RELATÓRIOS ANO 2010.1
TEMAS: Interculturalidade – Colonialidade – PER – Educações Ambientais – EAD
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Encontro GEAD do 19 de fevereiro de 2010
Anotações de: Patrizia
Imelda Frosch
Presente: Eleni, Fernanda,
Fernando, João, Karla, Manoel, Marcelo, Marclécio, Mazinho, Patrizia, Pedro,
Teresa, Vanessa, Vivi.
João
inicia o encontro pedindo desculpas por não poder apresentar uma música prevista
para este momento, porque o pen-drive não aceitou a “salvação”.
Como
temos dois novatos no grupo todo mundo se apresenta.
João
resume o objetivo dos estudos do GEAD deste ano: Como integrar as reflexões
sobre colonialidade dentro da Educação Ambiental e Popular. Em seguida
apresenta alguns membros do grupo ausentes. Adriana, Magda, Karla (que mais
tarde se junta ao grupo e apresentará seu projeto que está desenvolvendo em
Irauçuba), Beatriz que trabalha com a pedagogia da alternância onde os alunos
permanecem 15 dias na escola e 15 dias em casa fazendo um trabalho no campo
relacionado à sustentabilidade, modelo de educação realizado primeiramente na
França após a segunda Guerra Mundial, quando famílias de agricultores se
reuniram em comunidade para se ajudar e educar mutuamente. Trata-se de unidades
produtivas que mantém diferentes unidades de produção nas quais todos os
membros da comunidade trabalham em rodízio.
Mazinho
pergunta por que não existe uma ressonância maior deste modelo.
João
explica que o Governo Lula retomou a idéia e que tenta ampliar, mas que “ainda
não é o que deve ser, mas que já é alguma coisa” e que é preciso criar
estratégias de adaptação nas escolas públicas no campo. Depois ele segue na
apresentação dos ausentes. Viviane Coutinho que é Arte-Educadora, Lívia
professora do Estado, Mayara Assistente de comunicação do TerraMar e que faz um
trabalho com vídeo e gênero nas comunidades do litoral cearense, Ana Maria que
é coordenadora do GEAD e que trabalha com grupos que atuam na preservação do
meio ambiente. Neste instante Vanessa se junta ao grupo e se apresenta como
bióloga.
Terminada
a apresentação João lembra o cronograma dos relatórios e Fernando faz a
proposta de definir para cada reunião dois relatores e um suplente caso faltar
um dos comprometidos. Se os dois relatores estão presentes o suplente
automaticamente passa a ser um dos relatores do próximo encontro. Também João faz
questão que os relatórios de uma reunião anterior sejam apresentados na
seguinte.
Para
o mês de fevereiro e março se comprometeram as seguintes pessoas:
19/02/10 Fernanda, Fernando
26/02/10 Pedro, Teresa - suplente: Mazinho
05/03/10 Mazinho, Priscila - suplente: Eleni
12/03/10 Eleni, Vivi - suplente: Manoel
26/03/10 Manoel, Patrizia - suplente: Marclécio
Eleni
chama a atenção para o cronograma dos temas dos encontros de 2010 e pede
inscrição das pessoas que não estavam presentes no planejamento-avaliação.
Para
o dia 26/02 além da Adriana, da Magda e da Ana Maria está prevista a
apresentação da Cecília, os temas do dia 05/03 e do dia 12/03 são trocados,
Mazinho muda do dia 26/03 para o dia 23/04, Patrizia se inscreve para o dia
23/04, 14/05 e 11/06 (não peguei se houve outras inscrições).
João
explica que esta metodologia foi aplicada em 2008 em Irauçuba e que é parte da
tese da Karla. Trata-se de escrever a própria história para nos ajudar a
escrever a história. Nós nos formamos na relação com os outros. Cada um escreve
sua história que é compartilhada e integrada pelos outros. Houve uma demanda no
grupo por isso foi decidido oferecer esta oportunidade valiosa.
Ainda
falta a distribuição das restantes obras de Paulo Freire que deverão resultar
em um texto a ser publicado em setembro. Deverá ser apresentado um esboço em
maio e uma elaboração mais avançada em julho. Ficaram
responsáveis :
Obra Pessoa(s)
Pedagogia
do Oprimido Manoel,
Patrizia
Pedagogia
da Esperança Lívia
Pedagogia
da Autonomia Vivi
Educação
como prática da Liberdade Eleni
Por
uma Pedagogia da Pergunta Ana
Maria
Educação
e Política Magda
Educação
e Atualidade Brasileira Fernando
Extensão
ou Comunicação Fernanda
Medo
e Ousadia Mazinho
Ação
cultural para a Liberdade Mayara
A
sombra dessa Mangueira João
Eleni
ainda fala sobre o Encontro de Educação Popular que vai ser realizado pelo
GEAD. Surge a proposta de incluí-lo dentro do primeiro congresso de Educação
Ambiental que ocorrera no Ceará.
João
chama a atenção para a mudança de coordenação no grupo Mover e informa que Vivi
assumirá a coordenação dos encontros no Gead. Também informa que material como
artigos publicados estão a disposição na sala do GEAD e Eleni se compromete a
imprimir artigos publicados sobre temática ligada ao GEAD se alguém quer enviar
ou entregar tais artigos. Também o GEAD mantém um acervo de livros que estão à
disposição do grupo.
Terminados
os assuntos formais e re-estabelecidos depois do intervalo as 10:26h Manoel
inicia a apresentação de seu projeto.
O
objeto dele é investigar sobre o uso que as famílias do assentamento de Angícos
fazem dos recursos da natureza. Ele já fez um fichamento e está reorganizando o
material para a primeira qualificação. Nesta altura ele sente falta de uma
linha filosófica que dá embasamento ao trabalho. Está pensando em utilizar a
contribuição de I. Carvalho.
João
comenta que é possível trabalhar com a hermenêutica, mas que não é viável se
restringir a esta autora já que defende uma hermenêutica tradicional. A
hermenêutica avança em direção específica e não é bom se delimitar a um
diagnóstico que é o que a hermenêutica faz. No se agarrar nela deixa-se de
levar uma contribuição para a comunidade. Seria mais viável uma perspectiva
dialética, dialógica, ver a característica que marca o grupo que é a pesquisa
intervenção. Pode usar a perspectiva hermenêutica da I. Carvalho, mas não
deveria se restringir a ela. A Educação Ambiental Dialógica pode ajudar como
trampolim.
Manoel
pensa em incluir a questão do semárido e de trabalhar a colonialidade da mãe natureza.
Aqui João chama a atenção do grupo para uma questão importante que é aproveitar
o que já foi produzido pelo grupo nesta área reclamando que “a gente está lendo
pouco a gente”, ressaltando mais uma vez o trabalho da Beatriz que inclui
autores muito antigos que trabalham a questão do semiárido, também aconselha procurar o acervo do
Instituto do semiárido e as obras do professor Botelho da UECE, que se
especializou nas questões climáticas.
Segundo
João, Manoel deveria se perguntar se existe uma lógica que mobilizou a
comunidade a gerar o assentamento ou se foi instalado pelo próprio Estado.
Seria interessante, por exemplo, discutir o MST a partir da experiência do
assentamento.
Segundo
Mazinho uma intervenção pode partir da resposta da experiência da comunidade na
questão ambiental.
Manoel
relata que aquele assentamento é muito organizado, mantém uma associação é
ligado ao Sindicado dos Trabalhadores Rurais da Terra, apresenta projetos para
o Estado, já tem cinco açudes e as famílias possuem parcelas.
Fernanda
comenta que os assentamentos podem ser da Organização do MST ou de outras, ou
dos moradores locais que posteriormente assumiram o MST ou somar comunidades
onde uma é a favor outra contra o MST. Em Itarema, por exemplo, os jovens já
negociam com a União terrenos para serem agregados e não mais assentados, eles
têm radio, tem escola de ensino médio existe muita diferença de desenvolvimento
e organização, mas todos se ajudam mutuamente mesmo tendo divergências. Segundo
ela o que causa problemas em assentamentos é a separação em parcelas, quando
não há um espaço comunitário compartilhado e uns decidem de plantar o que se
torna nocivo para todos, como, por exemplo, semente transgênica distribuída
pelo próprio Estado.
João
pergunta o que é que se quer identificar e que é outra coisa entrar em uma
comunidade para conviver, porque a própria convivência com o grupo forma a
pesquisa. A discussão com a comunidade é a fonte da qual temos que beber
(interpretação minha). A definição dos objetos fica mais clara.
Para
encerrar Manoel formula a seguinte pergunta:
Quais
práticas educacionais podem contribuir na construção de uma consciência
ecorelacional? (será que entendi bem?)
A
palavra final é com Mazinho que se incomoda (não somente ele) com a palavra “desenvolvimento
ambiental”, ele assume o desafio de (des)construir este conceito para
“envolvimento” (concordo Mazinho posso entrar no debate?)
É
a vez do Pedro apresentar sua pesquisa. Ele trabalha no Tribunal de Contas que
fiscaliza a gestão dos órgãos públicos. Gestão também tem a ver com meio
ambiente. Uma boa gestão inclui o meio ambiente em seus projetos, uma má gestão
faz projetos de qualquer jeito sem se dar conta das consequências ambientais. O
TC em seu trabalho fiscaliza se os recursos são bem “gestidos”.
Se,
por exemplo, a SEMACE emprega terceirizados para vagas de concursados, ou seja,
profissionais do meio ambiente, o TC exige substituição, haja vistas que os
terceirizados não sendo profissionais podem dar pareceres errados com
consequências gravíssimas para o meio ambiente. Pergunta-se Pedro então (e peço
desculpas se entendi errado) se os funcionários do TC estão cientes de ter
intervenido (se bem indiretamente) para preservar o meio ambiente?
Pedro
já fez 20 entrevistas semi-estruturadas com analistas, técnicos, auxiliares de
técnicos e conselheiros. O que segundo ele mais marcou a discussão nas
entrevistas foi que na política da qualidade ninguém aponta em relação ao meio
ambiente exceto a conselheira que já reconhece que a política da qualidade pode
trazer questões ambientais. Pedro se pergunta por que não apontam? Como o tema
não surgiu, ele quer tematizá-lo e problematizá-lo através do circulo de
cultura focando na Educação Ambiental Dialógica e na perspectiva Ecorelacional.
Terminada
a apresentação de Pedro, Karla encerra o encontro resumindo seu projeto de
pesquisa.
Ela
apresenta seu trabalho em construção como parte de um projeto maior do GEAD.
Ele é um projeto de transformação da realidade de nós mesmos, nossa individual
e do grupo. Em seu trabalho ela quer estabelecer um diálogo entre Paulo Freire
e a dimensão afetiva, ou seja, como sentimentos e emoções interferem com o
ambiente sócio-físico (natureza/comunidade).
O
objeto de Karla é a formação dos educadores ambientais destacando a dimensão
afetiva como espaço de transformação das pessoas, da realidade de nós mesmos.
Como
instrumentos metodológicos ela utiliza entre outros o atelier autobiográfico e
os mapas afetivos. No atelier autobiográfico as pessoas relatam suas
experiências, nos mapas afetivos transcrevem seus sentimentos da forma que
acharem melhor (escrita, desenho, fotografia etc.). Na aplicação destes
instrumentos ela se inclui com sua história de vida e seus sentimentos. Para
não somente ouvir, mas também sentir as dificuldades pelas quais os moradores
de Irauçuba passam, ela partilha momentos de seu dia à dia usando por exemplo,
o transporte público, assim pode entender melhor as revoltas e discussões em
torno da má gestão do transporte e da água. Quando no atelier autobriográfico
trabalha o seu próprio conceito de identidade ela percebe que tem a ver com sua
própria historia e relação afetiva com o lugar.
No
entanto teve que constatar que a comunidade, que ao conhecê-la lhe parecia forte
na luta e organizada, está fraca e apresenta um quadro de fragmentação
comunitária, ou seja, lhe falta identidade e que a escola reflete o que a
comunidade está passando, justamente esta fragmentação comunitária.
Os
pais não querem se mudar do lugar, mas pelejam para que os filhos se afastem
dele, ligando este ato a um futuro melhor. Ao transcrever seus sentimentos os
participantes percebem que não se identificam mais com o lugar, não há mais
apropriação do espaço.
Depois
da coleta e organização dos dados obtidos nessa primeira etapa Karla volta à
comunidade e apresenta os resultados para saber o que pode ser feito para mudar
alguma coisa e se depara com o fato que o aluno é identificado pelos educadores
como problema. Os educadores então são confrontados com seu passado, o tempo em
que eles eram alunos. Faz-se uma análise posterior trabalhando o passado para
poder pensar o presente e o futuro.
Fernando
questiona aqui a questão do não se identificar mais com o lugar. Ele se
pergunta se isso é um problema geral, global e se as pessoas não se identificam
mais porque as coisas mudaram, porque entram outras idéias que não são aceitas.
(Comentário
meu: para mim não é questão de outras idéias, mas estritamente ambiental, ou
seja, uma de rural e urbano. Nós somos seres da natureza e a urbe é um
artifício que afasta a natureza do homem, o aliena, faz dele um abstrato, um
objeto e o faz acreditar que isso é natural, daí a violência contra objetos
pode ser uma reação da natureza que somos contra a invasão de objetos para se
defender e se manter viva e a não identificação também).
Segundo
Karla o aumento da população faz com que a comunidade tem que enfrentar
problemas da cidade. Por que? O fato de ter água atrai as pessoas, mas também é
um problema. A água pode ser vista como um elemento formador. É algo de bom que
traz coisas boas como o banho no rio, a chuva para a roça etc., mas também traz
coisas ruins como as enchentes, chegar molhado na escola sem ter como trocar
roupas, poluição das águas, sua contaminação que afeta a saúde, por exemplo,
pela cólera etc.
Segundo
Mazinho há também a tendência de lembrar só as coisas boas do passado, por
exemplo, andar de cavalo que depois foi trocado pela moto com todas suas
consequências.
Seguindo
no seu relato Karla descobriu que mesmo diferentes as histórias de cada pessoa se
encontram nas experiências que fizeram juntas, que se tornaram “história”. Elas
se encontram nos sofrimentos, na dificuldade de estudar e do acesso à meios de
transporte decentes, no contato com a natureza e no trabalho, na mistura de
trabalho e lazer (banho no rio, sentar na calçada para conversar), nos
sentimentos das mágoas, nas conquistas etc.
Para
resgatar a história pelas recordações, brincadeiras, educação etc. dois grupos
se aprofundaram mais usando material diversificado. Também foram realizados
encontros com professores e os idosos e professores e alunos para conhecer o
outro lado. Uma exposição de fotos acompanhada de música despertou sentimentos
e mais outras lembranças. Foram apresentados dois textos para resgatar lembranças
do texto que mais chamou a atenção. Outros meios utilizados foram poemas e
músicas e por fim os participantes tiveram que reelaborar seus relatos para
descobrir pontos em comum.
Termina
aqui a apresentação de Karla com o aviso que logo ela estará na França
divulgando Brasil afora a Educação Ambiental Dialógica e sua Perspectiva
Ecorelacional.
Boa Viagem Karla e muito sucesso!
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Relatório do GEAD
Data: 19/02/2010
Autor: Fernando
Leão
“Todas as teorias
são legítimas e nenhuma tem importância. O que importa é o que se faz com
elas”. (Jorge Luís Borges)
Primeiro encontro
do ano de 2010. Bastante gente na sala.
Muitas relações a se fortalecer, outras a se constituir, algumas já
constituídas a serem cuidadas para continuar a florescer. Em florescência. É
assim que vejo o grupo em suas relações, brotando suas flores, se organizando
em sua estrutura orgânica, sem ordens, sem leis, a não ser as que o próprio
grupo elege como fundamentais para a fecundidade do trabalho. Estávamos lá eu,
Mazinho, Patrízia, Fernanda, Priscila, Vivi, Manoel, Tereza, João, Maclécio,
Marcelo, Eleni, Vanessa e muitos outros “eus” e muitos outros “outros” que se
gestam nas relações de cada um. E é exatamente essa legião que arregimenta a
argamassa de cada um de nossos encontros. Discutimos propostas do ateliê
auto-biográfico, dos temas do semestre, dos livros do Freire que escreveremos
artigos, do encontro de educação popular, das vídeo-reuniões com o MOVER... Que
existe mais se não afirmar a multiplicidade do real? A igual probabilidade dos
eventos impossíveis? A eterna troca de tudo em tudo? A única realidade
absoluta? Seres se traduzem. Tudo pode ser metáfora de alguma outra coisa ou de
coisa alguma. Tudo irremediavelmente metamorfose. (Paulo Leminski).
Trabalho do Manoel no Assentamento Angico. Seria o nome do assentamento uma
homenagem ao Paulo Freire? Não! Seria um assentamento do MST? Não! Então, avia,
Manoel, vai procurar tua corrente filosófica, vai ler o professor botelho,
atenta aos artigos do GEAD, me diz se a produção é em parcelas, visita o “Lagoa
do Mineiro”, mapeia os assentamentos, define teu objetivo. Porque cultura é
tudo aquilo de que a gente se lembra após ter esquecido o que leu. Revela-se no
modo de falar, de sentar-se, de comer, de ler um texto, de olhar o mundo. É uma
atitude que se aperfeiçoa no contato com a arte. Cultura não é aquilo que entra
pelos olhos, é o que modifica seu olhar. (José Paulo Paes) E vamos ao
trabalho do Pedro. Práxis educativa? Prática educativa? Dimensão educativa da
prática? Não entendo. Não entender é tão vasto que ultrapassa qualquer
entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completo quando não entendo.(...) o bom é ser
inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser
doido. É um desinteresse manso, uma doçura de burrice. Só que de vez em quando
vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais, mas pelo menos entender
que não entendo. (Clarice Lispector) E o trabalho da Karlinha? Com
professores da Josefa Clotilde no Missi. Fala de uma formação que transforma,
pequisa intervenção, educação ambiental dialógica amalgamada com a psicologia
ambiental e no final dá nisso: afetividade, mapas e poemas. Bom trabalho a tod@s, companheir@s. Todavia
prossigamos! Seja de que maneira for! Saiamos a campo para a luta, lutemos,
então! Não vimos já como a crença removeu montanhas? Não basta então termos
descoberto que alguma coisa está sendo ocultada? Esta cortina que nos oculto
isto e aquilo, é preciso arrancá-la! (Bertolt Brecht).
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RELATÓRIO DO
GEAD 26/02/2010 (Pedro e Mazinho)
Cantina da Gina. Nosso encontro começa
naquele espaço. Chegamos de mansinho com sorrisos, beijos, abraços, lamentações
e novidades. Desta vez lembramos fatos que já queríamos ter esquecido, mas
ainda estão vivos entre nós. Entre conversas e risos é chegada a hora de
buscarmos um novo lugar. Lá onde serão dadas as contribuições para as
pesquisas individuais após breve apresentação do andamento destas. Hoje
quem protagoniza o momento são: Adriana, Magda e Ana Maria. Digo melhor,
Adriana e Ana Maria. Onde está a Magda? Não sabemos, mas já temos um grupo
composto por Pedro, Adriana, Eleni, Marclécio, Ana Maria e Bebê, Manoel, Lívia
e Mazinho. Quem serão os relatores? Pedro e Mazinho. O próximo será feito por
Tereza e Priscila com a suplência de Eleni. Mazinho irá faltar no dia
05/03/2010, pois tem compromisso de trabalho.
E o relato do encontro passado?
Fernando mandou, aliás, mandou ver, e vimos: poesia, literatura e texto
acadêmico. Esta salada deliciosa a qual foi complementada por uvas trazidas por
nossa parceira Eleni. Ela nos pediu que tirássemos de um depósito plástico uma
uva entre tantas e comêssemos. Assim foi feito. A maioria na esperança de comer
outra doçura foi rápido no engolimento da deliciosa fruta. Ela nos pediu que
fizéssemos tudo de novo, mas com a vagareza,
mordendo lentamente e saboreando
o delicioso fruto. Tarefa fácil! Depois nos questionou sobre os sentimentos da
vivência fundamentada no livro Para viver em paz: o milagre da mente alerta
de Thich Nhât Hanh. O texto do livro é: fazendo as pazes com um gomo de
tangerina. Quem fazia as pazes com a tangerina era Lívia que saboreava a
fruta cítrica trazida de casa num cantinho localizado ao funda da sala.
Quem começa a apresentação? Adriana
começou a apresentação do seu trabalho em andamento, cujo o título é : Reciclando
o cotidiano da relação homem-“lixo”: uma abordagem dos aspectos sócio
ambientais-formativos, a partir dos marcadores do discurso do lugar no
assentamento- “Boa Esperança/Lagoa do Mangue em Sobral Ceará.
Vi ontem um
bicho
Na imundície do pátio,
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão.
Não era um gato.
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(O
bicho, Manuel Bandeira)
Adriana começa a descrever suas impressões e sentimentos
das viagens em busca de conhecer “Por
que as pessoas não jogam o lixo nos espaços públicos do assentamento Boa
Esperança / Lagoa do Manga.”
