até que seu corpo recuperasse. Essa alternância de marchas, banhos de sol e repouso durava o dia inteiro. Quando vinha a fome, a pessoa recebia uma vasilha de barro para ordenhar as cabras e colher ele mesmo, frutas diretamente das árvores. Após duas ou três semanas desse regime, o paciente ficava curado de seus males e pronto para retomar a vida da cidade.”

(Richter, Conheça outras terapias, São Paulo: Paulus, 2002, p.14).

2. Cura a longa distancia

Hoje em dia na Europa não tem mais campo nem pomares para onde se dirigir já que a monocultura e as BRs tomaram todo o espaço, a solução para continuar nesta tradição é adquirir (quem tem poder aquisitivo) um pacote de uma semana de relaxamento, rumar para umas ilhas no Pacífico via aérea (um dos maiores poluidores responsável pelo aquecimento global) passar por massagens, banhos de sol, de sal e perfumados para voltar e se estressar de novo nos antigos moldes.

- Espaço que se inicia como capitalismo que surge do feudalismo

Segundo Manoel antes do capitalismo existe o mercantilismo que é ligado aos feudos.

A meu ver a raiz do capitalismo surge no momento em que o ser humano descobre o comércio, ou seja, pessoas que não produzem, mas somente movimentam mercadoria de um lugar para o outro vendendo-a a um preço maior do valor do produto e com esse movimento gerando oferta e demanda, a partir daí se desenvolve todo um processo que ao longo dos tempos é aperfeiçoado até chegar aos nossos dias.

- Inicia com o Renascimento

Pessoalmente não concordo que a modernidade inicia neste momento ela não caíu do céu. Ela vem se formando ao longo de todas as épocas a partir da visão dos romanos de “dividi et impera” e de dominação do mundo. Naquela época o espaço que se conhecia não era tão vasto como hoje, mas se tivessem tido a oportunidade de invadir as Américas eles já estariam aqui há tempo impondo sua lógica, sua “Pax Romana” como fizeram com os bárbaros. A colonização, a colonialidade está implícita no modelo romano, é preciso quebrar com a idéia do bom romano que respeita as outras culturas e de quem teríamos herdados grandes coisas. Eles não respeitavam ninguém em primeiro lugar o meio ambiente, aonde chegavam desmatavam para construir navios e estradas para poder invadir mas rápido e eficiente e se já não respeitavam o meio ambiente quanto menos o que era diferente, a outridade. O Impérium Romanum é o ápice do poder, do domínio, da violência daquela época que se transmite para todas as épocas até se concentrar na modernidade com todas as consequências que já conhecemos. Em relação às religiões que se diz que respeitavam, na verdade eles não confiavam na superioridade de seus próprios deuses e tinham medo que os deuses dos outros fossem mais fortes por isso “respeitavam” as religiões o que não os impediu de massacrar os homens e a natureza.

- Criação de necessidades – consumo

“Necessidades desnecessárias”

Para Ana Maria uma promessa era libertar das necessidades (do precisar e não ter), só o que aconteceu foi criar mais necessidades.

- Alienação do trabalho – culto da produtividade

João expressa a pergunta posta pelos opressores que quebra com toda a vontade de resistir: O que é melhor trabalho alienado ou nenhum trabalho?

Para Dani as pessoas parecem gostar de ser estressadas quando comentam sobre sua situação de estar estressadas. Segundo ela as empresas começam a pensar as pessoas como “capital intelectual” não mais como “mão de obra”, mas nem por isso são mais valorizadas. E nem a criação de espaços de descompressão onde a pessoa pode se desestressar é pensada para beneficiar esta, mas para não reduzir a produção e até para aumenta-la.

Mazinho conta de uma experiência na Paraíba que mostra outra perspectiva de trabalho onde o pessoal passa a manhã na roça, depois almoça, tira uma soneca e a tarde fica conversando e o trabalho se torna tão gostoso.

Pryscilla toca na questão do tempo curto, as pessoas não tem mais tempo para nada nem para se curar e nem para o ócio que é visto como algo de negativo, já que prevalece o neg(a)ócio. Ela fala sobre um estudo que foi feito sobre os Inkas que descobriu que dentro do sistema de trabalho deste povo a diversão ocupava uma parte importante. Os ritos, as festas tudo isso tinha uma lógica de perpetuação daquela sociedade.

Marcelo fala dos lixões do Ceará e das comunidades expulsas das regiões que residem no entorno destes se mantendo com este “trabalho”.

Nesta altura Maclécio discorda de algumas falas dos colegas. Em relação ao que foi falado sobre o binômio cidade – campo ele acha que não há um retorno ao campo porque a cidade tem história. Não se pode negar a cidade, porque somos povos da cidade, tem que aplicar mudanças na cidade, tem que aprender muito com os outros, com a lógica dos povos indígenas, mas a cidade está muito presente na vida da gente. A gente fala na lógica da ruptura seria melhor falar em superação, tem que pensar na lógica da tranqüilidade, está trazendo benefício para a gente de qualquer forma. É preciso de tranqüilidade porque senão o GEAD vai se tornar extremista. Tem que ter crítica, mas com tranqüilidade.

Manoel rebate com a visão de feiúra da cidade de Cornelius Castoriades para quem o feio da cidade é a postura das pessoas, a perda do elo com o humano.

Na visão de Mazinho, que discorda da crítica ao fervor das falas, é com fervor que a gente consegue ser o que é. Quando a pessoa fala de sua experiência a partir da vivência criando um discurso fervoroso.

João já tem sua experiência de comentários de outros professores em relação à questão da perspectiva ecorelacional. Esclarece ele que a perspectiva ecorelacional é uma proposta nova, natural então que dentro da lógica colonial haja rejeição. O problema não é o comentário, mas o fato que não tem compreensão adequada para discutir. Tem que se expressar de todo modo, mas possibilitar o diálogo respeitando o outro na sua forma de ser. A confrontação acaba a conversa é preciso estabelecer pontos de reflexão. As pessoas acham que se o outro não concorda com a própria opinião não pode ser amigo, isso é um processo de alienação que se estende a partir da alienação do trabalho. Isto implica o olhar que controla na perspectiva da educação bancária. Tem que dar conta do produto não impor-lo como feito. O produto não pode sair como eu desejo.

No parecer de Lívia a crise do paradigma da modernidade é a crise da vida humana é a crise da civilização e, portanto crise ecológica. Prega a liberdade enquanto escraviza todos. Ela se pergunta que ética é essa? E acha que sair dessa é complicado e que não se conseguiu avançar, portanto quer saber onde a gente encaixa essa liberdade no sentido de Freire.

II. PROBLEMAS RESULTANTES DA EDUCAÇÃO

A civilização técnológica – cientifica invade as escolas. As pessoas tem que correr para sobreviver e não conseguem mudar. A multiplicidade e quantidade associada ao relativismo não está aberta ao diálogo, não respeita os outros saberes é mais um tolerar. A ética se restringe aos fenômenos. A moderna crise de paradigmas se evidencia mais amplamente através da física quântica e da ecologia.

João reclama que alunos tematizam nos corredores e não em sala de aula problemas que dizem respeito à realidade acadêmica, como por exemplo, a postura de agentes de segurança. Em sala de aula eles se submetem aos professores não questionam, não tematizam, não problematizam.


III. PERGUNTAS RELACIONADAS A MODERNIDADE x PÓS-MODERNIDADE

- O que é modernidade?
- Saímos dela?
- Estamos na pós?
- Como se relaciona com a crise de paradigma?


IV. PRIMEIRA UTILIZAÇÃO FILOSÓFICA DA EXPRESSÃO PÓS-MODERNO

Tudo modificou-se a arte, a literatura etc. O pós-industrial é entendido como o pós-moderno. O dinheiro apesar de ter se tornado ritual se tornou virtual, tudo se estabelece através de artifícios propostos e criados inclusive a ciência moderna. Não se sabe na realidade o que existe, se existe, quanto existe, por exemplo, em ouro, o que determina o valor das coisas é a escassez. Aumenta a expansão do consumo, há um enfraquecimento das normas, cresce o individualismo, constata-se a consagração do psicologismo e do hedonismo. No lugar da superação da modernidade há um acirramento do processo que segundo Lipovetsky resulta numa hipermodernidade. Lipovetsky retoma aqui a ideia de Guattari que o capitalismo é capaz de se metamorfizar. “O capitalismo é o infinito crepúsculo que nunca viu a noite cair” cita João.

Lipovetsky também se apóia em Habermas segundo o qual trata-se de um processo inacabado que ao não ser completo não pode ser superado. A racionalidade e a intersubjetividade vão dar conta disso. Habermas não sai do antropocentrismo, vê o ser humano como pedaço e o outro na função de espelho. Habermas avança entre intersubjetividade objetiva e subjetiva, mas não resolve porque ainda permanece dentro da visão moderna. E preciso partir de possibilidades não modernas senão não se sai nunca. Esses autores como também Nietzsche (que não reconhece a objetividade como necessária caindo no outro extremo) e Facault só fazem um diagnóstico, apontam, mas ficam escorregando neste processo. Enquanto a Descartes, Kant e Hegel Kant radicaliza Descartes, Hegel prega a “espiritualidade absoluta” e o “conhecimento em si” insistindo na capacidade das instituições de nos habilitar. Todos contestam e rompem com a racionalidade, mas mantém a subjetividade. Entre Hegel, Shiller, Schelling e Marx, Marx se contrapõe, mas parte ainda da razão.

Segundo João este é o momento de pensar em educação e diálogo, a prioridade é aprender a dialogar.

Termina aqui a primeira parte da apresentação de João e Lívia sobre “Colonialidade do poder e modernidade” que tinha como objetivo problematizar essas questões e que tornarão ao palco no próximo encontro para discuti-las a partir da lógica da perspectiva eco-relacional.
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Gead – Relato(ório) da reunião, dia 30 de abril de 2010

Apagaram tudo
pintaram tudo de cinza
a palavra no muro ficou coberta de tinta
apagaram tudo
pintaram tudo de cinza
só ficou no muro tristeza e tinta fresca


Pescamos as primeiras falas da música Gentileza, composta e interpretada por Marisa Monte, para documentar os bordados que desenharam o encontro passado. As mãos que traçaram esse quadro foram de: Ana Maria, Adriana, Marcelo, Maclecio, Manoel, Lívia e por gentileza acrescentem o nome dos demais por não saber-lembrar que estavam presentes no tecido-sala-de-reunião-costumeira.
Não à toa o fio cinza conduziu o primeiro momento do encontro. Seria o cinza da vida? Não! Apagaram tudo! Tratava-se do cinza predominante que destacava um cenário frio e descolorido presente no documentário Estamira, exposto na primeira parte da reunião. Mas o som não colaborou para a compreensão ampla do filme, era baixo demais para os presentes. Mesmo assim, as imagens proporcionavam sensações diversas: a cor (onde lá fora havia o cinza da neblina que caía durante a manhã), a disposição grotesca das toneladas de resíduos (para onde vão a nossas produções?), o alçar vôo de urubus no entremeio da feiúra humana produzida (beleza e feiúra tão aproximadas!), milhares de sacolas (o esvaziamento da esperança?), ventos, imagens, relâmpagos, trovões... e Estamira, que carregando os materiais se coloca na condução da vida (cruel? Feliz? a depender do que? Individual, social, a vida é uma totalidade!).
Manoel destacou alguns números sobre o consumo, que enfatizavam a discrepância entre aqueles que detêm o acesso e o consumo de bens (20% da população mundial consome 80% dos recursos do mundo) e os demais (80%! São demais mesmo).  
Mas, com as dificuldades técnicas da exposição desse filme (com a falta de som, ainda pouco sei/sabemos de Estamira) e com a chegada dos demais companheiro(a)s, o encontro toma novos rumos.
Adriana remenda o fio iniciado por “Estamira” e se coloca no bordado. Ela apresenta o até então intitulado trabalho: Reciclando o cotidiano da relação homem-“lixo”: uma abordagem dos aspectos sócio-ambientais formativos, a partir dos marcadores do discurso do lugar, no assentamento Esperança, Lagoa da Manga, Sobral-CE. Manoel e outros companheiros chamaram atenção para a extensão desse título.      
E com esses primeiros passos, o para além do cinza se dispõem as outras cores, que são apresentadas e apreciadas. Alguém chamou atenção à linha que cortava o primeiro slide do trabalho de Adriana: era levemente tortuosa, com azuis escuro e claro num fundo branco. A intervenção sobre o aspecto da linha provocou alguns risos e assim por acaso se coloriu a reunião, pouco a pouco, como que através de agulhadas sutis.
            Adriana continuou sua explanação, pediu que as colaborações possíveis pudessem ocorrer. Ela apresentou os objetivos de sua pesquisa. Também explicou o uso do termo “lixo” e não “resíduos sólidos”, por ser mais usual pelos entrevistados dela, e explicou o cunho etnográfico que conformou sua metodologia, passando a descrever um breve histórico de sua área de estudo.
Na própria descrição, a companheira falou sobre a mudança que implementou em seu foco de pesquisa (da conduta do descarte em espaços públicos no assentamento à relação estabelecida pelos moradores de Boa Esperança com seus resíduos: não somente o descarte, mas o acondicionamento e reuso).
Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza

A pressa, o frenesi citadino, encobre a diversidade que pode ocorrer nos ambientes, nesse caso os agrários – Adriana relata sobre diversidade cultural de seus entrevistados, advindos de diversos lugares, e sobre as constatações diferenciadas sobre o assentamento estudado, desde a sua primeira visita, antes do mestrado, até as visitações realizadas para a pesquisa.
Ela procurou verificar as ações formativas da relação homem-“lixo” nas instituições formais (INCRA, Semace, etc.), não identificando, prosseguiu a fim de apontar as que são realizadas no próprio lugar, por seus moradores.
            Ela prosseguiu a costura-desenho apresentando as fontes, as inspirações: as falas e os discursos dos atores desse lugar. E tentando imaginar em forma de paisagem o que das falas pode-se depreender, divulgamos abaixo:
·        Desenho 1: moradores antigos (Ex-empregados da fazenda desapropriada pelo INCRA) e seus estranhamentos (MST, baderneiros?) e acolhimento gradual dos novos (MST movimento pela reforma agrária, pelo coletivo);
·        Desenho 2: o estabelecimento do assentamento, a questão da propriedade e as novas relações de trabalho (a inexistência do patrão, a compreensão das relações de opressões, etc.);
O novo quadro percebido por Adriana estava disposto. Suas interpretações a levou a muitas categorias de análise (via diversidade de fenômenos), das quais ela destacou: a história do lugar; a solidariedade e a corporificarão da luta. Manoel indagou se houve usufruto da psicologia comunitária. Adriana expôs o uso de Moser.
Para além das imagens-chave dos desenhos 1 e 2, algumas figurinhas foram bordadas pela fala dela: pessoas usando fogão a lenha, reaproveitamento de comida para os animais, acondicionamento para reuso de sacolas e garrafas, repasses de óleo de trator para um posto de gasolina, etc.
Um Desenho 3 foi colocado: a lavagem de roupas no açude, quando da falta de água via abastecimento, apresentando mulheres, conversas, risos, roupas, água, bacias, etc.
Com o quadro enriquecido, ela observa que aos homens cabe a gestão externa dos resíduos, às mulheres cabe a gestão interna (algumas inquietações surgiram: emergem as relações de gênero, cabem na pesquisa? Tempo, especificidade, produção, defesa).
O foco da pesquisa é destacado quando ela diante da amplitude do bordado, até então estabelecido, a totalidade que envolve os desenhos resumidamente descritos, tratou de expor os principais espaços formativos da relação homem-“lixo” observados durante a pesquisa: escola, roça, ambiente familiar, reuniões do assentamento e a existência do grupo de mulheres (durante as tarefas de varrição e lavagem).   
            Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria
]
            E mediante o desenho multicor traçado pela nossa colega, a finalização do quadro, deu-se via sugestões dos presentes:
·        Diante das muitas categorias, a seleção das mais importantes (por Ana Maria);
·        Cuidados com a discussão sobre a questão do gênero e fuga dos objetivos da pesquisa (Não recordo o nome do moço das Letras);
·        Indicar a relação da formação homem-“lixo” desde cedo no trabalho, evitando as fugas nos objetivos (Não recordo o nome de quem recomendou);
·        O título gerou certa polêmica, pelo tamanho, pelo uso de alguns termos como reciclando (sobre a polêmica da intitulação, cabe lembrar os risos provocados durante a sugestão de tom engraçado do “cunhando etnograficamente”), por Marcelo, Ana Maria, dentre outros.
A exposição das imagens-fotografias consolidou a reunião, momento em que criatura e criadora “revisita” a área de estudo, socializando as várias outras características apreendidas desse lugar via trabalhos de campo.
Agora a impressão que ocorre é a de que Adriana seguiu o caminho de retorno e, caso orientada pelo mesmo insight do bordado, levou consigo a percepção imagética do seu trabalho de pesquisa.
O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta

E para não concluirmos, correndo o riso de fazer a injusta confusão conceitual de que cinza é uma cor feia, recomendo pintar, bordar e/ou fotografar paisagens cearenses em dias de neblina, dentre tantos outros usos possíveis dessa coloração e de suas combinações possíveis. O desafio reside, pois, na recriação, na mudança, no redesenho e pintura dos nossos cotidianos.
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Fonte: desconhecida
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RELATÓRIO DO ENCONTRO GEAD 07/05/10

Integrantes presentes: Alexandre, Tizia, Fernando, Mayara, Magda, Marcelo, Priscylla, Adriana, Eleni, Ana, Maclecio, Manoel, Sahmaroni, Lívia, Patrizia, João e Mazinho.

1. O primeiro momento aconteceu na cantina da FACED, na qual os que chegavam se acomodavam.
2. O início das atividades foi por volta de 09h15min, na qual Mazinho, Patrizia e Manoel trataram do assunto Colonialidade da Mãe Natureza e Colonialidade Ambiental. Assim, Mazinho trouxe um momento de relaxamento e reflexão sobre os elementos que compõem a natureza. Em seguida, os presentes foram divididos em dois grupos e cada um encenou uma cena que representava a colonialidade e descolonialidade da mãe natureza. Mazinho aproveitou para ressaltar que as reflexões deste encontro resultarão numa produção coletiva do GEAD.
3. Intervalo às 11h00min
4. Reinício com a apresentação de vídeo com o título: O futuro te espera.
5. O cronograma de atividades do GEAD foi reelaborado com a definição das pessoas responsáveis pelos relatórios dos futuros encontros.
6. Aproximadamente às 12h25min as atividades foram encerradas com uma dinâmica integrativa, na qual todos entrelaçados expuseram suas considerações sobre as reflexões geradas com a discussão sobre a colonialidade da mãe natureza.
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  espiral-do-vetor-das-borboletas-9453038.jpg            Encontro GEAD dia 7 de maio de 2010

“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.” Mario Quintana


COLONIALIDADE E DESCOLONIALIDADE DA MÃE NATUREZA - TRANSCRIÇÃO

Apresentação: Marzinho, Manoel, Patrizia
Transcrição do evento: Patrizia

Marzinho:
Queria falar que não tenho uma memória muito boa para recordar as coisas do  passadoaté que muitas coisas da minha infância eu já esqueci tinha tantas coisas quando tinha dois anos de idade, um ano de idade eu tenho tanta dificuldade de lembrar, que tive que voltar ao meu lugar onde eu morei algum tempo atrás -  existem umas fotos que eu montava cavalo ou uma foto de um cachorro na casa de forno, a própria casa de forno a gente fazendo farinha - para eu ouvir as pessoas da minha região, onde eu nasci, que eu nasci no Maranhão, uma região que fica aí no Maranhão, no nosso Maranhão perto do rio Parnaíba, próximo do Piauí, já perto um pouquinho da Amazônia também, lá tem muita água. O pessoal ai tem muita agricultura parece que o tempo não passou, o pessoal vive da agricultura ainda colhe feijão, mandioca, milho, gerimum, faz a farinha e passa todo dia comendo farinha com peixe ou com um boi o com uma galinha que cria no quintal, então assim depois de tantos anos, eu tenho (...) anos, eu ainda era muito pequenininho e depois de tanto tempo ainda mantenho um pouco do que eu era quando eu nasci lá. Então eu fui lá para falar com minha avó que já faleceu, faleceu com 105 anos, para resgatar um pouco da minha história e eu descobri nesse resgate que eu era uma criança muito transvessoura, porque de manhã cedo eu saia de casa, já fugia de casa para ir pro meio do mato pra ir pra capoeira, pra trabalhar com cavalo, com a roça que eu adorava e a mamãe pegava os dois meninos meus irmãos maiores, deixava em casa eu sou o terceiro, uma família de seis, só os dois maiores ficavam em casa ajudando a mamãe e eu catava o gado eu ia fazer o que eu queria fazer. Então na casa do Seu (...) que era um senhor lá que eu gostava muito que ele cuidava de mim eu ia fazer o que gostava de fazer, mas não fazia dentro da casa eu fazia fora da casa. Pegava os cavalos, levava para capoeira, dava banho trazia a mandioca,  trazia coisas e quando chegava o final da tarde umas seis horas da tarde eu voltava para casa, só que eu voltava já sabendo que  ia apanhar.

I. Primeira imagem da colonialidade da mãe natureza.
   (Imagem da árvore que está sendo sugada, golpeada e observada)

Fernanda:
... tem um instrumento de poder na mão dela que é algo de imposição referente à árvore e o índio que se alimenta dela e o ... para fazer nada.

Sahmaroni:
Eu vejo mais ela como observadora, uma alienígena da situação, da situação que parece ser, em fim ... parece uma, uma ...

João:
A gente vê a natureza como algo que serve para alimento, ou pra gente explorar ou para a gente observar como algo externo. É que a natureza está grávida.

Fernanda:  
Acho que há disposição para renascer.

Marzinho:
A gente vai fazer agora a segunda imagem da colonialidade da mãe natureza.

(cacofonia)

II. Imagem da colonialidade da mãe natureza
    (Cachoeira que acaba sendo aprisionada nas garrafas pet)

Água

Maclécio:
Uma relação de escassez de recurso. A água. Eu acho para além da água, mas a água é emblemática.

Dani:
Eu acho uma súplica do grupo pela água e um dominando, segurando e vai soltando aos poucos esse recurso para dar vida, para manter o resto de vida que ainda existe, eu percebi assim, eu pensei dessa forma a súplica de algumas pessoas em troca de manter vida e um dominando o recurso natural que é a água, a própria vida.

Eleni:
Eu vou falar em outro sentido, que é como se fosse a adoração pelo que ainda existe e aí nesse sentido de se exaltar o que ainda tem da natureza.

Ana-Maria:
Eu acho que foi a dominação da natureza que estava disponível para todos usufruírem e viverem juntos e aí foi encapsulado e agora está todo mundo desesperado pelas ultimas gotas que têm, que realmente estão sobrando.

Marzinho: Quem é esse alguém que está dominando?
Ana-Maria:
É o superpoder que superexplorou a mãe natureza, que tem o capital que acaba sendo capital mais valioso do que é importante para a vida, no caso a água.

Maclécio:
Pegando o gancho do que a Ana colocou em relação ao capital, tem uma relação capitalista aí a dicotomia entre os que têm e os que não têm também.

João:
Eu queria fazer um comunicado. Primeiro de tudo assim o sentido é apresentar a colonialidade da mãe natureza, a minha interpretação da imagem que as pessoas estão sem água e aí eu utilizo também o conceito que nem o Maclécio em uma perspectiva simbólica, a própria água que deveria ser um bem natural também já está engarrafada então a própria natureza já foi aprisionada e agora eu tenho as pessoas carentes desse meio. Como diz o professor Manoel Sampaio isso é todo um processo que envolve a complexidade inerente aos paradigmas contemporâneos.

Eleni:
Quando eu coloquei foi também uma leitura da colonialidade, coloquei no sentido da exaltação não de exaltar porque tem em abundância, mas de exaltar como se fosse: “ah, ainda estou adorando a água porque ainda é um bem já tão sacro que a gente ainda pode usufruir” a minha exaltação foi nesse sentido, não como o João coloca, deixou bem claro que “ah, é porque é a visão da colonialidade”, para mim essa é também uma visão mesmo de exaltação, mas no sentido de exaltar não para dizer que tem muita, tem pouca também.

Sahmaroni:
Eu estava lembrando aqui de uma musica do Tropicália chamado “Parque Industrial” que ele fala do sentimento que já vem pronto engarrafado somente para usar, aí eu penso nesse sentido também os valores simbólicos também já estão sendo vendidos em livros, em fórmulas mágicas para a felicidade e um bando de desesperados consumindo isso também que somos nós hoje em dia.

Lívia:
É que quando se fala que a água está engarrafada, não sei se vocês viram um vídeo, um documentário sobre o deus Xingu e aí alguém falou o que acho superinteressante ela falou o problema é que a gente não consegue viver só de arroz e feijão não, a gente precisa do peixe e a imagem falou muito disso de um dualismo de uma separação que agora você tem essa opção ainda, mas as vezes não é isso do que a gente precisa é muito mais do que uma comida determinada ou de uma água engarrafada ... é de tudo o que a água traz com ela não só a água em si do que ela vai fazer biologicamente no meu corpo, mas tudo o que ela vai fazer subjetivamente, que não é estático também, que a própria engarrafada não tem uma representação para mim. Como aquele arroz e feijão não tem uma representação para aquela pessoa que não contempla pode até alimentá-la, mas não alimenta o espírito dela, não alimenta ela enquanto indivíduo. Queria colocar essa questão da colonialidade também não só da matéria, mas da espiritualidade.

Alexandre:
A minha percepção representa também a dicotomia trazida pela primeira e segunda revolução industrial porque até o primeiro momento da primeira revolução industrial você tem uma interação ainda humano com a mãe natureza por mais que essa interação fosse já na perspectiva do homem onde o sagrado feminino desta natureza foi retirado aos poucos, já com a segunda revolução industrial a quantificação da natureza se identifica porque o caráter dela de objeto ganha maior propriedade onde o que interessa extrair da natureza é produção, consumo e lucro que é até essa lógica mesmo a partir da qual vai funcionar o imperialismo das grandes potências, especialmente da Grã-bretanha e da França nessa perspectiva mesmo que demonstra na minha percepção a natureza sendo utilizada para produção, consumo e lucro que reflete o que é colonialidade, que a colonialidade, o colonialismo a essência deles é isso é escravizar para ter produção, consumo e mais lucro e que vivemos isso ainda hoje com uma roupagem nos moldes da globalização.

Marzinho:
???

Alexandre:
A coisificação da mãe natureza.

Marzinho:

???

Manoel:
A separação da relação homem natureza, fratura.

(conversa simueltanea)

Maclécio:
... quem cavou o abismo, quem construirá as pontes?

III. Imagem da descolonização da natureza.
        (circulo de pessoas se entrelaçando)

Eleni:
A união, a integração, a interligação entre os pontos e as pontes como bem começou a colocar o Maclécio, então eu acho que essa união, integração, interligação é a construção de pontes ou de pontos.

Thirza:
Na minha percepção também eu vejo essa visão de interligar e também nessa reflexão, reflexão, ação, reflexão sempre nessa circularidade repensar, se unir para poder agir, mas sempre compartilhando, uma visão compartilhada.

Mayara:
Eu vejo parecido com que elas duas falaram essa coisa da diversidade também aí tem gente mais baixa, mais alta, cabelo louro, ou seja, em fim a representação da diversidade e da interrelação da troca entre diferentes grupos, diferentes etnias, diferentes nacionalidades pra contribuir com a reflexão, com outro pensamento, com outra forma de se comportar diante da natureza.

Marzinho:
É preciso se movimentar para que a coisa aconteça? Eu vejo também que a descolonialidade ela é circular, me parece que tem uma energia circulando aí e por mais que haja diferenças das pessoas, mas tem uma coisa em comum que são as mãos dadas, tem um projeto em comum e se não houver movimento, não há transformação.

Fernando:
Todos estão voltados para o foco então enquanto a gente conseguir uma massa crítica que consiga se voltar para esse mesmo foco, todos se voltarem para essa questão é que eu consigo conceber essa mudança porque acho que não basta melhorar. Nós não podemos mais pensar em melhorar, nós precisamos pensar em mudar eu acho que é hora de uma rebolição, mudar, colocar a coisa ao contrário, pelo avesso.

Magda:
Eu acho que nas imagens que a gente pode retratar um grupo que apesar das tensões e tal, ajuda. Tem conflito aí, tem várias forças se juntando hora contrária, hora caminhando na mesma direção, mas não deixa de ser um grupo. Assim a gente compreende hoje essa coisa da coletividade, do grupo numa perspectiva de diferença, de reconhecimento da diferença, da valorização do outro no sentido de compreender que o outro é também o seu complemento também é o complemento desse todo que busca ser construído, ser elaborado e re-elaborado o tempo inteiro, acho que foi por aqui que esse grupo quis retratar esse ai.

Marcelo:
Foi dito nas outras imagens de colonialidade que lembravam fragmentação, eles quiseram construir o oposto justamente com essa união. Me lembra também uma micela, uma micela, só que uma micela humana em vez de ser uma micela de gordura que se une e está sempre coesa, uma micela humana sempre coesa, sempre forte ali.  Uma micela é: água e gordura não se misturam, água e óleo,  formam aquelas bolinhas e a gordura se junta ali e fica coesa, se separa com essas ligações fortes coesas em fim o contrário da fragmentação.

Ana-Maria:
... a questão da educação que dá a idéia de que é preciso maior envolvimento porque poderia ser só nas mãos lado à lado que é fácil de se desprender e é mais frágil também às intervenções externas, assim o grupo parece mais coeso e mais voltado para o objetivo que eles têm.

Patrizia:
Eu queria só colocar aqui a questão do bem viver que é diferente do viver bem do consumo onde cada um é voltado para si mesmo, então o bem viver só é possível na comunhão, na partilha, convivendo em comunidade.

Marzinho;
... circulação, recebi outro nome: nós consagrado. Agora é o momento da socialização do grupo, todos gostaram?
?????
Na primeira imagem eu queria que o próprio grupo que fez a imagem expressasse o que é colonialidade da mãe natureza para vocês através da imagem que vocês fizeram, o que vocês pensaram, o que é colonialidade da mãe natureza a partir  da imagem de vocês?

Magda:
Discutindo um pouquinho antes de começar, a gente primeiro pensou naquela imagem da índia com o facão e a gente pensou essa coisa de um tempo em que a natureza deixa de ser parte do homem e o homem deixa de ser parte da natureza a partir de um momento histórico e tal e assim o cara que produz cultura, que naturalmente, essencialmente faz parte dele produzir cultura e ser parte da  natureza ele esquece disso e domina isso, manipula isso a fim de segurar uma onda que é o capital. Na verdade isso tudo veio a partir de um modelo de civilização que está baseado na exploração e tal. E a gente pensou nessa coisa da água, um tem enquanto os outros ficam ali sendo explorados e mendigando uma coisa que naturalmente é direito de todos, A água é um direito de todos eu sou parte da natureza e a natureza é parte de mim o que deveria ser normal. Natural era que eu tivesse acesso e a gente sabe que esse modelo civilizatório que está baseado no lucro e na exploração do outro, não só na exploração do outro, mas ao passo que eu controlo, exploro a natureza eu também levo essa relação para o outro humano também, acho que é por aqui.