MAZINHO INTERROMPE: Você
já sabe que eles não jogam o lixo...?
ADRIANA DIZ: É verdade, preciso explicar, mas antes você
vai ter de esperar, pois logo chego lá...e chegou e disse, são vivências
companheiros, frutos de outros momentos parceiros...
Então Adriana continua dizendo que
quer “CONHECER OS ASPECTOS
SÓCIO-AMBIENTAIS FORMATIVOS DA RELAÇÃO
HOMEM – LIXO”
MANOEL interrompe: Por que não trocar
CONHECER por INVESTIGAR... ELENI concorda e parece reforçar: no investigar você
vai conhecer os hábitos... Adriana mais que vexado aceita e já escreve o recado
(contribuição).
Adriana lentamente continua sua viagem...(
só lembrei de nossa ída no Fiat para a Taíba), Adriana proseando com Lívia e eu
prá tomar a direção...
Ela fala nas relevâncias e volta a dizer
que vai INVESTIGAR – ELUCIDAR e DESVELAR...e
nós quietos a APRECIAR...
Uuufa! Chegou na METODOLOGIA...a
companheira retorna a viagem e Eleni sinaliza que quer perguntar – É Pesquisa
Participante? Houve momentos de trocas ao longo da pesquisa?
Adriana na ponta da língua menciona; É
participante no sentido de técnica, mas realmente ainda não houve no sentido de
interação grupal.
E a viagem continua...(vamos garantir a
fala da companheira não é prof. Manoel?)... Adriana apresenta as falas dos
marcadores e como se estivesse apreciando um chá da tarde...foi contando os
causos e suas impressões...
Quando pensávamos que era a hora da
Aninha narrar...eis que Adriana vai começar...brincadeira ela vai é nos
agraciar com as imagens de suas ídas ao assentamento... ela aproveita para
contar a história de cada fotografia...
Ressalvadas as brincadeiras, o chá da
tarde de Adriana foi bastante apreciado por todos, foi até generosa, pois para
não nos engordar com biscoitinhos ela nos serviu chá com recheios de
SENTIMENTOS DE PERTENCIMENTO AO LUGAR – COMUNIDADE.
É isso aí companheira, como diz Manoel,
seu trabalho está indo muito legal...aproveite o que falou o pessoal!
Soneto para Ana Maria
Florescimentos e florescimentos!
Glória às estrelas, glória às aves, glória
À natureza! Que a minh'alma flórea
Em mais flores flori de sentimentos.
Glória ao Deus invisível dos nevoentos
Espaços! glória à lua merencória,
Glória à esfera dos sonhos, à ilusória
Esfera dos profundos pensamentos.
Glória ao céu, glória à terra, glória ao mundo!
Todo o meu ser é roseiral fecundo
De grandes rosas de divino brilho.
Almas que floresceis no Amor eterno!
Vinde gozar comigo este falerno,
Esta emoção de ver nascer um filho!
(Glória,
Cruz e Sousa)
É
a sua vez ANA MARIA e o soneto não
adivinha? São folhetins de MAZIM para
você e a Sofia (?)...
Aninha com o buxo pelas guelas...ataca as uvas e as
panelas... (gente foi tentativa de rimar, ela comeu apenas uma banana, dois
cachos de uvas e uma tangerina da Lívia)...
Abastecidas
as meninas, apresentou o DILEMA atual e as questões que estão presentes no
projeto...falou em SABERES e PRÁXIS ambientais...
Diz que tem como proposta o SABER PARCEIRO –
perspectiva educativa (intervenção)
Eleni como sempre contribuindo, foi logo sugerindo:
Pense em definir seu cronograma, as etapas do projeto, o período para a
intervenção, pois logo vem o presentão (nascimento da pequenina Sofia ?)...
Aninha falou também na 1ª qualificação, com medo da sugestão, da então
progressão...são quatro lagoas? Pergunta Eleni, é eles sugeriram (responde
Aninha).
Então muda tudim (a banca da qualificação), pois num aguenta com o
buxão. É só mostrar o buxão que a banca:
“tadinha” quatro não...
Pedro pede licença, pois agora é ele que já não aguenta, tem que retomar
prá sua agenda...
beijos a tod@s
Mazinho e Pedro
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Relatório do encontro do GEAD – 05/03/2010
Inicialmente
há comentários sobre a beleza do quadro de retalhos construído no ateliê
autobiográfico na quinta-feira. Em seguida, Pedro faz a leitura do relatório da
reunião do GEAD do dia 26/02/2010. João homenageia Patativa do Assaré ao
destacar que este estaria fazendo cento e um anos neste dia.
Fernando
conduz dinâmica integradora através da escuta de diversos ritmos musicais e
atividade com balões na sala ao lado. Todos retornam a sala e João faz um
resumo do que foi feito até aquele momento e explica a dinâmica como um
trabalho de exercício e experimentação de outras linguagens. E, Fernando diz
que a dinâmica ajuda a entender que se pode interagir com o outro “sem perder
de vista o que é nosso”. Há uma troca de idéias de como todos estavam na
dinâmica.
Num terceiro
momento, Elenir trata do assunto da Interculturalidade e Práxis docente,
apresentando slides. Assim, cita alguns textos e livros de autores
comprometidos com movimentos sociais e com a interculturalidade. Ao final da
exposição, percebe-se que a interculturalidade é um assunto ainda recente, já
que a utilização do termo intercultura
passa a ser usado pelos documentos oficiais do Conselho Europeu a partir do
início dos anos 80.
É uma pena
que uma dimensão da valorização, respeito e interação das diversas culturas
seja tratado no Brasil a tão pouco tempo, pois num país marcado pela
miscigenação a cultura do colonizador branco se impôs com violência e
desrespeito. E, a discussão a cima traz a lembrança de um movimento muito
peculiar e pouco estudado que aconteceu no Brasil nos tempo da dominação
portuguesa, período colonial, chamado de santidade ameríndia, a qual foi
duramente esmagada. Em poucas palavras, foi um culto religioso com dinâmica
própria repleta de elementos das culturas dos índios, brancos e negros, na qual
a religião trazida e imposta pelos portugueses alcança o indígena. Contudo,
foi, também, um reflexo da colonização que busca colonizar até mesmo o
imaginário, invadindo a mitologia tupi. E, ainda, poderia se pensar numa
interculturalidade no Brasil já na segunda metade do século XVI, uma vez que os
membros da santidade ameríndia eram de raças diversas e unidos proferiam uma
mesma crença, no tocante a religiosidade?
Depois de um intervalo, Fernando reinicia o
tema da interculturalidade, colocando trechos de dois documentários com os
respectivos títulos Nanook e Nascidos em bordéis. Ao final dos vídeos, todos debatem sobre
os elementos de culturas diferentes que se chocam e também interagem.
Nesta sexta
estavam presente no encontro do GEAD: Adriana, Pedro, Tereza, Danielle,
Mazinho, Patrizia, Lívia, Ana, Elenir, Magda, Manoel, João, Fernando, Mayara,
Marcelo, Maclécio e Priscylla. Os colaboradores deste relatório são Tereza e
Priscylla.
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Relatório Reunião GEAD 06/03/2010
Presentes: Adriana, Pedro, Tereza, Danielle, Mazinho, Patrízia,
Lívia, Ana, Eleni, Magda, Manoel, João, Fernando, Mayara, Marcelo, Maclécio e
Priscylla. Os colaboradores deste relatório são Tereza e Priscylla.
Tivemos o prazer de iniciar nossa
manhã, contemplando um maravilhoso trabalho de pintura produzido pelo gead no
planejamento semestral, chamado por Eleni, de dinâmica do tapete. Todos
admiraram, elogiaram e se divertiram relembrando sua produção.
Pedro, caprichoso como sempre,
leu o relatório da reunião anterior elaborado juntamente com Mazinho, embalado
com muita alegria e riqueza de detalhes. Como se não bastasse de arte, poesia e
repente, ainda tivemos na entrada a maravilhosa dinâmica do Fernando, mais um
dos nossos talentosos artista, agora na arte sensibilizar. Ouvimos, sentimos musicas dos mais variados
ritmos com muita dança, atividades com balão individual, em dupla, trio e
finalmente em grupo.
Depois de todo esse preparo,
estávamos no ponto para mais um fabuloso dia de troca, discussões e muito
aprendizado, embora quase mortos de cansados.
De acordo com a temática Interculturalidade e Práxis docente,
relativo à nossa programação semestral, tendo como responsáveis: João, Fernando
e Eleni, a última iniciou apresentando a contextualização da cultura através
dos slides sobre Interculturalidade e práxis docente. Inicialmente apreciamos
uma linda amostra de fotos que expressavam diversidades culturais relativo à
construção da identidade, suas principais colocações foram sobre as relações
que envolvem a interculturalidade. Entre os comentários, João relatou o
interesse do professor José Marín pelo tema, embora não seja professor com
vínculo universitário, ressaltou também o engajamento de Fleuri como membro do
grupo que está responsável pelo mapeamento das culturas no Brasil. Eleni
explica que é necessário mostrar diferenças e diversidades como principais
pontos a serem observados para estudar o tema interculturalidade.
Relativo à dimensão histórica que
tem como base na colonialidade – colonialismo até chegar a Interculturalidade,
João comenta que trabalha a partir da invasão das Américas, iniciado pela
imigração que entra em choque, antes tratado como multiculturalismo. E
posteriormente pela hegemonia do mundo europeu, que se coloca no mundo
acadêmico através dos processos de formação da intercultura. Magda e Mayara
discutem os conceitos de inter e intraculturalidade e João complementa que
Lipovetsky um defensor da pós-modernidade, trata da hipermodernidade no sentido
do aqui e agora, comenta também a idéia de Deleuze e Guattari de que o
capitalismo tem a plena capacidade de se transformar. Explica também que
Strauss, inicia os seus estudos sobre Interculturalidade no pós-guerra, onde
foi organizado grupos de estudos que deram inicio no colonialismo até chegar à Influência
cultural e ideológica que acompanha a dominação econômica. João continua
comentando que Catherine Wash mostra em seus estudos o interesse atualmente em
formar técnicos para alimentar as intenções do sistema capitalista.
De acordo com as perspectivas de
transição histórica da primeira para a segunda fase da interculturalidade, João
pede que o grupo faça um rápido diagnóstico a respeito dessa transição no
Brasil, ou seja, do colonialismo até chegar aos conceitos de intercultura.
As 11:00 – INTERVALO
Após o intervalo todos retomaram as
discussões. Infelizmente tive que mais uma vez sair mais cedo para trabalhar,
então não deu para participar do fechamento das discussões, fica essa parte
para ser complementada pelo relatório da Priscylla.
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Encontro do GEAD do 12 de março de 2010
Tema: Interculturalidade e suas
Mediações
Responsáveis: Mayara, Manoel
Relatório do dia: Mazinho
Presente: Adriana, Ana Maria,
Eleni, Fernando, Magda, Manoel, Mayara, Mazinho, Pedro, Patrizia, Teresa, .
Teresa inicia o encontro com a
leitura do relatório da reunião passada.
Neste poema “que toca a alma,
mesmo que a autora seja de primeiro mundo” (palavras do Manoel) ela descreve
uma realidade típica de primeiro mundo em que o ser humano vai se afastando
sempre mais da mãe natureza, se acostumando a um ambiente artificial por ele
mesmo produzido, esquecendo além do sol que ele substitui pela luz artificial
todas suas origens, acabando com sigo mesmo sofrendo, se calando se apagando
aos poucos como um pássaro em uma gaiola. Se tornando insensível, acomodado,
adaptado, seguindo mecanicamente caminhos préfabricados e padrões postos,
cultivando seu medo pela liberdade.
Depois de uma variedade de
depoimentos em relação ao poema Mayara inicia sua apresentação baseada na obra
de Nestor Garcia Canclini “Dos meios das Mediações”. Ela foi buscar no México a
discussão em torno da interculturalidade porque segundo ela na América Latina
está mais avançada neste país. Antes dela se voltar para a teoria podemos
apreciar várias fotos que representam que representam diferentes culturas
através da dança, da música, do teatro, da arte.
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RELATO DE REUNIÃO GEAD 12/03/2010
PRESENTE: Teresa, Ana Maria,
Adriana, Fernando, Mayara, Magda, Mazinho, Patrízia, Manoel, Eleni, Tirza,
Alexandre e Pedro.
Este
encontro foi coordenado por Mayara, com colaboração de Fernando, e Manoel. O
momento foi iniciado com o texto (?) “a gente se acostuma...” de Maria
Colaçans. O som não estava bom, mas a voz de Fernando sim.
Mayara
iniciou apresentando algumas referências importantes para a discussão
contemporânea sobre cultura: Jesús Martin-Barbero, com Dos Meios às Mediações:
comunicação, cultura e hegemonia; Nestor Garcia Canclini, com Diferentes,
desiguais e desconectados e Culturas Híbridas.
A
música “traduzir-se”, cantada por Fagner, trouxe-nos a beleza da musicalidade e
poesia: “uma parte de mim é solidão...” e aí vai. Deu para mergulhar também nas
imagens de diferentes feiras, em lugares diversos, uma metáfora da diferença
cultural e da “latinoamericanidade”. A metáfora da feira foi muito bem
escolhida, para mim representa a idéia de trânsito, mas também de encontro, de
intercâmbio, de interação.
Nesse
ambiente, Mayara apresenta-nos o conceito de hibridização cultural, o qual
identifica as resistências, não a nega e não coloca tudo no domínio somente da
cultura hegemônica. Em Medo e Ousadia, Paulo Freire já falava isso. A idéia de
contra-cultura.
Outro
aspecto da discussão foi a idéia de hibridização e identidade na América
Latina. A discussão foi instigada com as questões: que matrizes culturais
compõem a conjuntura atual? Onde está o popular? Onde está o massivo? Que meios
nos conectam? E o que nos desconexta?
Como
exemplo, falou-se sobre a discussão sobre o que faz ser indígena? E sobre as
manifestações culturais, questionou-se quando é que se passa do rito ao
espetáculo? É mais apropriado se falar em folclore ou manifestação popular? Mayara
explicitou que há a diferenciação entre cultura massiva e o culto, bem como o
popular.
Parece
um paradoxo que ao mesmo tempo que se difunde a cultura de massa, também há o
ideário propagado da busca da personalização/individualização. Pensamos que os
modos de reprodução do capital são muito fluidos, metamorfoseantes para
incorporar os desejos e ao mesmo tempo garantir seus ciclos.
Falou-se
no melodrama como um exemplo de manifestação de cultura de massa muito
apreciado no Brasil, como constituinte de nosso gosto cultural. Lembram da
novela “Vale Tudo”? Pois foi este o exemplo, assistimos um trecho. Outro
exemplo de envolvimento das emoções populares foi o funeral do Tancredo Neves,
com imagens e reflexões de Barbero. Houve uma diferença entre a cobertura
jornalística que foi feita no rádio, na televisão e nos jornais escritos.
Manoel
deu continuidade ao momento sobre interculturalidade, explicitando de onde veio
a perspectiva de se discutir as mediações. Inspiração de Reinaldo Fleuri.
Iniciando a apresentação com a imagem do globo terrestre preenchido por
diferentes bandeira das nações.
E
bem nos trouxe à memória Manuel Zapata de Olivella (1997), com um pensamento
seu eu não deu pra eu registrar. Manoel, socializa a apresentação, assim
relembro.
Bom,
mas o pensamento de Paulo Freire registrei: “as culturas se educam em relação,
mediadas pelas pessoas”. Explicitando a interação como mediação fundamental
para a interculturalidade.
Mazinho
lembrou um pensamento que ouviu por aí: “a prática na teoria é diferente”. Esse
inverteu o pensamento mais comum que diz “a teoria na prática é diferente”. Se
for o termo teoria no sentido vulgarizado de discurso ou formulação dissociada
da realidade, acho que a primeira formulação é mais coerente, pois nesse caso a
prática é o que é a “teoria” é que foi inventada (blábláblá).
E
Manoel falou sobre as conseqüências da globalização, a situação de crise
mundial. Deixando o questionamento: que retorno do racionalismo temos hoje? Que
modelo, projeto de nação queremos? Queremos continuar seguindo o modelo
Europa/EUA? Isso é insustentável.
Lembrou-se
sobre a problemática socioambiental e demográfica. Sobre o fato de que o Chile
teve um deslocamento de 3
metros com a última manifestação de crise ambiental.
Mayara lembrou que Fortaleza também teve ou terá um deslocamento de 3 cm .
Outra
questão mencionada foi o novo colonialismo de agricultura, no caso dos países
que não mais têm como desenvolver essa atividade em seus territórios e recorrem
ao uso do de outros países. É o que acontece também no caso da carcinicultura,
lembrou Mayara. Revolução Verde? Revolução Azul (disputa pela água).
Por fim, falou-se nas
diferenciações entre multiculturalismo e interculturalidade.
Alguém tem algo a acrescentar???
Abraços,
Ana Maria.
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Relatório encontro GEAD 16.04.2010
Por: Patrizia Imelda Frosch
Presente:
Adriana, Alexandre, Ana Maria, Dani, João, Lívia, Maclécio, Manoel, Marcelo,
Marjori, Mazinho, Patrizia, Pedro, Pryscilla, Teresa.
O
encontro inicia com a Dança do Toré puxada por Mazinho que nos deixou
energizados e em plena forma para assistir à apresentação e participar
ativamente do debate.
Antes
de iniciar a apresentação João propõe repensar a produção de canequinhos,
bolsas e camisas para contribuir com o movimento de mudanças na FACED em
relação ao meio ambiente e informa que já está sendo abordada a questão da
separação do lixo.
Além
disso, ele sugere estudar a tese de doutorado de um professor do Rio Grande do
Norte que trata de políticas públicas, legislação ambiental e educação
ambiental.
Depois
de todos ter apresentado os temas e objetivos de suas pesquisas João e Lívia
iniciam sua apresentação com o tema “Colonialidade do Poder e Modernidade”.
João
inicia falando dos filósofos e cientistas da modernidade como Descartes,
Newton, Galileu, Bacon.
Uma
das características da modernidade é a dimensão da subjetividade. A modernidade
estabelece um conjunto de valores próprios, uma própria epistemologia.
Na
filosofia cartesiana o discurso do método é tudo e o resto é o resto. Segundo
Bacon é preciso romper com a lógica medieval, mas partindo dela dominar a
natureza, nominá-la para construir o conceito de modernidade.
Descartes
diz que a verdade é inalcançável, mas que existe um método para aproximá-la
isto é separando as partes
(fragmentação).
João
apresenta conceitos sobre modernidade disponibilizando-os para o diálogo.
Permito-me reportar aqui somente os conceitos que foram comentados.
I.
AFIRMATIVAS SOBRE MODERNIDADE
-
Queda de valores, costumes e tradições
Comentário
João: a liberdade de fazer o que está dito de fazer.
Mazinho
fala de culturas em que uma comunidade inteira cuida de uma criança entre
outros repetindo várias vezes seu nome quando fizer algo de errado para
lembrar-lhe quem ela é. Nas culturas modernas a pessoa não sabe mais quem ela
é. É preciso que ela entenda suas raízes não somente o presente, mas também o
passado.
Segundo Lívia não pertencemos ao mundo sem identidade. A pessoa pertence a isso depois àquilo, o homem não é formado sozinho.
-
Desconstrução do tradicional
A
tradição se torna show, espetáculo, folclore, exótica.
-
Revolução industrial – Progresso
Para
Ana Maria o conhecimento científico é uma dimensão política e não social
apropriada por determinados grupos com interesses específicos.
Dani
dá um exemplo de progresso como a construção de aeroportos em paises
“subdesenvolvidos”, tema que problematizou em sala de aula onde prevaleceu
entre os alunos a questão do progresso alegando que as comunidades precisam
disso para progredir. Ela avalia que para os alunos a vida só tem sentido
ligada a essa idéia de progresso. Os meninos são impregnados dessas idéias do
lucro, difícil de quebrar. Para eles estar fora deste padrão é ser primitivo.
Manoel
problematiza a invasão das terras dos índios pelo capital que responde à sua
resistência com violência justificada pela geração de empregos. Ainda tematiza
o custo do progresso dando o exemplo das plantações de eucalipto que promovem a
desertificação de grandes territórios.
-
Transição evolucionária
A
idéia de mudar para algo melhor alegando que o anterior é pior (macaco-homem,
selvagem-civilizado, primitivo-moderno, moderno-pósmoderno) situação precária –
benefício. Resta a pergunta evolução de que? Tecnológica, espiritual. O que
evoluiu? Só serve para algumas pessoas prejudicando outras. As pesquisas
favorecem a quem? Por exemplo, na saúde a tecnologia sofisticada e remédios
caros.
Comentário
próprio: por outro lado me pergunto será que toda essa “evolução” faz bem? Por
milhões e milhões de anos o ser humano viveu tranquilo e com saúde dentro de um
contexto natural, do qual ele é parte, aos cuidados da Mãe Terra sem hospitais,
sem parafernália tecnológica e artifícios que lhe propiciam efeitos colaterais.
Evolução neste sentido seria erradicar o ser humano de um ambiente onde foi
posta sua semente, colocá-lo em um contexto contrário à sua natureza inibindo
assim o pleno desenvolvimento de seu ser a risco de se tornar fraco e doente, seria
inverter um benefício doado em prejuízo com consequências catastróficas.
-
Técnicas e mecanismos que ajudam a viver
Patrizia
fala de uma amiga na Alemanha em cuja casa a maioria da tecnologia domiciliar
era movida a energia até a faca para cortar o pão à contrário da tecnologia
amiga divulgada pelos movimentos ambientalistas que é movida pela força humana.
Também fala sobre um sistema de ventilação milenário que até hoje é usado no
Jemen e que funciona a partir de uma arquitetura especifica que canaliza o
vento para dentro dos prédios contrariando o benefício da tecnologia moderna
tão proclamada pelos produtores de aparelhos de ar condicionado.
-
Ciência – Conhecimento
João
explica que ciência é uma foram de conhecimento não é conhecimento.
-
Quebra da Hegemonia e do Misticismo
Patrizia
comenta que a modernidade cria novos mitos como o mito da necessidade.
-
Novas descobertas – Novidades
Manoel
dá o exemplo de um médico chinês que faz o diagnostico da doença pelo pé.
Comenta-se
sobre a irisiologia, o rei-ki, o eneagrama e a quiromancia como conhecimento.
Para Patrizia a cura pela natureza tem lógica porque o ser humano é natureza e se submetendo a artifícios a-naturais não pode que ficar doente.
Segundo Mazinho a modernidade suga a tradição. A comunidade é invadida e todo mundo cai nessa do mito do progresso. Aos poucos as pessoas esquecem certos saberes de saúde, usam antibióticos, o conhecimento vem se perdendo. Depois vem alguém da academia para fazer pesquisa para dizer que os antigos remédios servem de novo.
-
Melhoria na Qualidade de Vida
Patrizia
fala da comunidade em que atua onde as pessoas entendem como melhoria da
qualidade de vida poder ganhar mais para ter acesso a certa mercadoria. Não se
tocam com a melhoria da qualidade do ambiente em que vivem. No mínimo se
queixam com o lixo espalhado em todo canto e sugerem como solução a busca de um
terreno não usado para concentrar todo o lixo, sem se dar conta que isso não
resolve o problema só o afasta de perto de suas casas.
Mazinho compara o ar condicionado com o estar à sombra de uma mangueira.
Manoel toca no assunto “bem viver” e se refere a um autor que fala do retorno ao bucólico. Segundo este autor que compara cidade e campo o retorno ao campo seria uma fuga que resulta do medo de encarar o presente.
Lívia nos informa que em 1871 Londres já contava com 18 milhões (?) de habitantes mostrando a partir desta aglomeração de pessoas a tomada do campo pela indústria. Nos campos viviam os ricos que fugiam das cidades.
Patrizia dá dois exemplos de relação cidade – campo onde a cidade se aproveita do campo para manter sua estrutura causadora de doenças que serve aos interesses de uma minoria:
1. Cura campestre
“Na
Grécia antiga como hoje em dia, os habitantes da cidade ficavam doentes com
frequência. Iam então ao Esculápio, uma grande área no campo com pomares,
riachos, bastante capim e cabras pastando. Os
médicos usavam tratamento de uma simplicidade admirável: aconselhavam o
paciente a andar até se cansar e então deitar e repousar, ao sol ou à
sombra de uma árvore.
Quando
estivesse descansado, deveria recomeçar a andar e assim por diante, até que seu
corpo recuperasse. Essa alternância de marchas, banhos de sol e repouso durava
o dia inteiro. Quando vinha a fome, a pessoa recebia uma vasilha de barro para
ordenhar as cabras e colher ele mesmo, frutas diretamente das árvores. Após
duas ou três semanas desse regime, o paciente ficava curado de seus males e
pronto para retomar a vida da cidade.”
(Richter,
Conheça outras terapias, São Paulo: Paulus,
2002, p.14).
2.
Cura a longa distancia
Hoje
em dia na Europa não tem mais campo nem pomares para onde se dirigir já que a
monocultura e as BRs tomaram todo o espaço, a solução para continuar nesta
tradição é adquirir (quem tem poder aquisitivo) um pacote de uma semana de
relaxamento, rumar para umas ilhas no Pacífico via aérea (um dos maiores
poluidores responsável pelo aquecimento global) passar por massagens, banhos de
sol, de sal e perfumados para voltar e se estressar de novo nos antigos moldes.
-
Espaço que se inicia como capitalismo que surge do feudalismo
Segundo
Manoel antes do capitalismo existe o mercantilismo que é ligado aos feudos.
A meu ver a raiz do capitalismo surge no momento em que o ser humano descobre o comércio, ou seja, pessoas que não produzem, mas somente movimentam mercadoria de um lugar para o outro vendendo-a a um preço maior do valor do produto e com esse movimento gerando oferta e demanda, a partir daí se desenvolve todo um processo que ao longo dos tempos é aperfeiçoado até chegar aos nossos dias.
-
Inicia com o Renascimento
Pessoalmente
não concordo que a modernidade inicia neste momento ela não caíu do céu. Ela
vem se formando ao longo de todas as épocas a partir da visão dos romanos de “dividi et impera” e de dominação do
mundo. Naquela época o espaço que se conhecia não era tão vasto como hoje, mas
se tivessem tido a oportunidade de invadir as Américas eles já estariam aqui há
tempo impondo sua lógica, sua “Pax Romana” como fizeram com os bárbaros. A
colonização, a colonialidade está implícita no modelo romano, é preciso quebrar
com a idéia do bom romano que respeita as outras culturas e de quem teríamos
herdados grandes coisas. Eles não respeitavam ninguém em primeiro lugar o meio
ambiente, aonde chegavam desmatavam para construir navios e estradas para poder
invadir mas rápido e eficiente e se já não respeitavam o meio ambiente quanto
menos o que era diferente, a outridade. O Impérium Romanum é o ápice do poder,
do domínio, da violência daquela época que se transmite para todas as épocas
até se concentrar na modernidade com todas as consequências que já conhecemos.
Em relação às religiões que se diz que respeitavam, na verdade eles não
confiavam na superioridade de seus próprios deuses e tinham medo que os deuses
dos outros fossem mais fortes por isso “respeitavam” as religiões o que não os
impediu de massacrar os homens e a natureza.
-
Criação de necessidades – consumo
“Necessidades
desnecessárias”
Para Ana Maria uma promessa era libertar das necessidades (do precisar e não ter), só o que aconteceu foi criar mais necessidades.
-
Alienação do trabalho – culto da produtividade
João
expressa a pergunta posta pelos opressores que quebra com toda a vontade de
resistir: O que é melhor trabalho alienado ou nenhum trabalho?
Para Dani as pessoas parecem gostar de ser estressadas quando comentam sobre sua situação de estar estressadas. Segundo ela as empresas começam a pensar as pessoas como “capital intelectual” não mais como “mão de obra”, mas nem por isso são mais valorizadas. E nem a criação de espaços de descompressão onde a pessoa pode se desestressar é pensada para beneficiar esta, mas para não reduzir a produção e até para aumenta-la.
Mazinho conta de uma experiência na Paraíba que mostra outra perspectiva de trabalho onde o pessoal passa a manhã na roça, depois almoça, tira uma soneca e a tarde fica conversando e o trabalho se torna tão gostoso.
Pryscilla toca na questão do tempo curto, as pessoas não tem mais tempo para nada nem para se curar e nem para o ócio que é visto como algo de negativo, já que prevalece o neg(a)ócio. Ela fala sobre um estudo que foi feito sobre os Inkas que descobriu que dentro do sistema de trabalho deste povo a diversão ocupava uma parte importante. Os ritos, as festas tudo isso tinha uma lógica de perpetuação daquela sociedade.
Marcelo fala dos lixões do Ceará e das comunidades expulsas das regiões que residem no entorno destes se mantendo com este “trabalho”.
Nesta
altura Maclécio discorda de algumas falas dos colegas. Em relação ao que foi
falado sobre o binômio cidade – campo ele acha que não há um retorno ao campo
porque a cidade tem história. Não se pode negar a cidade, porque somos povos da
cidade, tem que aplicar mudanças na cidade, tem que aprender muito com os
outros, com a lógica dos povos indígenas, mas a cidade está muito presente na
vida da gente. A gente fala na lógica da ruptura seria melhor falar em
superação, tem que pensar na lógica da tranqüilidade, está trazendo benefício
para a gente de qualquer forma. É preciso de tranqüilidade porque senão o GEAD
vai se tornar extremista. Tem que ter crítica, mas com tranqüilidade.
Manoel rebate com a visão de feiúra da cidade de Cornelius Castoriades para quem o feio da cidade é a postura das pessoas, a perda do elo com o humano.
Na visão de Mazinho, que discorda da crítica ao fervor das falas, é com fervor que a gente consegue ser o que é. Quando a pessoa fala de sua experiência a partir da vivência criando um discurso fervoroso.
João já tem sua experiência de comentários de outros professores em relação à questão da perspectiva ecorelacional. Esclarece ele que a perspectiva ecorelacional é uma proposta nova, natural então que dentro da lógica colonial haja rejeição. O problema não é o comentário, mas o fato que não tem compreensão adequada para discutir. Tem que se expressar de todo modo, mas possibilitar o diálogo respeitando o outro na sua forma de ser. A confrontação acaba a conversa é preciso estabelecer pontos de reflexão. As pessoas acham que se o outro não concorda com a própria opinião não pode ser amigo, isso é um processo de alienação que se estende a partir da alienação do trabalho. Isto implica o olhar que controla na perspectiva da educação bancária. Tem que dar conta do produto não impor-lo como feito. O produto não pode sair como eu desejo.
No
parecer de Lívia a crise do paradigma da modernidade é a crise da vida humana é
a crise da civilização e, portanto crise ecológica. Prega a liberdade enquanto
escraviza todos. Ela se pergunta que ética é essa? E acha que sair dessa é
complicado e que não se conseguiu avançar, portanto quer saber onde a gente
encaixa essa liberdade no sentido de Freire.
II.
PROBLEMAS RESULTANTES DA EDUCAÇÃO
A
civilização técnológica – cientifica invade as escolas. As pessoas tem que
correr para sobreviver e não conseguem mudar. A multiplicidade e quantidade
associada ao relativismo não está aberta ao diálogo, não respeita os outros
saberes é mais um tolerar. A ética se restringe aos fenômenos. A moderna crise
de paradigmas se evidencia mais amplamente através da física quântica e da
ecologia.
João
reclama que alunos tematizam nos corredores e não em sala de aula problemas que
dizem respeito à realidade acadêmica, como por exemplo, a postura de agentes de
segurança. Em sala de aula eles se submetem aos professores não questionam, não
tematizam, não problematizam.
III.
PERGUNTAS RELACIONADAS A MODERNIDADE x PÓS-MODERNIDADE
-
O que é modernidade?
-
Saímos dela?
-
Estamos na pós?
-
Como se relaciona com a crise de paradigma?
IV.
PRIMEIRA UTILIZAÇÃO FILOSÓFICA DA EXPRESSÃO PÓS-MODERNO
Tudo
modificou-se a arte, a literatura etc. O pós-industrial é entendido como o
pós-moderno. O dinheiro apesar de ter se tornado ritual se tornou virtual, tudo
se estabelece através de artifícios propostos e criados inclusive a ciência
moderna. Não se sabe na realidade o que existe, se existe, quanto existe, por
exemplo, em ouro, o que determina o valor das coisas é a escassez. Aumenta a
expansão do consumo, há um enfraquecimento das normas, cresce o individualismo,
constata-se a consagração do psicologismo e do hedonismo. No lugar da superação
da modernidade há um acirramento do processo que segundo Lipovetsky resulta
numa hipermodernidade. Lipovetsky retoma aqui a ideia de Guattari que o
capitalismo é capaz de se metamorfizar. “O capitalismo é o infinito crepúsculo
que nunca viu a noite cair” cita João.
Lipovetsky
também se apóia em Habermas segundo o qual trata-se de um processo inacabado
que ao não ser completo não pode ser superado. A racionalidade e a
intersubjetividade vão dar conta disso. Habermas não sai do antropocentrismo,
vê o ser humano como pedaço e o outro na função de espelho. Habermas avança
entre intersubjetividade objetiva e subjetiva, mas não resolve porque ainda
permanece dentro da visão moderna. E preciso partir de possibilidades não
modernas senão não se sai nunca. Esses autores como também Nietzsche (que não
reconhece a objetividade como necessária caindo no outro extremo) e Facault só
fazem um diagnóstico, apontam, mas ficam escorregando neste processo. Enquanto
a Descartes, Kant e Hegel Kant radicaliza Descartes, Hegel prega a
“espiritualidade absoluta” e o “conhecimento em si” insistindo na capacidade
das instituições de nos habilitar. Todos contestam e rompem com a
racionalidade, mas mantém a subjetividade. Entre Hegel, Shiller, Schelling e
Marx, Marx se contrapõe, mas parte ainda da razão.
Segundo
João este é o momento de pensar em educação e diálogo, a prioridade é aprender
a dialogar.
Termina
aqui a primeira parte da apresentação de João e Lívia sobre “Colonialidade do
poder e modernidade” que tinha como objetivo problematizar essas questões e que
tornarão ao palco no próximo encontro para discuti-las a partir da lógica da
perspectiva eco-relacional.
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Gead – Relato(ório) da reunião,
dia 30 de abril de 2010
pintaram tudo de cinza
a palavra no muro ficou coberta de tinta
apagaram tudo
pintaram tudo de cinza
só ficou no muro tristeza e tinta fresca
Pescamos
as primeiras falas da música Gentileza,
composta e interpretada por Marisa Monte, para documentar os bordados que
desenharam o encontro passado. As mãos que traçaram esse quadro foram de: Ana
Maria, Adriana, Marcelo, Maclecio, Manoel, Lívia e por
gentileza acrescentem o nome dos demais por não saber-lembrar que estavam presentes no
tecido-sala-de-reunião-costumeira.
Não à toa o fio cinza conduziu o primeiro momento do encontro.
Seria o cinza da vida? Não! Apagaram tudo! Tratava-se do cinza predominante que
destacava um cenário frio e descolorido presente no documentário Estamira,
exposto na primeira parte da reunião. Mas o som não colaborou para a
compreensão ampla do filme, era baixo demais para os presentes. Mesmo assim, as
imagens proporcionavam sensações diversas: a cor (onde lá fora havia o cinza da
neblina que caía durante a manhã), a disposição grotesca das toneladas de
resíduos (para onde vão a nossas produções?), o alçar vôo de urubus no
entremeio da feiúra humana produzida (beleza e feiúra tão aproximadas!),
milhares de sacolas (o esvaziamento da esperança?), ventos, imagens,
relâmpagos, trovões... e Estamira, que carregando os materiais se coloca na
condução da vida (cruel? Feliz? a depender do que? Individual, social, a vida é
uma totalidade!).
Manoel destacou alguns números sobre o consumo, que enfatizavam
a discrepância entre aqueles que detêm o acesso e o consumo de bens (20% da
população mundial consome 80% dos recursos do mundo) e os demais (80%! São
demais mesmo).
Mas, com as dificuldades técnicas da exposição desse filme (com
a falta de som, ainda pouco sei/sabemos de Estamira) e com a chegada dos demais
companheiro(a)s, o encontro toma novos rumos.
Adriana remenda o fio iniciado por “Estamira” e se coloca no
bordado. Ela apresenta o até então intitulado trabalho: Reciclando o cotidiano da relação homem-“lixo”: uma abordagem dos
aspectos sócio-ambientais formativos, a partir dos marcadores do discurso do
lugar, no assentamento Esperança, Lagoa da Manga, Sobral-CE. Manoel e
outros companheiros chamaram atenção para a extensão desse título.
E
com esses primeiros passos, o para além do cinza se dispõem as outras cores,
que são apresentadas e apreciadas. Alguém chamou atenção à linha que cortava o
primeiro slide do trabalho de Adriana: era levemente tortuosa, com azuis escuro
e claro num fundo branco. A intervenção sobre o aspecto da linha provocou
alguns risos e assim por acaso se coloriu a reunião, pouco a pouco, como que
através de agulhadas sutis.
Adriana continuou sua explanação,
pediu que as colaborações possíveis pudessem ocorrer. Ela apresentou os
objetivos de sua pesquisa. Também explicou o uso do termo “lixo” e não
“resíduos sólidos”, por ser mais usual pelos entrevistados dela, e explicou o
cunho etnográfico que conformou sua metodologia, passando a descrever um breve
histórico de sua área de estudo.
Na
própria descrição, a companheira falou sobre a mudança que implementou em seu
foco de pesquisa (da conduta do descarte em espaços públicos no assentamento à
relação estabelecida pelos moradores de Boa
Esperança com seus resíduos: não somente o descarte, mas o acondicionamento
e reuso).
Nós que passamos
apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza
A
pressa, o frenesi citadino, encobre a diversidade que pode ocorrer nos
ambientes, nesse caso os agrários – Adriana relata sobre diversidade cultural
de seus entrevistados, advindos de diversos lugares, e sobre as constatações
diferenciadas sobre o assentamento estudado, desde a sua primeira visita, antes
do mestrado, até as visitações realizadas para a pesquisa.
Ela
procurou verificar as ações formativas da relação homem-“lixo” nas instituições
formais (INCRA, Semace, etc.), não identificando, prosseguiu a fim de apontar
as que são realizadas no próprio lugar, por seus moradores.
Ela prosseguiu a costura-desenho
apresentando as fontes, as inspirações: as falas e os discursos dos atores
desse lugar. E tentando imaginar em forma de paisagem o que das falas pode-se
depreender, divulgamos abaixo:
·
Desenho
1:
moradores antigos (Ex-empregados da fazenda desapropriada pelo INCRA) e seus
estranhamentos (MST, baderneiros?) e acolhimento gradual dos novos (MST
movimento pela reforma agrária, pelo coletivo);
·
Desenho
2:
o estabelecimento do assentamento, a questão da propriedade e as novas relações
de trabalho (a inexistência do patrão, a compreensão das relações de opressões,
etc.);
O
novo quadro percebido por Adriana estava disposto. Suas interpretações a levou
a muitas categorias de análise (via diversidade de fenômenos), das quais ela
destacou: a história do lugar; a solidariedade e a corporificarão da luta.
Manoel indagou se houve usufruto da psicologia comunitária. Adriana expôs o uso
de Moser.
Para
além das imagens-chave dos desenhos 1 e 2, algumas figurinhas foram bordadas
pela fala dela: pessoas usando fogão a lenha, reaproveitamento de comida para
os animais, acondicionamento para reuso de sacolas e garrafas, repasses de óleo
de trator para um posto de gasolina, etc.
Um
Desenho 3 foi colocado: a lavagem de
roupas no açude, quando da falta de água via abastecimento, apresentando
mulheres, conversas, risos, roupas, água, bacias, etc.
Com
o quadro enriquecido, ela observa que aos homens cabe a gestão externa dos
resíduos, às mulheres cabe a gestão interna (algumas inquietações surgiram:
emergem as relações de gênero, cabem na pesquisa? Tempo, especificidade,
produção, defesa).
O
foco da pesquisa é destacado quando ela diante da amplitude do bordado, até
então estabelecido, a totalidade que envolve os desenhos resumidamente
descritos, tratou de expor os principais espaços formativos da relação
homem-“lixo” observados durante a pesquisa: escola, roça, ambiente familiar,
reuniões do assentamento e a existência do grupo de mulheres (durante as
tarefas de varrição e lavagem).
Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria
]
E mediante o desenho multicor
traçado pela nossa colega, a finalização do quadro, deu-se via sugestões dos
presentes:
·
Diante das muitas categorias, a seleção das mais
importantes (por Ana Maria);
·
Cuidados com a discussão sobre a questão do
gênero e fuga dos objetivos da pesquisa (Não
recordo o nome do moço das Letras);
·
Indicar a relação da formação homem-“lixo” desde
cedo no trabalho, evitando as fugas nos objetivos (Não
recordo o nome de quem recomendou);
·
O título gerou certa polêmica, pelo tamanho,
pelo uso de alguns termos como reciclando (sobre a polêmica da intitulação,
cabe lembrar os risos provocados durante a sugestão de tom engraçado do
“cunhando etnograficamente”), por Marcelo, Ana Maria, dentre outros.
A
exposição das imagens-fotografias consolidou a reunião, momento em que criatura
e criadora “revisita” a área de estudo, socializando as várias outras
características apreendidas desse lugar via trabalhos de campo.
Agora
a impressão que ocorre é a de que Adriana seguiu o caminho de retorno e, caso
orientada pelo mesmo insight do
bordado, levou consigo a percepção imagética do seu trabalho de pesquisa.
O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta
E para
não concluirmos, correndo o riso de fazer a injusta confusão conceitual de que
cinza é uma cor feia, recomendo pintar, bordar e/ou fotografar paisagens
cearenses em dias de neblina, dentre tantos outros usos possíveis dessa
coloração e de suas combinações possíveis. O desafio reside, pois, na
recriação, na mudança, no redesenho e pintura dos nossos cotidianos.