Mayara:
Pois é isso mesmo que a Magda está dizendo, a gente começou pensando também sobre esse modelo em que a gente vive como ele precisa dessa relação cruel com a natureza para se manter. Pensando na índia a gente falou sobre Belo Monte e como é um exemplo prático de dominação ambiental inclusive de uma relação de poder desigual de paises porque inclusive a energia de Belo Monte não é porque nós precisamos de energia, ela serve para alimentar eletrointensivas de multinacionais que se instalam no Pará e que precisam de um grande consumo de energia, para isso se domina o rio, tira o fluxo natural dele que afeta as povos riberinhos, os povos indígenas que vivem naquela região para manter a máquina rolando desse modelo de desenvolvimento que temos aí e isso se expressa na transposição do Rio São Francisco, se expressa em todas essas grandes obras que servem ... e aí a gente pensou na água, que a água ... tem uma representatividade muito grande essa água, como a energia que inclusive a água  é a matriz, a fonte de energia principal do Brasil hoje, a maior parte da energia é gerada por hidrelétricas, e aí é isso e também assim a relação que a gente tem com a água é surreal, por exemplo, o Rio da Prata em Buenos Aires ele é extremamente poluído, mas a água consumida na cidade é toda dele porque fazem um tratamento e você pode inclusive ligar a torneira e beber aquela água que vem do rio, mas é um investimento enorme e é isso que queria dizer, para despoluir uma água para poder ser consumida e ser pago por isso, parece até que as coisas são feitas mesmo para destruir e alguém possa lucrar dinheiro com a reabilitação daqueles ambientes aquáticos.

Magda:
... dessa coisa da cultura mesmo, porque eu produzo cultura e tal e eu transformo de um jeito que eu me lasco, lasco todo mundo e lasco a natureza que é para eu puder ir buscar lá na ciência, buscar sei lá criar outro arcabouço outras possibilidades para poder reverter essa coisa que eu mesma criei para atender uma história que não é a  minha, mas muitas vezes que eu naturalizo o discurso que eu reproduzo sem saber por que e é isso.

Lívia:
Nós somos seres biológicos, somos seres orgânicos, mas além de sermos orgânicos somos seres da história e seres da linguagem também e enquanto seres da história a gente vê determinadas coisas e outras não. Existe muito o que passa por invisível a invisibilidade dos seres e está relacionado ao nome de tais seres está muito relacionado à linguagem também, a gente está totalmente perto da linguagem. E aí sobre essa história de colonialidade eu percebo muito com os meus alunos, na vida cotidiana como as pessoas não conhecem o ambiente em que elas vivem, não falam o ambiente já muito antropizado das suas casas e para problematizar esses problemas, mas o que resta ainda de um ambiente natural, das árvores, que são  totalmente conhecidas  hoje em Fortaleza. A nossa flora é bastante asiática, existe uma colonialidade biológica mesmo, fícus, o nim  indiano, castanholeira, mangueira  para todo lado, então existe uma colonialidade também dos bichos eu ouço falar de bicho como castor, os nossos animais é gato, cachorro e a gente fica perplexo...

(risos e conversas simultâneas)

... parece incrível, mas há relatos que antigamente aqui em Fortaleza existiam vários grupos de papagaios soltos na natureza, eu não tive o privilégio de ver isso, eu nunca vi um papagaio solto na natureza, mas ainda tem dois bandos. Tem um amigo meu que trabalha com papagaios, esse meu amigo que trabalha com papagaios com controle de papagaios, tem um em Quixeramobim e outro não sei aonde, ele diz que é muito engraçado porque às vezes as pessoas soltam os bichos com o intuito de libertar e aí nos bandos têm alguns que falam o que os donos ensinaram e eles não colocam isso nos trabalhos porque acham que uma vez antropizados já não são suficientes para mostrar algumas questões biológicas. Eu acho importante colocar isso, e insisto que tem que colocar isso porque alguém tem que falar. Mas assim eles passam invisivelmente e a história comeu...

Mayara:
A Lívia estava falando sobre a história da linguagem para fazer uma reflexão que eu faço aqui sobre a história da relação da colonialidade da mãe natureza e que tem muito a ver com a linguagem porque para mim é complicado, não sei como vocês vem isso, mas a mim me incômoda um pouco, por exemplo, quando eu escuto, eu já tenho um grande incômodo por minha natureza. Homem, por que eu tenho um grande incômodo com a história de usar homem para se referir à humanidade e depois eu tenho um incômodo assim, também não entendo de onde vem, mas eu acho complicado manter mãe natureza porque para mim, da forma que apareceu essa história de homem tenho também um incomodo em relação à mãe. Se a gente tivesse mudado o papel feminino, papel de mãe na sociedade talvez para mim fosse mais aceitável, mas acho nenhum dos dois e para mim, mãe natureza me remete a relação de dominação também. Vou dar um exemplo de coisas que já ouvi. Me lembro que um deputado muito sacana do Piauí, foi falar sobre o delta do Parnaíba, e  para mim foi muito claro na fala dele, “o delta do Parnaíba é como uma virgem, inexplorado e pronto para ser deflorado”, e para mim está clara a relação de associar o lado feminino à natureza como algo a ser explorado, a ser utilizado, porque sempre dá, dá mais e a gente precisa sugar mais, está aí para proteger, está aí, para ser a mãe, dá tudo no mundo o que a gente quer, que a gente só tira, tira, tira. E para mim, a gente ainda não refletiu o que é papel da mulher, não refletiu esse papel da mãe o suficiente para eu achar que é tranquilo aplicar à natureza, para mim reproduz de novo essa coisa da dominação, da mesma forma aí quando bota no meio do discurso o homem natureza e mãe natureza para mim dá uma coisa de... eu até entendo essa coisa da mãe natureza vem dos povos indígenas, mas acho que isso tem outra relação eu fico preocupada quando a gente transfere sem refletir que é a diferença que constrói o papel social e da representação social com a linguagem e tal. Em fim era só para contribuir porque ela falou da linguagem e eu às vezes reflito sobre isso e me dá um incômodo.

Thirza.:
Sobre a mãe natureza. Eu acho que não consegui entender onde você realmente vê a questão da dominação.

João:
Eu concordo com Mayara e eu acho que tem que usar o conceito entre aspas porque acho que não é um conceito nosso é um conceito dos indígenas andinos em certa medida inclusive. Eu diria que até os indígenas brasileiros não incorporaram muito claramente essa concepção, com exceção dos indígenas que vivem aí na região andina que são brasileiros em fim e penso que essa apropriação pelo capital e pelas estruturas do capital, pelo movimento colonializante, esse conceito é porque de fato favorece, não vai afetar muita coisa, enquanto tiver chamando mãe natureza está tudo bem, tipo assim, usando a Magda como referência. Em fim, na verdade eu penso que a gente está utilizando ... e denunciando o significado que a gente está querendo problematizar, eu acho que é a grande questão. Eu vou fugir um pouquinho da idéia, mas é essa aqui a reflexão que a gente está fazendo.

Essa semana na aula de educação ambiental na graduação a gente fechou um trabalho, um site com eles com a questão de problemas ambientais e aí a gente pediu para eles mapearem em grupos, cada um fazer uma árvore de problemas ambientais e depois iam formar grupos para elaborar uma árvore do grupo e depois de apresentar essa árvore dos problemas ambientais a gente pediu de escolherem uma ação de Educação Ambiental para tratar daquele problema e é interessante que o que surge são ações pontuais tipo assim nós vamos realizar uma campanha, vamos fazer um folder bonito, vamos gravar vídeos, vamos fazer uma reunião com o povo, aí eu perguntei assim: Fazer folheto sobre o lixo é educação ambiental? É João! Então fazer um folder é fazer Educação Ambiental? É! Significa dizer que se a gente sentar para fazer um folder nós estamos fazendo Educação Ambiental? Estamos! Gente, me diz uma coisa e se eu fizer um folder assim “compre na Marisa”, essa é Educação Ambiental? Não, mas aí é porque ...! Ah quer dizer que é a palavra, o tema que define o problema e consequentemente está tudo bem? Quer dizer, será que estamos compreendendo o que significa Educação Ambiental? E será que existe só uma Educação Ambiental? Será que existe só um conceito, só um sentido para mãe natureza? E que sentido é esse? Mas eu estou em uma perspectiva crítica! Ah, então se eu disser que é uma perspectiva crítica está resolvido? Mas o que significa uma perspectiva crítica? Aí eu perguntava eles assim, o que é crítica para vocês? A gente usa os conceitos muito ingenuamente, sem problematizá-los, sem compreender o significado que está por traz.
Por outro lado também tem um viés grave, ontem de manhã eu fui convidado pelos altos estudos da Assembléia Legislativa para ir discutir a questão da contextualização da educação dentro do pacto da convivência com o semi-árido, aí a gente dividiu um grupo que foi dividido em cinco grupos, são cinco eixos do pacto, o eixo da educação foi dividido, quem vai para esse eixo são tantos, quem vai para aquele são tantos. No mínimo tinha 10 pessoas em cada eixo, no nosso eixo éramos quatro pessoas. O diretor da secretaria de cultura que trabalha nessa área, a professora Deyse, eu e a Rosana da SEDUC e a observadora dos  altos estudos, em fim  quatro pessoas. Todos os outros grupos tinham no mínimo 10 pessoas para discutir. Para discutir o business no semi-árido, para discutir tecnologia no semi-árido, para discutir o cuidado com a água no semi-árido, para discutir..., sabe, quer dizer a gente continua funcionando dentro de uma lógica complicada. Quando nós levantamos no nosso pequeno grupo que a gente tinha que problematizar alguns conceitos, depois que o diretor da UVA veio participar e o (...) disse assim “o que a gente está chamando de cultura?” E o pessoal, “mas se a gente for discutir cultura ...” Aí eu disse assim, realmente se a gente formos discutir cultura vamos ter que convidar .... e passar aqui um mês discutindo cultura, mas aí como é que a gente faz? Como é que vamos envolver e mover os interlocutores fundamentais do semi-árido para discutirmos isso? Quem são os interlocutores mais importantes do semi-árido, somos nós? Não, é o povo! Como a gente vai trazer os povos dos sertões para discutir? Não, não dá tempo então a gente não vai conhecer pessoas aqui. Nós não temos tempo para discutir os conceitos que vamos usar, nós não temos tempo para trazer os interlocutores principais, mas nós vamos fazer política pública. Política pública olha que loucura!

È tão complicado envolver as pessoas nas decisões que a gente tem medo. Olhe, esse grupo que está fazendo mobilização é um grupo sério, é um grupo que tem interesse realmente de propor uma política que objetiva a convivência com o semi-árido, convivência sustentável com o semi-árido, e ainda é desse jeito, isso é colonialidade e por mais que a gente estrebuche a gente está dentro dela, então a gente tem que ter consciência e clareza disso, eu estou lá, participando, discutindo, mas eu não estou alienado no sentido de achar que aquilo ali vai ser a grande solução. Ou a gente faz cada um do jeito da gente ou não vai acontecer porque as políticas por melhores que sejam, elas vão estar marcadas pela lógica predominante. Então pensar essa sociedade é pensar uma sociedade que está mergulhada dentro da colonialidade, pensar cada um de nós e cada uma de nós é pensarmos pessoas que estamos mergulhadas dentro da colonialidade. A gente está tentando encontrar saídas e as vezes a gente encontra e outras vezes a gente mergulha mesmo nessa história, então não vamos imaginar que aqui nós somos os bonzinhos, todos  nós aqui estamos resolvidos, não é verdade.

Na verdade, eu estou colocando para as pessoas, por exemplo, uma das coisas que eu coloquei lá, não dá pra fazer como acho que deveria ser feito, mas eu coloquei como proposta, que foi aprovada, que a gente levaria em consideração as experiências do (...) no semi-árido. O que significaria isso? Que o que a gente está fazendo vai ser considerado, o que está sendo feito lá na escola (...) vai ser considerado, o que está sendo feito lá na casa grande, vai ser considerado, ou seja, que estas grandes experiências que já denotam potencial e transformação, vão ser consideradas. Nós temos aí (...) quatro escolas que vão funcionar com o modelo da pedagogia da alternância. Inicialmente a idéia não era essa.  Então de certa medida isso já está criando resultados. Qual é o nosso papel? O nosso papel é de mostrar que é possível desde que nós tenhamos um poder político constituído, nós enquanto grupo temos o poder dentro da Faculdade de Educação  hoje. A gente começou como um pinto de periferia da FACED e hoje nós somos um grupo significativo. Eu acho, que com exceção de alguns poucos grupos aqui, com exceção do grupo do Hermíno, a Rita porque tem um grande projeto aí. A gente tem um impacto educativo dentro dessa faculdade de educação. Nós temos ressonância dentro da linha de Movimentos Sociais (...) sabe disso. O que está acontecendo dentro de uma linha de pesquisa que envolve (...) de estudantes dessa Pós-Graduação escuta quem está falando e não é de hoje (...) sabe disso. Há mais de ano e meio o grupo tem tido uma contribuição importante nessa discussão. Eu acho que tem sido feito alguma coisa.

Eleni:
 .... a Priscylla, o Fernando e a Patrizia e a gente viu que para eles experiências êxitosas  não é  o mesmo que a gente está chamando de experiências êxitosas. Então assim, eu acho que é legal quando você coloca isso, mas a gente também tem um contraponto,de que para eles lá o que é êxitoso, são aquelas experiências que foram colocadas que desconsideram a grande maioria dos programas êxitosos dos mais populares vamos dizer assim.

Que a gente sentiu falta enquanto grupo que estava lá a gente até comentou, que experiência êxitosa é essa que a maioria das experiências vão buscar coisas nos Estados Unidos, na Alemanha quando na realidade a gente tem aqui experiências que são feitas pela própria população e que nem chegam a ser apresentadas lá porque isso não tem qualidade pra eles.

Marzinho:
Pra quem?

Eleni:
Para eles os políticos, os governantes, para quem vai propor as políticas públicas como o João está dizendo, e aí entra o que a Mayara colocou, é a mesma coisa de estar se apropriando de termos como é utilizado pela mãe natureza (...) utilizando, não você, mas outro grupo lá (...)

(fala simultânea)

João:
(...)
Por exemplo, a gente está discutindo a necessidade de complementar a educação no semi-árido ... que haja um ensino maior para as áreas comunitárias, para várias escolas, para que a gente garanta programas televisivos, na tv cultura, tv educativa no estado do ceará, que tenha uma programação nossa que está no Ceará, tem uma discussão discutindo problemas do Ceará. Então há uma proposta nessa direção e que todas as grandes empresas que atuam no Estado, inclusive as grandes universidades que atuam no Estado elas têm que dialogar essa proposta de leis. Por exemplo, umas das ideias que a gente está encaminhando é que as universidades tenham a obrigatoriedade da formação no estado do Ceará a UFC a UECE, UVA e URCA e a UNILAB elas tem a obrigação na formação dos professores ter conteúdos específicos sobre o semi-árido cearense e a gente propõe também, só para  dar um exemplo, porque acho que vai gerar resultados, que as escolas tenham, as escolas do Estado do Ceará, tenham - como hoje é obrigatório a questão da africanidade e da indianidade, há uma lei específica  para trabalhar cultura africana e cultura indígena na escola - que a cultura e os conhecimentos acerca do Estado do Ceará sejam obrigatórios. Eu penso que isso vai ajudando, não vai resolver não é de cima para baixo em certa medida, mas vai gerar certo impacto porque vai ter que correr atrás e aí há uma proposição de ações que viabilizam isso, por exemplo, produções para prioridade pedagógicas. Em vez de estar comprando no sudeste como sempre se faz se compra material produzido no estado então é mudança ... em certa medida, são tentativas de estimular essa discussão.

Eleni:
Então a gente também, deve de certa forma ter cuidado porque a gente também pode estar sendo utilizado também. Por exemplo, nós enquanto grupo temos a nossa concepção, temos a nossa proposta, e às vezes pra poder mesmo ter respaldo nessas políticas eles convidam exatamente membros de determinado movimento para tentar, fortalecer, legitimar a proposta deles. Eu sei que no caso você é paciente, você está lá como representante de um grupo da universidade, não sei como foi convidado, mas às vezes nós somos chamados mais para respaldar, legitimar, do que mesmo pra estarmos lá e fazermos as nossas propostas e levarmos este outro lado e essa outra possibilidade. Como por exemplo, eu estou aqui desenvolvendo um projeto do meu autor, da Universidade que é o Ivo, então de certa forma eles já querem se apropriar da minha pesquisa para também legitimar outras ações então eu tenho também que observar se isso vem sendo feito ou não.

Marzinho:
?????

Manoel:
Elo da natureza.

Marzinho:
Eu só queria que vocês fizessem uma pequena avaliação do momento e qual foram os sentimentos que vocês tiveram neste momento de fazer a imagem, estar socializando, como é que vocês avaliam os sentimentos de vocês e essa vivência?

Eleni:
Eu acho assim que foi legal a dinâmica, agora eu acho que desconsiderou o trabalho que a gente fez (palmas) assim, a gente teve um trabalho, a gente teve uma ideia como todos os outros grupos tiveram e não fomos ouvidos eu acho que foi participativo, é muito legal a gente representar, se expressar, participar, me integrei foi muito legal é muito bom a gente tentar se expressar não só através da mente, mas ao mesmo tempo eu acho não foi muito respeitado o que a gente fez.

(Marzinho e Eleni ao mesmo tempo)

Marzinho:
?????

(várias pessoas ao mesmo tempo)

Marzinho:
Eu acho que é um momento legal para um diálogo. Porque a gente está de certa forma mudando a lógica que é uma lógica de trazer uma coisa pronta, de autores que já discutem esses temas, mas de certa forma é uma reprodução, a gente coloca alguma coisa, a gente fala alguma coisa, mas a gente está trazendo uma ideia já pronta, um ideia no data-show, uma coisa que a gente lê e esse momento, talvez seja o primeiro momento, de uma produção realmente coletiva do GEAD em que todo mundo vai ser ouvido, claro que teve uns problemas teve, que realmente não deu para administrar eu não soube administrar talvez, também nunca tive vivenciado dessa forma, porque até se a gente fosse fazer essa ...

(todos ao mesmo tempo)

....  foi o primeiro trabalho, realmente coletivo. A gente deve pensar mais nessas possibilidades, de se produzir com esse método coletivo, e não só a partir de uma leitura de textos, de utilizar outras linguagens como essa corporal e a gente inventar um monte de coisas, aí a gente pode caminhar por uma área muito grande de produção a partir do nosso povo, a partir do nosso pensamento sem racionalizar muito.

Eleni:
Mas depois vocês vão fazer a relação do que nós apresentamos, do que nós criamos com a referência?

Mazinho:
Essas coisas que a gente está fazendo aqui esse vai se transformar direito.

Eleni:
Eu sei, mas vai ter também referências de autores não é isso?

Mazinho:
Mas primeiro vem nosso olhar depois a gente vai olhar a lógica do autor.

Patrizia:
Quem quiser participar pode participar, não fica só com a gente.

Manoel:
Eleomar-Marzinho, também colocando o pessoal que chegou depois que aí tem uma vivência porque cada um escolheu um elemento da natureza, não é isso?

???

Marzinho:
Pois é tivemos um momento de relaxamento em que cada um escolheu um elemento da natureza. Depois de terminar ia perguntar porque você se identificou com esse elemento, se vocês quiserem falar eu acho interessante, quem participou, que é esse momento agora. Que elemento você escolheu, por que escolheu este elemento, qual é a relação deste elemento com a colonialidade e a descolonialidade?

Ana-Maria:
O elemento que eu pensei foi a água porque é o elemento que mais me dá bem estar sempre que eu penso em relaxamento eu penso em água. Às vezes eu sinto fome eu tomo água, o meu apartamento é enorme, um garrafão de água, mas as vezes eu tomo também água da torneira (???). Inclusive, literalmente você é 85%  água, e  também sobre a questão do que significa a água. Mergulhar para mim é uma das coisas melhores principalmente .... e inclusive eu não consigo ir a praia, porque têm gente que vai à praia só para ficar na areia passa o dia todinho, e eu não consigo ir se eu não entrar no mar. Porque a água representa também essa fluidez e é a ideia de imersão, de você ser parte, quando você entra na água você consegue digamos entrar, consegue ficar é diferente da terra, o ar também tem essa possibilidade e a água por essa dimensão de purificação, de relaxamento e como elemento essencial. Você consegue ficar um bom tempo sem comer, consegue ficar sem fazer muita coisa, mas sem água é muito difícil e cada vez quando eu vou utilizar a água eu lembro disso e um dos maiores medos quando eu engravidei, foi o medo de, da dificuldade de se ter água e da Sofia morrer por causa disso. Aí tem a outra questão que é da inundação, das ondas. Então é o elemento água por isso.

Eleni:
A minha palavra também foi água, mas eu escolhi por outras razões. Primeiro hoje não estava a fim de participar de atividades corporais. Na hora que o Marzinho falou para relaxar fui relaxando fui tentando entrar no ritmo da atividade, da dinâmica e ai quando ele falou pense numa palavra, pensei a água é fluida, a água corre, a água se movimenta, e a água mesmo que ela encontra uma pedra no caminho ela desvia e continua seu curso, então eu acho que estava precisando disso e aí quando veio no decorrer da dinâmica foi surgindo exatamente com o tema da água, então foi muito bom para mim para inclusive quebrar essa resistência hoje e também a resistência mesmo em relação ao próprio grupo. Acho porque eu passei três ou quatro reuniões sem vir, hoje eu estava meio resistente, pensei será que eu vou com preguiça de vir, acho porque as questões pessoais vinham também, acho que foi boa a dinâmica, foi muito boa gostei bastante porque me colocou em contato com algo que talvez estivesse precisando exatamente naquele momento  por isso eu escolhi a água. E a relação da colonialidade, a final eu nem pensei, não tive isso como uma questão inicial, mas vim pensando agora no que a Ana colocou eu acho que também tem um pouco essa questão da escassez que a gente vive ao mesmo tempo da escassez existe esse outro lado que é a abundância de uma forma que a gente não sabe lidar.

Maclécio:
Eu pensei em vários elementos e foi difícil para mim me concentrar num elemento, veio o fogo, veio o vento, veio a água veio tudo de uma vez, fiquei pensando como é que vou me concentrar? Aí para poder me concentrar e relaxar eu percebi que estava com muita coisa ao mesmo tempo aí pensei em fogo. Botar em uma fogueira as preocupações, as intenções, aí toquei fogo nisso tudo. Depois eu fiz a segunda relação de queimar as preocupações na fogueira e depois de retrazer energia, depois que queimou, ai teve energia, ai depois veio um terceiro momento da percepção que pode ter a ver com a colonialidade, mas não tinha pensado na relação com a colonialidade, porque eu comecei a ver florestas queimando e pensei, puxa como é que penso numa coisa dessas, mas depois aí voltei para a questão do relaxamento para revigorar as forças para poder continuar.

Marzinho:
????

Lívia:
Eu pensei num vegetal, no nascimento, porque um amigo me disse uma coisa tão bonita. Um dia desses, a gente estava conversando aí ele falou que Deus orava e meditava na terra através dos vegetais aí eu achei tão bonito e aí foi a inspiração da hora, o vegetal.

Sahmaroni:
Eu achei muito difícil para eu fazer este momento de dinâmicas. Até porque eu vim de ônibus e o ônibus estava lotado eu vim tão irritado, mas eu tentei entrar só que eu entro e a minha cabeça não para aí eu penso no elemento ar que eu acho que é o que mais se parece comigo, eu pensei em ar. Tem até a ver com a minha busca eu sinto, mas eu não vejo e vários movimentos, o ar não para nunca e tem várias formas de se manifestar desde as mais amenas as mais devastadoras acho que foi isso que eu pesei.

João:
Eu me imaginei uma árvore por isso que ficava parado assim e aí eu sentia, teve um momento que o Marzinho orientou que a gente procurasse sentir, se sentir como e eu realmente sentia todo aquele fluxo, eu sentia a entrada das coisas da terra, e eu pensei eu tenho que trabalhar mais isso, porque até a foto-síntese rolou.

(conversa simultânea)

Manoel:
Eu queria falar com ralação a preocupação da Ana Maria em relação à água, os cientistas brasileiros descobriram um aquífero na região amazônica que vai dar para abastecer a população atual por mais de  400 anos então pelo menos a Sofia não tem de se preocupar. O elemento com o qual me identifiquei foi também o ar realmente eu tenho me preocupado, eu li uma besteira não sei aonde, que o ar é um dos principais responsáveis pelo nosso envelhecimento e pela nossa morte, e aí fiquei matutando como é que pode o ar que da a vida ao mesmo tempo é o que traz a morte, os radicais livres um dos causadores é a questão do ar em excesso.

(kakofonia)

Magda:
Em relação ao Manoel, daqui está viajando para buscar uma coisa que está lá não sei aonde e faz umas costuras louquíssimas, uns links que são só dele, eu acho que se a gente fosse escolher um elemento assim para caracterizar o Manoel o ar seria bem ...

(kakofonia)

Priscylla:
Eu também participei da atividade como a Eleni e a Ana eu também pensei na água porque a água para mim trás a idéia de renovação eu acho que renovação acaba virando necessidade na vida da gente e a água também é bem estar muito bem estar, só isso.

Patrizia:
Eu pensei na terra no sentido da mãe terra, no sentido do globo, porque para mim é amor puro, que só dá e não exige nada de volta, então por isso para mim é amor puro como também a planta é um dos seres mais amoroso que não recebe nada em troca. Você corta uma árvore e ela tenta recrescer de novo e sempre só dá, então para mim é o ser mais altruísta.
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REUNIÃO GEAD 14/05/2010

Presente: Manoel, Priscila, Adriana, Pedro, João, Mazinho, Sarah, Samaroni, Geidson e Danielle.

A reunião foi iniciada por volta das 9:30... mais ou menos... enquanto o pessoal estava chegando... Os temas eram variados: cabelos, grupos de pesquisa...
Após esse momento foi realizada uma vivência experiencial que tratou da Descolonialidade, onde, cada um dos participantes apresentou algum movimento em um círculo formado fora da sala que representasse o seu sentimento ou representação simbólica sobre o tema.
Voltamos à sala e cada um dos participantes falou um pouco sobre as experiências vividas naquele momento. Iniciamos conversando sobre o movimento realizado pelo Pedro. O Geidson identificou a descolonialidade como um movimento de integração e a Sarah acatou a idéia associando a questão da liberdade e do novo, porém aceitando as diferenças.  O Samaroni viu a experiência do Pedro a partir da idéia de teia. Mazinho falou de entrelaçamento, mas disse sentir falta do toque. João se identifica com as percepções do Samaroni. Adriana diz que viu presente a linearidade. Priscila fala sobre entrelaçamento, buscando algo mais, já que o movimento teve dois sentidos. Manoel fala em relação a trajetória.  Danielle fala sobre a linearidade e padronização. Pedro fala que sua intenção era apontar a possibilidade da não linearidade. 
Após o Pedro falou-se sobre o movimento da Adriana, que justifica sua integração ao movimento do Pedro. Danielle falou sobre uma barreira criada, que foi percebida mesmo com a intenção de integração. Fazer com que Pedro, apesar de seus movimentos considerasse o movimento da Adriana e se integrasse a ele. Mazinho fala do posicionamento em relação às resistências. Geidson identificou na atitude da Adriana uma forma de respeitar o movimento.
Samaroni coloca que é interessante considerar isso no contexto da educação, ressaltando que é importante considerar o aspecto das interpretações. A questão da inclusão ou exclusão precisa ser considerada, mas João coloca que na verdade, nem sempre quem se exclui quer ser incluído. Samaroni fala das suas vivências com as crianças em situação de rua, e diz que na sua experiência o fato de muitas vezes a pessoa se excluir do grupo, representa sua vontade de ser notada.
O movimento do Manoel, segundo a Adriana ampliou a escuta qualificada. Pedro discorda em parte, mas Adriana reforça que o gesto feito foi bastante significativo. João fala que em uma expressão como foi proposta, os gestos são fundamentais para o entendimento das pessoas. Priscila fala que foi importante tratar a questão da escuta, mas entendendo que ela é diferenciada. O educador deve ter a sensibilidade para perceber as diferenças e habilidade para alcançá-las. Manoel coloca a escuta como uma necessidade urgente da humanidade.
Após esse momento foi comentado o movimento da Danielle, que para alguns representou coesão, elos. Algo difícil de quebrar. Manoel fala sobre a resistência que poderia ter sido encontrada caso as pessoas não tivessem entendido a proposta e ressalta a visão de um autor (esqueci o nome?), que fala que para se construir a paz é necessário que exista o conflito.  
Sobre o movimento do Mazinho, o grupo fala muito claramente sobre educar e mexer com o corpo do outro. Adriana fala sobre moldar e atender as perspectivas individuais, já que ele fez com que cada um fizesse aquilo que ele queria. Uma outra interpretação  seria a da interculturalidade, da interação com as diferenças. Sarah fala da necessidade de que cada um também se coloque de forma aberta para aceitar o outro. Priscila fala do alcance as mais diferentes pessoas.  Mazinho coloca que sua proposta era o entendimento de que o corpo dele somente não era suficiente e de que não pensou apenas em pessoas, mas em arvores, figuras de animais... Uma interação completa com o ambiente. O Manoel representava o excluído, outros o feliz, o sério, a japonesa, a grávida que representa a vida.... Uma relação que anda não existe, de coexistência ou convivência de elementos visíveis e invisíveis na natureza que é utópica porque estamos desconectados. A idéia foi pensar na conexão do mundo material com o imaterial, características do seu trabalho de pesquisa. Sugere o filme turista espacial, como forma de fortalecer essa percepção de valores.
Quanto ao movimento do João, Manoel fala que levou um abraço pensando “que era ela, mas não era ela”...   Fala sobre o calor, o afeto. Sarah diz que ficou surpresa e meio sem entender as conexões. Mazinho fala que o abraço trata do cuidado com o outro, da preocupação... Priscila fala que o abraço representa acolhimento e tem uma relação com a PER.
O movimento da Priscila foi visto como um movimento formal, que pressupõe um certo distanciamento. O aperto de mão está associado a visão de desarmamento...
Sarah a partir de uma visão geral, diz que achou interessante o exercício e  que nunca achou que tantos gestos poderiam significar tantas coisas... Pequenos gestos podem ser analisados, refletidos, escritos... A riqueza produzida a partir de um gesto que pode envolver o corpo. Samaroni fala sobre Fernando Pessoa, que tem um poema cujo último trecho diz que “só a loucura incompreendida leva avante para o céu”.  Para ele, isso é uma nova forma de fazer academia, deixando fluir outras maneiras de perceber, abrindo espaço para outras linguagens que não sigam a lógica formal tão forte na academia, criando situações muito mais expressivas.
João fala sobre a necessidade de mudar nossas referências mudando a lógica cartesiana, ressaltando que mais importante do que o resultado é o caminho para chegar aos resultados. Ressalta que com a PER eu posso sempre expandir a minha interpretação, não caindo no relativismo absoluto, mas na compreensão da complexificação do processo. Samaroni fala sobre a proximidade entre ciência e arte. João diz que ainda não chegamos ao ponto de igualar as duas, já que não tem a arrogância de achar que chegou a verdade.
As 10:20 fizemos um intervalo e as 10:50 retornamos...
Foi iniciada então a discussão sobre as relações entre a Colonialidade Ambiental e a PER.
A apresentação que partiu do conceito de relações subalternizantes. Foram apresentadas algumas fotos que marcam a des-humanização. Um texto apresentado retrata aspectos do rompimento com a visão utilitarista.
Em seguida foram apresentadas algumas distorções hipermodernas:
O culto e o inculto;
A utilidade e a racionalidade instrumental;
A dimensão afetiva que foi excluída, desqualificada ou minimizada;
A natureza que se apresenta como recurso, espaço de lazer;
A fragmentação, ou a falsa separação entre humano e natureza e humano e outros seres humanos;
O conceito de subalternização é a colonialidade (colonização para além do imaginário, das idéias, valores, dominação simbólica, legitimação de valores hegemônicos) expressa num contexto micro. A construção da subalternidade seria a vivência da colonialidade em situações corriqueiras e inerentes a qualquer relação social. A ação de subalternizar retrata a capilarização da ação de colonizar, esta por sua vez pensada num sentido social mais amplo.
A colonialidade tem uma relação direta com a educação bancária. O propósito é problematizar o mundo atual. O colonizar seria a propagação do domínio sobre o outro. A colonialidade implica em um processo de colonizar as mentes, as idéias, o imaginário e as culturas. Em síntese significa o colonialismo somado ao domínio sobre a dimensão do imaginário, das ideologias.
“ Na lógica colonializante encontramos um conjunto de estratégias e propostas que inculcam a noção de um mundo unificado em torno da Europa, seu único centro e matriz. Neste corpo ideológico temos a modernidade, o cartesiano, o capitalismo, o liberalismo e o neoliberalismo, o Estado-Nação centralizador, as empresas e o mercado, a globalização, as instituições instituintes da ordem social”.
Os estudos da Modernidade/Colonialidade começam com Quijano em 1991. Quijano propõe originalmenteo conceito de Colonialidade do Poder.

OUTROS AUTORES
Wallerstein: Enfoques inovadores da sociologia ocidental – a análise do sistema mundo. Toda a história é contada a partir de um viés colonial. Existe muita história não contada....
Dussel: Filosofia da Libertação
Walter Mignolo: Pós-colonialidade.
Coronil: Antropólogo Venezuelano.
Gómez e Rivera: Filosofos Colombianos.
Lander: Colonialidade do Saber – CLACSO.

A colonialidade inicialmente foi pensada como uma categoria única, mas posteriormente se amplia. (PODER  E SABER:  (QUIJANO- hierarquização do humano a partir do conceito de raça – para o João o pano de fundo é a questão da espiritualidade), SER). A colonialidade do ser é uma decorrência da colonialidade do poder. É uma forma de manipulação que parte de um dominador.  
O cogito define o que existe. O distanciamento possibilita o saber válido. A competição seleciona o melhor. O controle permite o domínio.

Padrão de Poder Mundial: Raça (padrão universal), Capitalismo( padrão de exploração social), Estado (forma central de controle), Eurocentrismo.
A data que demarca o início do colonialismo é 1492. Com as invasões das Américas é que surge o poder de dominação e a partir daí há a construção de um ideário que é a Europa. A riqueza e poder da Europa são oriundos da América Latina. Até o período colonial, ir no caminho certo era se orientar; América, continente sem nome próprio; Aqui ocorrem as primeiras manufaturas modernas movidas a chibata; Aqui surgem as primeiras cidades planejadas.
João ressalta que na colonialialização há uma intencionalidade de dominação ideológica. Na colonização não. O que ocorre com a colonização pode ser uma decorrência das ações, sem um propósito deliberado de induzir as mentes.

Eurocentrismo e Rupturas:
Espiritualistas e Ateus
Humano e Não humano
Publico e Privado (Locke)
Mente e corpo
Ciência e senso comum
Universal e o resto
Modernidade (civilizado) e Barbárie
Manuel : “ mimetismo do capitalismo para não mostrar a sua podridão” – PEROLA Nº 1 !!!

Colonialidade é:
“Contrariamente ao que afirma a perspectiva Eurocêntrica, a raça, a diferença sexual, a sexualidade, a espiritualidade e a epistemologia não são elementos que acrescem as estruturas econômicas e políticas do sistema mundo capitalista, mas sim uma parte do paacote enredado: sistema –mundo patriarcal, capitalista, colonial, moderno europeu “. (Grosfoguel,2002).
A negação do direito do colonizado começa pela afirmação do direito do colonizador; É a negação de um direito coletivo por um direito individual; Locke (segundo Treatise of Government) elabora mais concretamente esse direito como direito de propriedade, como propriedade privada, por uma razão muito precisa. Se a terra não é utilizada deve ser ocupada.
Mazinho ressalta o termo DENEGRIR, utilizado nas discussões associando-o ao preconceito. Denegrir é deixar negro, representando a visão de subalternização da raça... Isso faz parte da construção do nosso imaginário e representa uma característica de colonializados que somos...

A COLONIALIDADE DO SABER É MANTIDA POR INSTITUIÇÕES FORMADORAS EDUCATIVAS.

A modernidade é parte da organização colonial/imperial do mundo. As outras formas de ser são transformadas em arcaicas, primitivas, pré-modernas. Os diferentes recursos históricos (evangelização, civilização, modernização, desenvolvimento, globalização)  têm como sustento a concepção de que há um padrão civilizatório que é simultaneamente superior e normal, universal dos conhecimentos científicos eurocêntricos. Sociedades ocidentais modernas constituem a imagem de futuro para o resto do mundo.
No entanto a naturalização da sociedade liberal como forma mais avançada e normal de existência humana não é uma construção recente que possa ser atribuída ao pensamento neoliberal, nem a atual conjuntura política, pelo contrário, trata-se de uma idéia com uma longa história no pensamento social ocidental dos últimos séculos. Tudo isso vai sendo normalizado por nós... É um processo que vem se constituindo!

MANOEL: NOS DIAS HODIERNOS ESTAMOS PERDENDO OS LAÇOS DAS AFECÇÕES SUPERIORES -  PEROLA Nº 2 !!!

As dimensões constitutivas dos saberes modernos que contribuem para explicar sua eficácia neutralizadora são:
As sucessivas separações ou partições do mundo “real” que se dão historicamente na sociedade ocidental;
A forma como se articulam os saberes modernos com a organização do poder, especialmente as relações coloniais/imperiais de poder constitutivas no mundo moderno.
Mazinho coloca que as pessoas desconsideram a dimensão humana dos indivíduos, destacando sua experiência na escola, onde muitos professores tratam alguns estudantes como merecedores de exclusão.
Encerramos ao 12:05, planejando as ações para a próxima reunião.
João finaliza com algumas fotos de figuras que trabalham o tema apresentado hoje.
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Relatório da reunião do Gead 14 de maio de 2010
                 
Pra se dançar ciranda...
Começamos a reunião passada com uma ciranda e, como sempre estou percebendo nesse espaço de amorização que antecede as reuniões do Gead, a consciência coletiva aberta pela música está criando novas conexões entre nós.
            As danças circulares e sagradas sempre estiveram presentes na história da humanidade – nascimento, casamento, plantio, colheita, chegada das chuvas, primavera, morte -  e refletiam a necessidade de comunhão, celebração e união entre as pessoas. A dança é uma das formas de comunicação mais primordiais da nossa história. A psicóloga Clarissa Pinkola nos fala que todos nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixamos o cabelo crescer e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o espectro de nosso eu-selvagem ainda nos espreita dia e noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas.
            Estávamos presentes eu, Adriana, Sahmaroni, Ana Maria, Pedro, lídia, João, Tirsa, Alexandre, Priscila, Patrízia, e Fernando, que começou a apresentação nos falando de uma lenda indígena sobre a gênese do mundo, musicada por Ceatano*. A música fala de uma tribo que ao presenciar a divina comunhão através de um vinho (pra quem não sabe, os “filhos” chamam o chá hoasca de vinho) percebem que bem e mal estão entrelaçados e verificam a força toda poderosa das jias (bem como das outras coisas vivas) para mudar esse fato. Através do vinho eles percebem a unidade do mundo múltiplo. Outra curiosidade é que muitas tribos amazônicas usam a secreção venenosa de jias para fabricação de uma vacina (Kambô) que dá poder para entrar na mata, aguentar fome e frio. A cura é espiritual e se manifesta no corpo físico. Dessa maneira, trocamos idéias sobre a gênese do mundo segundo diversas culturas e no fundo havia um ar de que sabíamos que todas estavam certas.
            Vimos também um trecho do filme Ponto de Mutação, inspirado na obra de Capra, que falava, em palavras-chaves pra sintetizar, sobre totalidade, interatividade, holismo. João nos fala que o “mundo é concebido como uma unidade interativa, um todo interatuante, multidimensional, indivisível, (...) interligado com todo o seu derredor” e o Fernando nos fala sobre a importância de vivenciar o discurso da perspectiva - o que eu acho muito válido. Então, quando tomamos nosso pedaço de terra e montamos nossa ecovila? Há de ser uma invasão, pois senão estariamos nos dobrando ante a fina flor do capitalismo: a compra e venda da terra. Fica a deixa... Como bem colocou Fernando: “A nossa dignidade se mede pela nossa indignação” (Nelson Rodrigues).           
Passeamos também com Maturana, suas emoções e linguagem como manifestação biológica. Ao questionarmos, eu e Sahmaroni, sobre a colocação de Maturana, ao encarar o fenômeno vivo (emoções e linguagem) como biológico, o autor não estava reduzindo a uma única dimensão o que é pluridimensional. Nesse momento recebi a lição mais importante da manhã: não vamos nos apegar as palavras utilizadas pelos autores, palavras que muito deturpam o sentimento original e nos joga num mar de complicação sobre a comunicabilidade das coisas. Vamos nos aproximar. Muito nos foi ensinado sobre a distância, sobre questionar até o último gomo o pensamento do outro a fim de desqualificá-lo. Às vezes fazemos isso sem perceber, pois nos acostumamos e é nesse local que nos sentimos seguros. “Segurança nada significa além da condescendência com as circunstâncias de sua realidade. É meramente um ideal implantado em sua mente para fazê-lo temer o desconhecido, pois, se você permanecer no conhecido, não haverá crescimento. Quando você penetra no desconhecido e acolhe a incerteza, você realiza um avanço espetacular na abertura de portas para o seu real Eu” (Emmanuel). Acho importante terminar o relatório aqui. Para sempre seja claro nosso caminho.

*Letra de Genesis (Caetano)
Primeiro não havia nada
Nem gente, nem parafuso
O céu era então confuso
E não havia nada
Mas o espírito de tudo
Quando ainda não havia
Tomou forma de uma jia
Espírito de tudo
E dando o primeiro pulo
Tornou-se o verso e reverso
De tudo que é universo
Dando o primeiro pulo
Assim que passou a haver
Tudo quanto não havia
Tempo, pedra, peixe, dia
Assim passou a haver
Dizem que existe uma tribo
De gente que sabe o modo
De ver esse fato todo
Diz que existe essa tribo
De gente que toma um vinho
Num determinado dia
E vê a cara da jia
Gente que toma um vinho
Dizem que existe essa gente
Dispersa entre os automóveis
Que torna os tempos imóveis
Diz que existe essa gente
Dizem que tudo é sagrado
Devem se adorar as jias
E as coisas que não são jias
Diz que tudo é sagrado
E não havia nada
Espírito de tudo
Dando o primeiro pulo
Assim passou a haver
Diz que existe essa tribo
Gente que toma um vinho
Diz que existe essa gente
Diz que tudo é sagrado

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RELATÓRO GEAD 4 de junho de 2010


Tema: Perspectiva Eco-Relacional suas possibilidades pedagógicas e educativas
Responsáveis: Eleni e Pedro
Relatório do dia: Patrizia

Presente: César, Eleni, João, Magda, Manoel, Mazinho, Patrizia, Pedro, Pryscilla, Samoroni,Tereza.

Antes de iniciarmos a apresentação, hoje com Eleni e Pedro, João nos leva para o pátio onde formamos primeiro um círculo de mãos dadas de costas um@ para @ outr@ e em seguida de frente um@ para @ outr@ andando vez para direita, vez para esquerda.

Alguns comentários de que me lembro a respeito da dinâmica: “A emoção é diferente virando as costas para @s outr@s daquela no momento de estar olho no olho!” – “A gente se sente só virando as costas para @s outr@s!” – “Não se vê @ outr@, mas se sente!” – “Olhando para as paredes ninguém conversa, no momento que as pessoas se enxergam começam a falar!”.

De volta para a sala Mazinho toca na questão dos canecos e mostra alguns modelos em esmalte que ele troce. João diz que deveria se discutir as propostas e também a questão do material, que poderia também ser plástico, eu por minha vez questiono o plástico, que é subproduto do petróleo e quero dizer com isso que temos que conhecer o contexto em que os objetos são produzidos (poluição, gasto de energia e água etc.), por isso proponho potes de barro –  terra, mãe terra, pacha mama – dentro dos quais a água leva o gosto da terra.

Como não vamos resolver o problema dos canecos hoje, a discussão é adiada para o dia 25 de junho de 2010, das 8:00h – 10:00h (fechadas porque às 11:00h começa o jogo Brasil – Portugal) na casa do Mazinho, Rua Carvalho Mota 515.

Adiado o problema dos canecos Eleni que estava na fila de espera inicia a apresentação. Na parede ela colocou dois cartazes lilás vazios, agora ela nos pede escolhermos da pilha de jornais em cima da mesa uma imagem que para cada um@ de nós represente práticas educacionais hegemônicas (1) e outra que represente dimensões pedagógicas da perspectiva eco-relacional (2) a serem coladas cada uma no cartaz correspondente. Depois das colagens (in)concluídas Eleni convida para explicar as escolhas.

Magda:

(1)        Estatísticas: As estatísticas falam da evasão nas escolas, não mencionam que a educação afasta as crianças da escola, que a rua apresenta um atrativo maior e oportunidades de desafio, de se conhecer no confronto com a realidade, de poder ser o que se quer, poder experimentar-se nem que seja através das drogas e derivados. A escola fica longe, ou seja, está longe de convidar a realidade para a sala de aula.
(2)        Foto do “quintal do Mazinho”, criança no balanço, a natureza ao redor: um espaço diferente cheio de afetividade e cuidado.

Priscylla:

(1)        Desenho de pessoas de séculos passados sentadas à mesas lotadas de livros, escrevendo:  somente elas dominam o saber. Permanecem sentadas, paradas na posição certa. Não se movem, mas pretendem movimentar (“mexer com”) o mundo.
(2)        Pai e filho unidos na natureza: mostra a relação dos semelhantes entre si e com o todo, também entende os pais como parceiros na partilha de saberes, o que lembra a existência de outras culturas como as tribos indígenas que podem nos oferecer o que elas têm de saber, mais para lá do saber urbano que é mais valorizado pelo modelo de sociedade hegemônica.

Mazinho:

(1)         Foto do Presidente Lula sentado: ele cortou a imagem em forma de quadrado porque se trata de uma questão de enquadramento e a cadeira significa a imobilização do corpo. É preciso parar para refletir, só pode entender sentado. A expressão do Lula é triste, sem alegria porque “morreu”, ele mostra cansaço. Passa o tempo e nada se faz, isto causa doença aos educadores.
(2)         Coração no olho: Mostra a capacidade de se emocionar, ter perspectiva, esperança. Pássaros: saber ir mais longe em parceria, não necessariamente voando, mas trabalhando a terra em solidariedade.

Manoel:

(1)         Mulher islâmica: prática pedagógica radical, não pode mostrar o rosto, não pode expressar nem o corpo.
(2)         Círculo formado por integrantes do MST, uma pessoa falando: alternativa à “educação bancária”, a liderança amorosa fusiona com a massa para gerar a possibilidade de organização e consequente ação concreta.

Pedro:

(1)         Lênin em primeiro plano posicionado acima das massas que figuram em segundo plano: Lênin é o professor, aquele que tem o conhecimento a ser repassado ao povo “ignorante”, aqui o aluno que aparece em nível subalterno.
(2)         Quatro mulheres formando uma roda se tocando com as cabeças: afeto e confiança na proximidade que construíram.

Sahmaroni:

(1)        Dois lutadores de “tsumo” um em cima do outro: jogo de forças, competição, alguém quer se sobrepor ao outro.
(2)        Uma dança japonesa que é mais um tipo de teatro: um trabalho artístico sem competições onde ninguém sai ganhando ou perdendo.

César:

(1)         Imagem de séculos passados onde um pobre (na certa representando o povo oprimido) carrega nas costas os ricos e todo um sistema social por eles desenvolvido a partir do interesse de uma minoria em detrimento da maioria: quem carrega a barra não questiona o poder (o fardo) que está em cima dele, é a questão da dominação de quem sabe sobre quem não sabe (o povo “ignorante”).
(2)         Uma mãe que acolhe seu filho: é uma coisa muito forte e profunda praticar acolhimento e aconchego.

João:

(1)            Um grupo de homens com peixeiras nas mãos correndo numa estrada se aproximando ameaçadoramente: a consequência das práticas hegemônicas.
(2)            Dança de mulheres na rua: promover a afetividade leva a ações de respeito com o todo (harmonia).

Eleni:

(1)          Sala de aula com alunos e uma mesa vazia: representa o espaço hegemônico fechado, quem não esta na escola está na rua.
(2)          Diferentes formas de expressão teatro, música, arte: diferentes práticas fora da sala de aula que não deixam de ter valor educacional.

Patrizia:

Em primeiro lugar constatei como é difícil encontrar neste tipo de revistas (Veja, Época etc.) imagens que possam representar a dimensão pedagógica da perspectiva eco-relacional. O que mais me atingiu foi a brutalidade com que a publicidade golpeia as pessoas, instiga ao possuir, ao dominar, ao destruir tudo o que é biófilo. Como atribui qualidades de seres viventes a objetos mortos e rebaixa a natureza a algo que está debaixo das botas de um agir necrófilo restando-lhe somente a opção de lhe beijar as mesmas botas que lhe esmagam. Para Freire dizer sua palavra é ato de libertAção, aqui a palavra é instrumento para a opressão.

Terminei por última a tarefa de escolher e recortar imagens, porque não sabia o que escolher. Tinha uma publicidade que louvava os talentos de certo tipo de carro; outra que mostrava uma praia linda e em primeiro plano um cartaz com a palavra “reservado”; tinha também a foto de uma ilha belíssima prometendo o máximo de natureza acompanhando o título de um artigo “Férias de Milionário”; também não faltou a foto de um lugar no sertão com mandacarus, cadáveres de gado e um caboclo triste e magro de tanto passar fome, consequência de uma permanência prolongada dentro de uma colonialidade do poder, do ser, do saber e da mãe natureza. Uma outra imagem que me custou não dar um grito foi a apresentação de uma paisagem litorânea com barcos de pescadores artesanais em primeiro plano e o símbolo da Globo como sol nascente no horizonte que convida para inovações e diz mais ou menos assim (infelizmente não guardei os retalhos e não posso reportar exatamente o texto):  “tente algo de novo, faça de cada dia algo diferente ...”, mas o cume da perversidade para mim foi – e escolhi justamente esta imagem para representar práticas educacionais hegemônicas – um puma lambendo o tênis da Puma. A natureza esbanjando consumismo em detrimento de si mesma! Quanto menosprezo, quanta insensatez, quanta insensibilidade e é isto que podemos definir como ação antidialógica em que se fundamenta a “educação bancária”. Para reportar o meu entendimento da dimensão pedagógica da perspectiva eco-relacional recortei, também de uma publicidade – e aqui eu fui incoerente, porque não prestei atenção à intenção da propaganda, quer dizer não sei o que propagava – umas fotos que mostravam natureza “intacta”, para sublinhar o interativo de “tudo com tudo” e toda a totalidade que o eco-relacional retrata.

Depois de tod@s terem expressado seu entendimento de práticas educacionais hegemônicas e da dimensão pedagógica da perspectiva eco-relacional surgiu um debate sobre espaços educacionais formais e informais. Questionou-se porque educação em espaços educativos institucionais e não em outros espaços? Será que tem muita diferença assim? Será que dentro de uma aldeia educação tem menos qualidade?

Passou-se, pois a discutir objetivos políticos que segundo uns estariam mais camuflados em espaços formais do que dentro de espaços informais, opondo-se a essa visão Mazinho que pela própria experiência comprova que o espaço formal deixa bem claro o que se pode e o que não se pode. Por exemplo, não pode-se questionar direitos dos estudantes, ou segundo Magda mensalidades em escolas privadas.

Eleni pergunta: Será necessária uma mudança? A partir da reflexão do que está posto percebe-se a necessidade de mudanças. As imagens mostraram que precisamos de algo. Precisamos mudar o espaço educativo, repensar, redimensionar, resignificar. É preciso resignificar o que é possível não apagar tudo. Avaliar de onde vêm as práticas e mudar dentro das possibilidades, fazer com que outros repensem. É preciso conviver, vivenciar com outros, fazer com que questionem. É preciso pensar outro modelo que não seja outra imposição.

Para Mazinho ao pensar em outras formas não pode-se negar o que está posto, os saberes. Tem que partir da crítica do que está posto, não se pode negar tudo, mas tem que trazer outros saberes (corpo etc.). Já está se pensando novas práticas demais (livros, teorias, textos), existem tantas coisas novas, mas não conseguimos praticar, está na hora de experienciar, na hora de atuar. Para os educadores é tão difícil praticar, eles têm medo de tentar o novo. Mazinho quis praticar o teatro em sala de aula e todos os outros educadores disseram que não ia dar certo porque “os meninos são danados”. Fato é que deu certo e que só pode-se dizer que algo dá ou não certo ao praticá-lo o resto é só especulação e dela o mundo está cheio. Foi teatro no sentido de brincadeira como forma educativa. A vice-diretora foi fiscalizar a tentativa de mudar estruturas postas e determinou que não pode mais, porque no espaço educativo formal deve-se manter o silêncio.

Como bem dizia Paulo Freire:

“Minha impressão é que a escola está aumentando a distância entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos. Nessa dicotomia o mundo da leitura é só o mundo do processo de escolarização, um mundo fechado, isolado do mundo onde vivemos experiências sobre as quais não lemos. Ao ler palavras, a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as “palavras da escola”, e não as “palavras da realidade”. O outro mundo, o mundo dos fatos, o mundo da vida, o mundo no qual os eventos estão muito vivos, o mundo das lutas, o mundo da discriminação, e da crise econômica (todas essas coisas estão aí), não tem contato algum com os alunos na escola através das palavras que a escola exige que eles leiam. Você pode pensar nessa dicotomia como uma espécie de “cultura do silêncio” imposta aos estudantes. A leitura da escola mantém silêncio a respeito do mundo da experiência, e o mundo da experiência é silenciado sem seus textos críticos próprios”.


Eleni explica o sentido da dinâmica. Não basta que as possibilidades pedagógicas se limitem ao pensar é preciso estendê-las para as próprias experiências, para a realidade.

O que fizemos foi uma atividade artística, cada um criou uma imagem de si. Não definiu como seria a apresentação. Foi um trabalho coletivo que utilizou-se do que todos sabem e mostrou que é possível decidir coletivamente. Mas, se submeter ao velho esquema reproduzindo-o é mais fácil e nos preserva do medo de sair do controle. É difícil sair da lógica do professor-aluno onde o professor “deve” dizer. Neste contexto conflitos são “solucionados” deixando passar o “momento de tensão”. O medo do diferente inviabiliza a problematização. Mas conhecer suas próprias limitações, por exemplo, querer ter o controle, pode fortalecer o grupo.

Questiono eu a essa altura dentro de uma pedagogia que se baseia em Paulo Freire em espaços educacionais que seguem seu método, a relação educação – realidade, ou seja, pensar – agir, me referindo a um exemplo reportado por um professor em um vídeo que fala de Paulo Freire, onde os alunos educados segundo seu método, fazem uma pesquisa sobre certa marca de yoghurte e descobrem um tóxico que prejudica a saúde. A ação aqui se limita em avisar a empresa e não a imprensa, porque a notícia poderia custar empregos e é óbvio a falência da empresa. Questiono eu o que é que os alunos aprenderam? Que com economia não se mexe, porque sempre tem argumentos que causam prejuízos maiores, ou seja, qualquer denúncia por parte dos oprimidos conscientizados recai com força dobrada sobre estes, dividindo ainda mais o povo já tão fragmentado, em aqueles que tiraram o emprego porque não souberam se calar e os que perderam o emprego. O que adianta, questiono eu, aprender a enxergar a propaganda com olhar crítico, se este olhar crítico não pode ir além do ser crítico? Quer dizer que o pensar crítico tem um limite até certo ponto e não pode se estender além deste limite?

Mazinho traz o exemplo de um livro que cursava na escola onde ele é professor, que dizia que quem faz trabalho manual não pensa, somente quem faz trabalho intelectual (doutor, professor) pensa. A maioria de seus alunos trabalha ajudando os pais nas mais diferentes atividades, então ele pediu trazer exemplos de seu próprio corpo a partir de sua vivência quando trabalham e perguntou se trabalhando pensam o que eles constataram. Segundo ele a prática promove uma melhor aproximação à teoria.

Eleni conta que não faz muito tempo a educação física era vista como trabalho de quem não pensa. Visão que tem origem na antiga Grécia.

Sahmaroni: reflete a relação de “mim comigo mesmo” enquanto professor. Ter a percepção de mim como eu professor comigo professor (professor-professor) para poder chegar a pensar a relação professor-aluno para se perceber como quem joga “lados negros” nos alunos.

A partir da reação de um aluno, de seu jeito de agir com ele, Eleni fez uma experiência pela qual tornou se consciente que estava reproduzindo práticas autoritárias de um professor dela. Ela proibiu o aluno de entrar em sala de aula de chinelas, no que o aluno perguntou se era ele que tinha que aprender ou os pés.

Mazinho pela sua experiência chama a atenção para o fato que existe a por parte dos próprios alunos uma reprodução de certas práticas autoritárias que existem nas escolas. Eles não querem que os outros falam, não admitem que vestem boné ou calcem chinelas, eles não aceitam uma pedagogia diferente daquela que está posta, algo de novo, eles não querem trabalhar com o corpo.

Para Eleni o processo de auto-avaliação é importante, o se colocar no lugar, no local, no espaço de sua ação.

(Provocando eu) Qual é minha leitura de educação? Para mim educação é prática para a libertação e implica radicalidade. Se a pessoa aprendeu a palavra e a dizer sua palavra a partir da leitura do mundo, da concretude e isto já é ação, esta ação que já é uma mudança, não pode parar na reflexão, mas deve se radicalizar tornando se ação política concreta, se tornar corpo para transformação que perpassa os alicerces da escola. Que libertação é essa se aprendo um olhar crítico, mas ao mesmo tempo, que não posso mexer com o concreto porque existem forças maiores? Teríamos mudado sim em relação a uma educação bancária, quanto ao podermos pensar, refletir, expressar a partir do que somos, mas isso tudo dentro dos limites do espaço educacional formal. Podemos discutir, criticar, pesquisar o lá fora, até avisá-lo, mas tocar nele? Teríamos um avanço isolado, algo que não pode fugir ao controle, e por cima algo com que o poder hegemônico pode-se condecorar, mostrando o quanto “desenvolvidos” estão seus espaços educacionais.

João rebate que continuamos fragmentados separando teoria e prática, colocando como problema a falta da prática. Segundo ele não se pode negar o avanço porque é uma atitude de diferenças estimulando maiores mudanças. Criticar não é procurar defeitos, mas pontos de conexão na diferença.

Para Eleni a história da vida dos outros perpassa a experiência dos outros. Não é só a própria lógica que domina. Não se pode prever que possam ser transformados, mas podem passar por um processo de transformação.

Segundo Mazinho tudo permanece no discurso, discurso nem seu, do outro. Tem se dificuldade em pegar coisas dos outros e falar sobre. Vivenciar e discutir com o outro é mais fácil. Não se vive a teoria, mas se faz o tempo todo o que se condena.

Eu questiono por que existe uma educação formal e informal? Muitas vezes partimos do que está posto pensando que é o normal. Eu gosto também de refletir a partir das origens. O que está posto hoje estava já posto nas origens? Antes da educação formal existia educação. A partir de certa, visão de certa cultura (uma de tantas) e por motivos que eu ignoro, educação foi institucionalizada impondo-se este processo de cunho unilateral até hoje e com o fim de dominar todos os tipos de educação que existiam e continuam existindo em nossa realidade. Educação para mim é algo que transcende o todo, por isso não entra na minha cabeça por que existe algo que é mais educação, que tem mais valor porque é legítimo (legitimado por quem?), porque recebe um título, porque dá emprego melhor etc. e algo que serve ao legítimo como bônus, mas é menos educação, coisa não legitimada, sem assinatura, carimbo, peso de documento comprovante.

A leitura de João é diferente, ele aponta para as brincadeiras, para a desmitificação da leitura, para as percepções diferentes. Segundo ele não pode se fazer crítica pela crítica, é preciso dizer o que se pretende. Não se pode lançar só crítica, uma denúncia deve ser ligada a um anúncio. A partir da prática deve se fazer a teoria, colocar a prática em discussão. É preciso definir o que se entende por pratica e teoria. Deve-se partir do concreto, estabelecer um diálogo a partir de pontos de conexão. O primeiro passo é a aproximação. Deve-se desmitificar a separação corpo-mente, não se pode negar as referências. Ao criticar problemas para superá-los não se pode negar a possibilidade do diálogo, é preciso compreender o que está posto. Não pode se impor sobre os outros, nem cair no relativismo, tem que contrapor à sedução o esclarecimento, o compartilhar, o convencer. É preciso pensar o diálogo como indispensável.

Eu penso que temos que pensar e criticar também o que está posto pela mudança de paradigma, o que foi transformado, o diferente, para que não se torne também imposição a interditar a continuação da caminhada, ou seja, a tessitura da tela inconclusa.

Eleni continua sua apresentação falando sobre a obra de João Figueiredo que se estende além de uma abordagem freireana rumo a uma perspectiva eco-relacioanl, incluíndo no diálogo, do qual resulta sua obra prima, autores como Maturana, Brandão, Reigotto, Guimarães e outros.

A perspectiva eco-relacional nasce da ligação com a Educação Ambiental e expande além da Educação Ambiental para a educação em geral integrando questões mais recentes como a colonialidade do poder, do saber, do ser e da mãe natureza. Na sua dimensão pedagógica pensa a partir de neologismos e metáforas.

João explica neologismo como o sair da lógica dos conceitos científicos padrão fechados. Metáforas são algo vivo, um conjunto de princípios, novas formas de aprender ideias antigas, trazem novos conceitos, politizam e superam ideias anteriores. A metáfora é relacionada a imagens não apenas uma coisa posta, algum título, ela mantém viva a possibilidade de uma reelaboração.

Em seguida Eleni apresenta alguns neologismos acompanhados das respective imagens:

  • Sair da própria lógica e entrar na do outro.
  • Saber parceiro. Compreender que aprendizado-ensino não é saber mais nem menos.
  • Autor aprendente. Saber parceiro nas múltiplas relações.
  • Equidade. Para alguns é essencial compreender de que precisam se afastar da percepção tradicional de que uns não precisam mais atenção de que outros no sentido de “porque dar mais para alguém que não me dá retorno?” e se esforçar para tomar conhecimento da diversidade. Não segmentar em alunos melhores e piores e estranhar quando um dos “piores” tira nota excelente. Deixar de promover os “bons” e de colocá-los como exemplo para todos, como em outdoors na frente da escola para que também o público se sente inferior diante de tamanha grandeza.
  • Afetividade.
  • Grupo Aprendente – Aprendente Grupo. Possibilidade de se compreender como grupo, mas também como indivíduo.
  • Contextualização. Trazer o real para o ensino-aprendizado.