Fonte: desconhecida
_______________________________________________________________________
RELATÓRIO DO ENCONTRO GEAD 07/05/10
Integrantes presentes: Alexandre, Tizia,
Fernando, Mayara, Magda, Marcelo, Priscylla, Adriana, Eleni, Ana, Maclecio,
Manoel, Sahmaroni, Lívia, Patrizia, João e Mazinho.
1.
O primeiro momento aconteceu na cantina da FACED, na qual os que chegavam se
acomodavam.
2.
O início das atividades foi por volta de 09h15min, na qual Mazinho, Patrizia e
Manoel trataram do assunto Colonialidade da Mãe Natureza e Colonialidade
Ambiental. Assim, Mazinho trouxe um momento de relaxamento e reflexão sobre os
elementos que compõem a natureza. Em seguida, os presentes foram divididos em
dois grupos e cada um encenou uma cena que representava a colonialidade e
descolonialidade da mãe natureza. Mazinho aproveitou para ressaltar que as
reflexões deste encontro resultarão numa produção coletiva do GEAD.
3.
Intervalo às 11h00min
4.
Reinício com a apresentação de vídeo com o título: O futuro te espera.
5.
O cronograma de atividades do GEAD foi reelaborado com a definição das pessoas
responsáveis pelos relatórios dos futuros encontros.
6.
Aproximadamente às 12h25min as atividades foram encerradas com uma dinâmica
integrativa, na qual todos entrelaçados expuseram suas considerações sobre as
reflexões geradas com a discussão sobre a colonialidade da mãe natureza.
_______________________________________________________________________
Encontro GEAD dia 7 de maio de 2010
COLONIALIDADE
E DESCOLONIALIDADE DA MÃE NATUREZA - TRANSCRIÇÃO
Apresentação: Marzinho, Manoel, Patrizia
Transcrição do evento: Patrizia
Marzinho:
Queria falar que não tenho uma memória muito boa para recordar
as coisas do passadoaté que muitas
coisas da minha infância eu já esqueci tinha tantas coisas quando tinha dois
anos de idade, um ano de idade eu tenho tanta dificuldade de lembrar, que tive
que voltar ao meu lugar onde eu morei algum tempo atrás - existem umas fotos que eu montava cavalo ou
uma foto de um cachorro na casa de forno, a própria casa de forno a gente
fazendo farinha - para eu ouvir as pessoas da minha região, onde eu nasci, que
eu nasci no Maranhão, uma região que fica aí no Maranhão, no nosso Maranhão
perto do rio Parnaíba, próximo do Piauí, já perto um pouquinho da Amazônia
também, lá tem muita água. O pessoal ai tem muita agricultura parece que o
tempo não passou, o pessoal vive da agricultura ainda colhe feijão, mandioca,
milho, gerimum, faz a farinha e passa todo dia comendo farinha com peixe ou com
um boi o com uma galinha que cria no quintal, então assim depois de tantos
anos, eu tenho (...)
anos, eu ainda era muito pequenininho e depois de tanto tempo ainda mantenho um
pouco do que eu era quando eu nasci lá. Então eu fui lá para falar com minha
avó que já faleceu, faleceu com 105 anos, para resgatar um pouco da minha
história e eu descobri nesse resgate que eu era uma criança muito
transvessoura, porque de manhã cedo eu saia de casa, já fugia de casa para ir
pro meio do mato pra ir pra capoeira, pra trabalhar com cavalo, com a roça que
eu adorava e a mamãe pegava os dois meninos meus irmãos maiores, deixava em
casa eu sou o terceiro, uma família de seis, só os dois maiores ficavam em casa
ajudando a mamãe e eu catava o gado eu ia fazer o que eu queria fazer. Então na
casa do Seu (...) que era um senhor lá que eu gostava muito que ele cuidava de
mim eu ia fazer o que gostava de fazer, mas não fazia dentro da casa eu fazia
fora da casa. Pegava os cavalos, levava para capoeira, dava banho trazia a
mandioca, trazia coisas e quando chegava
o final da tarde umas seis horas da tarde eu voltava para casa, só que eu
voltava já sabendo que ia apanhar.
I. Primeira
imagem da colonialidade da mãe natureza.
(Imagem da árvore que
está sendo sugada, golpeada e observada)
Fernanda:
... tem um instrumento de poder na mão dela que é algo de
imposição referente à árvore e o índio que se alimenta dela e o ... para fazer
nada.
Sahmaroni:
Eu vejo mais ela como observadora, uma alienígena da situação,
da situação que parece ser, em fim ... parece uma, uma ...
João:
A gente vê a natureza como algo que serve para alimento, ou pra
gente explorar ou para a gente observar como algo externo. É que a natureza
está grávida.
Fernanda:
Acho que há disposição para renascer.
Marzinho:
A gente vai fazer agora a segunda imagem da colonialidade da mãe
natureza.
(cacofonia)
II. Imagem da
colonialidade da mãe natureza
(Cachoeira que acaba
sendo aprisionada nas garrafas pet)
Água
Maclécio:
Uma relação de escassez de recurso. A água. Eu acho para além da
água, mas a água é emblemática.
Dani:
Eu acho uma súplica do grupo pela água e um dominando, segurando
e vai soltando aos poucos esse recurso para dar vida, para manter o resto de
vida que ainda existe, eu percebi assim, eu pensei dessa forma a súplica de
algumas pessoas em troca de manter vida e um dominando o recurso natural que é
a água, a própria vida.
Eleni:
Eu vou falar em outro sentido, que é como se fosse a adoração
pelo que ainda existe e aí nesse sentido de se exaltar o que ainda tem da
natureza.
Ana-Maria:
Eu acho que foi a dominação da natureza que estava disponível
para todos usufruírem e viverem juntos e aí foi encapsulado e agora está todo
mundo desesperado pelas ultimas gotas que têm, que realmente estão sobrando.
Marzinho: Quem é esse alguém que está dominando?
Ana-Maria:
É o superpoder que superexplorou a mãe natureza, que tem o
capital que acaba sendo capital mais valioso do que é importante para a vida,
no caso a água.
Maclécio:
Pegando o gancho do que a Ana colocou em relação ao capital, tem
uma relação capitalista aí a dicotomia entre os que têm e os que não têm
também.
João:
Eu queria fazer um comunicado. Primeiro de tudo assim o sentido
é apresentar a colonialidade da mãe natureza, a minha interpretação da imagem
que as pessoas estão sem água e aí eu utilizo também o conceito que nem o
Maclécio em uma perspectiva simbólica, a própria água que deveria ser um bem
natural também já está engarrafada então a própria natureza já foi aprisionada
e agora eu tenho as pessoas carentes desse meio. Como diz o professor Manoel
Sampaio isso é todo um processo que envolve a complexidade inerente aos
paradigmas contemporâneos.
Eleni:
Quando eu coloquei foi também uma leitura da colonialidade,
coloquei no sentido da exaltação não de exaltar porque tem em abundância, mas
de exaltar como se fosse: “ah, ainda estou adorando a água porque ainda é um
bem já tão sacro que a gente ainda pode usufruir” a minha exaltação foi nesse
sentido, não como o João coloca, deixou bem claro que “ah, é porque é a visão
da colonialidade”, para mim essa é também uma visão mesmo de exaltação, mas no
sentido de exaltar não para dizer que tem muita, tem pouca também.
Sahmaroni:
Eu estava lembrando aqui de uma musica do Tropicália chamado “Parque
Industrial” que ele fala do sentimento que já vem pronto engarrafado somente
para usar, aí eu penso nesse sentido também os valores simbólicos também já
estão sendo vendidos em livros, em fórmulas mágicas para a felicidade e um
bando de desesperados consumindo isso também que somos nós hoje em dia.
Lívia:
É que quando se fala que a água está engarrafada, não sei se
vocês viram um vídeo, um documentário sobre o deus Xingu e aí alguém falou o
que acho superinteressante ela falou o problema é que a gente não consegue
viver só de arroz e feijão não, a gente precisa do peixe e a imagem falou muito
disso de um dualismo de uma separação que agora você tem essa opção ainda, mas
as vezes não é isso do que a gente precisa é muito mais do que uma comida
determinada ou de uma água engarrafada ... é de tudo o que a água traz com ela
não só a água em si do que ela vai fazer biologicamente no meu corpo, mas tudo
o que ela vai fazer subjetivamente, que não é estático também, que a própria
engarrafada não tem uma representação para mim. Como aquele arroz e feijão não tem
uma representação para aquela pessoa que não contempla pode até alimentá-la,
mas não alimenta o espírito dela, não alimenta ela enquanto indivíduo. Queria
colocar essa questão da colonialidade também não só da matéria, mas da
espiritualidade.
Alexandre:
A minha percepção representa também a dicotomia trazida pela
primeira e segunda revolução industrial porque até o primeiro momento da
primeira revolução industrial você tem uma interação ainda humano com a mãe
natureza por mais que essa interação fosse já na perspectiva do homem onde o
sagrado feminino desta natureza foi retirado aos poucos, já com a segunda
revolução industrial a quantificação da natureza se identifica porque o caráter
dela de objeto ganha maior propriedade onde o que interessa extrair da natureza
é produção, consumo e lucro que é até essa lógica mesmo a partir da qual vai
funcionar o imperialismo das grandes potências, especialmente da Grã-bretanha e
da França nessa perspectiva mesmo que demonstra na minha percepção a natureza
sendo utilizada para produção, consumo e lucro que reflete o que é
colonialidade, que a colonialidade, o colonialismo a essência deles é isso é
escravizar para ter produção, consumo e mais lucro e que vivemos isso ainda
hoje com uma roupagem nos moldes da globalização.
Marzinho:
???
Alexandre:
A coisificação da mãe natureza.
Marzinho:
???
Manoel:
A separação da relação homem natureza, fratura.
(conversa simueltanea)
Maclécio:
... quem cavou o abismo, quem construirá as pontes?
III. Imagem da
descolonização da natureza.
(circulo de
pessoas se entrelaçando)
Eleni:
A união, a integração, a interligação entre os pontos e as
pontes como bem começou a colocar o Maclécio, então eu acho que essa união,
integração, interligação é a construção de pontes ou de pontos.
Thirza:
Na minha percepção também eu vejo essa visão de interligar e
também nessa reflexão, reflexão, ação, reflexão sempre nessa circularidade
repensar, se unir para poder agir, mas sempre compartilhando, uma visão
compartilhada.
Mayara:
Eu vejo parecido com que elas duas falaram essa coisa da
diversidade também aí tem gente mais baixa, mais alta, cabelo louro, ou seja,
em fim a representação da diversidade e da interrelação da troca entre diferentes
grupos, diferentes etnias, diferentes nacionalidades pra contribuir com a
reflexão, com outro pensamento, com outra forma de se comportar diante da
natureza.
Marzinho:
É preciso se movimentar para que a coisa aconteça? Eu vejo
também que a descolonialidade ela é circular, me parece que tem uma energia
circulando aí e por mais que haja diferenças das pessoas, mas tem uma coisa em
comum que são as mãos dadas, tem um projeto em comum e se não houver movimento,
não há transformação.
Fernando:
Todos estão voltados para o foco então enquanto a gente
conseguir uma massa crítica que consiga se voltar para esse mesmo foco, todos
se voltarem para essa questão é que eu consigo conceber essa mudança porque
acho que não basta melhorar. Nós não podemos mais pensar em melhorar, nós
precisamos pensar em mudar eu acho que é hora de uma rebolição, mudar, colocar
a coisa ao contrário, pelo avesso.
Magda:
Eu acho que nas imagens que a gente pode retratar um grupo que
apesar das tensões e tal, ajuda. Tem conflito aí, tem várias forças se juntando
hora contrária, hora caminhando na mesma direção, mas não deixa de ser um
grupo. Assim a gente compreende hoje essa coisa da coletividade, do grupo numa
perspectiva de diferença, de reconhecimento da diferença, da valorização do outro
no sentido de compreender que o outro é também o seu complemento também é o
complemento desse todo que busca ser construído, ser elaborado e re-elaborado o
tempo inteiro, acho que foi por aqui que esse grupo quis retratar esse ai.
Marcelo:
Foi dito nas outras imagens de colonialidade que lembravam
fragmentação, eles quiseram construir o oposto justamente com essa união. Me
lembra também uma micela, uma micela, só que uma micela humana em vez de ser
uma micela de gordura que se une e está sempre coesa, uma micela humana sempre
coesa, sempre forte ali. Uma micela é:
água e gordura não se misturam, água e óleo,
formam aquelas bolinhas e a gordura se junta ali e fica coesa, se separa
com essas ligações fortes coesas em fim o contrário da fragmentação.
Ana-Maria:
... a questão da educação que dá
a idéia de que é preciso maior envolvimento porque poderia ser só nas mãos lado
à lado que é fácil de se desprender e é mais frágil também às intervenções
externas, assim o grupo parece mais coeso e mais voltado para o objetivo que
eles têm.
Patrizia:
Eu queria só colocar aqui a questão do bem viver que é diferente
do viver bem do consumo onde cada um é voltado para si mesmo, então o bem viver
só é possível na comunhão, na partilha, convivendo em comunidade.
Marzinho;
... circulação, recebi outro
nome: nós consagrado. Agora é o momento da socialização do grupo, todos
gostaram?
?????
Na primeira imagem eu queria que o próprio grupo que fez a
imagem expressasse o que é colonialidade da mãe natureza para vocês através da
imagem que vocês fizeram, o que vocês pensaram, o que é colonialidade da mãe
natureza a partir da imagem de vocês?
Magda:
Discutindo um pouquinho antes de começar, a gente primeiro
pensou naquela imagem da índia com o facão e a gente pensou essa coisa de um
tempo em que a natureza deixa de ser parte do homem e o homem deixa de ser
parte da natureza a partir de um momento histórico e tal e assim o cara que
produz cultura, que naturalmente, essencialmente faz parte dele produzir
cultura e ser parte da natureza ele
esquece disso e domina isso, manipula isso a fim de segurar uma onda que é o
capital. Na verdade isso tudo veio a partir de um modelo de civilização que
está baseado na exploração e tal. E a gente pensou nessa coisa da água, um tem
enquanto os outros ficam ali sendo explorados e mendigando uma coisa que naturalmente
é direito de todos, A água é um direito de todos eu sou parte da natureza e a
natureza é parte de mim o que deveria ser normal. Natural era que eu tivesse
acesso e a gente sabe que esse modelo civilizatório que está baseado no lucro e
na exploração do outro, não só na exploração do outro, mas ao passo que eu
controlo, exploro a natureza eu também levo essa relação para o outro humano
também, acho que é por aqui.
Mayara:
Pois é isso mesmo que a Magda está dizendo, a gente começou
pensando também sobre esse modelo em que a gente vive como ele precisa dessa
relação cruel com a natureza para se manter. Pensando na índia a gente falou
sobre Belo Monte e como é um exemplo prático de dominação ambiental inclusive
de uma relação de poder desigual de paises porque inclusive a energia de Belo
Monte não é porque nós precisamos de energia, ela serve para alimentar
eletrointensivas de multinacionais que se instalam no Pará e que precisam de um
grande consumo de energia, para isso se domina o rio, tira o fluxo natural dele
que afeta as povos riberinhos, os povos indígenas que vivem naquela região para
manter a máquina rolando desse modelo de desenvolvimento que temos aí e isso se
expressa na transposição do Rio São Francisco, se expressa em todas essas
grandes obras que servem ...
e aí a gente pensou na água, que a água ... tem uma representatividade muito grande essa
água, como a energia que inclusive a água
é a matriz, a fonte de energia principal do Brasil hoje, a maior parte
da energia é gerada por hidrelétricas, e aí é isso e também assim a relação que
a gente tem com a água é surreal, por exemplo, o Rio da Prata em Buenos Aires ele é
extremamente poluído, mas a água consumida na cidade é toda dele porque fazem
um tratamento e você pode inclusive ligar a torneira e beber aquela água que
vem do rio, mas é um investimento enorme e é isso que queria dizer, para
despoluir uma água para poder ser consumida e ser pago por isso, parece até que
as coisas são feitas mesmo para destruir e alguém possa lucrar dinheiro com a
reabilitação daqueles ambientes aquáticos.
Magda:
... dessa coisa da cultura
mesmo, porque eu produzo cultura e tal e eu transformo de um jeito que eu me
lasco, lasco todo mundo e lasco a natureza que é para eu puder ir buscar lá na
ciência, buscar sei lá criar outro arcabouço outras possibilidades para poder reverter
essa coisa que eu mesma criei para atender uma história que não é a minha, mas muitas vezes que eu naturalizo o
discurso que eu reproduzo sem saber por que e é isso.
Lívia:
Nós somos seres biológicos, somos seres orgânicos, mas além de
sermos orgânicos somos seres da história e seres da linguagem também e enquanto
seres da história a gente vê determinadas coisas e outras não. Existe muito o
que passa por invisível a invisibilidade dos seres e está relacionado ao nome
de tais seres está muito relacionado à linguagem também, a gente está
totalmente perto da linguagem. E aí sobre essa história de colonialidade eu
percebo muito com os meus alunos, na vida cotidiana como as pessoas não
conhecem o ambiente em que elas vivem, não falam o ambiente já muito
antropizado das suas casas e para problematizar esses problemas, mas o que
resta ainda de um ambiente natural, das árvores, que são totalmente conhecidas hoje em Fortaleza. A nossa
flora é bastante asiática, existe uma colonialidade biológica mesmo, fícus, o
nim indiano, castanholeira,
mangueira para todo lado, então existe
uma colonialidade também dos bichos eu ouço falar de bicho como castor, os
nossos animais é gato, cachorro e a gente fica perplexo...
(risos e conversas simultâneas)
... parece incrível, mas há relatos que antigamente aqui em
Fortaleza existiam vários grupos de papagaios soltos na natureza, eu não tive o
privilégio de ver isso, eu nunca vi um papagaio solto na natureza, mas ainda
tem dois bandos. Tem um amigo meu que trabalha com papagaios, esse meu amigo
que trabalha com papagaios com controle de papagaios, tem um em Quixeramobim e
outro não sei aonde, ele diz que é muito engraçado porque às vezes as pessoas
soltam os bichos com o intuito de libertar e aí nos bandos têm alguns que falam
o que os donos ensinaram e eles não colocam isso nos trabalhos porque acham que
uma vez antropizados já não são suficientes para mostrar algumas questões
biológicas. Eu acho importante colocar isso, e insisto que tem que colocar isso
porque alguém tem que falar. Mas assim eles passam invisivelmente e a história
comeu...
Mayara:
A Lívia estava falando sobre a história da linguagem para fazer
uma reflexão que eu faço aqui sobre a história da relação da colonialidade da
mãe natureza e que tem muito a ver com a linguagem porque para mim é complicado,
não sei como vocês vem isso, mas a mim me incômoda um pouco, por exemplo, quando
eu escuto, eu já tenho um grande incômodo por minha natureza. Homem, por que eu
tenho um grande incômodo com a história de usar homem para se referir à
humanidade e depois eu tenho um incômodo assim, também não entendo de onde vem,
mas eu acho complicado manter mãe natureza porque para mim, da forma que
apareceu essa história de homem tenho também um incomodo em relação à mãe. Se a
gente tivesse mudado o papel feminino, papel de mãe na sociedade talvez para
mim fosse mais aceitável, mas acho nenhum dos dois e para mim, mãe natureza me
remete a relação de dominação também. Vou dar um exemplo de coisas que já ouvi.
Me lembro que um deputado muito sacana do Piauí, foi falar sobre o delta do
Parnaíba, e para mim foi muito claro na
fala dele, “o delta do Parnaíba é como uma virgem, inexplorado e pronto para
ser deflorado”, e para mim está clara a relação de associar o lado feminino à
natureza como algo a ser explorado, a ser utilizado, porque sempre dá, dá mais
e a gente precisa sugar mais, está aí para proteger, está aí, para ser a mãe,
dá tudo no mundo o que a gente quer, que a gente só tira, tira, tira. E para
mim, a gente ainda não refletiu o que é papel da mulher, não refletiu esse
papel da mãe o suficiente para eu achar que é tranquilo aplicar à natureza,
para mim reproduz de novo essa coisa da dominação, da mesma forma aí quando
bota no meio do discurso o homem natureza e mãe natureza para mim dá uma coisa
de... eu até entendo essa coisa da mãe natureza vem dos povos indígenas, mas
acho que isso tem outra relação eu fico preocupada quando a gente transfere sem
refletir que é a diferença que constrói o papel social e da representação
social com a linguagem e tal. Em fim era só para contribuir porque ela falou da
linguagem e eu às vezes reflito sobre isso e me dá um incômodo.
Thirza.:
Sobre a mãe natureza. Eu acho que não consegui entender onde
você realmente vê a questão da dominação.