João fala sobre transposição informacional. Precisa-se de novos modelos pedagógicos. Não adianta mais dar informação fechada porque com o avanço da tecnologia o amanhã é diferente. É preciso de estímulo porque a capacidade do estudante é criar conhecimento e compartilhá-lo.  É necessário favorecer através do desafio e do estimulo sua compreensão sobre coisas que sabe, mostrar que pode ampliá-las e levar para outros lugares, por exemplo, a compreensão da arte para entender física. A perspectiva transdisciplinar reconhece a politicidade desta ação. As múltiplas disciplinas carregam múltiplas linguagens, afastar-se da mera reprodução do cognitivo para compartilhar conhecimento é indispensável.

Pedagogia Eco-Relacional

É imperativo superar a compreensão do humano pensando na sua completude (afeto, emoção, físico, sentimento, psique).
Completude inconclusa porque dinâmica, digo eu.

Pensar o processo de ensino-aprendizado na perspectiva eco-relacional requer:

  • Dialogo como fundamento da práxis efetiva libertadora.
  • Reconhecimento do outro como legítimo outro. Se questionar sobre o que a gente está fazendo. A gente esquece que está dentro das práticas hegemônicas e que também impõe. Há momentos em que nos percebemos fazendo como os outros.
  • Reconhecer e conviver com as diferenças que implica em supra-alteridade.
  • Compartilhar saberes. Saber parceiro.
  • Valorização da educação como processo mútuo e partilha.
  • Viver para entender.

João comenta sobre a colonialidade da religião. Segundo ele o Evangelho é repassado como normas a serem aprendidas e não como vivência.

  • Viver a ética nas ações.

Eleni reporta uma experiência que vivenciou com um aluno depois que pediu à classe de desenhar o que relacionava a conhecimento em suas vidas concretas. O aluno desenhou uma mulher e no seu peito escreveu “mãe”. Isto segundo ela mostra que a primeira experiência de formação deste jovem veio da mãe, todo conhecimento veio da mãe. Quando da revelação algumas pessoas choraram de emoção. O aluno conseguiu chocá-las com algo que muitas vezes é motivo de piadas. Isso mostra como a afetividade muda as pessoas, trazer intimidade aproxima.

  • A educação precisa ser parte da vida.

Encerra o relatório com princípios pedagógicos pelos quais é preciso sair da lógica do consumismo para avançar para práticas mais libertadoras. Uma das questões primeiras é que o processo tem que passar por nós antes de passar por outros, pelo reconhecimento de eu comigo e do grupo consigo.

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RELATÓRIOS ANO 2010.2
TEMAS: Educações Ambientais – EAD – Paulo Freire – Epistemologias do Sul – Saberes Ambientais – PER – Colonialidade
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Relatório do 10 de setembro de 2010

Local: sala de reuniões da linha Movimentos Sociais, Educação Popular e Escola
Relatório: Ana Maria e Patrizia

            Fiquei pensando numa forma diferente do costumeiro relatório para registrar esse nosso encontro, pensei em escrever num formato de diário de adolescente, pensei em fazer articulado com o que Patrizia deverá também fazer, mas hoje decidi fazer muito próximo do que sempre fiz, sem apelar para a criatividade. É que estou tão preocupada com tudo que tenho que ler e pesquisar participativamente que fiquei sem inspiração para fazer essa tarefa de outra forma. Estou cometendo o pecado de estar fazendo esse relato pensando no que vou ler em seguida ou querendo terminar antes que a Sofia acorde para outra mamada/brincadeira.
            Bom, nesse encontro estivemos: eu (Ana Maria), Joice, Amanda, Carol, João, Eleni, Mazinho, Reginauro, Lídia, Patrizia, Manoel, Olímpia, Magda, Priscylla e Pedro. Nem todos chegamos a tempo de compor a ciranda que foi impulsionada por Mazinho. Eu, por exemplo, cheguei no final deste primeiro momento.
            Já na sala, antes de iniciarmos de forma mais sistemática os diálogos sobre Paulo Freire, Educação Ambiental Dialógica e as Epistemologias do Sul, Joice lembrou o lançamento do cd BORA! Inclusive, dei uma olhada e vi que o encarte está muito bonito, falta conferir a música. Já encomendei um.
            Bem, João inicia a discussão sobre a temática proposta falando sobre a interculturalidade crítica, em diálogo com Catherine Walsh. Mencionando inevitavelmente algo sobre a colonialidade. Então Amanda, curiosa que só, pergunta: o que é colonialidade? Então João retomou algumas apresentações sobre esse assunto, mostrando um rápido histórico da discussão sobre colonialidade e explicitação do que entende-se por...
            Aí Joice lembrou de música (não sei o nome e nem a composição) que menciona criticamente a relação entre cultura importada pelo Mc Donald’s e os valores e gostos locais, nisso o Reginauro empolgado cantou um trecho da música. E agora lembro que agora no Mc Donald’s o café é de graça. Estratégicos!
            Então João lembrou das diferentes dimensões da colonialidade: - do poder (raça = critério para a distribuição, domínio e exploração); - do saber (centro de produção de conhecimento = homens brancos); - do ser (subalternização dos sujeitos colonizados); - do viver (termo proposto por Fleuri em consonância com o que Walsh havia denominado inicialmente de colonialidade da mãe natureza. Nega-se a relação milenar entre mundos bio-físicos, humanos e espirituais).
            Contextualizando, João lembrou da questão de Belo Monte (ah, assinem o manifesto online) e Magda, Sabiaguaba. Casos em que estão em cena a relação entre ocupação de terras indígenas e o senil discurso de defesa do progresso.
            Na discussão sobre interculturalidade crítica e a descolonialidade destacou que para isso se “requer transgredir e desmontar a matriz colonial presente no capitalismo e criar outras condições de poder, saber, ser, estar e viver, que apontem para a possibilidade de conviver numa nova ordem e lógica que partam da complementaridade e das parcialidades sociais”. Catherine Walsh
            Ronauro questiona: como seria possível isso tendo em conta a situação e os interesses econômicos-políticos hegemônicos? João sugere que uma possibilidade é a instauração de pazilhas, termo criado em contraposição ao conceito de guerrilhas. Acerca da mudança que queremos, das prioridades, uma forma interessante de se pensar/agir é a noção de motes. Conforme seu pensamento a questão não é o que é mais importante ou mais impactante/revolucionário (o revolucionário eu que acrescentei), a questão é o que posso/podemos fazer, os motes. Sabemos que as mudanças do meu dia a dia não terão grande impacto, olhando numa perspectiva de abrangência coletiva/ macro, mas essas mudanças devem ser mote para perceber e discutir com os outros as questões macro que estão além das minhas ações.
            João sintetiza o projeto que devemos assumir, o objetivo de nossas ações no seguinte: voltar a ser gente. A nossa tentativa é em busca disso.
            Patrizia, ainda na discussão sobre a mudança que queremos, toma por referência o seu contexto europeu e diz que nós brasileiros somos privilegiados, pois ainda podemos ter alternativas. Não tem essa mesma opinião em relação à Europa e cita o caso dos ciganos, atualmente perseguidos por decisões de políticos.
            Ronauro menciona a questão sobre quem vai querer sair da zona de conforto em nome da possibilidade de vida. Mazinho retoma o exemplo citado por Magda de um grupo cultural que produz artisticamente de modo alternativo, e afirma que tem sim aqueles que decidiram sair da zona de conforto. Eu destaquei que via tudo isso num movimento dinâmico, e não numa dualidade entre os que saíram e os que não saíram da zona de conforto. Mesmo os que optaram por um modo de vida diferente do hegemônico na contemporaneidade capitalista, em dados aspectos/momentos podem ainda estarem agindo em conformidade com este. E vê como um processo complicado na atualidade brasileira num momento em que muito se fala da “nova classe média” e diante do nosso processo formativo, da visão de progresso que desde cedo nos é ensinada. Somos alimentados com a lógica do consumo. Como reverter? É o desafio.
            Patrizia incisivamente questiona: quem controla tudo? E mesma responde: os bancos. Uma alternativa seria todos retirarem seus dinheiros do banco. Mazinho e Ronauro retomam a questão sobre se a escola é um espaço possível de gerar mudanças.
            Seguindo a discussão sobre interculturalidade João cita três universidades que têm por horizonte uma proposta de educação intercultural: a de Chiapas, da Nicarágua e a de Amawtay Wasi (casa da sabedoria). Mas nessas universidades qual é a lógica predominante? De que povos? Como é elaborado seu projeto pedagógico. Registrei pra não esquecer que o nosso continente é denominado por povos indígenas de Abya Yala.
            A partir dos estudos acerca da colonialidade, João apresenta os componentes epistemológicos de uma perspectiva guiada pela real sabedoria (kowsay = origem da vida): saber; amar; fazer; e poder. É uma proposta de superação da monoepistemologia hegemônica na modernidade.
            Em contraposição a esse modelo podemos fortalecer as epistemologias populares que “carregam em si a potência descolonizante e políticas que se afirmam públicas, porém, nem sempre são populares ou decorrentes de suas demandas ou que atendam efetivamente estas necessidades”. João Figueiredo.
            Santos e Menezes (2010) falam de alternativas epistemológicas na ambiência do sul global. Gente o sono tá me pegando, mas eu to resistindo pra terminar esse relato e levar pra vocês amanhã. Bom, lembrei que fiquei curiosa sobre a relação dessa noção de alternativa epistemológica e a ciência enquanto tal. João enfatizou a necessidade do cuidado epistêmico. A questão não é negar a ciência, mas sim superação a lógica que põe sempre em suspeição o saber popular e sempre super valida o saber científico.
            Ainda falando sobre alternativas, João destaca que o que se apresentou no estado avançado de modernidade foi na verdade uma ausência de alternativas. A imposição de uma única forma de se fazer algo, por exemplo, quando se fala em “fim da história”.
            Finalizo com a ênfase de nossa discussão nesse dia: precisamos aprender com o sul e nos descolonizarmos cotidianamente, ampliando essa mudança em nós para motivar a mudança nos outros do mundo.
            Bem, nos momentos finais do nosso encontro desconcentrei-me porque estava tensa pensando que Sofia poderia estar chorando pelo seu alimento. Resisti, mas acabei saindo uns minutos mais cedo. Quando cheguei em casa ela estava me esperando, com seu sorriso largo de amor.

Ana Maria

Comentário Patrizia:

Com toda essa exigências de ter que ler dois livros por semana (Educação Brasileira/Teorias da Educação) os meus relatórios quase se perderam nas brumas de Avalon (tem nada a ver com cultura brasileira, né, mas com mitologia de povos invadidos pela colonialidade romana), e só consegui arrancá-los delas simplesmente pulando umas leituras (deixei de lê-las).

O que relatar mesmo? Nossa árvore grávida que fez nascer uma linda flor (relembrando aqui o papel de Ana-Maria como árvore numa das apresentações geadeanas sobre colonialidade  e descolonialidade da  mãe natureza no semestre passado) já resumiu a essência do encontro e não quero ser repetitiva, mas como cada um@ de nós é diferente, tem um jeitinho próprio de enxergar, entender, ver o mundo e tal (como diria Magda) vou expor meu diferente.

O que é que de fato me interessa nos encontros do GEAD? Por que estou nessa? O que faz com que eu volte todas as semanas com gosto para essa comunidade de caracteres, pensamentos, visões diferentes (apesar de carecer de pessoas indígenas e afrodescendentes o que acho muito triste, mas isso é o inédito-viável, espero)? Gosto de ouvir trabalhar as células cinzentas d@s companheir@s. E é aí que vejo o sentido de meu relatório, captar o pensamento d@s pessoas aqui presente estimulado por quem está à frente de visões, “métodos”, paradigmas alternativos. E nesse contexto já de antemão vou colocar aqui uma critiquinha. Com algumas exceções raras, nossos encontros (me perdoe João) reproduzem o mesmo estilo das disciplinas comuns, apesar da liberdade da fala, das dinâmicas, copos re-usaveis, cd’s e bonecas, partilha de lanches etc. Estamos emprensad@s entre mesas e cadeiras, grudad@s no data-show, as “conversas lúdicas” “atrapalham” a programação que exige prazo fixo e determinado. O GEAD tem que apresentar cientificidade e quem é que define o que é ser cientifico? Quem inventou os padrões que temos que seguir? Por acaso nós Brasileir@s ou a colonialidade ibero-luso-romana que polui a nossa mente seja ela bárbara ou indigena-africana? Não dizes tu João que “precisamos aprender com o sul e nos descolonizarmos cotidianamente, ampliando essa mudança em nós para motivar a mudança nos outros do mundo”, como Ana-Maria bem citou no final de seu relatório?

Sim, estou começando pelo avesso, por assim dizer, como os Árabes que lêem seus livros de trás para frente, ou será o trás a frente e quem afinal de contas decidiu o que é trás e o que é frente, o que é cima e o que é baixo? O nosso planeta é uma esfera e se eu virar as costas pro norte ele está atrás de mim e não em cima e o sul na frente e não em baixo, eu não estou descendo, não estou caindo, mas seguindo uma direção, uma outra direção, uma direção alternativa.

Pois bem, quais foram os estímulos das respectivas contribuições d@s querid@s companheir@s em relação ao tema?
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RELATÓRIO DO GEAD - 16/09/2010

CONTRIBUIÇÕES DE PEDRO HENRIQUE

ALTERNATIVAS EPISTEMOLÓGICAS NA AMBIÊNCIA DO SUL GLOBAL
                CUIDADO EPISTÊMICO

(FIGUEIREDO) – RECONHEÇO O CUIDADO NECESSÁRIO ESPISTEMOLÓGICO AO APONTAR OS LIMITES INTERPRETATIVOS DAS CATEGORIAS CIENTÍFICAS APLICADAS NA CONTEXTUALIDADE  DO COTIDIANO DOS OPRIMIDOS E COLONIZADOS DO BRASIL.
MAGNA – FINALIDADE ÚTIL DO DIÁLOGO – FAZ PARTE DO PROCESSO ESTAR SEMPRE AMPLIANDO...
DISCUSSÕES PARTICIPATIVAS (MAGNA, FERNANDA, FERNANDO, JOÃO FIGUEIREDO, ANA MARIA) – ECOLOGIA DOS SABERES – RECONHECIMENTO DAS NECESSIDADES – APORTES DE FREIRE SÃO FUNDAMENTAIS...
FIGUEIREDO INTERMEIOU A DISCUSSÃO SOBRE “DIVIDIR PARA DOMINAR”
DIMENSÕES:
SEPARAÇÕES OU PARTIÇÕES DO MUNDO 'REAL' QUE SE DÁ HISTORICAMENTE NA SOCIEDADE OCIDENTAL;
FORMA COMO SE ARTICULAM OS SABERES MODERNOS COM A ORGANIZAÇÃO DO PODER, ESPECIALMENTE AS RELAÇÕES COLONIAIS IMPERIAIS DE PODER CONSTITUÍDAS DO MUNDO MODERNO.
REGULAR OU EMANCIPAR?
SAMARONI, REGINALRO, FERNANDA E MAGNA -  TODOS CONTRIBUÍRAM COM SUAS IDEIAS, TENDO COMO APOIO LANDER (2005) E SANTOS (2008).
PARADIGMA MODERNO COLONIALIZANTE
LIBERTAÇÃO – ISTO PODE SE RELACIONAR COM A SUPERAÇÃO DA SUBALTERNIDADE.
FIGUEIREDO DIZ: SUBERAÇÃO DA SUBALTERNIDADE
EPISTEME DE RELAÇÃO – FIGUEIREDO TROUXE A CONTRIBUIÇÃO DE LANDER (2005) PARA PENSAR A ARTICULAÇÃO DESSES NOVOS PARADIGMAS DESCOLONIALIZANTES.
MAS E O QUE É ALTERIDADE – OS COLEGAS CONCORDAM QUE “ALTERIDADE É SE COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO” FIGUEIREDO COMPLETA: O OUTRO DE SI E O SI DO OUTRO...
 ABRAÇOS....
PEDRO HENRIQUE
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Relatório 17/09/2010

Geadianos presentes( JB, Manel, Mazim, Livinha, Imelda, Ana da Sofia, Leão, Samurai EMO CORE,Camelo, Simolina,Joana Dark, Neurilene,Fernanda e o cara que eu não sei o nome).
Acolhimento afetivo(so cheguei no final...Abraço coletivo na Livinha)
Questões centrais da manhã:
Releitura das epistemologias do sul/ da necessidade de ampliar a Educação Ambiental dialógica a partir da interculturalidade crítica, da compreensão das esferas da colonialidade e da emergente nessecidade de uma descolonialidade do saber, do poder, do ser, e da natureza para o enfretamento da crise civilizatória;
apresentação de uma possiblidade epistemólogica(epistemologias populares) que reconhece a multiplicidade de olhares,a necessidade de diálogo e complementariedade entre entre os vários unos e entre as várias epistemologias numa perspectiva eco relacional, comprometida com os oprimidos, com a valorização dos afetos e com as experiências dos individuos dispostos a vivencia-la e construila, no e para o mundo em evolução.
(???)Questões que problematizaram e contextualizaram a temática na compreensão dos geadianos:
As propostas são boas enquanto propostas(sobre a Constituição intercultural do equador/Mazim);
Como uma proposta que homogeneizadora dos sujeitos respeita a individualidade de cada um?(sobre- Universidade Intercultural/Neurilene);
Como sistematizar a sabedoria ancestral para transformar-la em uma "ciência" que contribua para os processos descolonializantes?(sobre Universidade intercultural e epistemologia do  Sul/ JB);
Qual o lugar do saber popular nas esferas da sociedade e principalmente nas intituições que historicamentes elaboram conhecimento?????????
Como as instituições que elaboram e regulam o conhecimento e as leis, consideram e ou se apropriam dos saberes populares?(Simolina,Fernanda);
O direito, a ciência, a escola e a mídia são tentáculos do estado, dispositivos de subalternização...(JB);
Saber ouvir... parte fundante do diálogo!(Leão e Samurai EMO CORE);
Como e para que ouvir o povo?(Leão e Samurai EMO CORE);
O que seria o QUE FAZER(categoria Freiriana) amoroso?(sobre as teias de sentido e significado para o enfrentamento da complexidade pós crise civilizatória/JB)
Proposta aberta:
Cinema falado(proposta engajada do EMO CORE para FACED)...bora ajudar!!!!!!!!!!!!!!
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RELATÓRIO DO 08.10.2010
POR: MACLECIO




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RELATÓRIO 03 de dezembro de 2010

O olhar das possibilidades no campo da arte educação, foi o passo inicial e efetivo para a vivencia em grupo, no GEAD-UFC, na manhã do dia de 03 de dezembro de 2010; onde a colonialidade e descolonialidade tornaram-se unas na interação da práxis grupal pelos braços integrais de uma perspectiva Eco-relacional, ao irmanar a associação: da música com a dança – pelo toque, o ritmo, e a sensibilidade; com a estrada da criatividade pela técnica do multi-alinhavo em - olhares, troca de palavras, fundamentações, vivenciais e compartilhamentos; no campo do infinito mar da educação do aprender e re-aprender.
O desenvolvimento do Tema proposto sobre: Colonilidade e des-colonialidade, foi realizado na sala em frente a do GEAD; se deu de forma cadenciada, inicialmente com a chegada dos membros do GEAD, seguido pela construção da interação das atividades propostas. Onde tivemos como materiais principais - som, CDs, pano, linhas coloridas, agulha, tesoura, lápis,... E como material humano: uma perfeita sintonia e interação de tod@s.
A realização das atividades se desenvolveu em dois momentos: num primeiro, a música com a dança se irmanou coma arte e o movimento de ritmos, toques e sensações, com tod@s que participaram e se integraram amplamente em tudo o que era proposto pela nossa maravilhosa condutora da atividade: Isabel Cristina. O segundo momento interagiu: a atividade proposta da técnica do alinhavo, o compartilhamento das merendas levadas por tod@s e a troca dos olhares sob o tema proposto. Composição essa de perfeita interação e integração dos saberes compartilhados ao integrar o simples como complexo, ao mundo das eco-relações vivenciadas: “de dentro pra fora e de baixo para cima” (FIGUEIREDO) e de modo transversal, dinâmico e repleto de possibilidades para a construção do caminho infinito do saber; com o compartilhamento de cada ser.   
O tema proposto irmanou a troca de olhares sob as possibilidades da ampliação do: fazer, conhecer e sentir; com a ampla ferramenta que a arte nos trás, em aspectos como – a liberdade, a criação; e acrescentaria também o acolhimento.
Sendo a arte, esse alicerce integral da multi-cultura de olhares, toques, possibilidades com o popular e a ludicidade, em percepções do movimento, do corpo (nosso e do outro), em todas as infinitas dimensões que compõe o ser; foi este reencontro um balsamo fundamental a ligação das realidades dos tempos com o futuro e suas: ações, inter-relações em seus infinitos saberes e aprendizados integrais.   

GRATA PELO CARINHO E A ATENÇÃO DE SEMPRE !!!!
FOI ÓTIMO VOLTAR AO NINHO E PODER AJUDAR!! ;)
UM GRAAAAANDE ABRAÇO À TOD@S :  FÉ, PAZ e SAÚDE!!!
De CORAÇÃO:
Viviane Coutinho

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RELATÓRIOS ANO 2009.1/2

TEMAS: Colonialidade - Interculturalidade – Cartografia cultural – Tessitura Acadêmica – Modernidade e Hipermodernidade – Pedagogia da Alternância e Educação do Campo
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 Relatório 28/05/2009

GEAD – Relatório
Data: 28.05.2009
Local: FACED
Horário: 14:00 h
Relatora: Patrizia Imelda Frosch

Presente:
Adriana, Ana-Maria, Aristide, Daniela, Fernanda, Prof. João, Karla, Lídia, Lucho, Manoel, Mazinho, Patrizia, Pedro, Silvia, Tereza, Viviane.

Contamos com uma visita especial neste dia: o Lucho que veio se juntar à turma para partilhar conosco seu saber, suas emoções e sentimentos.
O Prof. João inicia a sessão com a dinâmica da massagem que nos deixa alegres e cheios de energia.

Em seguida o Manoel nos relata no seu jeito humorístico agradável que é sua marca específica, sobre o que aconteceu no encontro passado.

Mazinho avisa que vamos avaliar as cidades que construímos a partir de sua apresentação sobre os Orixás no próximo encontro e relata para Lucho, que não estava presente naquele dia, a partir de que e como construímos as cidades.

Ana Maria informa sobre a Semana do Meio Ambiente com o PRODEMA e a Educação. Karla por sua vez avisa que enviou a programação da Semana do Meio Ambiente via e-mail, além disso, repassa a informação que para o Encontro de Pesquisa Norte-Nordeste em João Pessoa, existem duas listas de inscrição, uma para a passagem, outra para a hospedagem e explica que sai mais barato o grupo ir juntos. Menciona ainda que existe por parte da coordenação a pretensão de cobrar R$ 50,- na inscrição. Para esclarecer esta pretensa “imposição” João explica que é para garantir a inscrição e evitar prejuízos, porque muitas vezes as pessoas se inscrevem e depois não aparecem e que a taxa de inscrição será devolvida aos participantes. Vivi diz que pode se conseguir até 70% da passagem de ônibus, para tanto é preciso pedir auxílio na Graduação.

Ana Maria avisa que Magda vai chegar atrasada. Adriana assume o relatório do próximo encontro. Fica decidido que no dia 5 de junho (sexta feira) estaremos juntos o dia inteiro participando da Semana do Meio Ambiente, apresentando filmes, trabalhos e outros.

Karla convida para o “Forro da Solidariedade” no CUCUCAIA onde os artistas se apresentarão de graça para ajudar as vítimas das enchentes, a entrada é de R$ 15,-.

Para iniciar sua apresentação sobre colonialidade o prof. João mostra um videoclipe que se passa na Índia, onde pessoas de diferente idade, gênero, classe e outras diversidades, comovidas com a ação de uma criança preocupada em tirar sozinha uma árvore caída no meio de uma avenida no centro de uma grande cidade, se juntam para ajudá-la. João comenta que o filme trata da realidade de outra cultura e como lida com certa situação.

Segundo o professor a colonialidade é um processo civilizatório que está sendo colocado. Ele se refere a uma pesquisa de Quijano, sociólogo peruano que junto a Wallenstein discutiu o “mapa mundi” como foi colocado a partir das invasões da Europa, que se entende como centro do mundo.

Na década de 80 um grupo de pesquisadores respaldados por Bruce Folger promove o primeiro encontro sobre a “colonialidade do Saber”, depois se agregam outros como Escobar e Dussel. Prossegue-se com o estudo da colonialidade e da modernidade. Acontece um primeiro encontro no Brasil na Universidade Federal Fluminense em torno de Carlos Walter Porto Monte Alves e Rejane Garcia. Esta temática vem sendo pesquisada também pelo Grupo Mover criado por Fleuri da UFSC, do Grupo DVC da Etiópia e por Barcelos e Celso cujos estudos são mais ligados ao Brasil. O GEAD tem articulação com esses grupos.

Foi esse grupo de pesquisadores que iniciou a discussão contestando uma lógica civilizatória para entender que lógica está por trás do cartesianismo.

O cenário da modernidade ganha visibilidade na modernidade mais madura através da grande crise onde nega a si própria como moderna, entende-se como pós-moderna e hiper-moderna.

O saber na modernidade é um saber de lugar nenhum porque parece não ter lugar de origem, mas é preciso entender que colonialidade tem origem na invisibilidade.

Trata-se de um modelo de ciência hegemônico que não deixa perceber a gente o discurso alinhado com a modernidade.

Em relação à questão dos negros, Mazinho sugere um texto que fala sobre o encontro da Europa com outros mundos.

Questiona-se como abordar a questão da modernidade, de qualquer maneira não evangelizando o diabolizando. O ponto de partida é este lado da rua a ser atravessada construindo pontes para alcançar o outro lado e não a imposição. Estamos diante de um problema político-ideológico que se manifesta na resistência que a colonialidade não consegue erradicar.

João cita um índio que ele encontrou no Sertão que se dirigiu a ele com as seguintes palavras: “Professor, verdade é que serve para viver”. E Manoel nos elucida com uma frase de Berthold Brecht: “A ciência não vale sem a vida”.

Continuando na sua apresentação João fala da existência de um legado epistemológico que seria compreender o mundo a partir do próprio mundo em que vivemos e das epistemes que lhe são próprias.

Anibal Quijano e Wallenstein se referem à modernidade como um sistema de mundo moderno colonial complexo.

A partir da questão da imposição do nome a este continente invadido em 1492 pelos europeus, João explica a diferença entre colonizar e colonializar, onde colonizar seria uma questão física. Ao colonizar eu tomo posse de propriedade material que não me pertence, como de fato o continente recém “descoberto”, enquanto colonializar é um projeto que envolve o imaginário. Colonializar é a conquista total do outro, é um processo de ideologização que ressalta a superioridade do possuidor diante do apropriado.

Manoel pede informação ao Lucho sobre a destruição das culturas Inka e Maia.

Segundo Lucho os Inkas também expandiam seu território para outros lugares e também conheciam a prática da violência, mas o poder tomava conta dos lugares sem destruir a autonomia dos grupos. O Deus dos Inkas não engolia as outras divindades e nunca houve uma anulação de uns pelos outros, ao contrário dos espanhóis que destruíam e aniquilavam tudo. Acabar com a diferença é a base estrutural do modelo capitalista.

Põe-se a pergunta de como se livrar da colonialidade. Segundo João invertendo a ideologia captalística que funciona de cima para baixo de fora para dentro, fazendo o contrário agir de baixo para cima e de dentro para fora.

Para Lucho temos um pensamento colonializado e trabalhamos com ele. A modernidade não sabe dizer o que é ser humano dentro de uma cultura não moderna. Segundo ele temos que refletir como recuperar tradições culturais para trazê-las para dentro das disciplinas. “Pacha Mama”, por exemplo, é uma maneira de ser humano, é espiritualidade. Estamos acostumados a pegar pensamentos de fora para discutir nossa cultura.

João fala de alternativas epistemológicas nos últimos anos, que promoveram um processo de mudança:
  1. Processo de gênero;
  2. Processo dos saberes indígenas;
  3. e ultimamente no Brasil a partir do Grupo Mover a discussão em torno da complexidade.

Mazinho diz que é preciso também pensar uma alternativa metodológica, que produz o saber a partir do que se tem chamando a atenção para a palavra “parangoé” que significa uma roupa sem costura. 

Nessa altura tive que sair um momento, ao voltar a discussão estava voltada para a antiguidade, para a cultura grega o que me provocou para contestar a antiguidade e falar da cultura romana como princípio do capitalismo, que colonizou e colonializou todos os “povos primitivos”, marcados com o carimbo de “bárbaros” dentro do imaginário dos tão civilizados Romanos.

Isso levou João a dizer que os Romanos mantinham o poder, mas respeitavam os escravos e os outros povos, no que tive que contradizer porque “elucidada” por documentários da televisão alemã, que está descobrindo que os Romanos não eram o que nos ensinaram na escola, aqueles que fizeram de nós gente, mas uma máquina bélica mortífera que esmagava quem não se dobrava às suas leis impostas, que roubava a terra aos camponeses (os seus) e exigia tributo de todas suas províncias somente para manter uma minoria de latifundiários na sua “dolce vita”.

Silvia acrescentou que é preciso questionar de onde os Gregos e os Romanos tiraram seu pensamento, porque existia intercâmbio com outras culturas.

Seguindo o pensamento João enfatizou que tudo se coloca como Europa, a Grécia e outras nações, mas que não é, e que toda filosofia romana era grega. Os Romanos mantinham professores da Grécia, que não era Europa e a Grécia buscou seu saber na África. Segundo João a Europa não existe, a Europa se apropria.

Lucho diz que temos que ter cuidado ao idealizar o passado, por exemplo, o reino dos Inkas. Não se trata de um paraíso, que tem que ser retomado, mas de trazer maneiras de ser pessoa para o presente para o ensino, contestando o capitalismo.

 João fala sobre missionários que estão alfabetizando através da Bíblia os índios na Amazônia o que é pura indoctrinação que tenta legitimar a colonialidade. Ao longo da história a colonialidade promove processos de separações progressivas e vários reducionismos, por exemplo, na caracterização dos nativos. Eles são identificados como “ateus”, “não humanos” o que os distingue dos invasores. Mas as separações e os reducionismos não terminam aqui eles se expandem progressivamente no tempo, o público e o privado, a mente e o corpo, o mundo e a razão, a ciência e o senso comum, a universidade e o resto, a modernidade e a barbárie, o culto e o inculto.

Lucho comenta que houve também uma separação no sentido religioso que divide espírito e corpo. A relação com Deus somente é possível através de técnicos especialistas. Os nativos não tinham as barreiras da teologia moderna. O cristianismo com sua estrutura de pastor, culto, igreja, sacramento rompeu com o pensamento do Deus que está no cosmos. A esperança pós-moderna Pentecostalismo, Nova Era etc. que pauta no sentir “sinto logo existo” numa contradição ao cartesianismo “penso logo existo”, traz consigo o perigo da ligação espiritual individual, da segregação.

Segundo João o fim do colonialismo não é o fim da colonialidade. Existe o pós-colonialismo e o colonialismo interno. Quanto mais uma cultura se parece com a cultura eurocéntrica, mais valorizada é. Historicamente o atual padrão de poder mundial começa com o conceito de raça.

Silvia comenta que segundo uma pesquisa de censo, no futuro haverá mais pessoas pardas do que brancas e pretas.

Lucho se lembra dos mestiços na Bolívia que levam o apelido de “chulos” e que representam uma maioria naquele país, mas que sempre foram submetidos a uma minoria de 10% de brancos dominantes. Após a eleição de Ivo Morales como Presidente uma empregada se tornou primeira ministra da justiça e o Governo é definido como intercultural e plurinacional. Ainda nos informa Lucho, que Peruanos e Brasileiros nos Estado Unidos são chamados de “latinos” e isto significa a pior raça que existe. Por outro lado os Brasileiros não se identificam com a América Latina, mas se distanciam dos outros, ele fala em “hegemonismo brasileiro” que pode resultar no isolamento.

O relatório encerra aqui porque tive que sair antecipada.

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Relatório da Reunião do GEAD 31/08/2009

Nossa reunião começou por volta das 08:30. Quando eu cheguei, alguns já estavam na sala, dentre os quais, João Figueiredo, Adriana, Mazinho, Patrizia, Manoel Sampaio. Logo em seguida, chegou Fernando, que entrou como sempre com um belo sorriso e acompanhado de seu amigo Mardonio Silva (que nesta reunião não foi apresentado oficialmente ao grupo, mas não ficará livre de uma apresentação nesta reunião de sexta-feira). Ficamos, inicialmente a olhar algumas fotografias que estavam sendo apresentadas pelo João Figueiredo e que retratavam sua participação no Congresso ARIC, que ocorreu em julho em Santa Catarina. Fomos apresentados, a partir das imagens e muitas personalidades que estão discutindo atualmente as questões relativas à intercultura, modernidade, colonialidade, dentre outros...
Após algum tempo de espera, e com a chegada de Tereza, demos início a reunião, que contou no dia de hoje com a participação de Karla, Magda, Ana Maria, que chegaram a seguir quando do início da reunião.
E assim principio o meu breve relato com a união dos pontos para articulação dos pensares, sabendo que nem tudo o que parece ser, o é de fato, no cenário do real. A princípio, idéias desarticuladas, fora do lugar, começam a ganhar corpo e se transformam em curiosos temas que irão instigar muitas outras discussões. Quem sabe poderão se tornar novas teorias!?? Foi assim que percebi nosso primeiro momento da reunião que teve como tema “A Educação Intercultura Crítica”.
Para início de conversa, tivemos a contribuição de João Figueiredo que abordou em sua fala: a Colonialidade e Interculturalidade; as experiências interculturais no semi-árido brasileiro e a Educação Intercultural Crítica. Sua fala serviu de referência para muitas outras intervenções e participações que foram sendo estabelecidas ao longo da reunião. Sempre de forma atenta, mas ao mesmo tempo, descontraída, todos foram se integrando ao debate e, assim, muitas questões extrapolaram o próprio tema. Percebi, mesmo estando ausente de algumas reuniões, que o grupo (nós), vêm avançando em suas elaborações e articulações de idéias. Foi legal, parar para ficar ouvindo as muitas falas que traziam informações e exemplos do cotidiano, das relações sociais para além do grupo, que demonstravam uma maturação e uma internalização (ou seria, já naturalização?) da temática em questão... a colonialidade em interfase com a interculturalidade...
Retomo aqui, de forma breve, as principais temáticas que foram debatidas:
- A Interculturalidade – que foi apresentada como uma discussão que começa a partir de uma definição formulada pelos Europeus – da invasão dos outros povos – processo de imigração – todos os povos se voltam para a Europa e Estados Unidos – E assim uma nova lógica passa a predominar – a lógica de que o bom é o moderno – o bom é o que está nos Estados Unidos e Europa – vendem a idéia que o que é bom está na Europa...
- Assim, todos os outros países querem incorporar estes modelos – modelos dos países em desenvolvimento – E Isto se torna impossível para nosso planeta – pois não temos a capacidade de suportar – Há a própria incapacidade do planeta – temos que discutir as causas...
- Os europeus começam a pensar em estratégia e políticas para se consolidarem como potências... e isto de seu a partir do Sistema-mundo artificial – a própria Europa não se caracterizava como Europa.
- Quando Portugal e Espanha se fortalecem começam a ter recursos próprios para financiar as grandes navegações – foi possível com isto a invasão das Américas – com a capacidade financeira de integração de alguns povoados (foi possível com este movimento a invasão das Américas – viabilidade financeira de alguns povoados – recursos das invasões e estes países começam a se juntar e a se integrar)
- A Europa é Europa em contraposição às Américas – segundo os estudiosos latino-americanos;
- No momento em que se tem a descoberta da América é que se consolida o que se chama de Europa;
- A Europa é o contrário das Américas - O que são as Américas? Mundo selvagem. E a Europa é que é o mundo civilizado; o que são as Américas?: é mundo de gente que nem gente é – pessoas não civilizadas – gente é o louro, o ariano, - O que são as Américas – quem são aqueles?: – povo sem cultural;
- Toda a constituição da Europa se dá a partir da Américas;
- A Europa como centro se constitui a partir das periferias;
- Após a descoberta das Américas é que a África vem garantir o processo – Africanos são burros de carga para este processo.
- A Europa foi viabilizada pelas riquezas das Américas e pela mão-de-obra africana, posteriormente alastrando o seu campo e os seus limites
- Quando os Europeus chegam às Américas é um povo que não tem nada...
(é preciso aprofundar o estudo)
- Houve uma lógica que foi universalizada;
- A discussão sobre raça – cultura – supervalorização de outras raças e culturas em detrimento da sua.
- As relações entre Raça e colonialidade: Aprofundar esta discussão de que talvez estas idéias que nos são apresentadas hoje sobre a colonialidade venha a ser resgatada desde o povo romano;
- Aprofundar estas reflexões acerca de pensar que esse movimento (colonializante) de colonialidade já se estabelece desde a Roma antiga;
- Com a invasão das Américas se instala, então, o conceito de raça como hierarquia que passa a ser estabelecido;
- Em que medida esta racialidade realmente faz diferença no processo de colonialidade?
- Em que medida esta mudança de critério, que define a raça como critério isto se torna mais impactante...???
- Há diferentes identidades neste movimento de colonialidade;
- Num processo de invasão, ao se instalar, destrói-se o que é preciso destruir e aproveita-se o que é possível aproveitar;
- Não há nenhum reconhecimento que se estabeleça um processo de que há algo que se possa aproveitar no processo de colonialidade do mundo Europeu pelos demais;
- Com as invasões das grandes navegações tínhamos um processo de universalizar – Há uma cultura, que é a cultura Européia e esta é a única que tem valor, nenhuma outra cultura tem valor;
- Em que medida a dimensão religiosa ela é relevante neste processo de colonialidade, porque  que ela é extremamente relevante;
- Outra questão que vai entrar neste processo de discussão é a intervenção do Estado;
- Temos então, três grandes questões que podem ser pensadas como articuladas nestes processo de colonialidade – raça – religião – estado, sendo perpassada também pela questão de gênero;
- É a questão da raça que vai dar consistência a este processo;
- É a junção de todos estes fatores, como raça, gênero, religião que vai dar consistência a este projeto de colonialidade;
            Após este debate inicial sobre a colonialidade para pensar a Interuclturalidade tem-se a retomada do tema Intercultura – e inicia-se um pausa na discussão acerca da colonialidade;

Mas fica ainda como sugestão que pensemos na ampliação da leitura (para aprofundar este tema) para que possamos discuti-la num outro momento. E também, que possamos aprofundar esta tríade: RAÇA – RELIGIOSIDADE – GÊNERO – perpassado pelo Estado
            João Figueiredo, ao ser indagado sobre os fatores que o levaram a optar pela apresentação inicial com foco na colonialidade assim nos informa: “Eu havia iniciado esta discussão apresentando a colonialidade para mostrar que há essa relação entre colonialidade e Intercultura”. Para discutir a Intercultura a partir das referências da Colonialidade
- A intercultura começa a ser discutida na Europa, no próprio berço da Colonialidade, mas ela começa a ser discutida tendo o seguinte propósito: como é que eu posso manter esta sociedade que agora é misturada, com um grande número de imigrantes para que estes continuem a ser comportados? Porque estes estavam instalados...
- A intercultura com o objetivo de amoldar o que vem de fora ao que está aqui... Como processo de adaptação do imigrante para continuar servindo, mantendo-se como inferior.
- A relação da Intercultura com a perda da identidade anterior para aquisição de uma nova identidade.
- Assim é possível a inclusão do conceito de Crítica para a Educação intercultural, mas numa concepção crítica que vai problematizar as questões da colonialidade;
- Para a abordagem do Tema Educação Intercultural, forma retomados alguns conceitos do tema da reunião anterior e pensar esta temática articulada a discussão sobre o semi-árido; Promovendo uma articulação com temas que são discutidos em nosso grupo;
            Desse modo, a opção que João Figueiredo fez foi retomar experiências interculturais no semi-árido brasileiro, tema apresentado no encontro anterior e mostrar um pouco como é que esta discussão sobre Intercultura chegou ao GEAD, a partir dos próprios estudos que já eram realizados pelo Grupo.
- Desse modo, a apresentação se desenvolveu a partir da apresentação de slides que iniciavam com a apresentação de várias imagens de Irauçuba.
- As Primeiras pesquisas em Irauçuba, foram consideradas como marco para nossas discussões;
- A fala seguiu a apresentação de slides que trataram dos seguintes temas, descritos abaixo:
1. Apresentação do Município de Irauçuba, sua localização, suas características regionais;
2. A cultura sertaneja nordestina: sua oralidade e seus causos e metáforas...
Com a apresentação do tema especificado acima, tivemos o encerramento de nosso primeiro momento. Fez-se, então, nesta etapa, um breve intervalo...
            Logo após a volta de todos à sala, o tema foi retomado e trabalhamos seguintes sub-temas:
- O mundo vivido e o mundo pensado
- Apresentação de alguns gráficos acerca da Interculturalidade
- A Educação Intercultural – “A preocupação fundamental da EI passa a ser a elaboração de modelos culturais que interagem na formação dos educandos. Tal deslocamento de perspectiva legitima as culturas em cheque a coesão da cultura hegemônica. E este fato traz conseqüências, para elaboração dos métodos e das técnicas de ação pedagógica e compartilhamento de informações.
             Ao término da apresentação acerca da Educação Intercultural, foi realizada a leitura do texto “Que bom que as índias não foram para a escola. Seguiu-se, então, a apresentação de outros slides que tratavam da Interculturalidade Crítica, com a discussão dos tópicos abaixo:
            - Processo ético, política epistêmico; - requer a construção de condições distintas de ser, estar, pensar, conhecer, viver...
            Estes foram os principais temas que foram discutidos nesta manhã de segunda-feira...
            Antes ainda de finalizar a reunião, tivemos a sugestão (proposta por Patrizia), de que o relatório fosse escrito por mais de duas pessoas. A proposta ficou para ser analisada e debatida na próxima reunião, do dia 05 de setembro de 2009.
            Manhã de intenso e fervoroso debate, com uma participação pouco vista em outros encontros de outros grupos os quais fazemos parte... Percebemos uma integração leve e natural... Tão natural entre todos e todas que deixamos de lado até mesmo algumas formalidades, como apresentação de alguém novato que entra (Mardônio Silva)... Para o grupo não é apenas mais um integrante, mas é alguém que é mais um a somar nas ações que desenvolvemos. Sinta-se, desde já um novo geadiano...
             E para iniciar o fechamento deste não mais breve relato, apresento aqui uma canção que penso retratar um pouco minhas percepções deste mais um dia de nosso encontro... de novas descobertas e aprendizagens que se fizeram assim como não tendo coisa com coisa... Mas foi algo tipo assim...
E ai vai a canção que penso fala um pouco de nós...
Todos Juntos
Uma gata, o que é que tem?
- As unhas
E a galinha, o que é que tem?
- O bico
Dito assim, parece até ridículo
Um bicinho se assanhar
E o jumento, o que é que tem?
- As patas
E o cachorro, o que é que tem?
- Os dentes
Ponha tudo junto e de repente
Vamos ver no que é que dá
Junte um bico com dez unhas
Quatro patas, trinta dentes
E o valente dos valentes
Ainda vai te respeitar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
Uma gata, o que é que é?
- Esperta
E o jumento, o que é que é?
- Paciente
Não é grande coisa realmente
Prum bichinho se assanhar
E o cachorro, o que é que é?
- Leal
E a galinha, o que é que é?
- Teimosa
Não parece mesmo grande coisa
Vamos ver no que é que dá
Esperteza, Paciência
Lealdade, Teimosia
E mais dia menos dia
A lei da selva vai mudar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
E no entanto dizem que são tantos
Saltimbancos como nós

Organização: Eleni Henrique
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RELATÓRIO DA REUNIÃO DO GEAD DO DIA 04/09/2009

A reunião semanal do GEAD do dia 04 de setembro teve início às 14:05, contando com as presenças dos companheiros geadianos Patriza, Eleni, João Figueiredo, Viviane Alves, Adriana, Pedro Camelo, Mazinho, Mardônio, Danielle Batista, Karla, Tereza e o presente relator. No segundo momento da reunião tivemos a chegada da Viviane, a mais nova componente do grupo.
Antes de iniciarmos a reunião propriamente dita foram colocados alguns pontos iniciais que ficaram para análise e aprovação no final da reunião. O professor João comunicou que não poderá encontrar-se conosco no dia 18 do corrente mês, solicitando a transferência da reunião para 21 de 09/09. Os nossos amigos Pedro Camelo e Adriana Farias comunicaram que não poderiam realizar a reunião no dia 11 do corrente, solicitando que suas apresentações ficassem para o dia 14 de setembro de 2009. A nossa confreira Patriza deu a sugestão que o relatório das reuniões fosse construído coletivamente. O nosso colaborador Eleomar  deu a sugestão que as reuniões tivessem uma dinâmica de integração.
Vale ressaltar que em virtude das propostas e solicitações do parágrafo anterior nossas datas de concretização das nossas reuniões foram alteradas para as datas subseqüentes: 14/09 ( Segunda-feira)- 18/09 (Sexta-feira)- 21/09 (segunda-feira)  e 25/09 (sexta-feira).
Algumas pessoas deram sugestão do lanche, que ficou aprovado que será variável e que na primeira será fruta. Outrossim, informo que o  rol dessas idéias foram aprovadas no seu todo ao final da reunião.
Professor João Figueiredo comunicou ao grupo que o nosso confrade Fernando Leão havia comunicado que por força de medidas superiores não poderia comparecer ao encontro da presente data.
Ainda no momento dos informes a nossa confreira Danielle Batista comunicou que iria enviar para a lista do GEAD informes sobre o evento ENGEMA que será realizado pela UNIFOR como realmente fez.
Antes que o professor João fizesse uso de sua fala sobre a temática, tivemos a apresentação de todos os membros do grupo para o nosso mais novo geadiano, o professor Mardônio que em seguida fez jus a sua respectiva apresentação ao grupão.
Foram nomeados como relatores da próxima reunião os geadianos Danielle Batista e Eleomar Rodrigues.
Antes de fazer sua exposição sobre “A TESSITURA ACADÊMICA: a elaboração do trabalho acadêmico”, o professor João Figueiredo fez uma retrospectiva da trajetória da ciência ocidental, iniciando com a sua concepção  de Epistemologia e de Teoria.
Apresentou de forma brilhante o pensamento grego do fazer ciência nos pensamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Dando um salto na história apresentou-nos os pais da Ciência Moderna: Galileu, Francis Bacon e DESCARTES, destacando a personagem de Immanuel Kant com a sua obra prima “Crítica da Razão Pura” como um figura de grande influência no iluminismo.
Em seguida, o nosso professor fez alusão aos pesquisadores que contribuíram de forma direta para o desenvolvimento da Ciência Contemporânea, principalmente com as contribuições da Física Quântica e da Ecologia, dentre esses:            David Bohm, Heisenberg,Geoffrey Chew com sua Teoria do Bootstrap, ressaltando a teoria da Teia da Vida, teia de relação, interdependente, ressonância, sem emissão e recepção.
Na tentativa de superação da vontade de verdade e baseada na relatividade da verdade, procurando fazer a ciência avançar tendo por base a contextualização e interpretação.
Nesse momento a reunião pegou fogo, pois, enquanto nosso professor João que apresentava a sua fala, juntamente com o nosso confrade Mazinho defendiam a produção de um saber científico de forma coletiva, a nossa amiga Eleni defendia a impossibilidade do fazer pesquisa de forma coletiva face as exigências de cunho acadêmico.
O nosso confrade Pedro Camelo questionou sobre como fazer ciência para não repetir o que outros já tenham afirmado, pesquisado.
O relator deste, perquiriu ao expositor se a afirmação  terceira era fruto da influência Hermenêutica ou se da Reviravolta Lingüística.
Ambos questionamentos foram respondidos prontamente pelo professor João.
Logo depois desse anteloquio, o professor João iniciou a sua apresentação sobre o como construir um projeto de Pesquisa, valendo ressaltar no presente relatório os seguintes pontos: apresentação – aquilo que se pretende saber, investigar.
Justificativa – o que? Para quê? Como? Relevância?
Objetivos – O que a pesquisa pretende investigar?
O problema da Pesquisa- Qual a minha pergunta de partida?
Foco da Pesquisa – Como responderei teoricamente
Revisão de Literatura – O que já se encontrou sobre esta questão. O Estado da arte.
Referências Teóricas – autores com os quais se vai dialogar
Antecipações metodológicas
Orçamento (quando apresentado a uma instituição de fomento de pesquisa) Quanto vai custar?
Cronograma – Qual o tempo que vou dispor e as atividades da pesquisa
Etapa exploratória.
O estudo da tarde foi encerrado quando o professor João Figueiredo apresentou as definições dos marcos da pesquisa, colocando suas etapas: exploratória, execução e  revisão.
A nossa geadiana Karla Martins convidou-nos a todas  e todos para um show de músicas e poesias no próximo dia 15/09/2009, intitulado “ Em casa de Vinicius,” das 18  às 19:30 horas, no Espaço Cultural do Banco do Norte.
Finalizamos mais este encontro com a votação e discussão dos tópicos que foram apresentado logo no início da reunião.
Eu, Manoel Sampaio, que estive presente  a  reunião de estudo e convivência, apresento e relato ora este relatório que assino  como testemunho de minha fé.

                                               Fortaleza, 04 de Setembro de 2009

                                               Manoel Sampaio da Silva
                                                       RELATOR
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GEAD - Síntese da Reunião – 14/09/2009

Por: Fernando Leão

            A reunião tratava-se da primeira discussão sobre a Cartografia da Cultura e iniciou-se com uma atividade proposta pela Adriana. Após dispor sobre a mesa uma série de conceitos sobre cultura, ilustrações e objetos de artesanato, pediu que o grupo escolhesse livremente o material que lhe interessasse e pudesse fazer uma relação com seu conhecimento prévio a respeito de cultura.
            A Adriana iniciou o debate citando uma frase do Geertz que continha a afirmação de que a cultura em que estamos inseridos nos leva a viver uma única vida. O João problematizou a citação e discordou de que a cultura seja algo que limita o ser. Eu (Fernando) li a frase que tinha escolhido e que dizia que a cultura “domestica” o olhar e o modo de estar no mundo, reafirmando, de certa forma, a frase do Geertz, e acrescentei com outra frase de Ortega y Gasset: “Eu sou eu e minhas circunstâncias”. Patrizia levantou a questão de que a expressão cultura tem uma relação com ‘cultivar’ e que o termo traz uma conotação negativa, pois ‘cultivar a terra’ quer dizer maltratar a terra, estuprar a terra e que prefere usar um outro termo para designar o modo de estar no mundo. Mayara problematizou a questão de ‘resgatar a cultura’, e questionou: isso é possível? Adriana citou frase que diz que ‘a cultura se inicia com a proibição do incesto’. Vando, estudante da Bahia, convidado da Ana Maria, entrou no debate e citou um trecho de um livro que estava lendo: “o homem transpôs barreiras (...) e transformou toda a terra em seu habitat”. Ana Maria trouxe Freire para o debate e citou a questão da possibilidade ontológica do ‘Ser Mais’. Daniele falou a respeito da pesquisa dela e problematizou a questão do modo de ser dos profissionais de administração em relação às questões da educação ambiental. Viviane e Pedro trouxeram experiências particulares, ela diante da beleza de Ouro Preto-MG, ele diante dos hábitos de educação na Itália. E, assim, o grupo discutiu por aproximadamente 2 horas.
            Após um breve intervalo, lemos trechos do texto “Versões de Cultura” de Terry Eagleton. Vejamos algumas passagens interessantes e que gerou alguma discussão:
v     “Embora esteja atualmente em moda considerar a natureza como um derivado da cultura, o conceito de cultura, etimologicamente falando, é um conceito derivado da natureza” (p. 09).
v     “A palavra [cultura], assim, mapeia em seu desdobramento semântico a mudança histórica da própria humanidade da existência rural para a urbana, da criação de porcos a Picasso, do lavrar o solo à divisão do átomo”. (p. 10)
v     “Neste único termo, entram indistintamente em foco questões de liberdade e determinismo, o fazer e o sofrer, mudança e identidade, o dado e o criado”. (p. 11)
v     “Ao passo que a ‘civilização francesa’ incluía tipicamente a vida política, econômica e técnica, a ‘cultura’ germânica tinha uma referência mais estreitamente religiosa, artística e intelectual”. (p. 20)
v     “A cultura vai de mãos dadas com o intercurso social, já que é esse intercurso que desfaz a rusticidade rural e traz os indivíduos para relacionamentos complexos, polindo assim suas arestas rudes”. (p. 21)
v     “Enquanto ‘civilização’ é um termo de caráter sociável, uma questão de espírito cordial e maneiras agradáveis, cultura é algo inteiramente mais solene, espiritual, crítico e de altos princípios, em vez do estar alegremente à vontade com o mundo. Se a primeira é prototipicamente francesa, a segunda é estereotipadamente germânica”. (p. 22)
v     “Embora as palavras ‘civilização’ e ‘cultura’ continuem sendo usadas de modo intercambiável, em especial por antropólogos, cultura é agora também quase o oposto de civilidade”. (p. 25)
v     “Edward Said sugere: ‘todas as culturas estão envolvidas umas com as outras/ nenhuma é isolada e pura, todas são híbridas, heterogêneas, extraordinariamente diferenciadas e não monolíticas’. É preciso lembrar, também, que nenhuma cultura humana é mais heterogênea do que o capitalismo”. (p. 28-29)
Antes de a reunião ser encerrada, por volta das 12h00min., o grupo voltou a discutir a questão do horário e do dia em que acontecerão as reuniões. Decidiu-se que será feita uma nova enquete, por e-mail, para a definição das datas das reuniões. Por enquanto, segue-se o calendário estabelecido na reunião de planejamento.
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Relatório Reunião GEAD 14/09/2009


Presente: João, Danielle, Ana Maria, Viviane, Patrizia, Adriana, Manoel, Fernando, Mayara, Vando (visitante – Universidade Federal da Bahia) e Pedro.

Cheguei a reunião as 9:00 e o debate já estava em andamento. O tema do dia era “Cartografia Cultural”.

A questão inicial abordava as possibilidades de modos de vida, levando em consideração a cultura. João ressalta nesse momento a visão de Gertz a respeito de se viver uma “única vida”. Reforça de acordo com a visão de Maturana a questão das “derivas” que podem ser entendidas como “novas possibilidades”.

Foi apresentada uma frase de Gertz que dizia: “(...) Um dos mais significativos fatos sobre nós é que nascemos com equipamento para vivermos mil vidas, mas terminamos no fim, vivendo uma só”.
Nesse contexto foi colocado que a cultura é dinâmica. Que comunidades podem receber elementos de outras culturas e dialogar com eles, sem, no entanto, perder sua identidade. João ressalta que a nossa capacidade de superação pode ser mantida. A cultura estabelece limites, mas existem formas de superá-los. 

Manoel pede a palavra e apresenta um exemplo que poderia ser contextualizado no debate. Um caso apresentando em um documentário que retratava uma experiência no Canadá a respeito da postura de pescadores (salmão em cativeiro) que acabaram cedendo a incorporação de elementos em sua atividade, que seriam potencialmente negativos, mas que foram incorporados a partir do aspecto financeiro. Acredito que isso retrata um pouco da influencia do capital no modo de vida das pessoas, considerando que até valores, antes considerados primordiais, acabam sendo corrompidos em algum momento.

Patrizia entra na discussão e fala um pouco sobre o que realmente significa atraso. (Maiara interfere ressaltando a interferência de agentes externos, com motivações próprias e interesses específicos que acabam comprometendo as características de comunidades e ecossistemas. Segundo ela, são criadas novas tecnologias que, na verdade, criam mais problemas do que propriamente soluções). Patrizia retoma falando sobre a sua percepção sobre cultura. Coloca que o termo em si expressa a idéia de um grupo ou lugar onde há cultivo e apropriação da terra. A cultura é composta por um grupo de pessoas que se sente parte da terra (mentalidade colonizador – pensamento Teocêntrico ocidental). Mas para o índio a “terra é a mãe”. Ela fala que prefere usar a expressão MUNDO ao invés de CULTURA. Na percepção dela a palavra cultura se refere à PRODUÇÃO, enquanto MUNDO representa uma visão mais ampla e complexa.

A cerca dessa visão da Patrizia surgem algumas discordâncias. Fernando comenta que entende o CULTIVO como algo que também poder ser amplo. Adriana diz que entende a palavra CULTIVAR como “cuidar”. Mayara fala um pouco sobre a questão do resgate cultural. Diz que a incomoda a utilização desse termo, porque traz a impressão de que a cultura é algo estanque. Vando contesta a visão da Mayara colocando que na sua percepção, o resgate pode ser considerado como uma busca pelas raízes. Coloca ainda que na verdade a palavra CULTURA pode ter muitos significados e aplicações diferentes. Fala do aculturamento decorrente da chegada dos povos europeus com a imposição de seus costumes, valores e crenças. Nesse contexto, João ressalta que é importante considerar as referencias utilizadas, já que CULTURA  é um termo polissêmico. Exemplifica com uma situação em que a identidade liguistica de uma comunidade indígena foi aculturada. Fala que tem uma extrema resistência em relação  a interpretação de conceitos, já que esses podem ser pensados de várias formas. Na lógica eurocentrica de cultura, o termo significa domínio da terra e imposição de valores. Já na cultura indígena isso é algo diferente, que pode inclusive ser visto como cuidado. Ressalta que é importante utilizar conceitos explicitando o que está sendo abordado a partir disso.

Viviane lê a sua frase:“ A cultura é um processo acumulativo resultante de experiências históricas anteriores”. A cultura pressupõe vivências. A história está intrinsecamente relacionada. Vários pontos devem ser focados. O Brasil, por exemplo, tem muitas línguas... Deveria haver uma troca de valores, vivências, não de maneira excludente, mas includente... com somatório que origina novas possibilidades... No entanto devemos procurar valorizar o que é local, nosso... Manoel fala sobre algumas tribos indígenas que não usam o sistema de contagem decimal, enquanto outras falam Frances, inglês, espanhol... Destaca ainda o aspecto da sensibilidade a partir do conceito antropológico (La Platine,Freud, Lahire) . Acredita que o grande marco do homem foi a partir da linguagem... Ana Maria fala que os primeiros antropólogos eram positivistas.

João discorda um pouco do que está sendo discutido e passa para a apresentação de sua frase: “ Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura (Gertz). Diz que estabelecer como principio da cultura uma norma não é adequado. Segundo ele, Freire e Brandão ajudam a pensar a cultura na lógica da superação da subalternidade. A cultura existe desde que o homem existe. A natureza é “transformada” num sentido interpretativo. É um conceito muito amplo. Freire mostrava isso a partir de um quadro simples. Nós individualmente alimentamos o processo cultural; não no viés economicista, mas numa perspectiva transformadora socialmente falando. Exemplifica a partir do peão (instrumento disponibilizado pela equipe) que é uma forma de diversão produzida pelos autóctones, as pinturas rupestres (Piauí) retratam o cotidiano de pessoas...

Patrizia reforça sua percepção de CULTURA como uma palavra que fragmenta. Vando diz que a cultura é um conjunto de interpretações que as pessoas compartilham e que ao mesmo tempo fornece meios e condições para vivencias de conceitos e poder (Roberto Macedo). Fala ainda que cada um carrega consigo os elementos da sua terra. Por exemplo, você só percebe que é baiano quando está fora da Bahia.

Pedro apresenta sua gravura ( QUE RETRATA A QUESTÃO DO LIXO) e compartilha a experiência do período em que morou fora do Brasil e de como alguns costumes acabaram sendo por ele incorporados, mesmo quando retornou. Ele identificou em seu comportamento anterior padrões negativos e decidiu romper com eles. Danielle fala sobre a questão da necessidade de superação de paradigmas. Sua frase dizia: “O processo de aprendizagem influencia o comportamento humano e sua capacidade artística e cultural”. Ela fez referencia ao comentário do Pedro colocando que de fato, paradigmas precisam ser quebrados e que isso é possível, mas que precisamos ter acesso e vislumbrar novas possibilidades, acreditar no inacreditável, se propor a fazer o “infazível”... romper com padrões negativos.  Ana Maria complementa com a possibilidade do “ser mais” proposta por Freire, onde se deve identificar limites e se permitir crescer nas interações... constatando a ainda dominação do discurso econômico.

Frase Ana: A tecnologia ou sustentação e os elementos da organização social diretamente ligada a produção, constituem o domínio mais adaptativo da cultura”. ECONOMIA = MEIO DE SOBREVIVÊNCIA = APRISIONA – GERA ADAPTAÇÃO.

Maiara destaca que as formas de entender a cultura são também um espaço de disputa. É preciso reconhecer o que uma tradição cultural tem ao invés de partir para o aculturamento. Vando comenta nesse contexto, o que acontece na Bahia e também e outros Estados. A cultura passa a ser folclorizada e trabalhada no sentido de atração para o mercado turístico. Aí se percebem situações do tipo:Pescadores “se vestindo” de pescadores...; Baianos “se vestindo de baianos”...  Patrizia ressalta que no ocidente existe uma diferença entre cultura e folclore.

As 10:00 – INTERVALO

As 10:35 retomada das discussões. Distribuição de texto base para atividade do 2º momento. Leitura e reflexão em grupo.

Texto Referencia: Visões de Cultura - Terry Eagleton (Capitulo 1)

O primeiro trecho (lido por Danielle) se referia a relação entre cultura e natureza. Adriana comenta que desconhecia esta associação, mas que já havia sido comentada na primeira parte das atividades. Ana Maria lê o segundo trecho que se refere as atribuições associadas ao aspecto da classe social. Vando lê o terceiro trecho e Fernando questiona: afinal a cultura delimita ou abre possibilidades? Se eu me modifico eu perco a minha identidade cultural? Continuo sendo o mesmo ou passo a ser outro?
Viviane lê o quarto trecho e Patrizia comenta. Continuam as leituras e Manoel comenta que a “lenda” que trata da afeminação dos gaúchos decorre de experiências que os mesmos tiveram em estudos na Europa e que fizeram com que adquirissem costumes diferenciados, comportamentos gentis e educados (o que de acordo com a cultura local fere a postura identificada ou considerada como masculina). Maiara fala sobre as civilizações Maias, Astecas, Incas que foram desconsideradas no processo de colonização em função da divisão Eurocentrica. 