João:
Eu concordo com Mayara e eu acho que tem que usar o conceito
entre aspas porque acho que não é um conceito nosso é um conceito dos indígenas
andinos em certa medida inclusive. Eu diria que até os indígenas brasileiros
não incorporaram muito claramente essa concepção, com exceção dos indígenas que
vivem aí na região andina que são brasileiros em fim e penso que essa apropriação
pelo capital e pelas estruturas do capital, pelo movimento colonializante, esse
conceito é porque de fato favorece, não vai afetar muita coisa, enquanto tiver
chamando mãe natureza está tudo bem, tipo assim, usando a Magda como
referência. Em fim, na verdade eu penso que a gente está utilizando ... e denunciando o
significado que a gente está querendo problematizar, eu acho que é a grande
questão. Eu vou fugir um pouquinho da idéia, mas é essa aqui a reflexão que a
gente está fazendo.
Essa semana na aula de educação ambiental na graduação a gente
fechou um trabalho, um site com eles com a questão de problemas ambientais e aí
a gente pediu para eles mapearem em grupos, cada um fazer uma árvore de
problemas ambientais e depois iam formar grupos para elaborar uma árvore do
grupo e depois de apresentar essa árvore dos problemas ambientais a gente pediu
de escolherem uma ação de Educação Ambiental para tratar daquele problema e é
interessante que o que surge são ações pontuais tipo assim nós vamos realizar
uma campanha, vamos fazer um folder bonito, vamos gravar vídeos, vamos fazer
uma reunião com o povo, aí eu perguntei assim: Fazer folheto sobre o lixo é
educação ambiental? É João! Então fazer um folder é fazer Educação Ambiental?
É! Significa dizer que se a gente sentar para fazer um folder nós estamos
fazendo Educação Ambiental? Estamos! Gente, me diz uma coisa e se eu fizer um
folder assim “compre na Marisa”, essa é Educação Ambiental? Não, mas aí é
porque ...! Ah quer
dizer que é a palavra, o tema que define o problema e consequentemente está
tudo bem? Quer dizer, será que estamos compreendendo o que significa Educação
Ambiental? E será que existe só uma Educação Ambiental? Será que existe só um
conceito, só um sentido para mãe natureza? E que sentido é esse? Mas eu estou
em uma perspectiva crítica! Ah, então se eu disser que é uma perspectiva
crítica está resolvido? Mas o que significa uma perspectiva crítica? Aí eu
perguntava eles assim, o que é crítica para vocês? A gente usa os conceitos
muito ingenuamente, sem problematizá-los, sem compreender o significado que
está por traz.
Por outro lado também tem um viés grave, ontem de manhã eu fui
convidado pelos altos estudos da Assembléia Legislativa para ir discutir a
questão da contextualização da educação dentro do pacto da convivência com o
semi-árido, aí a gente dividiu um grupo que foi dividido em cinco grupos, são
cinco eixos do pacto, o eixo da educação foi dividido, quem vai para esse eixo
são tantos, quem vai para aquele são tantos. No mínimo tinha 10 pessoas em cada
eixo, no nosso eixo éramos quatro pessoas. O diretor da secretaria de cultura
que trabalha nessa área, a professora Deyse, eu e a Rosana da SEDUC e a
observadora dos altos estudos, em fim quatro pessoas. Todos os outros grupos tinham
no mínimo 10 pessoas para discutir. Para discutir o business no semi-árido,
para discutir tecnologia no semi-árido, para discutir o cuidado com a água no
semi-árido, para discutir..., sabe, quer dizer a gente continua funcionando
dentro de uma lógica complicada. Quando nós levantamos no nosso pequeno grupo
que a gente tinha que problematizar alguns conceitos, depois que o diretor da
UVA veio participar e o (...)
disse assim “o que a gente está chamando de cultura?” E o pessoal, “mas se a
gente for discutir cultura ...”
Aí eu disse assim, realmente se a gente formos discutir cultura vamos ter que
convidar .... e
passar aqui um mês discutindo cultura, mas aí como é que a gente faz? Como é
que vamos envolver e mover os interlocutores fundamentais do semi-árido para
discutirmos isso? Quem são os interlocutores mais importantes do semi-árido,
somos nós? Não, é o povo! Como a gente vai trazer os povos dos sertões para
discutir? Não, não dá tempo então a gente não vai conhecer pessoas aqui. Nós
não temos tempo para discutir os conceitos que vamos usar, nós não temos tempo
para trazer os interlocutores principais, mas nós vamos fazer política pública.
Política pública olha que loucura!
È tão complicado envolver as pessoas nas decisões que a gente
tem medo. Olhe, esse grupo que está fazendo mobilização é um grupo sério, é um
grupo que tem interesse realmente de propor uma política que objetiva a
convivência com o semi-árido, convivência sustentável com o semi-árido, e ainda
é desse jeito, isso é colonialidade e por mais que a gente estrebuche a gente
está dentro dela, então a gente tem que ter consciência e clareza disso, eu
estou lá, participando, discutindo, mas eu não estou alienado no sentido de
achar que aquilo ali vai ser a grande solução. Ou a gente faz cada um do jeito
da gente ou não vai acontecer porque as políticas por melhores que sejam, elas
vão estar marcadas pela lógica predominante. Então pensar essa sociedade é
pensar uma sociedade que está mergulhada dentro da colonialidade, pensar cada
um de nós e cada uma de nós é pensarmos pessoas que estamos mergulhadas dentro
da colonialidade. A gente está tentando encontrar saídas e as vezes a gente
encontra e outras vezes a gente mergulha mesmo nessa história, então não vamos
imaginar que aqui nós somos os bonzinhos, todos
nós aqui estamos resolvidos, não é verdade.
Na verdade, eu estou colocando para as pessoas, por exemplo, uma
das coisas que eu coloquei lá, não dá pra fazer como acho que deveria ser
feito, mas eu coloquei como proposta, que foi aprovada, que a gente levaria em
consideração as experiências do (...) no semi-árido. O que significaria isso? Que o que a gente
está fazendo vai ser considerado, o que está sendo feito lá na escola (...) vai ser considerado,
o que está sendo feito lá na casa grande, vai ser considerado, ou seja, que
estas grandes experiências que já denotam potencial e transformação, vão ser
consideradas. Nós temos aí (...)
quatro escolas que vão funcionar com o modelo da pedagogia da alternância.
Inicialmente a idéia não era essa. Então
de certa medida isso já está criando resultados. Qual é o nosso papel? O nosso
papel é de mostrar que é possível desde que nós tenhamos um poder político
constituído, nós enquanto grupo temos o poder dentro da Faculdade de Educação hoje. A gente começou como um pinto de
periferia da FACED e hoje nós somos um grupo significativo. Eu acho, que com
exceção de alguns poucos grupos aqui, com exceção do grupo do Hermíno, a Rita
porque tem um grande projeto aí. A gente tem um impacto educativo dentro dessa
faculdade de educação. Nós temos ressonância dentro da linha de Movimentos
Sociais (...) sabe
disso. O que está acontecendo dentro de uma linha de pesquisa que envolve (...) de estudantes dessa
Pós-Graduação escuta quem está falando e não é de hoje (...) sabe disso. Há mais de ano e meio o
grupo tem tido uma contribuição importante nessa discussão. Eu acho que tem
sido feito alguma coisa.
Eleni:
.... a Priscylla, o Fernando e a Patrizia e
a gente viu que para eles experiências êxitosas
não é o mesmo que a gente está
chamando de experiências êxitosas. Então assim, eu acho que é legal quando você
coloca isso, mas a gente também tem um contraponto,de que para eles lá o que é
êxitoso, são aquelas experiências que foram colocadas que desconsideram a
grande maioria dos programas êxitosos dos mais populares vamos dizer assim.
Que a gente sentiu falta enquanto grupo que estava lá a gente
até comentou, que experiência êxitosa é essa que a maioria das experiências vão
buscar coisas nos Estados Unidos, na Alemanha quando na realidade a gente tem
aqui experiências que são feitas pela própria população e que nem chegam a ser
apresentadas lá porque isso não tem qualidade pra eles.
Marzinho:
Pra quem?
Eleni:
Para eles os políticos, os governantes, para quem vai propor as
políticas públicas como o João está dizendo, e aí entra o que a Mayara colocou,
é a mesma coisa de estar se apropriando de termos como é utilizado pela mãe
natureza (...)
utilizando, não você, mas outro grupo lá (...)
(fala simultânea)
João:
(...)
Por exemplo, a gente está discutindo a necessidade de
complementar a educação no semi-árido ... que haja um ensino maior para as
áreas comunitárias, para várias escolas, para que a gente garanta programas
televisivos, na tv cultura, tv educativa no estado do ceará, que tenha uma
programação nossa que está no Ceará, tem uma discussão discutindo problemas do
Ceará. Então há uma proposta nessa direção e que todas as grandes empresas que
atuam no Estado, inclusive as grandes universidades que atuam no Estado elas
têm que dialogar essa proposta de leis. Por exemplo, umas das ideias que a
gente está encaminhando é que as universidades tenham a obrigatoriedade da
formação no estado do Ceará a UFC a UECE, UVA e URCA e a UNILAB elas tem a
obrigação na formação dos professores ter conteúdos específicos sobre o semi-árido
cearense e a gente propõe também, só para
dar um exemplo, porque acho que vai gerar resultados, que as escolas
tenham, as escolas do Estado do Ceará, tenham - como hoje é obrigatório a questão
da africanidade e da indianidade, há uma lei específica para trabalhar cultura africana e cultura
indígena na escola - que a cultura e os conhecimentos acerca do Estado do Ceará
sejam obrigatórios. Eu penso que isso vai ajudando, não vai resolver não é de
cima para baixo em certa medida, mas vai gerar certo impacto porque vai ter que
correr atrás e aí há uma proposição de ações que viabilizam isso, por exemplo,
produções para prioridade pedagógicas. Em vez de estar comprando no sudeste
como sempre se faz se compra material produzido no estado então é mudança ... em certa medida, são tentativas
de estimular essa discussão.
Eleni:
Então a gente também, deve de certa forma ter cuidado porque a
gente também pode estar sendo utilizado também. Por exemplo, nós enquanto grupo
temos a nossa concepção, temos a nossa proposta, e às vezes pra poder mesmo ter
respaldo nessas políticas eles convidam exatamente membros de determinado
movimento para tentar, fortalecer, legitimar a proposta deles. Eu sei que no caso
você é paciente, você está lá como representante de um grupo da universidade,
não sei como foi convidado, mas às vezes nós somos chamados mais para
respaldar, legitimar, do que mesmo pra estarmos lá e fazermos as nossas
propostas e levarmos este outro lado e essa outra possibilidade. Como por
exemplo, eu estou aqui desenvolvendo um projeto do meu autor, da Universidade que
é o Ivo, então de certa forma eles já querem se apropriar da minha pesquisa
para também legitimar outras ações então eu tenho também que observar se isso
vem sendo feito ou não.
Marzinho:
?????
Manoel:
Elo da natureza.
Marzinho:
Eu só queria que vocês fizessem uma pequena avaliação do momento
e qual foram os sentimentos que vocês tiveram neste momento de fazer a imagem,
estar socializando, como é que vocês avaliam os sentimentos de vocês e essa
vivência?
Eleni:
Eu acho assim que foi legal a dinâmica, agora eu acho que
desconsiderou o trabalho que a gente fez (palmas) assim, a gente teve um
trabalho, a gente teve uma ideia como todos os outros grupos tiveram e não
fomos ouvidos eu acho que foi participativo, é muito legal a gente representar,
se expressar, participar, me integrei foi muito legal é muito bom a gente tentar
se expressar não só através da mente, mas ao mesmo tempo eu acho não foi muito
respeitado o que a gente fez.
(Marzinho e Eleni ao mesmo tempo)
Marzinho:
?????
(várias pessoas ao mesmo tempo)
Marzinho:
Eu acho que é um momento legal para um diálogo. Porque a gente
está de certa forma mudando a lógica que é uma lógica de trazer uma coisa
pronta, de autores que já discutem esses temas, mas de certa forma é uma
reprodução, a gente coloca alguma coisa, a gente fala alguma coisa, mas a gente
está trazendo uma ideia já pronta, um ideia no data-show, uma coisa que a gente
lê e esse momento, talvez seja o primeiro momento, de uma produção realmente
coletiva do GEAD em que todo mundo vai ser ouvido, claro que teve uns problemas
teve, que realmente não deu para administrar eu não soube administrar talvez,
também nunca tive vivenciado dessa forma, porque até se a gente fosse fazer
essa ...
(todos ao mesmo tempo)
.... foi o primeiro trabalho, realmente coletivo.
A gente deve pensar mais nessas possibilidades, de se produzir com esse método
coletivo, e não só a partir de uma leitura de textos, de utilizar outras
linguagens como essa corporal e a gente inventar um monte de coisas, aí a gente
pode caminhar por uma área muito grande de produção a partir do nosso povo, a
partir do nosso pensamento sem racionalizar muito.
Eleni:
Mas depois vocês vão fazer a relação do que nós apresentamos, do
que nós criamos com a referência?
Mazinho:
Essas coisas que a gente está fazendo aqui esse vai se
transformar direito.
Eleni:
Eu sei, mas vai ter também referências de autores não é isso?
Mazinho:
Mas primeiro vem nosso olhar depois a gente vai olhar a lógica
do autor.
Patrizia:
Quem quiser participar pode participar, não fica só com a gente.
Manoel:
Eleomar-Marzinho, também colocando o pessoal que chegou depois
que aí tem uma vivência porque cada um escolheu um elemento da natureza, não é
isso?
???
Marzinho:
Pois é tivemos um momento de relaxamento em que cada um escolheu
um elemento da natureza. Depois de terminar ia perguntar porque você se
identificou com esse elemento, se vocês quiserem falar eu acho interessante,
quem participou, que é esse momento agora. Que elemento você escolheu, por que
escolheu este elemento, qual é a relação deste elemento com a colonialidade e a
descolonialidade?
Ana-Maria:
O elemento que eu pensei foi a água porque é o elemento que mais
me dá bem estar sempre que eu penso em relaxamento eu penso em água. Às vezes
eu sinto fome eu tomo água, o meu apartamento é enorme, um garrafão de água,
mas as vezes eu tomo também água da torneira (???). Inclusive, literalmente
você é 85% água, e também sobre a questão do que significa a
água. Mergulhar para mim é uma das coisas melhores principalmente .... e
inclusive eu não consigo ir a praia, porque têm gente que vai à praia só para
ficar na areia passa o dia todinho, e eu não consigo ir se eu não entrar no
mar. Porque a água representa também essa fluidez e é a ideia de imersão, de
você ser parte, quando você entra na água você consegue digamos entrar,
consegue ficar é diferente da terra, o ar também tem essa possibilidade e a
água por essa dimensão de purificação, de relaxamento e como elemento
essencial. Você consegue ficar um bom tempo sem comer, consegue ficar sem fazer
muita coisa, mas sem água é muito difícil e cada vez quando eu vou utilizar a
água eu lembro disso e um dos maiores medos quando eu engravidei, foi o medo
de, da dificuldade de se ter água e da Sofia morrer por causa disso. Aí tem a
outra questão que é da inundação, das ondas. Então é o elemento água por isso.
Eleni:
A minha palavra também foi água, mas eu escolhi por outras
razões. Primeiro hoje não estava a fim de participar de atividades corporais.
Na hora que o Marzinho falou para relaxar fui relaxando fui tentando entrar no
ritmo da atividade, da dinâmica e ai quando ele falou pense numa palavra,
pensei a água é fluida, a água corre, a água se movimenta, e a água mesmo que
ela encontra uma pedra no caminho ela desvia e continua seu curso, então eu
acho que estava precisando disso e aí quando veio no decorrer da dinâmica foi
surgindo exatamente com o tema da água, então foi muito bom para mim para
inclusive quebrar essa resistência hoje e também a resistência mesmo em relação
ao próprio grupo. Acho porque eu passei três ou quatro reuniões sem vir, hoje
eu estava meio resistente, pensei será que eu vou com preguiça de vir, acho
porque as questões pessoais vinham também, acho que foi boa a dinâmica, foi
muito boa gostei bastante porque me colocou em contato com algo que talvez
estivesse precisando exatamente naquele momento por isso eu escolhi a água. E a relação da colonialidade,
a final eu nem pensei, não tive isso como uma questão inicial, mas vim pensando
agora no que a Ana colocou eu acho que também tem um pouco essa questão da
escassez que a gente vive ao mesmo tempo da escassez existe esse outro lado que
é a abundância de uma forma que a gente não sabe lidar.
Maclécio:
Eu pensei em vários elementos e foi difícil para mim me
concentrar num elemento, veio o fogo, veio o vento, veio a água veio tudo de
uma vez, fiquei pensando como é que vou me concentrar? Aí para poder me
concentrar e relaxar eu percebi que estava com muita coisa ao mesmo tempo aí
pensei em fogo. Botar
em uma fogueira as preocupações, as intenções, aí toquei fogo nisso tudo.
Depois eu fiz a segunda relação de queimar as preocupações na fogueira e depois
de retrazer energia, depois que queimou, ai teve energia, ai depois veio um
terceiro momento da percepção que pode ter a ver com a colonialidade, mas não
tinha pensado na relação com a colonialidade, porque eu comecei a ver florestas
queimando e pensei, puxa como é que penso numa coisa dessas, mas depois aí
voltei para a questão do relaxamento para revigorar as forças para poder
continuar.
Marzinho:
????
Lívia:
Eu pensei num vegetal, no nascimento, porque um amigo me disse
uma coisa tão bonita. Um dia desses, a gente estava conversando aí ele falou
que Deus orava e meditava na terra através dos vegetais aí eu achei tão bonito
e aí foi a inspiração da hora, o vegetal.
Sahmaroni:
Eu achei muito difícil para eu fazer este momento de dinâmicas.
Até porque eu vim de ônibus e o ônibus estava lotado eu vim tão irritado, mas
eu tentei entrar só que eu entro e a minha cabeça não para aí eu penso no
elemento ar que eu acho que é o que mais se parece comigo, eu pensei em ar. Tem até a ver com a
minha busca eu sinto, mas eu não vejo e vários movimentos, o ar não para nunca
e tem várias formas de se manifestar desde as mais amenas as mais devastadoras
acho que foi isso que eu pesei.
João:
Eu me imaginei uma árvore por isso que ficava parado assim e aí
eu sentia, teve um momento que o Marzinho orientou que a gente procurasse
sentir, se sentir como e eu realmente sentia todo aquele fluxo, eu sentia a
entrada das coisas da terra, e eu pensei eu tenho que trabalhar mais isso,
porque até a foto-síntese rolou.
(conversa simultânea)
Manoel:
Eu queria falar com ralação a preocupação da Ana Maria em
relação à água, os cientistas brasileiros descobriram um aquífero na região
amazônica que vai dar para abastecer a população atual por mais de 400 anos então pelo menos a Sofia não tem de
se preocupar. O elemento com o qual me identifiquei foi também o ar realmente
eu tenho me preocupado, eu li uma besteira não sei aonde, que o ar é um dos
principais responsáveis pelo nosso envelhecimento e pela nossa morte, e aí
fiquei matutando como é que pode o ar que da a vida ao mesmo tempo é o que traz
a morte, os radicais livres um dos causadores é a questão do ar em excesso.
(kakofonia)
Magda:
Em relação ao Manoel, daqui está viajando para buscar uma coisa
que está lá não sei aonde e faz umas costuras louquíssimas, uns links que são
só dele, eu acho que se a gente fosse escolher um elemento assim para
caracterizar o Manoel o ar seria bem ...
(kakofonia)
Priscylla:
Eu também participei da atividade como a Eleni e a Ana eu também
pensei na água porque a água para mim trás a idéia de renovação eu acho que
renovação acaba virando necessidade na vida da gente e a água também é bem
estar muito bem estar, só isso.
Patrizia:
Eu pensei na terra no sentido da mãe terra, no sentido do globo,
porque para mim é amor puro, que só dá e não exige nada de volta, então por isso
para mim é amor puro como também a planta é um dos seres mais amoroso que não
recebe nada em troca. Você
corta uma árvore e ela tenta recrescer de novo e sempre só dá, então para mim é
o ser mais altruísta.
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REUNIÃO GEAD 14/05/2010
Presente: Manoel, Priscila, Adriana, Pedro, João,
Mazinho, Sarah, Samaroni, Geidson e Danielle.
A reunião foi iniciada por volta das 9:30... mais ou menos... enquanto
o pessoal estava chegando... Os temas eram variados: cabelos, grupos de
pesquisa...
Após esse momento foi realizada uma vivência experiencial que tratou da
Descolonialidade, onde, cada um dos participantes apresentou algum movimento em
um círculo formado fora da sala que representasse o seu sentimento ou
representação simbólica sobre o tema.
Voltamos à sala e cada um dos participantes falou um pouco sobre as
experiências vividas naquele momento. Iniciamos conversando sobre o movimento
realizado pelo Pedro. O Geidson identificou a descolonialidade como um
movimento de integração e a Sarah acatou a idéia associando a questão da
liberdade e do novo, porém aceitando as diferenças. O Samaroni viu a experiência do Pedro a
partir da idéia de teia. Mazinho falou de entrelaçamento, mas disse sentir
falta do toque. João se identifica com as percepções do Samaroni. Adriana diz
que viu presente a linearidade. Priscila fala sobre entrelaçamento, buscando
algo mais, já que o movimento teve dois sentidos. Manoel fala em relação a
trajetória. Danielle fala sobre a
linearidade e padronização. Pedro fala que sua intenção era apontar a
possibilidade da não linearidade.