Manoel contrapõe a questão da mundialização econômica e da valorização da cultura, que na opinião dele vem crescendo... João discorda e coloca que na verdade acredita que o que está havendo é um maior enfrentamento, uma solidificação dos movimentos de resistência.

Vando fala sobre a negação da identidade indígena e Maiara comenta sobre um texto que leu de (Stuart Hall) onde o autor defende a idéia de que a globalização reacende os fundamentalismos mas não permite um avanço da interculturalidade. Vando ressalta que todas as culturas têm seu valor e questiona se o termo cultura é igual ou oposto a civilização. Maiara ressalta a questão de culturas superiores e inferiores (classificadas a partir do critério de capacidade de acumulação de capital.

Vando fala sobre o acordo ortográfico questionando se ele fere ou não a soberania de um país, já que a língua representa a soberania. Patrizia coloca que na verdade não importam as questões a serem discutidas, mas se perpetua a lógica do mercado, de QUEM vai se beneficiar com os temas em debate. Maiara fala ainda sobre a questão dos parques eólicos que estão sendo instalados sobre uma área de sitio arqueológico em Aracati – CE. Que houve a liberação de campos de dunas para este tipo de empreendimento. Como um sítio arqueológico pode ser mudado de lugar?

Patrizia fala sobre um documentário sobre fontes de energia (fusão do átomo)em que se apresentava a seguinte conclusão: “O sonho da humanidade é ter energia sem limites”. QUE HUMANIDADE?

A reunião foi encerrada e foram feitas algumas deliberações sobre o próximo encontro e a questão da revisão do horário de reuniões do grupo. Ficou acertado que seria feita uma nova consulta por meio de manifestações in loco (os presentes) e solicitadas as disponibilidades dos que não estavam para definir (definitivamente) o horário.


Algumas frases sobre Cultura....
“Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro”.
“Cultura é o que fica depois de se esquecer tudo o que foi aprendido”.
“Quem tem imaginação, mas não tem cultura, possui asas, mas não tem pés”.
            Joseph Joubert
“A grande lei da cultura é esta: deixar que cada um se torne tudo aquilo para que foi criado capaz de ser”.
           Thomas Carlyle
“A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado”.
                                                                                                                                André Malraux

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Relatório da reunião do GEAD 18/09/2009


Encontro do Gead no dia 18 de setembro de 2009
Relatoras: Karla e Vivi Alves, com a contribuição valiosa e minuciosa da Patrizia.

Quem estava presente: Ana Maria, Karla, João, Mayara, Patrizia, Tereza, Vivi Alves, Dani, Fernando, Magda, Viviane e Priscila.

Neste encontro, em nossas discussões, passeamos pelas praias e pelos sertões cearense, guiados pela Mayara e pelo João.  Antes, entretanto a viajem começou dentro de cada um com a ajuda da Viviane, que facilitou para o grupo um momento de concentração e relaxamento. Foi trabalhada a respiração ao ritmo de músicas instrumentais, que embalaram o grupo em uma longa viagem que foi proposta pela voz doce e delicada da Viviane. Ao despertar do relaxamento, ao retorno da viagem, o grupo foi agraciado pela facilitadora com bombons de chocolate. Uma delícia!
Após o exercício de relaxamento, foi dado inicio a apresentação sobre os povos do mar, sua cultura, condições de vida e luta, conduzido pela Mayara.
No início Mayara propôs apresentar uma poesia, utilizando o slides, mas não foi possível de início, devido a falta de caixa de som, o que foi prontamente resolvido pelo Fernando e pela Ana Maria. Então, inicia sua apresentação sobre os “Povos do Mar” falando sobre a realidade das populações praianas, apresentando imagens para que o grupo se localizasse e pudesse acompanhar sua apresentação. Também apresentou uma poesia da professora, acompanhando as imagens que nos levaram a conhecer um pouco das belezas dos lugares que conheceríamos melhor no decorrer de sua apresentação.
 Depois Mayara, nos apresentou através de slides as características dos povos do mar do Ceará. Seu modo de vida, sua sociabilidade e sua cultura e relação com o trabalho e com a natureza. Destacou que precisamos entender a relação que os povos do mar mantêm com o seu espaço ressaltando a importância de conhecermos a história de luta e dessa pessoas para compreendermos melhor o seu modo de vida.
Falou também como se deu o processo de colonização do nosso território, o Ceará. Que a ocupação do nosso litoral se deu de forma tardia, iniciando 100 anos após a “descoberta” do Brasil. Mayara destacou o fato de que ao longo de nossa história existe uma negação da existência das comunidades indígenas que já ocupava nosso litoral. E há ainda hoje essa negação da cultura indígena. Com essa negação, também se nega as condições de exploração sofrida por essas pessoas e ação de resistência dessas comunidades para manterem-se.
 O inicio da colonização no Ceará esteve voltada para o interior do estado, devido ao interesse na pecuária de pequeno porte e no cultivo de cana-de-açúcar. Devido a esta ocupação do interior pelos colonizadores, as comunidades indígenas foram “empurradas” para o litoral e, por isso, os encontramos ainda próximos às zonas costeiras. No Ceará existia na Costa apenas alguns pólos regionais como: Aracati, Aquiraz, Fortaleza e Camocim e a ocupação do litoral, pelos colonizadores, foi estimulada devido a necessidade de proteção contra novos invasores e para o escoamento da produção.
Ainda sobre a ocupação dos espaços litorâneos, Mayara explica que existe uma forte relação entre os povos do mar com o sertão, pois muitos vinham do sertão fugindo das secas e das dificuldades encontradas nesses espaços. 
Magda nos informa que as pessoas provinham sobretudo de Pirajim, Chorozinho e Quixadá e que já que não existia ainda a idéia de especular com a terra, doavam-se terras a quem chegava, convidando a fazer parte da comunidade.
Mayara, ao nos mostrar fotos de três comunidades, relata um pouco sobre as mesmas:
·                        Aracati, onde a população se instalou entre a terra da União e o manguezal em faixa de praia
·                        Beberibe – Prainha do Canto Verde – onde há ainda hoje grande resistência contra a exploração e degradação da natureza por parte dos pescador
·                        Camocim – Pacajus - Em Pacajus vivem três comunidades, que ainda são “nômades” por que seu tempo é mediado pela natureza (maré cheia – maré seca). As atividades seguem o ritmo da natureza.

Quando convivemos com populações tradicionais que no caso esta lida com influência da Terra e do Mar, conseguimos enxergar sua vinculação com a natureza. Seus conhecimentos, seu modo de vida são harmônico com que a natureza lhe oferece. Por isso neste tipo de comunidade o que predomina é pouco ou nenhum interesse no acumulo de capital, as atividades realizadas tem o objetivo e subsistência da comunidade. Como no caso da pesca tradicional, que diariamente os pescadores vão para o mar.
Existem no litoral cearense 110 localidades com populações tradicionais que mantém vinculação com a natureza. São algumas características:
·                        Mitos
·                        Símbolos
·                        Tecnologia compatível com o meio ambiente (tecnologia amiga, grifo meu)
·                        Unidade familiar
·                        Tempo determinado pela natureza
·                        Uma dinâmica própria que muitas vezes é desprezada como “preguiça”

Surge no grupo uma discussão em torno da relação dos pescadores com a natureza. Seu modo de vida é marcado por outra temporalidade, diferente das comunidades que tem seu estilo de vida marcado pelos valores e interesses capitalistas. João relata o exemplo do manezinho da ilha, em Florianópolis, que apresentam um ritmo diferente dos outros habitantes, pois valorizam as horas para o descanso e lazer e não apenas para o trabalho e geração de riquezas.    
Patrizia comenta que aqui estamos diante de um exemplo que ainda não foi tomado pela divisão capitalista do trabalho, mas onde trabalho e lazer se entrelaçam possibilitando a realização o (des)envolvimento da pessoa.
A partir de citações trechos da dissertação de mestrado de Soraya Tupinambá, Mayara nos instiga reflexões sobre a questão da territorialidade para os pescadores. Esta questão é completamente diferente do que acontece nos sertões, pois a referencia dos pescadores é o mar neste não há divisões. Esta perspectiva acaba estendendo-se para a terra, que é compreendida responsabilidade de todos.
Ao discutirmos sobre a relação dos pescadores com a terra, houve uma divergência no grupo, pois o trecho do texto Soraya Tupinambá, apresentado por Mayara, permitia duas interpretações: em uma não havia por parte dos pescadores uma relação de apego à terra e na outra interpretação, essa relação existia, mas não era reconhecida pelas pessoas que estudavam e escreviam sobre eles.    
Mayara nos apresentou pequenos filmes, que traziam relatos dos pescadores que falavam sobre suas condições e modos de vida, da relação com o mar e do impacto sofrido com políticas e ações inadequadas que trouxeram prejuízos á natureza e às comunidades que sobrevivem da pesca, como, por exemplo, a degradação e os impactos sofridos pelas populações praianas por causa da carcinicultura, como por exemplo: a propaganda enganosa de que haveria aumento de  emprego e renda para os nativos, quando na verdade, isso não aconteceu e ainda lhes foi tirado a possibilidade de trabalho de forma tradicional, por decorrência da degradação sofridos pelos manguezais, impactando de forma direta a catação de caranguejos e a mariscagem, principais atividades feitas pelas mulheres pescadoras, que também trabalham na confecção de renda e que são completamente excluídas socialmente dos direitos da aposentadoria.
Ainda em relação aos impactos causados pela carcinicultura, Mayara destacou a poluição das águas e conseqüentes atritos para o acesso a água para o consumo humano, e ainda a apropriação inadequada de terras da união por parte dos carcinicultores.
Sobre atividades pesqueiras, Mayara relatou que a pesca nunca foi uma fonte de lucros para o estado, mantendo-se basicamente como pesca de subsistência, feita de forma artesanal.  Uma das razões para isso é fato de que na costa cearense não temos grande diversidade, nem quantidade de peixes, como há em outros estados. O principal produto marítimo de negociação do ceará é a lagosta, mas sua pesca tem sido feita de forma irresponsável, visando apenas o lucro e alguns a exploração de muitos pescadores que tem arriscado suas vidas, fazendo a pesca com compressores, instrumentos proibidos por lei. Mayara relatou, ainda, que houve, em determinada época, uma carência de alimentos e foi determinada uma lei que exigia que a quantidade de pescado fosse aumentada para alimentar a população, o que obrigou os pescadores a irem ao mar todos os dias.
A parir da década de 70 houve uma resignificação do litoral, na qual a sociedade urbanoindustrial, com a industria do turismo  em larga proporção vem ocupando os espaços da zona costeira, trazendo problemas para comunidade remanescentes. Com esses novos investimentos e incentivos governamentais as comunidades tem-se dividido entre os que acreditam ter havido melhorias em seu modo de vida em virtude de novas vagas de emprego no setor de serviços como por exemplo em : restaurantes, bares, hotéis, etc e os que criticam esse desenvolvimento por sentirem-se explorados e destituídos de suas culturas, terras e valores e modos de trabalho que sempre lhes sustentavam.
  Terminada sua apresentação, Mayara distribuiu para o grupo alguns materiais que foram produzidos pela ONG Terramar nas diversas comunidades do nosso litoral como: cartões postais produzidos pela Rede Tucum (Rede Cearense de Turismo Solidário), cartilha “Para compreender os mangueizais”, o Almanaque Jereré de Fleixeiras, o Almanaque Pescando cultura e o Boletim Marulho, de julho de 2008.
Finalizada a apresentação da Mayara sobre os povos do mar, o Fernando tocou Asa Branca e o grupo acompanhou cantando, já entrando assim em um clima de sertão que prepararia o grupo para a apresentação que viria a seguir.
Depois foi a vez do professor João co sua apresentação “Cartografia Intercultural Crítica – o caminhar no Sertão – uma leitura sob a perspectiva Eco-Relacional”.  O professor apresentou alguns tópicos de sua Tese. A Caatinga e a Seca. Através de fotografia conhecemos um pouco mais de Irauçuba, seus problemas,suas lideranças, suas belezas e até aquela gostosa conversa agachado na beira da calçada , que conseguimos ver quando voltamos ao nossos saudosos interior, pois na cidade grande isso foi perdido, não sabemos se foi pela falta de segurança ou porque não nos permitimos mais pela loucura do tempo.
Explicou-nos que, de acordo com o professor Caio Lossio Botelho a palavra Sertão deriva de desertão. Começou falando sobre a caatinga e a seca e que uma das característica do sertão cearense é a monocultura e o latifúndio, as secas, as condições de pobreza das populações e o descaso governamental e depois destacou a importância de haver políticas para a convivência com o Semi-Árido, que se estende agora para uma cultura de convivência solidária com o Semi-Árido.
Explica diversos momentos para a compreensão do sertão:
1. O sertão não existe. O Governo desconhece a existência de tal ecossistema. Portanto não havia problemas.
2. As grandes secas promovem o êxodo rural e a “invasão” das cidades pelos sertanejos desesperados, dando origem à “indústria da seca” que descobre o sertão como mina de ouro e a partir deste momento explora ao máximo os cofres públicos com a desculpa de trazer água para o sertão. O que de fato ocorre é a privatização da água e sua transformação de bem comum em mercadoria. Denominando isso de “ações de combate à seca”.
3. Agora não é mais a seca a ser combatida, mas o semi-árido que deve ser desenvolvido.
4. Inicia com FHC a política de convivência com o semi-árido.
5. Atualmente o sertão está passando pela convivência solidária com o semi-árido.
João nos explica que um dos principais problemas em relação à água no nosso sertão não é a falta de chuvas, mas sim a grande evaporação, conseqüência dos grandes espelhos d’água dos açudes, que são abertos e ficam permanentemente expostos ao sol e calor, levando à evaporação de uma grande quantidade dessa água. Uma solução encontrada para este problema tem sido a instalação de cisternas de placa. No município de irauçuba, uma das áreas de atuação do GEAD já foram instaladas mais de 12.000 cisternas deste tipo.
João nos mostra algumas fotos do município de Irauçuba:
·                        Um açude dentro da cidade, projeto moderno da Prefeitura que foi detonado, porque ao inundar deixaram a vegetação dentro. A CAGECE ainda usa uma parte, mas traz água de fora.
·                        Casas de taipa e tijolos.
·                        Áreas queimadas, que é uma característica distorcida, porque antigamente os indígenas costumavam queimar certas áreas para depois sair e permitir assim, que a terra repousasse. Hoje, o uso é intensivo, após cinco anos o solo não serve mais para nada.
·                        Um balneário privativo. Quando tem água disponível é privatizada.
·                        Uma paisagem farta de verde. Quando cai a primeira chuva e tudo floresce o sertão se transforma.
·                        Asa Branca, uma ave típica do sertão, que hoje existe só em gaiolas.
·                        Uma paisagem que exibe degradação. Não existe nada que se destaca para ser aproveitado para o turismo.
·                        Pessoas sentadas na frente das casas conversando, “cultivando” a tradição oral.
·                        Caçadores, que segundo João comparado aos pescadores, têm poder de fogo grande. Eles invadem as áreas e matêm tudo o que aparece na mira do fuzil o que significa um grande prejuízo ecológico.
·                        Uma cacimba pública cercada para uso privativo.

Mayara lembra o Castanhão cuja água beneficiará a siderúrgica no Pecém e as empresas de turismo em todo litoral, que segundo Patrizia, para atrair turistas mantém campos de golfe. Ainda segundo Patrizia o povo de Jaguaribara, cuja cidade virou mar, não pode usufruir da água que passa encanada pelas suas terras a risco de ser assassinados por guardas armados, que tem a tarefa de vigiar a água (parece até filme de ficção científica se não fosse tão real).
·                        Outra característica mostrada por João é a foto que junta um mandacaru, uma cerca e uma sacola de plástico jogada no chão. Aqui a “civilização” se une ao “primitivo”.
·                        As estradas do sertão em terra batida, “ótimas” quando chove.
·                        O transporte típico do sertão, camionete e pau de arara.
·                        A pecuária, ovelhas e cabras, animais que comem até não ter mais, inclusive as sementes que “hibernam” na terra, assim quando chover não existe mais nada para brotar.

A respeito da caprinocultura no Sertão, Karla comenta que a EMBRAPA dá orientação e que tem muitas histórias de sucesso com esse tipo de atividade no sertão.
·                        Uma cabeça de gado morto, símbolo para as pessoas do lugar é outra característica real.
·                        Um Juazeiro no meio do nada, árvore aproveitada para muitas coisas, comida para animal e gente, para limpeza dos dentes, como sabonete etc.
·                        Uma casa de taipa e uma de pedra.
·                        Uma outra experiência com as queimadas, deixando plantas cortadas no chão para que ele as reaproveite.
·                        Pessoas na margem da rua repousando deitadas em redes.
·                        O dia dos aposentos (dia em que os aposentados recebem sua aposentadoria).
·                        O descaso com a história. A igrejinha mais antiga da região depredada.
·                        O dia das feiras, antes organizadas pelos moradores do lugar, são mantidas hoje por itinerantes com perspectiva capitalista. Antigamente as barracas eram cobertas de lona hoje de plástico.
·                        Algo de muito típico são as porteiras que demarcam o latifúndio. Alguém (não me lembro mais quem) disse que o problema do sertão não é a seca, mas as cercas.
·                        Ainda existem os postos para alimentar o gado e os vaqueiros hoje andam de bicicleta.
·                        Objetos ainda usados, filtro de barro, lamparinas e potes de barro.
·                        Figuras (“cabras”) típicas do lugar com roupa de manga, chapéu e bengala ou foice.
·                        Uma família típica que posa diante de uma parede cheia de fotos da família. Tradição mantida até nas favelas nas cidades depois do êxodo rural.
·                        O abastecimento de água pelo transporte com burros; cisternas tradicionais que se enchiam com a água buscada; o cata-vento para extrair a água do solo; o chafariz obra da prefeitura; os caminhões que vendem água, que negociam com quem possui a água. Essa atividade é ilegal, mas não há quem fiscalize e o poder público não está nem aí.
·                        Uma liderança, uma senhora simples do cotidiano.
·                        Pessoas esperançosas.

Para encerrar João nos apresenta a letra da música “A volta da asa branca”, que é uma resposta esperançosa ao sofrimento apresentado na música “Asa branca”, o que caracteriza um dos sentimentos que recorrentemente encontramos no sertanejo: a esperança de dias melhores, o desejo de voltar pra casa mais presentes.
Para sentir um pouco do sertão Patrizia sugere em seu relato a leitura do livro “Chão de Mínimos Amantes” de Moacir C. Lopes, uma história que se passa no sertão de Várzea Pequena no Ceará.

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Relatório GEAD 18.09.2009

Presente: Ana Maria, Dani, Fernando, João, Karla, Magda, Mayara, Patrizia, Priscilla, Viviane, Viviane.
Relatório: Patrizia

Neste encontro Mayara e João nos presentearam com saberes sobre o litoral e o sertão. Aprendemos que não existe “o” litoral e “o” sertão sendo que cada lugar mantém suas características paisagens, linguagens, visões de mundo, posturas, tradições diferentes e específicas mesmo tendo semelhanças entre si e coisas em comum.

1. Os “Povos do Mar”

Mayara inicia sua apresentação sobre os “Povos do Mar” com uma poesia da professora Ângela Linhares, presidente do Instituto Terramar que há anos vem acompanhando as comunidades do litoral cearense. A poesia é acompanhada de imagens que nos trazem a beleza deste outro mundo que se destaca ao mesmo tempo em que se relaciona com o todo, e de sua gente.

Antes de tudo segundo Mayara é preciso entender a relação que os povos do mar mantêm com o seu espaço ressaltando a importância do saber antepassado, ou seja, do contexto histórico.

A história da colonização do Ceará inicia 100 anos após a “descoberta” do Brasilo. Hoje em dia há uma negação da existência da cultura indígena (veja, comentários recentes do Governador Cid Gomes durante a visita do Presidente Lula ao Ceará). Também se nega sua ação de resistência (o que é claro, porque não existindo indígena, também não existe resistência). Portanto sabe-se que indígenas trabalhavam na busca do pau Brasil, que era levado para a Europa.

A ocupação do litoral pelos europeus tinha mais o sentido de segurança, no sentido de defender o que já se tinha roubado, da cobiça de outros ladrões. (Quero deixar claro aqui, que não estou reportando fielmente as palavras da Maryana, mas que ao longo do relatório surgirão alguns comentários de minha autoria).

Existia pecuária de pequeno porte e cultivo de cana de açúcar, mas logo os invasores voltaram seu interesse para o interior e o litoral se tornou o lugar que permitia a exportação para além do mar.

Segundo Mayara a comunidade indígena está mais presente no litoral o que seria uma consequência da invasão do interior pelo português, que penetrando a terra fez com que os verdadeiros donos dessa terra se retiraram para as margens do país. 

Nisso Magda opina dizendo que a resistência em certos trechos do sertão era muito forte.

Mayara continua sua exposição explicando que por muito tempo o litoral não é lugar de exploração econômica. A relação sertão – litoral poderia se desenhar desta maneira: um era depredado, o outro era usado para permitir a saída do sangue sugado, ambos eram explorados (incluindo aqui a mão de obra escrava).

Fortaleza Capital do Sertão (DANTAS, 2002: 25) por muito tempo permanece de costas para o mar.

A relação sertão – litoral é descrita por Eustógio Wanderley Correia Dantas em seu livro “Mar à Vista” da seguinte maneira:

A lógica dicotômica entre o sertão e o litoral só será questionada no início do século XIX, com a adoção de geoestratégia reforçando o papel de Fortaleza na vida econômica, política, social e cultural da capitania. A geoestrategia inscreverá Fortaleza na lógica característica das cidades litorâneas que se abrem para o exterior, sem abdicar, no seu caso, de herança proveniente do quadro simbólico do sertão. Constroi-se uma cidade litorânea-interiorana, que redescobre o mar continuando interiorana, ligada ao sertão. Este quadro simbólico interiorano media a aproximação da cidade aos espaços litorâneos. A aproximação de ordem econômica reforçada por medidas políticas, evolui lentamente para a abertura cultural da elite (em razão dos contatos estabelecidos com a Europa) diante das zonas de praia, ocupadas exclusivamente pelos pobres, em especial, os pescadores (2002: 25s).


Segundo Mayara existem no litoral, espaços intermediários, não ocupados onde aqueles, atualmente chamados de povos do mar vem se instalando ao longo dos séculos. Indígenas, escravos fugitivos, pobres urbanos e vítimas da seca forçados ao êxodo rural. Podemos entender a parir desta dinâmica a forte relação que os povos do mar mantém com o sertão.

Magda nos informa que as pessoas provinham sobretudo de Pirajim, Chorozinho e Quixadá e que já que não existia ainda a idéia de especular com a terra, doavam-se terras a quem chegava, convidando a fazer parte da comunidade.

Mayara mostra fotos de três exemplos de comunidade:

  • Aracati
  • Beberibe – Prainha do Canto Verde
  • Camucim – Pacajus


Em Aracati a população se instalou entre a terra da União e o manguezal em faixa de praia.

Em Pacajus vivem três comunidades, que ainda são “nômades” por que seu tempo é mediado pela natureza (maré cheia – maré seca). As atividades seguem o ritmo da natureza.

Existem no litoral cearense 110 localidades com populações tradicionais que mantém vinculação com a natureza. São algumas características:

  • Mitos
  • Símbolos
  • Tecnologia compatível com o meio ambiente (tecnologia amiga, grifo meu)
  • Unidade familiar
  • Tempo determinado pela natureza
  • Uma dinâmica própria que muitas vezes é desprezada como “preguiça”

João fala de uma ilha (não gravei o nome e onde fica), onde apesar da invasão de outros povos e outras visões de mundo, a ilha preserva seu ritmo. Existem momentos em que tudo para, todos os locais dos nativos estão fechados, exceto aqueles dos gringos, porque a relação com a natureza é muito forte.

Patrizia comenta que aqui estamos diante de um exemplo que ainda não foi tomado pela divisão capitalista do trabalho, mas onde trabalho e lazer se entrelaçam possibilitando a realização o (des)envolvimento da pessoa.

Continuando Mayara toca no assunto da territorialidade reportando reflexões da Soraya Tupinambá que diz que os pescadores entendem que território é algo indivisível, já que no mar não existe divisão, não existem currais, este pensamento eles trazem para a terra. (Pensamento que combina com a idéia da “Pacha Mama”, “a Terra é nossa mãe”, que não pode ser vendida). Pode-se encontrar a indivisibilidade também na cadeia de produção que mostra toda uma lógica, cada um tem sua parte nela e não pode ser desassociado, nos traços familiares, todos são prim@ de alguém.

Para sublinhar o dito Mayara mostra um vídeo deixando falar os próprios pescadores sobre o que apresenta a pesca para eles. Infelizmente a minha cabeça não conseguiu gravar o que estavam falando, entre outros por questões acústicas.

2. O que é a pesca?

Mayara nos elucida que existem dois tipos de pesca a artesanal e a industrial, sendo que última no Ceará está em crise, porque não tem sustentabilidade. A produção diz ela, não supera em um mês o que é produzido no Paraná. O Ceará carece em diversidade, seu marco é a pesca da lagosta, que é o sustento maior dos pescadores artesanais. Esses são responsáveis por 80% da produção de pescado no mercado regional e assim chegamos ao motivo porque a pesca no Ceará nunca chegou à pauta dos interesses do poder público. Ela é de subsistência. Existia até uma lei que exigia a pesca de certa quantidade de pescado para alimentar a população.

O que se sabe é que o Ceará é o maior produtor de lagosta e que o crustáceo é o maior sustento das comunidades de pescadores artesanais. Porém o fato de render mais atiça a cobiça e instiga para a pesca predatória e o emprego de instrumentos como a caçoeira e o compressor, ambos proibidos pelo IBAMA, que infelizmente não possui embarcações e fiscalizadores suficientes para cuidar da pirataria. A pesca a compressor é feita com barcos motorizados, que tem dono, na maioria dos casos não pescadores. São pessoas com recursos financeiros que permitem manter uma estrutura específica. Comunidades pesqueiras são cooptadas para fazer o trabalho sujo. Muitos já morreram durante a pescaria.

Apesar disso a Secretaria da Aquicultura e Pesca que foi criada para promover os interesses da pesca indústrial e não está nem aí com a situação dos pescadores artesanais, está impedindo a categoria a pescar. proibindo a pesca da lagosta a quem possui embarcações menores do que seis metros, prejudicando assim profissionais capacitados que há séculos conhecem o mar como a palma de sua mão. Da mesma forma as mulheres pescadoras, as “marisqueiras”, sofrem, não tendo direito à aposentadoria e outros benefícios garantidos pela lei trabalhista a tantos outros trabalhadores. Isto porque sua pesca é de subsistência e não voltada para a economia, quer dizer mercado capitalista.

Os pescadores antes eram identificados como camponeses (o termo “Povos do Mar” é recente e se não me falha a memória foi cunhado pelo António Carlos Diegues) porque mantinham uma pequena agricultura, definição que foi feita a partir do que eles produziam na terra. (Mostra, a meu ver o quanto a hegemonia parte do mundo em que ela se expande, para definir “o resto”, com o qual não mantém uma relação, lhe é estranho, oculto, suspeito e lhe propicia medo e onde não se “cultiva”).

Para o pescador a relação com o mar não é produção, mas sim cultura, ele mantém uma relação com a terra que ele não pode ver desassociada do mar. Lembrando aqui a questão da “indivisibilidade” (Soraia Tupinambá). A apropriação do mar é um ato produtivo cultural, se constrói a partir do repasse de saber, do adquirir saber (que podemos chamar de educação ambiental, aquela, que ao meu ver inclui todas as outras).

Qual a importância de entender a relação do pescador com a terra?
O avanço da industria do turismo a partir dos anos 70 promoveu a “desterritorialização”. Segundo do Céu (2002: 15s):

O processo de reprodução das relações sociais, sob a égide do mundo da mercadoria, tem colocado em perspectiva a desagregação do modo de vida das comunidades pesqueiras marítimas no litoral leste do Ceará. Caso se caracterize, concomitantemente, essa situação de desagregação e a perda da posse da terra o conseqüente processo de desterritorialização instaura-se.
(...)
Essa nova realidade caracteriza-se pela perspectiva de “modos de vida em confronto” em espaços ocupados historicamente pelas comunidades pesqueiras marítimas. Os conflitos evidenciam a disputa pela posse da terra, o aflorar de mecanismos de desagregação e afirmação do modo de vida dos pescadores e marisqueiras frente as tentativas de imposição de formas de viver na zona costeira cearense.


Mais uma vez, mediante tecnologia moderna, Maryana nos permite ser participes dos olhares de mundo dos “Povos do Mar”. Entre outros os seguintes:

“Nós planta feijão, milho, mandioca” diz uma pescadora e sublinha que “a terra é para criar, trabalhar, namorar, ela é para nossos filhos e netos” e um pescador reclama se referindo aos grileiros de terra que oferecem progresso e emprego, “melhoria todo mundo quer, mas o que estão oferecendo, não dá para a comunidade não”.

3. A invasão do litoral ou turistificação

A partir dos anos 70 inicia uma resignificação do litoral. Segundo Dantas “a valorização das zonas de praia pelo veraneio provoca movimento peculiar na estrutura urbana do Ceará”. O que propicia este movimento são as novas tecnologias que permitem percorrer mais rapidamente grandes distâncias.

Amantes de praias naturais a procura da paz e da tranqüilidade perdidas em Fortaleza, os veranistas constroem após os anos 1970, residências secundarias nas zonas de praia nos municípios cearenses.
(...)
Este movimento originário de Fortaleza somente se realiza graças a modificação da estrutura da propriedade da terra e da oferta de infra-estrutura mínima. Desta forma os veranistas podem apropriar-se das praias por meio da construção de residências secundários (...)
(...)
A modificação da estrutura da propriedade da terra é obtida à mercê da ação dos empreendedores imobiliários, responsáveis por pressão exercida sobre as zonas de praia ao comprarem ou tomarem posse de grandes extensões de terra nesta zona para disponibilizá-las como loteamento aos veranistas (2002: 77s).

Acostumados ao conforto da sociedade urbano-industrial os novos “donos” do litoral exigem do Estado infra-estrutura, com a infra-estrutura instalada abre-se o caminho para grandes ressorts que podemos encontrar hoje em quase todas as praias do litoral. Consequencia: com a turistificação oferece-se um outro tipo de trabalho, um novo estilo de vida. Pescadores e pescadoras se tornam caseiros, empregadas, garçom, cozinheira etc. Há quem acredita nas melhorias, no progresso. A partir disso consegue-se dividir as comunidades jogar um contra o outro, já que as expectativas fazem com que as pessoas recuam, e se despedem da luta pelos seus direitos. Os jovens não querem mais continuar na profissão dos pais, a relação com a tradição começa a si romper. Jericoacoara já mostra os primeiros efeitos de tal desenvolvimento com a presença de uma favela gigantesca. As pessoas que aí moram não conseguem mais sobreviver como o faziam antigamente, oferecendo passeios nas dunas ou de jangada.

4. Os manguezais

Maryana nos mostra via filme a beleza dos manguezais e as atividades desenvolvidas pelos povos ribeirinhos, enquanto isso fala sobre a exploração máxima e a conseqüente destruição, desse ecossistema pela carcinicultura.

Por causa desta invasão, mais uma vez motivada pela cobiça, que propicia lucros aos proprietários, que abastecem com este produto de luxo o exterior, os povos ribeirinhos perderam a relação com o mar. É-lhe proibido de passar pelos camareiros, porque são de propriedade privada. Apesar disso o que sobra de espaço para a extração e a pesca diminuiu tanto que promoveu a disputa e a divisão entre os ribeirinhos.

O processo de desterritorialização descaracteriza o modo de vida das comunidades tradicionais, destrói sua segurança alimentar, polui a água, eles perdem os espaços de acesso agravando-se assim os conflitos entre as pessoas.

5. A resistência

Mas graças a Deus há comunidades articuladas, organizadas no Fórum da Zona Costeira, na rede Tucum (Turismo comunitário) e outras organizações para resistir ao “novo” colonialismo, enfrentar as consequencias causadas por esse último chegado.

Uma das ações concretas é a educação a partir do mundo de vida da pesca, como é praticada na Prainha do Canto Verde.

Outras comunidades são articuladas na rede Tucum onde refletem a própria história e diante deste pano de fundo constroem caminhos viáveis de sobrevivência como o turismo comunitário, que preserva sua história, seu modo de viver, suas tradições, seu mundo de vida.

Algumas comunidades estão em processo de desterritorialização, outras de resistência, ainda outras no início do processo de resistência.

Em Flecheiras, por exemplo, o processo de conscientização é difícil, porque o emprego dificulta o trabalho. As alternativas não podem ser colocadas como mera substituição do emprego, mas como reconquista do espaço de criar e de ser.

Existem grupos mobilizados que tentam resistir, mas enfrentar o capitalismo é um processo difícil.

Terminando sua apresentação profunda Maryana distribui almanaques que contam a história esquecida da comunidade de pescadores de Flecheiras, feitos pelos jovens dessa comunidade. O objetivo de tal criatividade é saber o que se tem de bom para poder agir de outra forma.

Seja o almanaque de Flecheiras como o de Caetano de Cima são obras primas fantásticas. Parabéns para os jovens dessas comunidades.

Mayara valeu, você merece nota 10.


O Sertão

João traz o sertão para dentro de nós mediante nossas vozes e a habilidade de tocar violão do Fernando, com a canção “Asa branca” do Gonzaguinha.

Depois que o mar inundou nossas almas os nossos corações vibram com o sertão, que não vira mar porque alma e coração se completam, ou seja, são indivisíveis.

Como aprendemos no início o sertão não existe, mas como no litoral existem algumas características em comum.

Sertão vem de desertão nos ensina nosso mestre e caracteriza vastas áreas que contém poucas coisas.

Uma característica do sertão cearense é a monocultura e o latifúndio.

O sertão é um ecossistema único no mundo que ocupa 75% da área do Nordeste e 8% da área nacional.

Outras característica são:

  • A grande seca
  • A pobreza da população
  • O descaso

Momentos do sertão:

1. O sertão não existe. O Governo desconhece a existência de tal ecossistema. Portanto não havia problemas.

2. As grandes secas promovem o êxodo rural e a “invasão” das cidades pelos sertanejos desesperados, dando origem à “indústria da seca” que descobre o sertão como mina de ouro e a partir deste momento explora ao máximo os cofres públicos com a desculpa de trazer água para o sertão. O que de fato ocorre é a privatização da água e sua transformação de bem comum em mercadoria. Denominando isso de “ações de combate à seca”.

3. Agora não é mais a seca a ser combatida, mas o semi-árido que deve ser desenvolvido.

4. Inicia com FHC a política de convivência com o semi-árido.

5. Atualmente o sertão está passando pela convivência solidária com o semi-árido.

João nos faz entender que o problema da seca não é a precipitação, mas a evaporação. Chuva até tem, mas apenas 8% da água pluvial é aproveitada. O principal recurso no sertão são as barragens que seguram a água, mas também essas não podem ser aproveitadas cem por cento porque expostas ao sol suas águas também são sujeitas à evaporação.

A solução encontrada até agora são as cisternas de placa. Mais 12.000 dessas foram instaladas ultimamente em Irauçuba, lugar onde o João atua há 10 anos com eficiência.

Para a retenção da água são necessários projetos econômicos mais efetivos do que aqueles que existem, nisso João alista várias estratégias, que não consegui gravar. Importante é a reflexão a partir da questão mais grave, que é a dificuldade da população se manter a partir do que foi dito acima.

Em seguida nos é mostrado o mapa das regiões do semi-árido a nível nacional e regional. Euclides da Cunha delimita características dos sertões e dos povos. Existem regiões e povos diferentes, características que marcam esses, não existe unidade. A canção “Asa Branca” (aquela que cantamos antes de iniciar a apresentação e que mexeu com os nossos sentimentos) se tornou ícone do sertão porque relata suas características. Para citar algumas:

A terra ardendo, a fogueira de são João, a tamanha judiação, nem um pé de plantação, a falta de água, a perda do gado pela sede entre outras.

João mostra fotos de pólos de identificação do sertão de Irauçuba:

  • Um açude dentro da cidade, projeto moderno da Prefeitura que foi detonado, porque ao inundar deixaram a vegetação dentro. A CAGECE ainda usa uma parte, mas traz água de fora.
  • Casas de taipa e tijolos.
  • Áreas queimadas, que é uma característica distorcida, porque antigamente os indígenas costumavam queimar certas áreas para depois sair e permitir assim, que a terra repousasse. Hoje, o uso é intensivo, após cinco anos o solo não serve mais para nada.
  • Um balneário privativo. Quando tem água disponível é privatizada.
  • Uma paisagem farta de verde. Quando cai a primeira chuva e tudo floresce o sertão se transforma.
  • Asa Branca, uma ave típica do sertão, que hoje existe só em gaiolas.
  • Uma paisagem que exibe degradação. Não existe nada que se destaca para ser aproveitado para o turismo.
  • Pessoas sentadas na frente das casas conversando, “cultivando” a tradição oral.
  • Caçadores, que segundo João comparado aos pescadores, têm poder de fogo grande. Eles invadem as áreas e matêm tudo o que aparece na mira do fuzil o que significa um grande prejuízo ecológico.
  • Uma cacimba pública cercada para uso privativo.

Mayara lembra o Castanhão cuja água beneficiará a siderúrgica no Pecém e as empresas de turismo em todo litoral, que segundo Patrizia, para atrair turistas mantém campos de golfe. Ainda segundo Patrizia o povo de Jaguaribara, cuja cidade virou mar, não pode usufruir da água que passa encanada pelas suas terras a risco de ser assassinados por guardas armados, que tem a tarefa de vigiar a água (parece até filme de ficção científica se não fosse tão real).
  • Outra característica mostrada por João é a foto que junta um mandacaru, uma cerca e uma sacola de plástico jogada no chão. Aqui a “civilização” se une ao “primitivo”.
  • As estradas do sertão em terra batida, “ótimas” quando chove.
  • O transporte típico do sertão, camionete e pau de arara.
  • A pecuária, ovelhas e cabras, animais que comem até não ter mais, inclusive as sementes que “hibernam” na terra, assim quando chover não existe mais nada para brotar.

Karla comenta que a EMBRAPA dá orientação e que tem muita história de sucesso.
  • Uma cabeça de gado morto, símbolo para as pessoas do lugar é outra característica real.
  • Um Juazeiro no meio do nada, árvore aproveitada para muitas coisas, comida para animal e gente, para limpeza dos dentes, como sabonete etc.
  • Uma casa de taipa e uma de pedra.
  • Uma outra experiência com as queimadas, deixando plantas cortadas no chão para que ele as reaproveite.
  • Pessoas na margem da rua repousando deitadas em redes.
  • O dia dos aposentos (dia em que os aposentados recebem sua aposentadoria).
  • O descaso com a história. A igrejinha mais antiga da região depredada.
  • O dia das feiras, antes organizadas pelos moradores do lugar, são mantidas hoje por itinerantes com perspectiva capitalista. Antigamente as barracas eram cobertas de lona hoje de plástico.
  • Algo de muito típico são as porteiras que demarcam o latifúndio. Alguém (não me lembro mais quem) disse que o problema do sertão não é a seca, mas as cercas.
  • Ainda existem os postos para alimentar o gado e os vaqueiros hoje andam de bicicleta.
  • Objetos ainda usados, filtro de barro, lamparinas e potes de barro.
  • Figuras (“cabras”) típicas do lugar com roupa de manga, chapéu e bengala ou foice.
  • Uma família típica que posa diante de uma parede cheia de fotos da família. Tradição mantida até nas favelas nas cidades depois do êxodo rural.
  • O abastecimento de água pelo transporte com burros; cisternas tradicionais que se enchiam com a água buscada; o cata-vento para extrair a água do solo; o chafariz obra da prefeitura; os caminhões que vendem água, que negociam com quem possui a água. Essa atividade é ilegal, mas não há quem fiscalize e o poder público não está nem aí.
  • Uma liderança, uma senhora simples do cotidiano.
  • Pessoas esperançosas.

A riqueza e beleza do lugar não são reconhecidas.

Para sentir um pouco do sertão quero sugerir aqui a leitura do livro “Chão de Mínimos Amantes” de Moacir C. Lopes, uma história que se passa no sertão de Várzea Pequena no Ceará.
Referencial Bibliográfico:

DO CEU, Maria de Lima. Comunidades pesqueiras marítimas no Ceará – Territórios, costumes e conflitos, Dissertação (Doutorado em Geografia Humana), São Paulo: Universidade de São Paulo – USP, 2002.

DANTAS, Eustógio Wanderley Correia. Mar à Vista. Estudo da marítimidade em Fortaleza, Fortaleza: Museu do Ceará, 2002.

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RELATÓRIO GEAD 13/11/2013

A reunião do Gead do dia 13 de novembro de 2009 começou por volta das 14 :30, estavam presentes: João Figueiredo, Eleni, Ana Maria, Pedro Henrique Campelo, Magda, Tereza, Daniele, Manuel Sampaio, Adriana Melo e Patrizia Imelda. Tivemos como temas centrais à elaboração e apresentação de trabalhos científicos, apresentados por João Figueiredo e Eleni, respectivamente.

Segundo João Figueiredo um trabalho científico, seja, projeto de pesquisa, dissertação, tese e ou mesmo um artigo seguem uma mesma lógica de articulação e estruturação de idéias. Ainda no primeiro momento de sua apresentação, o mesmo fez uma apresentação sucinta da PER (Perspectiva Eco-Relacional e a pesquisa engajada). Sobre a perspectiva engajada, o facilitador afirmou que:
É engajada; tem uma abordagem dialógica; é comprometida com grupos populares; está próxima à pesquisa participante; tem que ter fidedignidade com os pressupostos que  balizaram a proposta inicial e o desenvolvimento do trabalho.
O autor deve necessariamente: apresentar o seu trabalho, explicitando em que o mesmo consiste; problematizar as questões que envolvem a sua temática de interesse; justificar a importância do mesmo; apresentar uma pergunta de partida, mostrar caminhos teóricos que possibilitem responder a pergunta de partida e questões que emergem do campo e o desenvolvimento do trabalho científico.
Na sequência nosso primeiro facilitador, chama a atenção para combinações teórico-metodológicas, afirmando que, essas combinações são possíveis quando o autor pesquisador domina as epistemologias que fundamentam essas combinações, contudo se assim for, o mesmo pode enriquecer sua proposta e consequentemente seu trabalho utilizando múltiplas linguangens...
Noss@ segund@ facilitor@ apresentou elementos de apresentação científica no Power point ,  levantou questões sobre estruturação do trabalho, tempo e apropriação dos recursos do software.

Nossa reunião terminou por volta das 17:30 da sexta feira treze....
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Relatório reunião GEAD 13/11/2009

Responsáveis Tereza e Magda
João Figueiredo, Eleni, Ana Maria, Pedro Henrique Campelo, Magda, Tereza, Daniele, Manuel Sampaio, Adriana Melo e Patrizia Ismelda.
O tema abordado nesse encontro foi Tessitura acadêmica, apresentado por João e Eleni.
João iniciou mostrando a dimensão técnica para elaboração de trabalhos científicos relativo ao tema proposto, através de slides, apresentou detalhadamente a estrutura básica para elaboração de trabalhos cientifico. Posteriormente a Eleni faria a parte de apresentação desses trabalhos, tomando como exemplo um paper.
João falou que usa Paulo Freire, como principio epistemológico para uma lógica dialógica em suas pesquisas. Fez uma rápida abordagem sobre pesquisa engajada ao se construir um trabalho científico falando que nessa direção precisamos refletir os meios e propósitos para realização desses trabalhos. Que para a apresentação da banca precisamos mostrar uma compreensão lógica do trabalho e seu caminho desejante, deixando claro, os referenciais teóricos, os objetivos e principalmente os procedimentos, métodos e técnicas que serão usados na pesquisa.
Partindo de Brandão, também complementou com um pouco da pesquisa participante, mostrando a importância de ter cuidado na aplicação das técnicas de coleta de dados quando já se estiver em campo, na flexibilidade em redimensionar idéias já preestabelecidas, para se atingir os objetivos propostos na pesquisa, pois não pode tentar mudar estes objetivos depois da pesquisa pronta. Mostrou também que na hora da apresentação para a banca, as exigências sobre a objetividade e simplicidade no manuseio dessas técnicas podem variar de acordo com a visão do avaliador. Dessa forma é importante usar a estrutura básica para a divisão ou não quanto á métodos, técnicas, amostragem e analise de dados.
Citou também as contribuições de Jorge Vala quando diz que “ninguém atenta para o fato que a pesquisa participante é eminentemente brasileira”. Complementando a importância inicialmente da leitura e interpretação dos dados na hora e depois das entrevistas em campo e da analise de discurso do que foi e usado como amostragem, levado em conta os objetivos práticos e teóricos da pesquisa.
Nesse contexto iniciou os questionamentos sobre os tipos, técnicas de coleta e análise de dados, principalmente das dissertações e teses que estão em andamento, sobre a quantidade de paginas que devem ser usados nesses trabalhos, onde o João ressaltou a importância de ser conciso e objetivo nos seus escritos e que isso é bastante relativo tanto em dissertações quanto a tese, podendo variar entre 400 e 600 páginas...
Enquanto João estava apresentando os slides e foi tecendo comentários de cada parte de uma pesquisa, Adriana iniciou os questionamentos...
Dentre as partes apresentadas nos slides estavam, às orientações de como elaborar o título, resumo, introdução, revisão da literatura e fundamentos teóricos que para João significa fazer uma releitura do que já se tem escrito por vários autores, como também é importante iniciar esta revisão fazendo uma rápido percurso nas concepções históricas de forma descritiva e teórica mais em geral, lembrando os contextos nacional e regional, destinado e relativo ao tema.
Falou também que podemos fazer uma releitura do que já foi tratado, partindo de determinado ponto, ou focar determinados pontos e aprofundá-los.
Juntamente com os comentários do Manoel e suas dúvidas relativas às suas pesquisas, João usou como exemplo base a Perspectiva Eco-relacional buscando sua fundamentação como também explicar os fundamentos da corrente fenomenológica.
Foi bastante discutido e esclarecido varias dúvidas sobre a importância da organização clara e objetiva do material e métodos, resultados, discussão desses resultados, conclusão, bibliografia e análise enquanto significados fracionados.
Eleni iniciou sua participação usando como referência para a apresentação de trabalhos científicos o material que foi usado por ela e a Karla na apresentação da ANPEED. Percebeu-se então, a necessidade de boa parte da turma em aprender a usar o programa Power point.
Infelizmente como sempre tive que sair mais cedo para viajar, então não deu para ficar até o encerramento.
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RELATÓRAIO DA REUNIÃO DO GEAD DE 20/11/2009

Caros amigos Geadianos, o presente relatório tem o propósito de comunicar-vos os principais fatos ocorridos na nossa reunião semanal do GEAD, ocorrida em 20/11/2009, que teve seu início às 14:25, contando, inicialmente, com as presenças dos confrades: Danielle Batista, Viviane Alves, Tereza Viana, Ana Maria Cardoso e este relator, Manoel Sampaio. Ana Maria expôs de forma brilhante e translúcida sobre Modernidade e Pós-modernidade.
            Logo, no início da reunião, a nossa confreira Karla Ferreira Martins passou  na  reunião para distribuir os convites com todos os presentes para o lançamento do livro “Simples” do nosso confrade Enrique Beltrão. Logo no introito de  sua apresentação frisou sobre os papéis e contribuições que Karl Marx, Emíle Durkhein e Max Weber legaram para a construção do conceito de Modernidade. Weber afirmava que a exposição da burocracia impedia a criatividade e a autonomia dos indivíduos.
Para os pensadores modernos ás idéias de emancipação estavam vinculadas ás idéias iluministas.
            Em seguida a nossa expositora, apresentou-nos as caracter´sioticas da modernidade, tais como: ritmo de mudanças acelerado, distância tempo e espaço, generalização das mercadorias, deslocamento das relações sociais, crença no conhecimento técnico, valores líquidos, domínio da natureza e dos homens por meio do cientificismo e da tecnologia.
A nossa assistente social, colocou com muita propriedade o confronto entre Modernidade e Razão, ressaltando que: a modernidade é decorrente do pensamento iluminista, um tipo de certeza ( divina), a certeza dos nossos sentidos, a providência divina foi substituída pelo progresso providencial.
Antes de adentrar nas discussões sobre a pós-modernidade, Ana colocou-nos as dimensões institucionais da modernidade, destacando: a vigilância, controle da informação e a supervisão social, a presença do poder militar, (controle dos meios de violência no contexto da industrialização da guerra); o industrialismo ( transforamação da natureza: desenvolvimento do “ambiente criado e, finalmente, do capitalismo, caracterizado (acumulação de capital no contexto de trabalho e mercados de produtos competitivos).

Após essas discussões, Ana Maria Iniciou as discussões sobre a pós-modernidade como uma condição. Fazendo um paradoxo entre Pós-modernidade X Pós-modernismo, enfocando a arte, literatura e arquitetura e música.
Pos-modernidade o que ignifica? Fase de transição. Nada pode ser conhecido com  certeza e a história é destituída de teleologia e os fundamentos epistemológicos sem credibilidade.
            A nossa geadiana do Gead din din e da sobremesa  Viviane Alves afirmou com muita seriedade que o que se perdeu muito na modernidade foi o sentido da existência.
            Antes de fechar sua exposição com chave de ouro, a Ana Maria presenteou-nos a todos e todas com um rol de gráficos mnemônicos sobre a tipificação da modernidade e pós-modernidade que estão inseridos no livro “As conseqüências da Modernidade” da autoria de Anthony Giddens. ( VIDE APRESENTAÇÃO enviada pela Ana Maria por e-mail para a lista do gead grupo).


            TIPOS DE MOVIMENTOS SOCIAIS
            Democráticos (liberdade de expressão), pacifistas, trabalhistas e ecológicos ( contracultura).

RISCOS DE ALTACONSQÜÊNCIA DA MODERNIDADE
            Crescimento de poder totalitário, conflito nuclear ou guerra de grande escala,  colapso dos mecanismos de crescimento econômico.

            PERFIL DE UMA ORDEM PÓS-MODERNA
             Participação democrática de múltiplas camadas, sistema pós-escassez, desmilitarização e humanização da tecnologia.

            DIMENSÕES DA GLOBALIZAÇÃO
            Sistema de Estados-nação, ordem militar, divisão internacional do trabalho e a economia capitalista  mundial.

            DIMENSÕES DE UM SISTEMA PÓS-ESCASSEZ
            Ordem global coordenada, organização econômica socializada, transcedência da guerra e sistema de cuidado planetário

É bom frisar que ao longo de toda apresentação, houve a participação e intervenção dos presentes, comentando ou contando causos e contando exemplos, com intervenções pertinentes.

No final, por unanimidade, a Ana Maria ficou responsável de colocar a enquete sobre o dia, local e comemoração e confraternização do nosso GEAD.
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Reunião do GEAD dia 27 de novembro de 2009 - Transcrição