Após o Pedro falou-se sobre o movimento da Adriana, que justifica sua
integração ao movimento do Pedro. Danielle falou sobre uma barreira criada, que
foi percebida mesmo com a intenção de integração. Fazer com que Pedro, apesar
de seus movimentos considerasse o movimento da Adriana e se integrasse a ele.
Mazinho fala do posicionamento em relação às resistências. Geidson identificou
na atitude da Adriana uma forma de respeitar o movimento.
Samaroni coloca que é interessante considerar isso no contexto da
educação, ressaltando que é importante considerar o aspecto das interpretações.
A questão da inclusão ou exclusão precisa ser considerada, mas João coloca que
na verdade, nem sempre quem se exclui quer ser incluído. Samaroni fala das suas
vivências com as crianças em situação de rua, e diz que na sua experiência o
fato de muitas vezes a pessoa se excluir do grupo, representa sua vontade de
ser notada.
O movimento do Manoel, segundo a Adriana ampliou a escuta qualificada.
Pedro discorda em parte, mas Adriana reforça que o gesto feito foi bastante
significativo. João fala que em uma expressão como foi proposta, os gestos são
fundamentais para o entendimento das pessoas. Priscila fala que foi importante
tratar a questão da escuta, mas entendendo que ela é diferenciada. O educador
deve ter a sensibilidade para perceber as diferenças e habilidade para
alcançá-las. Manoel coloca a escuta como uma necessidade urgente da humanidade.
Após esse momento foi comentado o movimento da Danielle, que para
alguns representou coesão, elos. Algo difícil de quebrar. Manoel fala sobre a
resistência que poderia ter sido encontrada caso as pessoas não tivessem
entendido a proposta e ressalta a visão de um autor (esqueci
o nome?), que fala que para se construir a paz é necessário que exista o
conflito.
Sobre o movimento do Mazinho, o grupo fala muito claramente sobre
educar e mexer com o corpo do outro. Adriana fala sobre moldar e atender as
perspectivas individuais, já que ele fez com que cada um fizesse aquilo que ele
queria. Uma outra interpretação seria a
da interculturalidade, da interação com as diferenças. Sarah fala da
necessidade de que cada um também se coloque de forma aberta para aceitar o
outro. Priscila fala do alcance as mais diferentes pessoas. Mazinho coloca que sua proposta era o entendimento
de que o corpo dele somente não era suficiente e de que não pensou apenas em
pessoas, mas em arvores, figuras de animais... Uma interação completa com o
ambiente. O Manoel representava o excluído, outros o feliz, o sério, a
japonesa, a grávida que representa a vida.... Uma relação que anda não existe,
de coexistência ou convivência de elementos visíveis e invisíveis na natureza
que é utópica porque estamos desconectados. A idéia foi pensar na conexão do
mundo material com o imaterial, características do seu trabalho de pesquisa.
Sugere o filme turista espacial, como forma de fortalecer essa percepção de
valores.
Quanto ao movimento do João, Manoel fala que levou um abraço pensando
“que era ela, mas não era ela”... Fala
sobre o calor, o afeto. Sarah diz que ficou surpresa e meio sem entender as
conexões. Mazinho fala que o abraço trata do cuidado com o outro, da
preocupação... Priscila fala que o abraço representa acolhimento e tem uma
relação com a PER.
O movimento da Priscila foi visto como um movimento formal, que
pressupõe um certo distanciamento. O aperto de mão está associado a visão de
desarmamento...
Sarah a partir de uma visão geral, diz que achou interessante o
exercício e que nunca achou que tantos
gestos poderiam significar tantas coisas... Pequenos gestos podem ser
analisados, refletidos, escritos... A riqueza produzida a partir de um gesto
que pode envolver o corpo. Samaroni fala sobre Fernando Pessoa, que tem um
poema cujo último trecho diz que “só a loucura incompreendida leva avante para
o céu”. Para ele, isso é uma nova forma
de fazer academia, deixando fluir outras maneiras de perceber, abrindo espaço
para outras linguagens que não sigam a lógica formal tão forte na academia,
criando situações muito mais expressivas.
João fala sobre a necessidade de mudar nossas referências mudando a
lógica cartesiana, ressaltando que mais importante do que o resultado é o
caminho para chegar aos resultados. Ressalta que com a PER eu posso sempre
expandir a minha interpretação, não caindo no relativismo absoluto, mas na
compreensão da complexificação do processo. Samaroni fala sobre a proximidade
entre ciência e arte. João diz que ainda não chegamos ao ponto de igualar as
duas, já que não tem a arrogância de achar que chegou a verdade.
As 10:20 fizemos um intervalo e
as 10:50 retornamos...
Foi iniciada então a discussão sobre as relações entre a Colonialidade
Ambiental e a PER.
A apresentação que partiu do conceito de relações subalternizantes.
Foram apresentadas algumas fotos que marcam a des-humanização. Um texto
apresentado retrata aspectos do rompimento com a visão utilitarista.
Em seguida foram apresentadas algumas distorções hipermodernas:
O culto e o inculto;
A utilidade e a racionalidade instrumental;
A dimensão afetiva que foi excluída, desqualificada ou minimizada;
A natureza que se apresenta como recurso, espaço de lazer;
A fragmentação, ou a falsa separação entre humano e natureza e humano e
outros seres humanos;
O conceito de subalternização é a colonialidade (colonização para além
do imaginário, das idéias, valores, dominação simbólica, legitimação de valores
hegemônicos) expressa num contexto micro. A construção da subalternidade seria
a vivência da colonialidade em situações corriqueiras e inerentes a qualquer
relação social. A ação de subalternizar retrata a capilarização da ação de
colonizar, esta por sua vez pensada num sentido social mais amplo.
A colonialidade tem uma relação direta com a educação bancária. O
propósito é problematizar o mundo atual. O colonizar seria a propagação do
domínio sobre o outro. A colonialidade implica em um processo de colonizar as
mentes, as idéias, o imaginário e as culturas. Em síntese significa o
colonialismo somado ao domínio sobre a dimensão do imaginário, das ideologias.
“ Na lógica colonializante encontramos um conjunto de estratégias e
propostas que inculcam a noção de um mundo unificado em torno da Europa, seu
único centro e matriz. Neste corpo ideológico temos a modernidade, o
cartesiano, o capitalismo, o liberalismo e o neoliberalismo, o Estado-Nação
centralizador, as empresas e o mercado, a globalização, as instituições
instituintes da ordem social”.
Os estudos da Modernidade/Colonialidade começam com Quijano em 1991.
Quijano propõe originalmenteo conceito de Colonialidade do Poder.
OUTROS AUTORES
Wallerstein: Enfoques inovadores da sociologia ocidental
– a análise do sistema mundo. Toda a história é contada a partir de um viés
colonial. Existe muita história não contada....
Dussel: Filosofia da Libertação
Walter Mignolo: Pós-colonialidade.
Coronil: Antropólogo Venezuelano.
Gómez e Rivera: Filosofos Colombianos.
Lander: Colonialidade do Saber – CLACSO.
A colonialidade inicialmente foi pensada como uma categoria única, mas posteriormente se amplia. (PODER E SABER: (QUIJANO- hierarquização do humano a partir do conceito de raça – para o João o pano de fundo é a questão da espiritualidade), SER). A colonialidade do ser é uma decorrência da colonialidade do poder. É uma forma de manipulação que parte de um dominador.
O cogito define o que existe. O distanciamento possibilita o saber válido.
A competição seleciona o melhor. O controle permite o domínio.
Padrão de Poder Mundial: Raça (padrão universal), Capitalismo(
padrão de exploração social), Estado (forma central de controle),
Eurocentrismo.
A data que demarca o início do colonialismo é 1492. Com as invasões das Américas é que surge o poder de
dominação e a partir daí há a construção de um ideário que é a Europa. A
riqueza e poder da Europa são oriundos da América Latina. Até o período
colonial, ir no caminho certo era se orientar; América, continente sem nome
próprio; Aqui ocorrem as primeiras manufaturas modernas movidas a chibata; Aqui
surgem as primeiras cidades planejadas.
João ressalta que na colonialialização há uma intencionalidade de
dominação ideológica. Na colonização não. O que ocorre com a colonização pode
ser uma decorrência das ações, sem um propósito deliberado de induzir as
mentes.
Eurocentrismo e Rupturas:
Espiritualistas e Ateus
Humano e Não humano
Publico e Privado (Locke)
Mente e corpo
Ciência e senso comum
Universal e o resto
Modernidade (civilizado) e Barbárie
Manuel : “ mimetismo do capitalismo para não mostrar a sua podridão” –
PEROLA Nº 1 !!!
Colonialidade é:
“Contrariamente ao que afirma a perspectiva Eurocêntrica, a raça, a
diferença sexual, a sexualidade, a espiritualidade e a epistemologia não são
elementos que acrescem as estruturas econômicas e políticas do sistema mundo
capitalista, mas sim uma parte do paacote enredado: sistema –mundo patriarcal,
capitalista, colonial, moderno europeu “. (Grosfoguel,2002).
A negação do direito do colonizado começa pela afirmação do direito do
colonizador; É a negação de um direito coletivo por um direito individual;
Locke (segundo Treatise of Government)
elabora mais concretamente esse direito como direito de propriedade, como
propriedade privada, por uma razão muito precisa. Se a terra não é utilizada
deve ser ocupada.
Mazinho ressalta o termo DENEGRIR, utilizado nas discussões
associando-o ao preconceito. Denegrir é deixar negro, representando a visão de
subalternização da raça... Isso faz parte da construção do nosso imaginário e
representa uma característica de colonializados que somos...
A COLONIALIDADE DO SABER É MANTIDA
POR INSTITUIÇÕES FORMADORAS EDUCATIVAS.
A modernidade é parte da organização colonial/imperial do mundo. As
outras formas de ser são transformadas em arcaicas, primitivas, pré-modernas.
Os diferentes recursos históricos (evangelização, civilização, modernização,
desenvolvimento, globalização) têm como
sustento a concepção de que há um padrão civilizatório que é simultaneamente
superior e normal, universal dos conhecimentos científicos eurocêntricos.
Sociedades ocidentais modernas constituem a imagem de futuro para o resto do
mundo.
No entanto a naturalização da sociedade liberal como forma mais avançada
e normal de existência humana não é uma construção recente que possa ser
atribuída ao pensamento neoliberal, nem a atual conjuntura política, pelo
contrário, trata-se de uma idéia com uma longa história no pensamento social
ocidental dos últimos séculos. Tudo isso vai sendo normalizado por nós... É um
processo que vem se constituindo!
MANOEL: NOS DIAS HODIERNOS ESTAMOS PERDENDO OS LAÇOS DAS AFECÇÕES
SUPERIORES -
PEROLA Nº 2 !!!
As dimensões constitutivas dos saberes modernos que contribuem para
explicar sua eficácia neutralizadora são:
As sucessivas separações ou partições do mundo “real” que se dão
historicamente na sociedade ocidental;
A forma como se articulam os saberes modernos com a organização do
poder, especialmente as relações coloniais/imperiais de poder constitutivas no
mundo moderno.
Mazinho coloca que as pessoas desconsideram a dimensão humana dos
indivíduos, destacando sua experiência na escola, onde muitos professores
tratam alguns estudantes como merecedores de exclusão.
Encerramos ao 12:05, planejando as ações para a próxima reunião.
João finaliza com algumas fotos de figuras que trabalham o tema
apresentado hoje.
________________________________________________________________
Relatório da reunião do Gead 14 de maio de 2010
Pra se dançar ciranda...
Começamos
a reunião passada com uma ciranda e, como sempre estou percebendo nesse espaço
de amorização que antecede as reuniões do Gead, a consciência coletiva aberta
pela música está criando novas conexões entre nós.
As danças circulares e sagradas sempre estiveram
presentes na história da humanidade – nascimento, casamento, plantio, colheita,
chegada das chuvas, primavera, morte - e
refletiam a necessidade de comunhão, celebração e união entre as pessoas. A
dança é uma das formas de comunicação mais primordiais da nossa história. A
psicóloga Clarissa Pinkola nos fala que todos nós temos anseio pelo que é
selvagem. Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo
ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixamos o
cabelo crescer e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o
espectro de nosso eu-selvagem ainda nos espreita dia e noite. Não importa onde
estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas.
Estávamos presentes eu, Adriana, Sahmaroni, Ana Maria,
Pedro, lídia, João, Tirsa, Alexandre, Priscila, Patrízia, e Fernando, que
começou a apresentação nos falando de uma lenda indígena sobre a gênese do
mundo, musicada por Ceatano*. A música fala de uma tribo que ao presenciar a
divina comunhão através de um vinho (pra quem não sabe, os “filhos” chamam o
chá hoasca de vinho) percebem que bem e mal estão entrelaçados e
verificam a força toda poderosa das jias (bem como das outras coisas vivas) para
mudar esse fato. Através do vinho eles percebem a unidade do mundo múltiplo. Outra curiosidade é que muitas tribos amazônicas usam a
secreção venenosa de jias para fabricação de uma vacina (Kambô) que dá poder
para entrar na mata, aguentar fome e frio. A cura é espiritual e se manifesta
no corpo físico. Dessa maneira, trocamos idéias sobre a gênese do mundo segundo
diversas culturas e no fundo havia um ar de que sabíamos que todas estavam
certas.
Vimos também um trecho do filme Ponto de Mutação, inspirado
na obra de Capra, que falava, em palavras-chaves pra sintetizar, sobre
totalidade, interatividade, holismo. João nos fala que o “mundo é concebido
como uma unidade interativa, um todo interatuante, multidimensional,
indivisível, (...) interligado com todo o seu derredor” e o Fernando nos fala
sobre a importância de vivenciar o discurso da perspectiva - o que eu acho
muito válido. Então, quando tomamos nosso pedaço de terra e montamos nossa
ecovila? Há de ser uma invasão, pois senão estariamos nos dobrando ante a fina
flor do capitalismo: a compra e venda da terra. Fica a deixa... Como bem
colocou Fernando: “A nossa dignidade se mede pela nossa indignação” (Nelson
Rodrigues).
Passeamos
também com Maturana, suas emoções e linguagem como manifestação biológica. Ao
questionarmos, eu e Sahmaroni, sobre a colocação de Maturana, ao encarar o
fenômeno vivo (emoções e linguagem) como biológico, o autor não estava
reduzindo a uma única dimensão o que é pluridimensional. Nesse momento recebi a
lição mais importante da manhã: não vamos nos apegar as palavras utilizadas
pelos autores, palavras que muito deturpam o sentimento original e nos joga num
mar de complicação sobre a comunicabilidade das coisas. Vamos nos aproximar.
Muito nos foi ensinado sobre a distância, sobre questionar até o último gomo o
pensamento do outro a fim de desqualificá-lo. Às vezes fazemos isso sem
perceber, pois nos acostumamos e é nesse local que nos sentimos seguros.
“Segurança nada significa além da condescendência com as circunstâncias de sua
realidade. É meramente um ideal implantado em sua mente para fazê-lo temer o
desconhecido, pois, se você permanecer no conhecido, não haverá crescimento.
Quando você penetra no desconhecido e acolhe a incerteza, você realiza um
avanço espetacular na abertura de portas para o seu real Eu” (Emmanuel). Acho
importante terminar o relatório aqui. Para sempre seja claro nosso caminho.
*Letra
de Genesis (Caetano)
Primeiro não
havia nada Nem gente, nem parafuso
O céu era então confuso
E não havia nada
Mas o espírito de tudo
Quando ainda não havia
Tomou forma de uma jia
Espírito de tudo
E dando o primeiro pulo
Tornou-se o verso e reverso
De tudo que é universo
Dando o primeiro pulo
Assim que passou a haver
Tudo quanto não havia
Tempo, pedra, peixe, dia
Assim passou a haver
Dizem que existe uma tribo
De gente que sabe o modo
De ver esse fato todo
Diz que existe essa tribo
De gente que toma um vinho
Num determinado dia
E vê a cara da jia
Gente que toma um vinho
Dizem que existe essa gente
Dispersa entre os automóveis
Que torna os tempos imóveis
Diz que existe essa gente
Dizem que tudo é sagrado
Devem se adorar as jias
E as coisas que não são jias
Diz que tudo é sagrado
E não havia nada
Espírito de tudo
Dando o primeiro pulo
Assim passou a haver
Diz que existe essa tribo
Gente que toma um vinho
Diz que existe essa gente
Diz que tudo é sagrado
________________________________________________________________
RELATÓRO
GEAD 4 de junho de 2010
Tema: Perspectiva Eco-Relacional suas possibilidades pedagógicas e educativas
Responsáveis: Eleni e Pedro
Relatório do dia: Patrizia
Presente: César, Eleni, João, Magda, Manoel, Mazinho,
Patrizia, Pedro, Pryscilla, Samoroni,Tereza.
Antes de iniciarmos a apresentação, hoje com Eleni e
Pedro, João nos leva para o pátio onde formamos primeiro um círculo de mãos
dadas de costas um@ para @ outr@ e em seguida de frente um@ para @ outr@
andando vez para direita, vez para esquerda.
Alguns comentários de que me lembro a respeito da
dinâmica: “A emoção é diferente virando as costas para @s outr@s daquela no
momento de estar olho no olho!” – “A gente se sente só virando as costas para
@s outr@s!” – “Não se vê @ outr@, mas se sente!” – “Olhando para as paredes
ninguém conversa, no momento que as pessoas se enxergam começam a falar!”.
De volta para a sala Mazinho toca na questão dos canecos
e mostra alguns modelos em esmalte que ele troce. João diz que deveria se
discutir as propostas e também a questão do material, que poderia também ser
plástico, eu por minha vez questiono o plástico, que é subproduto do petróleo e
quero dizer com isso que temos que conhecer o contexto em que os objetos são
produzidos (poluição, gasto de energia e água etc.), por isso proponho potes de
barro – terra, mãe terra, pacha mama –
dentro dos quais a água leva o gosto da terra.
Como não vamos resolver o problema dos canecos hoje, a
discussão é adiada para o dia 25 de junho de 2010, das 8:00h – 10:00h (fechadas
porque às 11:00h começa o jogo Brasil – Portugal) na casa do Mazinho, Rua
Carvalho Mota 515.
Adiado o problema dos canecos Eleni que estava na fila de
espera inicia a apresentação. Na parede ela colocou dois cartazes lilás vazios,
agora ela nos pede escolhermos da pilha de jornais em cima da mesa uma imagem
que para cada um@ de nós represente práticas educacionais hegemônicas (1) e
outra que represente dimensões pedagógicas da perspectiva eco-relacional (2) a
serem coladas cada uma no cartaz correspondente. Depois das colagens
(in)concluídas Eleni convida para explicar as escolhas.
Magda:
(1)
Estatísticas: As estatísticas falam da
evasão nas escolas, não mencionam que a educação afasta as crianças da escola,
que a rua apresenta um atrativo maior e oportunidades de desafio, de se
conhecer no confronto com a realidade, de poder ser o que se quer, poder
experimentar-se nem que seja através das drogas e derivados. A escola fica
longe, ou seja, está longe de convidar a realidade para a sala de aula.
(2)
Foto do “quintal do Mazinho”,
criança no balanço, a natureza ao redor: um espaço diferente cheio de afetividade e
cuidado.
Priscylla:
(1)
Desenho de pessoas de séculos
passados sentadas à mesas lotadas de livros, escrevendo: somente elas dominam o saber. Permanecem
sentadas, paradas na posição certa. Não se movem, mas pretendem movimentar
(“mexer com”) o mundo.
(2)
Pai e filho unidos na natureza: mostra a relação dos
semelhantes entre si e com o todo, também entende os pais como parceiros na
partilha de saberes, o que lembra a existência de outras culturas como as
tribos indígenas que podem nos oferecer o que elas têm de saber, mais para lá
do saber urbano que é mais valorizado pelo modelo de sociedade hegemônica.
Mazinho:
(1)
Foto do Presidente Lula sentado: ele cortou a imagem em forma
de quadrado porque se trata de uma questão de enquadramento e a cadeira
significa a imobilização do corpo. É preciso parar para refletir, só pode
entender sentado. A expressão do Lula é triste, sem alegria porque “morreu”,
ele mostra cansaço. Passa o tempo e nada se faz, isto causa doença aos
educadores.
(2)
Coração no olho: Mostra a capacidade de se
emocionar, ter perspectiva, esperança. Pássaros:
saber ir mais longe em parceria, não necessariamente voando, mas trabalhando a
terra em solidariedade.
Manoel:
(1)
Mulher islâmica: prática pedagógica radical,
não pode mostrar o rosto, não pode expressar nem o corpo.
(2)
Círculo formado por integrantes
do MST, uma pessoa falando: alternativa à “educação bancária”, a liderança amorosa
fusiona com a massa para gerar a possibilidade de organização e consequente
ação concreta.
Pedro:
(1)
Lênin em primeiro plano
posicionado acima das massas que figuram em segundo plano: Lênin é o professor, aquele
que tem o conhecimento a ser repassado ao povo “ignorante”, aqui o aluno que
aparece em nível subalterno.
(2)
Quatro mulheres formando uma
roda se tocando com as cabeças: afeto e confiança na proximidade que construíram.
Sahmaroni:
(1)
Dois lutadores de “tsumo” um em
cima do outro:
jogo de forças, competição, alguém quer se sobrepor ao outro.
(2)
Uma dança japonesa que é mais
um tipo de teatro: um trabalho artístico sem competições onde ninguém sai ganhando ou
perdendo.
César:
(1)
Imagem de séculos passados onde
um pobre (na
certa representando o povo oprimido)
carrega nas costas os ricos e todo um sistema social por eles desenvolvido a
partir do interesse de uma minoria em detrimento da maioria: quem carrega a
barra não questiona o poder (o fardo) que está em cima dele, é a questão da
dominação de quem sabe sobre quem não sabe (o povo “ignorante”).
(2)
Uma mãe que acolhe seu filho: é uma coisa muito forte e profunda
praticar acolhimento e aconchego.
João:
(1)
Um grupo de homens com
peixeiras nas mãos correndo numa estrada se aproximando ameaçadoramente: a consequência das práticas
hegemônicas.
(2)
Dança de mulheres na rua: promover a afetividade leva a
ações de respeito com o todo (harmonia).
Eleni:
(1)
Sala de aula com alunos e uma
mesa vazia:
representa o espaço hegemônico fechado, quem não esta na escola está na rua.
(2)
Diferentes formas de expressão
teatro, música, arte: diferentes práticas fora da sala de aula que não deixam de ter valor
educacional.
Patrizia:
Em primeiro lugar constatei como é difícil encontrar
neste tipo de revistas (Veja, Época etc.) imagens que possam representar a
dimensão pedagógica da perspectiva eco-relacional. O que mais me atingiu foi a brutalidade
com que a publicidade golpeia as pessoas, instiga ao possuir, ao dominar, ao
destruir tudo o que é biófilo. Como atribui qualidades de seres viventes a
objetos mortos e rebaixa a natureza a algo que está debaixo das botas de um
agir necrófilo restando-lhe somente a opção de lhe beijar as mesmas botas que
lhe esmagam. Para Freire dizer sua palavra é ato de libertAção, aqui a palavra
é instrumento para a opressão.
Terminei por última a tarefa de escolher e recortar
imagens, porque não sabia o que escolher. Tinha uma publicidade que louvava os
talentos de certo tipo de carro; outra que mostrava uma praia linda e em
primeiro plano um cartaz com a palavra “reservado”; tinha também a foto de uma
ilha belíssima prometendo o máximo de natureza acompanhando o título de um
artigo “Férias de Milionário”; também não faltou a foto de um lugar no sertão
com mandacarus, cadáveres de gado e um caboclo triste e magro de tanto passar
fome, consequência de uma permanência prolongada dentro de uma colonialidade do
poder, do ser, do saber e da mãe natureza. Uma outra imagem que me custou não
dar um grito foi a apresentação de uma paisagem litorânea com barcos de
pescadores artesanais em primeiro plano e o símbolo da Globo como sol nascente
no horizonte que convida para inovações e diz mais ou menos assim (infelizmente
não guardei os retalhos e não posso reportar exatamente o texto): “tente algo de novo, faça de cada dia algo
diferente ...”, mas o cume da perversidade para mim foi – e escolhi justamente
esta imagem para representar práticas educacionais hegemônicas – um puma
lambendo o tênis da Puma. A natureza esbanjando consumismo em detrimento de si
mesma! Quanto menosprezo, quanta insensatez, quanta insensibilidade e é isto
que podemos definir como ação antidialógica em que se fundamenta a “educação
bancária”. Para reportar o meu entendimento da dimensão pedagógica da
perspectiva eco-relacional recortei, também de uma publicidade – e aqui eu fui
incoerente, porque não prestei atenção à intenção da propaganda, quer dizer não
sei o que propagava – umas fotos que mostravam natureza “intacta”, para
sublinhar o interativo de “tudo com tudo” e toda a totalidade que o
eco-relacional retrata.
Depois de tod@s terem expressado seu entendimento de
práticas educacionais hegemônicas e da dimensão pedagógica da perspectiva
eco-relacional surgiu um debate sobre espaços educacionais formais e informais.
Questionou-se porque educação em espaços educativos institucionais e não em
outros espaços? Será que tem muita diferença assim? Será que dentro de uma
aldeia educação tem menos qualidade?
Passou-se, pois a discutir objetivos políticos que
segundo uns estariam mais camuflados em espaços formais do que dentro de
espaços informais, opondo-se a essa visão Mazinho que pela própria experiência
comprova que o espaço formal deixa bem claro o que se pode e o que não se pode.
Por exemplo, não pode-se questionar direitos dos estudantes, ou segundo Magda
mensalidades em escolas privadas.
Eleni pergunta: Será necessária uma mudança? A partir da
reflexão do que está posto percebe-se a necessidade de mudanças. As imagens
mostraram que precisamos de algo. Precisamos mudar o espaço educativo,
repensar, redimensionar, resignificar. É preciso resignificar o que é possível
não apagar tudo. Avaliar de onde vêm as práticas e mudar dentro das
possibilidades, fazer com que outros repensem. É preciso conviver, vivenciar
com outros, fazer com que questionem. É preciso pensar outro modelo que não
seja outra imposição.
Para Mazinho ao pensar em outras formas não pode-se negar
o que está posto, os saberes. Tem que partir da crítica do que está posto, não
se pode negar tudo, mas tem que trazer outros saberes (corpo etc.). Já está se
pensando novas práticas demais (livros, teorias, textos), existem tantas coisas
novas, mas não conseguimos praticar, está na hora de experienciar, na hora de atuar.
Para os educadores é tão difícil praticar, eles têm medo de tentar o novo.
Mazinho quis praticar o teatro em sala de aula e todos os outros educadores
disseram que não ia dar certo porque “os meninos são danados”. Fato é que deu
certo e que só pode-se dizer que algo dá ou não certo ao praticá-lo o resto é
só especulação e dela o mundo está cheio. Foi teatro no sentido de brincadeira
como forma educativa. A vice-diretora foi fiscalizar a tentativa de mudar
estruturas postas e determinou que não pode mais, porque no espaço educativo
formal deve-se manter o silêncio.
Como bem dizia Paulo Freire:
“Minha
impressão é que a escola está aumentando a distância entre as palavras que lemos
e o mundo em que vivemos. Nessa dicotomia o mundo da leitura é só o mundo do
processo de escolarização, um mundo fechado, isolado do mundo onde vivemos
experiências sobre as quais não lemos. Ao ler palavras, a escola se torna um
lugar especial que nos ensina a ler apenas as “palavras da escola”, e não as
“palavras da realidade”. O outro mundo, o mundo dos fatos, o mundo da vida, o
mundo no qual os eventos estão muito vivos, o mundo das lutas, o mundo da
discriminação, e da crise econômica (todas essas coisas estão aí), não tem
contato algum com os alunos na escola através das palavras que a escola exige
que eles leiam. Você pode pensar nessa dicotomia como uma espécie de “cultura
do silêncio” imposta aos estudantes. A leitura da escola mantém silêncio a
respeito do mundo da experiência, e o mundo da experiência é silenciado sem
seus textos críticos próprios”.
Eleni explica o sentido da dinâmica. Não basta que as
possibilidades pedagógicas se limitem ao pensar é preciso estendê-las para as
próprias experiências, para a realidade.
O que fizemos foi uma atividade artística, cada um criou
uma imagem de si. Não definiu como seria a apresentação. Foi um trabalho
coletivo que utilizou-se do que todos sabem e mostrou que é possível decidir
coletivamente. Mas, se submeter ao velho esquema reproduzindo-o é mais fácil e
nos preserva do medo de sair do controle. É difícil sair da lógica do
professor-aluno onde o professor “deve” dizer. Neste contexto conflitos são
“solucionados” deixando passar o “momento de tensão”. O medo do diferente
inviabiliza a problematização. Mas conhecer suas próprias limitações, por
exemplo, querer ter o controle, pode fortalecer o grupo.
Questiono eu a essa altura dentro de uma pedagogia que se
baseia em Paulo Freire
em espaços educacionais que seguem seu método, a relação educação – realidade,
ou seja, pensar – agir, me referindo a um exemplo reportado por um professor em
um vídeo que fala de Paulo Freire, onde os alunos educados segundo seu método,
fazem uma pesquisa sobre certa marca de yoghurte e descobrem um tóxico que
prejudica a saúde. A ação aqui se limita em avisar a empresa e não a imprensa,
porque a notícia poderia custar empregos e é óbvio a falência da empresa.
Questiono eu o que é que os alunos aprenderam? Que com economia não se mexe,
porque sempre tem argumentos que causam prejuízos maiores, ou seja, qualquer
denúncia por parte dos oprimidos conscientizados recai com força dobrada sobre
estes, dividindo ainda mais o povo já tão fragmentado, em aqueles que tiraram o
emprego porque não souberam se calar e os que perderam o emprego. O que adianta, questiono eu, aprender a enxergar a propaganda com olhar crítico, se este olhar
crítico não pode ir além do ser crítico? Quer dizer que o pensar crítico tem um
limite até certo ponto e não pode se estender além deste limite?
Mazinho traz o exemplo de um livro que cursava na escola
onde ele é professor, que dizia que quem faz trabalho manual não pensa, somente
quem faz trabalho intelectual (doutor, professor) pensa. A maioria de seus
alunos trabalha ajudando os pais nas mais diferentes atividades, então ele
pediu trazer exemplos de seu próprio corpo a partir de sua vivência quando
trabalham e perguntou se trabalhando pensam o que eles constataram. Segundo ele
a prática promove uma melhor aproximação à teoria.
Eleni conta que não faz muito tempo a educação física era
vista como trabalho de quem não pensa. Visão que tem origem na antiga Grécia.
Sahmaroni: reflete a relação de “mim comigo mesmo”
enquanto professor. Ter a percepção de mim como eu professor comigo professor
(professor-professor) para poder chegar a pensar a relação professor-aluno para
se perceber como quem joga “lados negros” nos alunos.
A partir da reação de um aluno, de seu jeito de agir com
ele, Eleni fez uma experiência pela qual tornou se consciente que estava
reproduzindo práticas autoritárias de um professor dela. Ela proibiu o aluno de
entrar em sala de aula de chinelas, no que o aluno perguntou se era ele que tinha
que aprender ou os pés.
Mazinho pela sua experiência chama a atenção para o fato
que existe a por parte dos próprios alunos uma reprodução de certas práticas
autoritárias que existem nas escolas. Eles não querem que os outros falam, não
admitem que vestem boné ou calcem chinelas, eles não aceitam uma pedagogia diferente
daquela que está posta, algo de novo, eles não querem trabalhar com o corpo.
Para Eleni o processo de auto-avaliação é importante, o
se colocar no lugar, no local, no espaço de sua ação.
(Provocando eu) Qual é minha leitura de educação? Para
mim educação é prática para a libertação e implica radicalidade. Se a pessoa
aprendeu a palavra e a dizer sua palavra a partir da leitura do mundo, da
concretude e isto já é ação, esta ação que já é uma mudança, não pode parar na
reflexão, mas deve se radicalizar tornando se ação política concreta, se tornar
corpo para transformação que perpassa os alicerces da escola. Que libertação é
essa se aprendo um olhar crítico, mas ao mesmo tempo, que não posso mexer com o
concreto porque existem forças maiores? Teríamos mudado sim em relação a uma
educação bancária, quanto ao podermos pensar, refletir, expressar a partir do
que somos, mas isso tudo dentro dos limites do espaço educacional formal.
Podemos discutir, criticar, pesquisar o lá fora, até avisá-lo, mas tocar nele?
Teríamos um avanço isolado, algo que não pode fugir ao controle, e por cima
algo com que o poder hegemônico pode-se condecorar, mostrando o quanto
“desenvolvidos” estão seus espaços educacionais.
João rebate que continuamos fragmentados separando teoria
e prática, colocando como problema a falta da prática. Segundo ele não se pode
negar o avanço porque é uma atitude de diferenças estimulando maiores mudanças.
Criticar não é procurar defeitos, mas pontos de conexão na diferença.
Para Eleni a história da vida dos outros perpassa a
experiência dos outros. Não é só a própria lógica que domina. Não se pode
prever que possam ser transformados, mas podem passar por um processo de
transformação.
Segundo Mazinho tudo permanece no discurso, discurso nem
seu, do outro. Tem se dificuldade em pegar coisas dos outros e falar sobre.
Vivenciar e discutir com o outro é mais fácil. Não se vive a teoria, mas se faz
o tempo todo o que se condena.
Eu questiono por que existe uma educação formal e
informal? Muitas vezes partimos do que está posto pensando que é o normal. Eu
gosto também de refletir a partir das origens. O que está posto hoje estava já
posto nas origens? Antes da educação formal existia educação. A partir de
certa, visão de certa cultura (uma de tantas) e por motivos que eu ignoro,
educação foi institucionalizada impondo-se este processo de cunho unilateral
até hoje e com o fim de dominar todos os tipos de educação que existiam e
continuam existindo em nossa realidade. Educação para mim é algo que transcende
o todo, por isso não entra na minha cabeça por que existe algo que é mais
educação, que tem mais valor porque é legítimo (legitimado por quem?), porque
recebe um título, porque dá emprego melhor etc. e algo que serve ao legítimo
como bônus, mas é menos educação, coisa não legitimada, sem assinatura,
carimbo, peso de documento comprovante.
A leitura de João é diferente, ele aponta para as
brincadeiras, para a desmitificação da leitura, para as percepções diferentes.
Segundo ele não pode se fazer crítica pela crítica, é preciso dizer o que se
pretende. Não se pode lançar só crítica, uma denúncia deve ser ligada a um
anúncio. A partir da prática deve se fazer a teoria, colocar a prática em
discussão. É preciso definir o que se entende por pratica e teoria. Deve-se
partir do concreto, estabelecer um diálogo a partir de pontos de conexão. O
primeiro passo é a aproximação. Deve-se desmitificar a separação corpo-mente,
não se pode negar as referências. Ao criticar problemas para superá-los não se
pode negar a possibilidade do diálogo, é preciso compreender o que está posto.
Não pode se impor sobre os outros, nem cair no relativismo, tem que contrapor à
sedução o esclarecimento, o compartilhar, o convencer. É preciso pensar o
diálogo como indispensável.
Eu penso que temos que pensar e criticar também o que
está posto pela mudança de paradigma, o que foi transformado, o diferente, para
que não se torne também imposição a interditar a continuação da caminhada, ou
seja, a tessitura da tela inconclusa.
Eleni continua sua apresentação falando sobre a obra de
João Figueiredo que se estende além de uma abordagem freireana rumo a uma
perspectiva eco-relacioanl, incluíndo no diálogo, do qual resulta sua obra
prima, autores como Maturana, Brandão, Reigotto, Guimarães e outros.
A perspectiva eco-relacional nasce da ligação com a
Educação Ambiental e expande além da Educação Ambiental para a educação em
geral integrando questões mais recentes como a colonialidade do poder, do saber, do ser e da mãe natureza. Na sua
dimensão pedagógica pensa a partir de neologismos
e metáforas.
João explica neologismo
como o sair da lógica dos conceitos científicos padrão fechados. Metáforas são algo vivo, um conjunto de
princípios, novas formas de aprender ideias antigas, trazem novos conceitos,
politizam e superam ideias anteriores. A metáfora é relacionada a imagens não
apenas uma coisa posta, algum título, ela mantém viva a possibilidade de uma
reelaboração.
- Sair da própria lógica e entrar na do outro.
- Saber parceiro. Compreender que aprendizado-ensino não é saber mais
nem menos.
- Autor aprendente. Saber parceiro nas múltiplas relações.
- Equidade. Para alguns é essencial compreender de que precisam se
afastar da percepção tradicional de que uns não precisam mais atenção de
que outros no sentido de “porque dar mais para alguém que não me dá
retorno?” e se esforçar para tomar conhecimento da diversidade. Não
segmentar em alunos melhores e piores e estranhar quando um dos “piores”
tira nota excelente. Deixar de promover os “bons” e de colocá-los como
exemplo para todos, como em outdoors na frente da escola para que também o
público se sente inferior diante de tamanha grandeza.
- Afetividade.
- Grupo Aprendente – Aprendente Grupo. Possibilidade de se
compreender como grupo, mas também como indivíduo.
- Contextualização. Trazer o real para o ensino-aprendizado.
João fala sobre transposição
informacional. Precisa-se de novos
modelos pedagógicos. Não adianta mais dar informação fechada porque com o
avanço da tecnologia o amanhã é diferente. É preciso de estímulo porque a
capacidade do estudante é criar conhecimento e compartilhá-lo. É necessário favorecer através do desafio e
do estimulo sua compreensão sobre coisas que sabe, mostrar que pode ampliá-las
e levar para outros lugares, por exemplo, a compreensão da arte para entender
física. A perspectiva transdisciplinar
reconhece a politicidade desta ação. As múltiplas disciplinas carregam
múltiplas linguagens, afastar-se da mera reprodução do cognitivo para
compartilhar conhecimento é indispensável.
Pedagogia
Eco-Relacional
É imperativo superar a compreensão do humano pensando na
sua completude (afeto, emoção, físico, sentimento, psique).
Completude inconclusa porque dinâmica, digo eu.
Pensar o processo de ensino-aprendizado na perspectiva
eco-relacional requer:
- Dialogo como fundamento da práxis efetiva libertadora.
- Reconhecimento do outro como legítimo outro. Se questionar sobre o
que a gente está fazendo. A gente esquece que está dentro das práticas
hegemônicas e que também impõe. Há momentos em que nos percebemos fazendo
como os outros.
- Reconhecer e conviver com as diferenças que implica em
supra-alteridade.
- Compartilhar saberes. Saber parceiro.
- Valorização da educação como processo mútuo e partilha.
- Viver para entender.
João comenta sobre a colonialidade
da religião. Segundo ele o Evangelho é repassado como normas a serem
aprendidas e não como vivência.
- Viver a ética nas ações.
Eleni reporta uma experiência que vivenciou com um aluno
depois que pediu à classe de desenhar o que relacionava a conhecimento em suas
vidas concretas. O aluno desenhou uma mulher e no seu peito escreveu “mãe”.
Isto segundo ela mostra que a primeira experiência de formação deste jovem veio
da mãe, todo conhecimento veio da mãe. Quando da revelação algumas pessoas
choraram de emoção. O aluno conseguiu chocá-las com algo que muitas vezes é
motivo de piadas. Isso mostra como a afetividade muda as pessoas, trazer
intimidade aproxima.
- A educação precisa ser parte da vida.
Encerra o relatório com princípios pedagógicos pelos
quais é preciso sair da lógica do consumismo para avançar para práticas mais
libertadoras. Uma das questões primeiras é que o processo tem que passar por
nós antes de passar por outros, pelo reconhecimento de eu comigo e do grupo
consigo.
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RELATÓRIOS
ANO 2010.2
TEMAS: Educações Ambientais – EAD –
Paulo Freire – Epistemologias do Sul – Saberes Ambientais – PER – Colonialidade
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Relatório do 10 de setembro de 2010
Local: sala de reuniões da linha
Movimentos Sociais, Educação Popular e Escola
Relatório: Ana Maria e Patrizia
Fiquei pensando numa forma diferente
do costumeiro relatório para registrar esse nosso encontro, pensei em escrever
num formato de diário de adolescente, pensei em fazer articulado com o que
Patrizia deverá também fazer, mas hoje decidi fazer muito próximo do que sempre
fiz, sem apelar para a criatividade. É que estou tão preocupada com tudo que
tenho que ler e pesquisar participativamente que fiquei sem inspiração para
fazer essa tarefa de outra forma. Estou cometendo o pecado de estar fazendo
esse relato pensando no que vou ler em seguida ou querendo terminar antes que a
Sofia acorde para outra mamada/brincadeira.
Bom, nesse encontro estivemos: eu
(Ana Maria), Joice, Amanda, Carol, João, Eleni, Mazinho, Reginauro, Lídia,
Patrizia, Manoel, Olímpia, Magda, Priscylla e Pedro. Nem todos chegamos a tempo
de compor a ciranda que foi impulsionada por Mazinho. Eu, por exemplo, cheguei
no final deste primeiro momento.
Já na sala, antes de iniciarmos de
forma mais sistemática os diálogos sobre Paulo Freire, Educação Ambiental
Dialógica e as Epistemologias do Sul, Joice lembrou o lançamento do cd BORA!
Inclusive, dei uma olhada e vi que o encarte está muito bonito, falta conferir
a música. Já encomendei um.
Bem, João inicia a discussão sobre a
temática proposta falando sobre a interculturalidade crítica, em diálogo com
Catherine Walsh. Mencionando inevitavelmente algo sobre a colonialidade. Então
Amanda, curiosa que só, pergunta: o que é colonialidade? Então João retomou
algumas apresentações sobre esse assunto, mostrando um rápido histórico da
discussão sobre colonialidade e explicitação do que entende-se por...