Educação do Campo e Pedagogia da Alternância

João- a Bia vai apresentar uma parte do trabalho dela. A Bia vai estar conversando com a gente e eu, se for necessário, evidentemente só se for necessário, vou complementar alguma coisa da fala da Bia e o Manuel também, arbitrariamente eu inclui ele também como responsável para ajudar...
Bia- A é ...
(Brincadeiras com a Aninha sobre a gravidez)
J- Então, eu vou passar a palavra pra Bia, começar a participação dela e faltam basicamente  o Manuel, a Tereza, a outra Viviane, o Mazinho, a Magda não chegou e o Fernando e a Mayara falaram que talvez não pudessem vir.
Bia- Então gente, eu vim pra essa apresentação que é parte do primeiro capítulo da minha tese que é sobre Educação do campo, que eu to pesquisando na escola família agrícola aqui no Ceará que é a escola Agrícola Dom Fragoso. Ai eu fiz um pequeno histórico da educação no campo no Brasil e ai depois vou falar sobre a pedagogia da alternância. A denominação de educação do campo é uma coisa bastante recente. Até mais ou menos os anos noventa você usava a designação de educação rural, então ela começa no Brasil com o processo de urbanização e de cristalização que basicamente era pra fazer os ...para nos centros urbanos  e aumentar a produtividade, que a partir dos anos 30 você começa a ter a industrialização no Brasil e aí começa a ter início o processo de migração no Brasil e as cidades não estavam preparadas para receber essas pessoas, como ainda hoje não estão.  A partir de 50, com Juscelino e com o processo de desenvolvimento nacional começa a pensar a questão da educação no contexto dos projetos nacionais e ela passa a ter relação com processo de desenvolvimento nacional, com o processo educativo, até então ele seria o projeto de desenvolvimento nacional.
João - Quem relata? E quem transcreve?
João- Então a Bia tava falando, pra atualizar quem ta chegando agora, que o conceito de educação no campo é um conceito recente, que até então se falava no conceito de educação rural.
Bia- Só nessa denominação de educação rural você tem alguns movimentos, alguns projetos de educação, que são ligados á educação popular que são super importantes, né? Que são o movimento de educação popular com o método de Paulo Freire, ai você tem o NEB, que é o Núcleo de Educação de Base, tem os Centros Populares de Cultura e a metodologia de alfabetização e teatro popular e a formação de grupos populares e de escolas radiofônicas, que foram ligados à Igreja, que tá ligado ao movimento de educação de base, que iniciam na década de 50 e vão até 65, com o golpe militar, que em 65, você interrompe esses projetos ou diminuem as atividades.
Ana- Como eram as escolas radiofônicas?
Bia- As escolas radiofônicas, começam em 50, foi um projeto da CNBB em parceria com presidência da republica de Juscelino, se não me engano em Alagoas e no Rio Grande do norte e depois passa a trabalhar no Centro-oeste, Norte e Nordeste. E a partir desse trabalho com a UNEB, que começa o trabalho de educação popular, o Paulo Freire pega uma carona . A Une também pega uma carona nessa metodologia e passa a trabalhar a questão da alfabetização, do teatro popular e as escolas radiofônicas. É um momento de muita efervescência. Era no rádio. Como tem os telecentros, com aula pela televisão, você tinha pelo rádio. Era a programação no rádio e era muito interessante. Até hoje pra se chegar as pessoas na área rural o rádio é o melhor meio de comunicação. E aí nessa época você tinha 70% da população do Brasil na área rural e urbano 30%, então num período de 20 anos ou 30 você muda radicalmente e tem, de acordo com o IBGE, apenas 30% da população vivendo em área rural e 70% em área urbana. Mas tem toda uma discussão que você trata áreas que não são rurais, que ainda são rurais como perímetro urbano. Tem toda uma discussão com o IBGE para definir melhor o que é rural e o que é urbano no Brasil. Existe uma discordância sobre a forma como ele define o que seria rural e o que seria urbano. Aí você tem também uma redução desse fluxo migratório para as grandes cidades, a gente vê isso aqui no Ceará, antigamente as pessoas iam muito para o Rio e hoje ficam habitando onde tem mais trabalho, mais produção, né? Só que se a gente for pensar hoje em termo de escola, a gente pode pensar, por exemplo, a aqui a própria SEDUC tem uma dificuldade em trabalhar com a educação no campo porque eles não  tem uma atitude...eles acham a coisa mais terrível os meninos estudarem na área rural. Ficam penalizados, o mito da modernidade da cidade ele ainda é muito importante. Ele predomina ainda na subjetividade, sobretudo dos gestores.
Karla _ O que a Seduc quer?
Bia_ Eles propõem uma escola que é igual uma escola normal, eles não absorvem. Agora é que eles estão começando a entender o que seria a possibilidade de você trabalhar com a educação no campo, uma educação de qualidade e pública. Agora que começou a cair a ficha deles, mas faz três anos que a gente vem tentando, depois de muitas discussões, mas eles não compreendem. Pra cabeça deles é como se os meninos fossem pegar na enxada, viver na pobreza.
Karla – Mas o que eles querem? Uma educação feita lá, mesmo nos moldes da educação urbana ou a idéia deles é que eles saiam pra estudar?
Bia- Porque é assim, Karla, quando você começa ...quando as escolas famílias agrícolas começam, é na França, no período entre guerras. A França ela tinha esse problema naquela época, até hoje ela é um país que tem essa tradição de ruralidade, com produção de queijos, cabras, vinhos, e lá nesse período se os meninos fossem estudar, eles saiam e não voltavam mais pro campo. Então as famílias, elas se reúnem, são seis famílias, elas junto com a paróquia começam a pensar uma... (fala interrompida pela chegada do Manoel) ...e aí eles começam, eles constroem essa metodologia, ela é toda empírica, só acho que...aí quando eles começam a trabalhar essa desenvolvem essa pedagogia da alternância de forma totalmente empírica. Aí só depois de uns dez ou quinze anos é que eles começam a se aproximar das teorias pedagógicas, se aproximar das universidades e aí a pensar a questão teórica na área da educação, mas ela foi construída... E aí vc tem isso na década de 30 e no Brasil você pega uma legislação que é da década de 40 que, por incrível que pareça, com Getúlio Vargas, que eu acho que foi um dos gestores que pensou isso de uma forma mais interessante, aí depois você tem só adaptações. Você tem uma proposta de educação que é nacional e aí só adapta ela pras áreas rurais, né? Se a área rural é abandonada, o litoral brasileiro é completamente abandonado em termos de um processo de educação, de escolarização das populações em idade escolar. É uma coisa muito mais recente e aí que você com essa proposta de educação no campo.
Adriana – sobre o litoral, na praia ....a maioria é de analfabetos. Essa educação não acontece.
Bia. – A área rural mesmo com toda a precariedade você tinha aquelas escolinhas, nas fazendas com as filhas dos fazendeiros, se inicia o processo de escolarização e no litoral não tem. E a mentalidade dos gestores, de uma forma geral, a cidade é ainda um mito, ela ta ligada a um sonho.
Karla- Tem coisas que a gente sabe e eu achei interessante você falar da realidade daqui da Seduc, como você tá lá, mais próxima, participando das discussões, eu fiquei mais curiosa em saber como acontece aqui. Eu achava que a Secretaria de educação daqui estava voltada pra essa questão da educação do campo e ouvindo você falando agora me pareceu que ela não...
 Bia- É porque eles não absorvem, Karla, eles não conseguem entender a proposta. É uma questão de visão de mundo. A subjetividade deles não alcança o que é esta proposta. A própria constituição prevê adaptações, não falava em adequação. Só com a LDB, que você começa a falar em adequações.
(chegada do Fernando)
Manoel- professora eu acho que a questão da educação no campo é mais voltada pros movimentos sociais mesmo. O governo vai fazer tudo isso aí....no MST, a Fetraece, no caso aqui do Ceará...
Bia- No Ceará, mas tem estado que já tá muito...vc tem a Bahia, o Paraná, Maranhão, Pernambuco, alguns lugares em que já ta bem mais avançado, mas é que você tem assim, eu acho que a mentalidade das pessoas que estão na gestão, no ceará é muito conservadora, não só nessa mas também a gestão passada era muito conservadora.
Manoel – E nos estado todos os que estão lá saíram daqui da UFC. Todos eles passaram aqui pela UFC.
Bia- Só agora, nessa semana, é que começou a cair a ficha, mas faz sete anos que a gente ta...Então em 88, Karla, com a constituição é primeira vez que você coloca, além do direito universal, a palavra adequação. Substitui a questão da adaptação para a adequação. A constituição de 88 coloca a educação como um direito de todos, e aí ela passa a ser um direito do povo, independente dos cidadãos habitarem na área rural ou urbana. Então você começa com essa coisa da adequação é começa todo o trabalho do MST , com a educação no campo. Então se agente tem hoje a educação no campo na pauta e em termos de discussão de educação do Brasil é um fórum de discussão privilegiado, que as pessoas n~~ao se deram conta ainda da riqueza e da importância que a educação do campo tá tendo para se discutir a própria educação brasileira. Enquanto projeto nacional, projeto de sustentabilidade. E aí, a gente deve isso muito ao MST, embora hoje eu tenha algumas críticas, a algumas coisas que eles colocam como o que seria a educação do campo, como projeto pedagógico e tal, é inegável a importância do MST..
João- Me diga uma crítica, por exemplo, que  você tem em relação a proposta do MST?
Bia- Uma crítica que eu tenho, por exemplo, é em relação ao fato de eles terem as escolas fechadas só pra eles, isso eu acho uma coisa complicada. Outra coisa que eu acho é que vc trabalha ..
Adriana- As escolas geralmente se localizam dentro dos assentamentos,né?
Bia- Mas é mais do que isso. O MST tem...eles tem uma formação que é toda específica, eu mesma trabalhei a pedagogia da terra, foi uma experiência de trabalho que eu nunca tive, mas aí quando vc chega pra escola, barra porque o MST é um movimento, então ele tem uma unidade e tem uma proposta enquanto movimento,  só que quando vc vai pra educação do campo é uma coisa mais ampla e aí a necessidade de vc tá interagindo.
Karla – Então ele limita?
Bia- Não é limitar, ele tem um projeto, ele é um movimento, tem que ser dentro dos princípios deles, quer dizer o projeto de desenvolvimento do país, que engloba, um projeto de educação deles.
João- a Roseli veio aqui em 97, 98 e agente tava conversando com ela, que é praticamente a maior referencia em educação o MST e eu perguntei a ela sobre a questão ambiental dentro da proposta educativa no MST. E ela disse que nada.Aí perguntei por quê? João porque isso é uma coisa ainda muito recente e o movimento como um todo ainda não incorporou essas discussões e é consensual, quer dizer, na hora em que o movimento se der conta disso, é que isso vai acontecer, ou seja, não havia uma discussão a priori para essa questão. Depois eu tive uma oportunidade em 2007, quando estava em santa Catarina tinha uma estudante, que fez uma disciplina comigo que o mestrado dela era sobre a educação ambiental no MST. Foi o primeiro trabalho sobre educação ambiental no MST. Para fazer um mapeamento, ela tinha uma relação forte com os grupos gestores do movimento e ela teve muito acesso a informação. E na conversa que eu tive com ela, ela disse: olha ainda hoje é complicado porque tem muitas coisas que eles não admitem discutir, porque problematiza a questão econômica. Ao discutir a questões ecológica, ambiental, problematiza e questão econômica, então não se discutem essas questões. Na mesma época, praticamente, eu tava aqui dando uma disciplina pro MST sobre Paulo Freire, com pedagogia da terra e conversava com o pessoal que são educadores, formados, com licenciatura voltada para eles que vão atuar dentro dos assentamentos e tudo o mais. Alguns deles pensam a questão ambiental, de uma forma muito legal inclusive, entretanto há um conflito sério porque eles já contestam, por exemplo a questão das palavras de ordem, das imposições de alguns procedimentos que tem que ser tomados e que fazem parte da doutrina do MST. Então como é que a gente pode ... essa é uma das questões que a gente levanta: a educação no campo, uma das grandes referencias da educação no campo é a proposta do MST, que na verdade tem uma grande influencia freiriana. Entretanto como pensar isso a partir desse princípios doutrinários?É complicado, em própria sala de aula as vezes eu provocava e uma vez um disse: “é...mas é sem malícia”, aí o pessoal caia de pau em cima “como que é sem malicia, isso é importante isso é fundamento... então, quer dizer é complicado vc contestar esses esse princípios, são princípios autoritários mesmo.  O povo grita aquelas palavras, tem que ser desse jeito, etc. tem umas questões assim, complicadíssimas.
Bia- E em relação a questão ambiental é assim, uma discussão que eu tô fazendo é que a educação o campo e a educação ambiental, pra mim, é quase a mesma coisa. Acho que daqui a algum tempo elas serão consideradas como sinônimos, pra mim, pode ser que hoje não seja,mas acho que se elas continuarem nessa direção elas vão se tornar sinônimos porque leva vc a refletir sobre todo o teu relacionamento, quando vc começa a trabalhar a pedagogia da alternância, quando vc começa a trabalhar em uma pedagogia que é voltada pro contexto e que, o lugar, o campo é o contexto ambiental então vc começa a pensar de uma forma mais direta, se vc entro dessa linha de agroecologia, toda essa linha de sustentabilidade, elas são sinônimos, que por exemplo o MST ele peca, pq pensa a questão do campo, a questão produtiva e ele vem pensado a questão ambiental há muito pouco tempo. Ele tem uma prática produtiva que degrada tanto quando qualquer prática tradicional. Isso vem sendo trabalhada há bem pouco tempo pq a preocupação deles era com o acesso à terra e com a questão da produção pra subsistência.
Dani-  quando se fala disso como um sinônimo, a gente não está tirando um pouco o foco da educação ambiental na cidade, descaracterizando uma visão do todo e associando só a uma visão do campo.
Bia- Mas aí, Karla, quando se está trabalhando a questão da educação no campo não existe como vc dissociar a cidade do campo. É na verdade tem a sua especificidade, mas vc pensa o projeto, vc ta pensando o projeto. Quando vc tá trabalhando na educação vc pensa um projeto de sociedade. Pra mim é impensável vc pensar o campo sem pensam na cidade.
João- Penso que a educação no campo tem suas especificidades que precisam ser trabalhadas e para serem trabalhadas ainda é distintivo. Por exemplo, uma das coisas fundamentais da educação do campo é exatamente discutir uma educação que esteja integrada ao lugar  e estilo de vida que é o campo, que é completamente diferente do contexto urbano. Então uma educação nas cidades, efetivamente cidades urbanas, que precisamos também fazer uma discussão para saber o que significa isso implica num outro conjunto de especificidades...da Universidade católica de Brasília tava me dizendo que estão fazendo pedagogia da alternância na cidade de Brasília, na área urbana e aí, bom, se pensa numa outra lógica, não é a mesma coisa. De antemão pensar na pedagogia da alternância no urbano é diferente de pensar a pedagogia da alternância no rural. Concordo com a Dani quando ela diz assim, na cidade ela tem um conjunto de questões que são diferentes. Eu diria que vai chegar um dia em que a gente não vai precisar ficar fazendo definição do que é educação do campo, educação ambiente, mas falta muito tempo ainda e o que a gente te propondo é que a educação ambiental também esteja na educação do campo. Mas que a educação do campo tem as suas especificidades e a educação ambiental tem as suas especificidades.
Bia: a educação ambiental são princípios trabalhados nos contextos. Ai as especificidades.
João- só pra contextualizar, eu estava escrevendo um texto pra um livro que vai sair agora da ARIC e me pediram para definir a questão da colonialidade e na discussão sobre a colonialidade chega um ponto em que eu digo assim: “olha quando a gente vai discutir colonialidade a gente tem de pensar o que significa isso do ponto de vista do contexto atual” Existem problemas contemporâneos que geram, necessariamente uma discussão compatível. Por exemplo, quando eu penso a questão da racialidade no contexto atual...ai eu vou usar alguns verbos que eu to propondo lá pra gente pensar essas questões, eu digo assim: esse é um processo que desconstrua essa colonialidade, quer dizer, o processo de descolonialização,eu tenho que pensar que esse processo precisa necessariamente  ter uma racialização, ou seja, discutir o conceito de raças nesse processo, ele tem que ter uma dimensão da ambientalização, ou seja, uma ação de pensar o ambiente e ambientalizar os processos e ele tem que ter uma popularização no sentido  de trazer a dimensão popular pra essa discussão e tem que ter uma contextualização. Ora se eu penso a educação no campo, o grande princípio da educação no campo é a contextualização, mas aí a ambientalização é isso que a gente tem discutido bem mais recentemente que ainda é bem pouco discutida dentro da educação no campo. Tem aquela menina lá em Pernambuco que tem discutido isso um pouco, mas pouquíssimas reflexões acerca da temática, mas assim...
Bia – Por conta desse viés, do viés do MST, mas onde há escola ela é totalmente ...
Fenando- quando a gente fala de ambientalização e contextualização, o que é a diferença de uma pra outra?
João- To propondo, porque eu faço essa proposição, mas quando é apresentado de forma diferente é porque de fato a contextualização é não necessariamente ligada a questões ambientais, agora, na leitura que a gente tem do que é ambiental, contextualizar também é ambientalizar, porque os temas fundamentais que vão potencializar essa contextualização,  estão diretamente ligados às questões ambientais, pq o ambiental incorpora o social, agora não só.
Bia – e no caso do campo essa coisa do ambiente é uma coisa muito direta você tá lidando com isso de forma direta, imediata, diferente da área urbana em que essa relação é mediada por vários objetos e no campo essa relação é direta. 
 João- é aquela historia que eu sempre conto do pai do Marlyn, lá de Irauçuba que diz: professor, quando os velhos morrer, esse povo vai comer pedra porque ninguém quer mais plantar. Não vai ter mais o que comer.
K- Em relação a essa desvalorização, vemos que alguns jovens que trabalham na agricultura tem vergonha de dizer.
Vivi- (...)lá em Ubajara, quando fui, os filhos de agricultores tem, não é aversão, mas são desconectados com a terra, então não entendo essa educação popular  e preparação pra escola....
Bia – é porque no Ceará isso é mais complicado.Eu como pesquiso em um lugar qu é extremamente privilegiado, é outra história.  Então é completamente diferente...eu fiz um intercambio de educação do campo na Bahia e visitei 3 municípios na área de Sisau e é impressionante o trabalho que é feito. Aí você tem um trabalho de formação e acompanhamento nessas escolas. Você não muda a estrutura física da escola. Você trabalha é o professor, então os meninos adoram a escola. Todo o ensino, toda a pesquisa é feita pro contexto em que esses meninos vivem, aí tem um viés sobre a questão ambiental também. Agora no Ceará, infelizmente, a gente tá muito aquém.
Manoel- educação rural e educação do campo...antigamente se falava em educação rural  e era aumentar a área da escola, construir escolas, essa era a idéia daqueles projetos antigos, da época do professor João Figueiredo, era o pró-rural o projeto nordeste, os grandes projetos quando viam pra educação na área rural era nesse sentido: era expansão das salas de aula e hoje quando se fala em educação rural se lembra muito do MST, mas a educação rural não se limita só ao MST não, vai da educação infantil ao ensino superior e hoje tá chegando mais educação superior, depende muito do município e das lideranças, tá chegando é ensino superior, agora eu não sei a qualidade. No caso do Tauá nós temos uma média de sete a oito faculdades. Agora não sei a qualidade.
João- mas isso não é educação do campo, é educação no interior.
Adriana- Tá chegando ao morador do campo.
Ana- mas a proposta não é de educação do campo é
Karla – mas isso na é educação do campo é expansão de proposta capitalista pra educação, porque são pagas...
(confusão de falas)
João- Vou retomar aqui uma discussão mais recente ...e a gente até chegou a elaborar uma reflexão sobre essa questão e a gente viu que os dados indicadores, naquele momento em que a gente viu esse material,  eles eram trágicos e continuam. Esse indicadores, são trágicos, eu acredito que a gente vais ter só a confirmação desse processo: exclusão, o que a gente pode chamar de expulsão da escola, por isso que a gente chama de expulsão escolar mesmo porque o aluno é “reprovado” ou “tem que desistir” porque não tem condições de se manter. Então são os piores índices de reprovação e abandono e reprovação que a gente tem, são os índices do semi –árido brasileiro. E de defasagem de idade, quer dizer, fora da faixa, a questão do numero de analfabetos continua enorme, apesar de os indicadores serem de apenas 8%, e porque que são enormes apesar de apontarem  só de 8%? Porque hoje o que nós podemos chamar de analfabetismo, o que as políticas públicas de educação tem de incorporar e que ainda não incorporaram, não pode ser só quem sabe ler ou escrever não. Porque o cara pode até saber ler e escrever, mas se ele não tiver acesso a internet, se ela não souber usar o computador ele tá fora do sistema. Ele tá estritamente fora do mercado de trabalho. Então ele tem que ter noções de uma língua estrangeira compulsoriamente pq se ele for usar um computador ele tem que ter noções de língua estrangeira, tem que ter noções tecnológicas, pra usar um celular...ou então ele tá fora do mercado de trabalho. Isso no interior, o caba pra trabalhar tem que saber pelo menos digitar, então o analfabetismo hoje não é mais saber ler ou escrever, a gente alimenta esse índice de 8% pra mais de 50 %. No Semi-árido brasileiro o índice é exacerbado. Eu não tenho dados não, mas eu tenho quase certeza de que é mais de 50 %
Bia-  é não, o índice é de 30%, pelos dados do ministério são 30.
João- o que? De analfabetismo funcional? Mas isso é brincadeira, se a gente chegar em qualquer cidade... Então vamos supor mesmo esse dado de 30%, isso é uma situação alarmante!  E porque é desse jeito? Exatamente porque os processos educativos são fundamentados em uma lógica que não tem nada a ver com a realidade do lugar, são desconectados do real. A questão da oralidade, por exemplo, que é uma questão vital é totalmente desconhecido pelos professores. Lá em Tauá os professores não sabem nem o que é esse negócio de oralidade, a não ser um detalhezinho no curso de letras, uma disciplina no curso de pedagogia., mas do ponto de vista da qualificação do profissional educador, isso não existe! E olha que é uma escola, um campo da universidade que foi feito para a interiorização da educação. Há toda uma política de interiorização da educação, no entanto uma interiorização no sentido mais perverso, porque o que leva pro interior, é uma educação que não tem nada a ver com o interior, e olha que é uma universidade publica, se for pegar uma universidade privada, nem se fala. É um projeto educacional que não tem na da a ver com a educação no campo, porque a discussão de educação no campo tem um viés político, de pegar aquela problematização e contestação que faz sobre educação rural e dizer assim: gente tem que ser uma educação compatível, pertinente, integrada e contextualizada com o lugar. Então tem que trabalhar é com essa realidade do lugar. Isso é que é educação do campo. E aí uma das teses que a Bia tá propondo no trabalho dela é que a educação do campo, apesar de avançar consideravelmente, ainda tem muitas coisas a avançar, entre elas acrescentando a questão ambiental. Porque essa educação do campo, que é um avanço, politicamente, ainda assim, não vem problematizando a questão ambiental. Então você trabalha a questão do contexto local, mas não trabalha esse contexto local a questão do desafio dos problemas ambientais locais.
Bia- E nacionais.
Adriana – talvez seja  porque eles são todos fechados. Por este aspecto, contextualizar, mas eles precisam também daquela mão-de-obra, aí da produtividade daquelas pessoas dentro do assentamento, tendo em vista que aí já uma parceria que eles fazem junto ao ministério  e ao Incra que...o desenvolvimento dentro do assentamento. Eles indicam pessoas que tem a formação, pra que essa formação seja contextualizada de acordo com as necessidades e as regras que eles tem no próprio plano. Então por isso que as vezes eles se tornam tão fechados nesse sentido da educação. Preparar esses jovens pra que eles assumam... no movimento. Então assim, é algo que não é tão fácil. Você poder..., manter a produtividade dentro do assentamento, conseguir esse título de domínio da terra, se emancipar...
Bia- Eu acho que é mais do que isso, mas vamos deixar pra discutir isso mais na frente. Educação do campo é o contexto ,mas ela é o contexto pensada de uma forma mais ampla, porque se você se limita só ao contexto, você, reduz, limita a visão de mundo das pessoas.
 Manoel – O nosso ...reitor, Martins Filho falava:  “pensar o universal a partir do local, por isso que o símbolo é a carnaúba...
Bia- Mas a antropologia faz isso.
Patrizia- (...) quem é que pode falar de MST? (...) Tô me perguntando também em relação a essa questão da educação especifica no MST porque o João colocou aqui agora, os indicadores do campo e que o analfabetismo não é só não saber ler e escrever, mas é não ter acesso ao sistema. E aí eu me pergunto: O MST tem conseguido (...) é outro mundo. Por isso a educação não sei..tô pensando agora, mas eu penso assim: é um mundo fora desse sistema. A gente fala assim da inclusão, inclusão de que? Do sistema e do sistema capitalista. E a ideologia do MST não quer ser o sistema capitalista. Então eles pensam a partir da terra a educação... existe um exemplo de faculdade no MST onde as pessoas trabalham no campo e estudam, quer dizer, também se mantém. A instituição, a educação trabalhando e todos que trabalham não é com separação uns trabalham no campo e outros estudam, mas é uma idéia de uma visão de mundo totalmente diferente (...) então essa questão de (...) são duas coisas completamente diferentes.
Bia- Eu não entendi o que você colocou.
Patrizia: Eles tem que partir de que? A situação que (...) é uma situação que se deu a partir de um processo (...) que tá tomando conta do mundo. O que nós estamos fazendo? Tentando incluir todo mundo nesse que tá continuando? Nesse pensamento mercantil. A nossa educação é galgada em cima desse princípio.
Bia – Não, mas a educação do campo e ai o MST, eles trabalham uma outra concepção. Essa proposta de educação do campo, ela parte do contexto, mas ela não se circunscreve ao contexto. Ela tem um projeto maior.   Projeto de educação dos meninos parte da realidade deles, MS ela tem uma proposta de sociedade. Tem um projeto
Patrizia - Mas é outro tipo.
Bia- Sim é outra.
P- mas esse ai não (...) essa questão de reclamarem de as pessoas não serem incluídas no sistema, não é compatível porque não é essa a lógica.
João – mas Patrizia, quando você fala assim, me dá a impressão da seguinte forma...então deixa eu tentar explicar como é que eu penso isso, mas não é um pensar muito maduro sobre isso. Eu penso que a gente tem que qualificar para entrar no mercado de trabalho sim, mas agora entrar no mercado de trabalho com uma outra lógica. Pra contestar esse modelo e tentar propor um modelo diferente de sociedade, mas não é fora da sociedade. Não dá pra imaginar que eu posso propor a esses estudantes que eles sejam anarquistas, que não se vinculem a essa sociedade que está aí e que eles saiam totalmente desse sistema porque se eles fizerem isso les vão morrer de fome.  Se eu não ppreparar esses meniinos pra entrar no mercado de trabalho eles vão morrrer de fome ali na coxia e não vão fazer coisa nenhuma pra mudar nada. Então isso a principio eu to tentando problematizar. Do mesmo modo quando eu penso a educação do campo eu penso em contribuir com a qualificação dessas pessoas no sentido de que elas tenham condições sim de produzir pra se manter. Agora que esta produção seja cada vez mais descolada dessa lógica capitalista. Não dá pra fugir da idéia de que estão inseridos no sistema e que vão depender do sistema inclusive pra se manter. É nesse sentido, agora que eles tem que sair desse modelo, sim, que eles tem que propor um outro modelo, sim,  mas que eles possam pensar outro modelo, mas dentro da sociedade. Só posso problematizar essa sociedade dentro dela. A educação no campo propõe questionar essa lógica, que na medida do possível eles possam propor uma sociedade diferente, sim, mas dentro da sociedade na qual nos encontramos, que a gente não tá fora dela. Eu só posso, na minha compreensão e na minha escolha problematizar essa sociedade nela. Tem quem faça diferente. Tem aquele Norton, que fez um livro com Paulo freire. Ele propõe discutir a sociedade fora da sociedade. Ele conseguiu fazer isso lá nos EUA, mas a contribuição que ele deu, pouquíssima gente conhece. Pouquíssima gente foi beneficiada com as reflexões que ele fez. Então eu acho muito mais limitada essa proposição, eu acho, por exemplo, muito mais limitada do que a contribuição que Paulo Freire deu, que propôs isso dentro da lógica do sistema. Criticar essa lógica, dentro dessa lógica. Mas então, a educação do campo, ela propõe questionar essa lógica, mas propõe qualificar as pessoas para estarem podendo sobreviver nesse sistema.
Bia – E construindo uma outra coisa. Você tem uma concepção de mundo.
João – a idéia das escolas que trabalham a pedagogia da alternância, as escolas famílias agrícolas, é uma proposta super avançada porque abre uma possibilidade incrível. Eu tive agora, a convite do movimento eclesial de base, no Cariri conversando sobre a pedagogia da alternância eles vem na pedagogia da alternância a possibilidade enorme de chutar o pau, de fazer outra coisa, inclusive professores e diretores de escolas ligados ao sistema e levar pra sua escola ligada à rede uma idéia diferente, mas ainda tá na rede. É como em Irauçuba a gente tá fazendo uma problematização do sistema, tá propondo uma mudança, a gente tá trabalhando com as três maiores escolas do município, os professores estão pensando em uma estratégia diferente, mas ainda é dentro do sistema.
Patrizia – você não pode estar fora do estado, como é que pode estar fora? Tem que mudar por dento, por assim dizer.
João – mas se vai mudar por dentro, eu tenho que deixar a possibilidade de as pessoas sobreviverem nesse contexto.
Bia-  A lei 9324 de 96 define no artigo primeiro que a educação abrange os processos formativos é diz que  educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar...no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa e desenvolvimento social e organização da sociedade civil e nas manifestações culturais. Quer dizer, que essa concepção de educação é que vem norteando todo o sistema educacional brasileiro. Ou seja, educação não é só o processo de escolarização, mas tudo o que abrange a vida da pessoa na sociedade.
João- Só que a agente tá fazendo o contrario, a gente tá levando pra todos os lugares a mesma fuleragem. Ao invés de trazer um projeto educativo efetivamente crítico e transformador que aconteça nas várias instancias, a gente tá fazendo um processo alienante e domesticador que acontece nas diversas instancias, inclusive nas famílias.
Bia – Você tá falando do processo de escolarização pra tudo.
Manoel – (...)
Patrizia- quando você diz: eu não deixo de formar para o mercado...
João- não também não vamos exagerar, não para o mercado...educar para que a pessoa tenha condição de sobreviver no sistema, não para o sistema
Patrizia – Sim a pessoa vais conscientizando e vai pro mercado. De que jeito ele pode mudar essa estrutura? Tem uma escola particular, por exemplo, que tem essa estrutura, que não pode pular fora. Até na pública, você pode até adequar, mas na privada, por exemplo?
João- Eu vou falar em nome dos meus colegas, vou falar a partir da privada. Eu acredito que o trabalho que o Fernando e a Dani fazem é um trabalho que leva uma contribuição sim, tá problematizando essa questão.  
Patriizia- tem a possibilidade em uma universidade privada de fazer uma outra coisa...
Dani- Pelo menos no meu caso, tem.
Tereza- Eu levei a Magda na semana passada e a briga foi feia. O nível de discussão na faculdade...e aqui em Maracanaú, onde a gente tem um curso de especializaão em educação Ambiental, de uma forma ou de outra a gente tá levando, por exemplo a Magda, no dia llevou discussões bastante importantes junto até a secretaria do meio ambiente, técnicos...penso que dá pra criar discussões bastante interessante.
Dani- na minha experiência eu sou professora do curso de administração. Então, se em outras áreas existe uma lógica para o mercado, imagine na administração. Os meninos saem querendo ser gestores de empresas, ou seja, totalmente capitalistas. Eu consigo levantar questões visando a mudança na percepção deles, na forma como eles enxergam ...e hoje apesar da resistência, porque eles não conseguem ver possibilidade de superar o que tá posto,  a gente já começa a perceber... eu lanço a idéia de que eles desenvolvam um projeto de educação ambiental ou relacionado a gestão, que pode ser em qualquer lugar, pode ser em uma escola, no condomínio deles, em qualquer lugar que eles escolham... é uma forma de tá trabalhando isso e tem sido muito gratificante chegar ao final do semestre e ver como eles conseguem ver outras possibilidades.
Fernando- no meu caso, tem acontecido uma coisa bem interessante na minha escola. Primeiro que uma pessoa bem jovem assumiu a direção e isso, de uma forma ou d outra tem trazido novos ares pra escola. Eu sou coordenador de artes e me convidaram pra escrever o novo material didático, o livro de artes pro ensino fundamental e aí que eu acho que a gente avançou ...bem eu topo, eu sei,mas eu não quero fazer isso sozinho, quero todas as pessoas que trabalham com arte na escola pra gente dialogar e mai do que escrever esse livro didático, é a gente repensar como a arte é trabalhada dentro da escola como um todo. Porque não adianta eu escrever um material para o fundamental, se no núcleo infantil trabalha de outra maneira, se nem existe arte lá no ensino médio e se nos cursos livres, que não fazem parte do currículo também se trabalha de uma outra forma. Então é uma proposta que a gente tá agora, eu to começando esse trabalho uma proposta de repensar a arte na escola como um todo e eu acho que a arte é uma ferramenta importantíssimo, privilegiada para se trabalhar a sensibilização dos jovens para um mundo mais possível de se viver.
Patrizia (...)
Bia: ele tem uma formação política, trabalha a formação voltada para a terra e principalmente a questão política. Acho que o Manoel que trabalha com o MST pode dizer de forma mais.
Mmanoel- na região norte tá começando um projeto de expansão das escolas alternativas. Com a pedagogia da alternância. Em Ipueiras, Santa Quitéria, na região dos Inhamuns, tá todo mundo começando com a pedagogia da alternância.
Bia - tem a possibilidade de sete escolas família agrícolas.
Patrizia- em que vão trabalhar esses alunos? Vão fazer o que? estudam pra que no mst?
Bia –as escolas do MST, como as escolas do Brasil,  tem a educação básica. Discussão desde o inicio é que quando vc trabalha a questão da educação contextualizada para o campo, você começa a estudar a realidade das pessoas. Por exemplo eu nunca estudei os rios brasileiros, só bem mai tarde. Os meninos  que estão lá não estudam os rios deles eles vão estudar europeus primeiro e lá pela quarta, quinta série do ensino fundamental é que eles começam a ver. Aí as escolas que os meninos do MST estudavam também era desse jeito, então eles começam a trabalhar a questão dos acampamentos, depois de algum tempo eles começaram ter uma educação voltada para a realidade das pessoas que tão assentadas ou que tão em ocupações. Voltada pro campo.
Patrizia (...)
Bia - Muitos fazem o ensino superior e muitos voltam...professores, comunicação da terra.. vão pra Cuba fazer medicina e já voltaram.
Joãoo- eles ficam atuando na comuidade.
Patrizia -  eles tem os próprios médicos, os próprios professores etc.
João - não tem ainda, mas vão ter.
Patrizia- então é uma outra sociedade ao lado de outa.
João- a ideia é construir uma sociedade alternativa.
Patrizia- Era aí que eu tava querendo chegar.
Bia- eles tem um projeto, Patriizia, mas quando chega na parte ambiental eles escorregam.
Adriana- Deixa eu dar um exemplo, no assentamento em que estou trabalhando- em relação aos resíduos sólidos, a prática é queimar, enterrar ou jogar em terreno baldio. E eles sentem a necessidade de investimentos nessa área da educação ambiental, da reciclagem já tentaram iniciar uma parceria com...eles tem que cumprir uma média lá de ...por exemplo, pra produtividade dentro do assentamento, então acaba ficando de lado essa questão.
Vivi- eu não conheço muito bem o MST, a única oportunidade que eu tive foi na disciplina de movimentos sociais, que foi convidado, e a idéia que eu tenho é assim que as pessoas tão se formando pra uma sociedade alternativa, não capitalista, mas também às vezes eu penso assim: tem uma hierarquia e o chefe, o comandante tem um tipo de sociedade, não tal como o capitalismo, mas que aqueles que tem um poder aquisitivo maior, que acabam liderando, mantém o domínio diante daqueles que não tem. Até que ponto é diferenciada dessa sociedade capitalista na qual nós vivemos? Eu tenho dúvidas.
João_ quando a gente pensa em um projeto alternativa a gente pensa que é todo mundo igual e todo mundo igual, portanto todo mundo tem os mesmos direitos e deveres, então todo mundo faz a mesma coisa, todo mundo...efetivamente a gente sabe que a humanidade não é assim. Primeira questão. Segundo, o fato de haver um projeto democrático que é, por exemplo o projeto do MST não implica na negação da hierarquia. Existe a necessidade de coordenadores. A grande questão é que não há essa coisa de uma classe que explora outra classe. Há um projeto de sociedade em que há um compartilhamento social.  O projeto de sociedade é um projeto de compartilhamento social. Essa é que é a grande questão.
Karla – e apesar dessa questão, que eu até acredito que é necessário mesmo, de uma hierarquia bem forte, porque eles têm que lutar contra um mundo, né? Sendo uma organização bem forte e bem disciplinada, mas, diferente do que a Vivi disse, as vezes quem tá acima não necessariamente é o mais rico. Pode o mais rico estar abaixo hierarquicamente ou nem participar da direção. Os que estão acima são os que tem maior articulação política, são os líderes realmente e não necessariamente os que tem mais dinheiro.
Fernando- Foi lançado um CD “os sem terrinhas”, das crianças do MST, que tem algumas canções que toca nessa questão do meio ambiente. Tem uma musica que é linda eu diz: não jogue lixo no chão, chão é pra plantar semente, pra dar o bendito fruto pra alimentação da gente. Tem algumas musicas que tocam essa questão do meio ambiente.Eu acho que já é pelo menos uma semente.
Bia _ no artigo 28, do capitulo 2 da constituição, ela estabelece que a oferta da educação básica para as populações rurais, do sistema de ensino, deve sofrer as adaptações necessárias para adequar as peculiaridades das populações rurais de cada região. Aí em termos de conteúdos curriculares, as metodologias apropriadas, e os interesses dos alunos da zona rural. As organizações escolar próprias. Aí entraria os calendários para as fases do ciclo agrícola, as condições climáticas e a natureza do trabalho rural. Aí qual o maior impedimento que a gente tem? É em relação ao TCU, em relação ao financiamento. Porque a forma de prestação de contas, era tudo feito de uma forma linear, pensando só o urbano aí quando você vai trabalhar as especificidades do rural você ..as vezes o calendário escolar não seria o calendário de um ano, ele entraria de um ano pra o outro, ai isso em termo de orçamento pra união é ruim...o maior impedimento é a questão orçamentária.
Karla – teve um trabalho que eu fazia lá em Tauá, em trabalho passado, a gente fazia um calendário com os agricultores, em que havia várias atividades: a questão da escola, alimentação, emigração, água, etc e a gente via que o ano que era considerado bom pra agricultura  era um péssimo ano pra escola porque no ano bom as crianças saiam pra trabalhar e o ano que era seco, ruim pra agricultura era um ano bom pra escola, porque elas frequentavam mais a escola por causa da merenda escolar e por causa da água, já que a escola tinha a cisterna maior e ano que era considerado bom as crianças precisavam ajudar os pais no plantio e na colheita e por isso saiam da escola.
 Fernando - tem uma questão que eu acho que é pertinente. Esses professores sabem reconhecer, valorizar e admirar esse trabalho, essa comunidade? A Mayara uma vez até colocou aqui pro grupo a questão de uma comunidade, que me parece era em flexeiras, que a professora colocava pro meninos: “menino tu estuda porque se não estudar tu vai ser igual ao teu pai, pescador. É uma questão de cuidado.
João – no interior, dizem : puxar a cobra pros pés, coma enxada.
Bia- na área rural é mesma coisa. Então a gente tá quase concluindo. A educação rural no Brasil nunca teve diretrizes políticas e pedagógicas especificas pra regulamentar o funcionamento, a organização da escola. A gente nunca teve uma adaptação orçamentária, a gnte tá começando a ter, agora, adequada, que possibilite tanto a institucionalização, quanto a manutenção da escola em todos os níveis...essa discussão tá começando agora. Se as pessoas forem inteligentes vai dar um salto qualitativo imenso. A gente tem 500 mil escolas no campo no Brasil inteiro. Então a gente é capaz de dar um salto qualitativo imenso em dez anos. Ai a educação do campo se constrói em oposição ao conceito de educação rural a exceção seria aquele...as escolas radiofônicas  e o trabalho que o Paulo Freire fez. Mas mesmo assim, essas experiências que foram de quinze anos a gente tá incluindo dentro do que seria educação do campo. Ela hoje tem a cara dos povos do campo. Aí o que que tá se chamando de povos do campo? São os agricultores, os extrativistas, os caçadores, a população ribeirinha, os pescadores, os indígenas, os quilombolas, os posseiros, arredatários, meeiros e pequenos proprietários. Então a gente sai dessa concepção de rural que é só o homem que trabalha na terra e passa ser toda essa gama de populações que são as tradicionais do Brasil e que vivem ligadas a natureza de forma direta. Essa atividade seja uma atividade produtiva ligada diretamente ao meio natural. E ela rompe com essa idéia de que o campo, é o lugar do atraso, de que é inferior. Por isso que eu tava colocando assim, a proposta de edducação do campo é, pra mim, só tem sentido de você pensar em um projeto mais amplo, dialogando com o rural. Não tem como você pensar isso sem dialogar com o rural.
 Em 95 você tem congresso nacional do MST que começa  a discutir isso. Aí depois você começa a discutir a questão da educação, porque quando o MST começa ele não trabalha a questão da educação. Nos anos 50, a Contag, as ligas camponesas também não discutiam a questão da educação. No máximo a discussão era da questão da formação política dos sindicalistas, das lideranças. O próprio MST trabalhava com a questão das lideranças. Aí em 97 tem o primeiro encontro nacional de educadores e educadoras da reforma agrária, já puxado pelo MST. Em 98 a primeira conferencia nacional de educação no capo, que é como se trabalha essa concepção do que seria a educação básica do campo. Hoje a gente não chama mais de básica, a gente tá falando de educação do campo. O que abrange todos os níveis de escolarização. Aí em 2002 tem as diretrizes operacionais para a educação do campo,  no Google tem como baixar, é muito importante pra ler. Aí em tem 2002 tem a criação do grupo permanente de educação do campo, que passa a ser ao comissão nacional de educação do campo, que hoje tem poder de decisão dentro do MEC, antes ele era só constritivo e hoje ele tem  poder deliberativo e em 2004 tem a segunda conferencia nacional de educação do campo e em 2004 tem a secretaria de educação continada, alfabetização e diversidade, que dentro dela tem a coordenação de educação do campo, que a briga hoje com o MEC é de transformar essa coordenação em uma secretaria, que tem mais peso político.




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