Aí Joice lembrou de música (não sei
o nome e nem a composição) que menciona criticamente a relação entre cultura
importada pelo Mc Donald’s e os valores e gostos locais, nisso o Reginauro
empolgado cantou um trecho da música. E agora lembro que agora no Mc Donald’s o
café é de graça. Estratégicos!
Então João lembrou das diferentes
dimensões da colonialidade: - do poder (raça = critério para a distribuição,
domínio e exploração); - do saber (centro de produção de conhecimento = homens
brancos); - do ser (subalternização dos sujeitos colonizados); - do viver
(termo proposto por Fleuri em consonância com o que Walsh havia denominado
inicialmente de colonialidade da mãe natureza. Nega-se a relação milenar entre
mundos bio-físicos, humanos e espirituais).
Contextualizando, João lembrou da
questão de Belo Monte (ah, assinem o manifesto online) e Magda, Sabiaguaba.
Casos em que estão em cena a relação entre ocupação de terras indígenas e o
senil discurso de defesa do progresso.
Na discussão sobre
interculturalidade crítica e a descolonialidade destacou que para isso se
“requer transgredir e desmontar a matriz colonial presente no capitalismo e
criar outras condições de poder, saber, ser, estar e viver, que apontem para a
possibilidade de conviver numa nova ordem e lógica que partam da
complementaridade e das parcialidades sociais”. Catherine Walsh
Ronauro questiona: como seria
possível isso tendo em conta a situação e os interesses econômicos-políticos
hegemônicos? João sugere que uma possibilidade é a instauração de pazilhas,
termo criado em contraposição ao conceito de guerrilhas. Acerca da mudança que
queremos, das prioridades, uma forma interessante de se pensar/agir é a noção
de motes. Conforme seu pensamento a questão não é o que é mais importante ou
mais impactante/revolucionário (o revolucionário eu que acrescentei), a questão
é o que posso/podemos fazer, os motes. Sabemos que as mudanças do meu dia a dia
não terão grande impacto, olhando numa perspectiva de abrangência coletiva/
macro, mas essas mudanças devem ser mote para perceber e discutir com os outros
as questões macro que estão além das minhas ações.
João sintetiza o projeto que devemos
assumir, o objetivo de nossas ações no seguinte: voltar a ser gente. A nossa
tentativa é em busca disso.
Patrizia, ainda na discussão sobre a
mudança que queremos, toma por referência o seu contexto europeu e diz que nós
brasileiros somos privilegiados, pois ainda podemos ter alternativas. Não tem
essa mesma opinião em relação à Europa e cita o caso dos ciganos, atualmente
perseguidos por decisões de políticos.
Ronauro menciona a questão sobre
quem vai querer sair da zona de conforto em nome da possibilidade de vida.
Mazinho retoma o exemplo citado por Magda de um grupo cultural que produz
artisticamente de modo alternativo, e afirma que tem sim aqueles que decidiram sair
da zona de conforto. Eu destaquei que via tudo isso num movimento dinâmico, e
não numa dualidade entre os que saíram e os que não saíram da zona de conforto.
Mesmo os que optaram por um modo de vida diferente do hegemônico na
contemporaneidade capitalista, em dados aspectos/momentos podem ainda estarem
agindo em conformidade com este. E vê como um processo complicado na atualidade
brasileira num momento em que muito se fala da “nova classe média” e diante do
nosso processo formativo, da visão de progresso que desde cedo nos é ensinada.
Somos alimentados com a lógica do consumo. Como reverter? É o desafio.
Patrizia incisivamente questiona:
quem controla tudo? E mesma responde: os bancos. Uma alternativa seria todos
retirarem seus dinheiros do banco. Mazinho e Ronauro retomam a questão sobre se
a escola é um espaço possível de gerar mudanças.
Seguindo a discussão sobre
interculturalidade João cita três universidades que têm por horizonte uma
proposta de educação intercultural: a de Chiapas, da Nicarágua e a de Amawtay
Wasi (casa da sabedoria). Mas nessas universidades qual é a lógica
predominante? De que povos? Como é elaborado seu projeto pedagógico. Registrei
pra não esquecer que o nosso continente é denominado por povos indígenas de
Abya Yala.
A partir dos estudos acerca da
colonialidade, João apresenta os componentes epistemológicos de uma perspectiva
guiada pela real sabedoria (kowsay = origem da vida): saber; amar; fazer; e
poder. É uma proposta de superação da monoepistemologia hegemônica na modernidade.
Em contraposição a esse modelo
podemos fortalecer as epistemologias populares que “carregam em si a potência
descolonizante e políticas que se afirmam públicas, porém, nem sempre são
populares ou decorrentes de suas demandas ou que atendam efetivamente estas
necessidades”. João Figueiredo.
Santos e Menezes (2010) falam de
alternativas epistemológicas na ambiência do sul global. Gente o sono tá me
pegando, mas eu to resistindo pra terminar esse relato e levar pra vocês
amanhã. Bom, lembrei que fiquei curiosa sobre a relação dessa noção de
alternativa epistemológica e a ciência enquanto tal. João enfatizou a
necessidade do cuidado epistêmico. A questão não é negar a ciência, mas sim
superação a lógica que põe sempre em suspeição o saber popular e sempre super
valida o saber científico.
Ainda falando sobre alternativas,
João destaca que o que se apresentou no estado avançado de modernidade foi na
verdade uma ausência de alternativas. A imposição de uma única forma de se
fazer algo, por exemplo, quando se fala em “fim da história”.
Finalizo com a ênfase de nossa
discussão nesse dia: precisamos aprender com o sul e nos descolonizarmos
cotidianamente, ampliando essa mudança em nós para motivar a mudança nos outros
do mundo.
Bem, nos momentos finais do nosso
encontro desconcentrei-me porque estava tensa pensando que Sofia poderia estar
chorando pelo seu alimento. Resisti, mas acabei saindo uns minutos mais cedo.
Quando cheguei em casa ela estava me esperando, com seu sorriso largo de amor.
Ana Maria
Comentário Patrizia:
Com toda essa
exigências de ter que ler dois livros por semana (Educação Brasileira/Teorias
da Educação) os meus relatórios quase se perderam nas brumas de Avalon (tem
nada a ver com cultura brasileira, né, mas com mitologia de povos invadidos
pela colonialidade romana), e só consegui arrancá-los delas simplesmente
pulando umas leituras (deixei de lê-las).
O que relatar mesmo?
Nossa árvore grávida que fez nascer uma linda flor (relembrando aqui o papel de
Ana-Maria como árvore numa das apresentações geadeanas sobre colonialidade e descolonialidade da mãe natureza no semestre passado) já resumiu
a essência do encontro e não quero ser repetitiva, mas como cada um@ de nós é
diferente, tem um jeitinho próprio de enxergar, entender, ver o mundo e tal
(como diria Magda) vou expor meu diferente.
O que é que de fato
me interessa nos encontros do GEAD? Por que estou nessa? O que faz com que eu
volte todas as semanas com gosto para essa comunidade de caracteres,
pensamentos, visões diferentes (apesar de carecer de pessoas indígenas e
afrodescendentes o que acho muito triste, mas isso é o inédito-viável, espero)?
Gosto de ouvir trabalhar as células cinzentas d@s companheir@s. E é aí que vejo
o sentido de meu relatório, captar o pensamento d@s pessoas aqui presente estimulado
por quem está à frente de visões, “métodos”, paradigmas alternativos. E nesse
contexto já de antemão vou colocar aqui uma critiquinha. Com algumas exceções
raras, nossos encontros (me perdoe João) reproduzem o mesmo estilo das disciplinas
comuns, apesar da liberdade da fala, das dinâmicas, copos re-usaveis, cd’s e
bonecas, partilha de lanches etc. Estamos emprensad@s entre mesas e cadeiras,
grudad@s no data-show, as “conversas lúdicas” “atrapalham” a programação que
exige prazo fixo e determinado. O GEAD tem que apresentar cientificidade e quem
é que define o que é ser cientifico? Quem inventou os padrões que temos que
seguir? Por acaso nós Brasileir@s ou a colonialidade ibero-luso-romana que
polui a nossa mente seja ela bárbara ou indigena-africana? Não dizes tu João
que “precisamos aprender com o sul e nos descolonizarmos cotidianamente,
ampliando essa mudança em nós para motivar a mudança nos outros do mundo”, como
Ana-Maria bem citou no final de seu relatório?
Sim, estou começando
pelo avesso, por assim dizer, como os Árabes que lêem seus livros de trás para
frente, ou será o trás a frente e quem afinal de contas decidiu o que é trás e
o que é frente, o que é cima e o que é baixo? O nosso planeta é uma esfera e se
eu virar as costas pro norte ele está atrás de mim e não em cima e o sul na
frente e não em baixo, eu não estou descendo, não estou caindo, mas seguindo
uma direção, uma outra direção, uma direção alternativa.
Pois bem, quais
foram os estímulos das respectivas contribuições d@s querid@s companheir@s em
relação ao tema?
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RELATÓRIO DO GEAD -
16/09/2010
CONTRIBUIÇÕES DE PEDRO HENRIQUE
ALTERNATIVAS EPISTEMOLÓGICAS NA AMBIÊNCIA DO SUL GLOBAL
CUIDADO
EPISTÊMICO
(FIGUEIREDO) – RECONHEÇO O
CUIDADO NECESSÁRIO ESPISTEMOLÓGICO AO APONTAR OS LIMITES INTERPRETATIVOS DAS
CATEGORIAS CIENTÍFICAS APLICADAS NA CONTEXTUALIDADE DO COTIDIANO DOS OPRIMIDOS E COLONIZADOS DO
BRASIL.
MAGNA – FINALIDADE ÚTIL DO
DIÁLOGO – FAZ PARTE DO PROCESSO ESTAR SEMPRE AMPLIANDO...
DISCUSSÕES PARTICIPATIVAS (MAGNA,
FERNANDA, FERNANDO, JOÃO FIGUEIREDO, ANA MARIA) – ECOLOGIA DOS SABERES –
RECONHECIMENTO DAS NECESSIDADES – APORTES DE FREIRE SÃO FUNDAMENTAIS...
FIGUEIREDO INTERMEIOU A DISCUSSÃO
SOBRE “DIVIDIR PARA DOMINAR”
DIMENSÕES:
SEPARAÇÕES OU PARTIÇÕES DO MUNDO
'REAL' QUE SE DÁ HISTORICAMENTE NA SOCIEDADE OCIDENTAL;
FORMA COMO SE ARTICULAM OS
SABERES MODERNOS COM A ORGANIZAÇÃO DO PODER, ESPECIALMENTE AS RELAÇÕES
COLONIAIS IMPERIAIS DE PODER CONSTITUÍDAS DO MUNDO MODERNO.
REGULAR OU EMANCIPAR?
SAMARONI, REGINALRO, FERNANDA E
MAGNA - TODOS CONTRIBUÍRAM COM SUAS
IDEIAS, TENDO COMO APOIO LANDER (2005) E SANTOS (2008).
PARADIGMA MODERNO COLONIALIZANTE
LIBERTAÇÃO – ISTO PODE SE
RELACIONAR COM A SUPERAÇÃO DA SUBALTERNIDADE.
FIGUEIREDO DIZ: SUBERAÇÃO DA
SUBALTERNIDADE
EPISTEME DE RELAÇÃO – FIGUEIREDO
TROUXE A CONTRIBUIÇÃO DE LANDER (2005) PARA PENSAR A ARTICULAÇÃO DESSES NOVOS
PARADIGMAS DESCOLONIALIZANTES.
MAS E O QUE É ALTERIDADE – OS
COLEGAS CONCORDAM QUE “ALTERIDADE É SE COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO” FIGUEIREDO
COMPLETA: O OUTRO DE SI E O SI DO OUTRO...
ABRAÇOS....
PEDRO HENRIQUE
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Relatório 17/09/2010
Geadianos presentes( JB, Manel,
Mazim, Livinha, Imelda, Ana da Sofia, Leão, Samurai EMO CORE,Camelo,
Simolina,Joana Dark, Neurilene,Fernanda e o cara que eu não sei o nome).
Acolhimento afetivo(so cheguei no
final...Abraço coletivo na Livinha)
Questões centrais da manhã:
Releitura das epistemologias do
sul/ da necessidade de ampliar a Educação Ambiental dialógica a partir da
interculturalidade crítica, da compreensão das esferas da colonialidade e da
emergente nessecidade de uma descolonialidade do saber, do poder, do ser, e da
natureza para o enfretamento da crise civilizatória;
apresentação de uma possiblidade
epistemólogica(epistemologias populares) que reconhece a multiplicidade de
olhares,a necessidade de diálogo e complementariedade entre entre os vários
unos e entre as várias epistemologias numa perspectiva eco relacional,
comprometida com os oprimidos, com a valorização dos afetos e com as
experiências dos individuos dispostos a vivencia-la e construila, no e para o
mundo em evolução.
(???)Questões que problematizaram
e contextualizaram a temática na compreensão dos geadianos:
As propostas são boas enquanto
propostas(sobre a Constituição intercultural do equador/Mazim);
Como uma proposta que
homogeneizadora dos sujeitos respeita a individualidade de cada um?(sobre- Universidade
Intercultural/Neurilene);
Como sistematizar a sabedoria
ancestral para transformar-la em uma "ciência" que contribua para os
processos descolonializantes?(sobre Universidade intercultural e epistemologia
do Sul/ JB);
Qual o lugar do saber popular nas
esferas da sociedade e principalmente nas intituições que historicamentes
elaboram conhecimento?????????
Como as instituições que elaboram
e regulam o conhecimento e as leis, consideram e ou se apropriam dos saberes
populares?(Simolina,Fernanda);
O direito, a ciência, a escola e
a mídia são tentáculos do estado, dispositivos de subalternização...(JB);
Saber ouvir... parte fundante do
diálogo!(Leão e Samurai EMO CORE);
Como e para que ouvir o
povo?(Leão e Samurai EMO CORE);
O que seria o QUE FAZER(categoria
Freiriana) amoroso?(sobre as teias de sentido e significado para o
enfrentamento da complexidade pós crise civilizatória/JB)
Proposta aberta:
Cinema falado(proposta engajada
do EMO CORE para FACED)...bora ajudar!!!!!!!!!!!!!!
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RELATÓRIO DO 08.10.2010
POR: MACLECIO
RELATÓRIO 03 de dezembro de 2010
O olhar das possibilidades no campo da arte educação, foi o passo
inicial e efetivo para a vivencia em grupo, no GEAD-UFC, na manhã do dia de 03 de
dezembro de 2010; onde a colonialidade e descolonialidade tornaram-se unas na
interação da práxis grupal pelos braços integrais de uma perspectiva
Eco-relacional, ao irmanar a associação: da música com a dança – pelo toque, o
ritmo, e a sensibilidade; com a estrada da criatividade pela técnica do
multi-alinhavo em - olhares, troca de palavras, fundamentações, vivenciais e
compartilhamentos; no campo do infinito mar da educação do aprender e
re-aprender.
O desenvolvimento do Tema proposto sobre: Colonilidade e
des-colonialidade, foi realizado na sala em frente a do GEAD; se deu de forma
cadenciada, inicialmente com a chegada dos membros do GEAD, seguido pela
construção da interação das atividades propostas. Onde tivemos como materiais
principais - som, CDs, pano, linhas coloridas, agulha, tesoura, lápis,... E
como material humano: uma perfeita sintonia e interação de tod@s.
A realização das atividades se desenvolveu em dois momentos: num
primeiro, a música com a dança se irmanou coma arte e o movimento de ritmos,
toques e sensações, com tod@s que participaram e se integraram amplamente em
tudo o que era proposto pela nossa maravilhosa condutora da atividade: Isabel
Cristina. O segundo momento interagiu: a atividade proposta da técnica do
alinhavo, o compartilhamento das merendas levadas por tod@s e a troca dos
olhares sob o tema proposto. Composição essa de perfeita interação e integração
dos saberes compartilhados ao integrar o simples como complexo, ao mundo das
eco-relações vivenciadas: “de dentro pra fora e de baixo para cima”
(FIGUEIREDO) e de modo transversal, dinâmico e repleto de possibilidades para a
construção do caminho infinito do saber; com o compartilhamento de cada ser.
O tema proposto irmanou a troca de olhares sob as possibilidades
da ampliação do: fazer, conhecer e sentir; com a ampla ferramenta que a arte
nos trás, em aspectos como – a liberdade, a criação; e acrescentaria também o
acolhimento.
Sendo a arte, esse alicerce integral da multi-cultura de olhares,
toques, possibilidades com o popular e a ludicidade, em percepções do
movimento, do corpo (nosso e do outro), em todas as infinitas dimensões que
compõe o ser; foi este reencontro um balsamo fundamental a ligação das
realidades dos tempos com o futuro e suas: ações, inter-relações em seus
infinitos saberes e aprendizados integrais.
GRATA PELO CARINHO E A ATENÇÃO DE SEMPRE !!!!
FOI ÓTIMO VOLTAR AO NINHO E PODER AJUDAR!! ;)
UM GRAAAAANDE ABRAÇO À TOD@S : FÉ, PAZ e SAÚDE!!!
De CORAÇÃO:
Viviane Coutinho
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RELATÓRIOS ANO
2009.1/2
TEMAS: Colonialidade - Interculturalidade –
Cartografia cultural – Tessitura Acadêmica – Modernidade e Hipermodernidade –
Pedagogia da Alternância e Educação do Campo
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GEAD – Relatório
Data: 28.05.2009
Local: FACED
Horário: 14:00 h
Relatora: Patrizia Imelda Frosch
Presente:
Adriana, Ana-Maria, Aristide, Daniela, Fernanda, Prof. João, Karla,
Lídia, Lucho, Manoel, Mazinho, Patrizia, Pedro, Silvia, Tereza, Viviane.
Contamos com uma visita especial neste dia: o Lucho que veio se juntar à
turma para partilhar conosco seu saber, suas emoções e sentimentos.
O Prof. João inicia a sessão com a dinâmica da massagem que nos deixa
alegres e cheios de energia.
Em seguida o Manoel nos relata no seu jeito humorístico agradável que é
sua marca específica, sobre o que aconteceu no encontro passado.
Mazinho avisa que vamos avaliar as cidades que construímos a partir de
sua apresentação sobre os Orixás no próximo encontro e relata para Lucho, que
não estava presente naquele dia, a partir de que e como construímos as cidades.
Ana Maria informa sobre a Semana do Meio Ambiente com o PRODEMA e a
Educação. Karla por sua vez avisa que enviou a programação da Semana do Meio
Ambiente via e-mail, além disso, repassa a informação que para o Encontro de
Pesquisa Norte-Nordeste em
João Pessoa , existem duas listas de inscrição, uma para a
passagem, outra para a hospedagem e explica que sai mais barato o grupo ir
juntos. Menciona ainda que existe por parte da coordenação a pretensão de
cobrar R$ 50,- na inscrição. Para esclarecer esta pretensa “imposição” João explica
que é para garantir a inscrição e evitar prejuízos, porque muitas vezes as
pessoas se inscrevem e depois não aparecem e que a taxa de inscrição será
devolvida aos participantes. Vivi diz que pode se conseguir até 70% da passagem
de ônibus, para tanto é preciso pedir auxílio na Graduação.
Ana Maria avisa que Magda vai chegar atrasada. Adriana assume o
relatório do próximo encontro. Fica decidido que no dia 5 de junho (sexta
feira) estaremos juntos o dia inteiro participando da Semana do Meio Ambiente,
apresentando filmes, trabalhos e outros.
Karla convida para o “Forro da Solidariedade” no CUCUCAIA onde os
artistas se apresentarão de graça para ajudar as vítimas das enchentes, a
entrada é de R$ 15,-.
Para iniciar sua apresentação sobre colonialidade
o prof. João mostra um videoclipe que se passa na Índia, onde pessoas de diferente
idade, gênero, classe e outras diversidades, comovidas com a ação de uma
criança preocupada em tirar sozinha uma árvore caída no meio de uma avenida no
centro de uma grande cidade, se juntam para ajudá-la. João comenta que o filme trata
da realidade de outra cultura e como lida com certa situação.
Segundo o professor a colonialidade é um processo civilizatório que está
sendo colocado. Ele se refere a uma pesquisa de Quijano, sociólogo peruano que
junto a Wallenstein discutiu o “mapa mundi” como foi colocado a partir das
invasões da Europa, que se entende como centro do mundo.
Na década de 80 um grupo de pesquisadores respaldados por Bruce Folger
promove o primeiro encontro sobre a “colonialidade do Saber”, depois se agregam
outros como Escobar e Dussel. Prossegue-se com o estudo da colonialidade e da
modernidade. Acontece um primeiro encontro no Brasil na Universidade Federal
Fluminense em torno de Carlos Walter Porto Monte Alves e Rejane Garcia. Esta
temática vem sendo pesquisada também pelo Grupo Mover criado por Fleuri da
UFSC, do Grupo DVC da Etiópia e por Barcelos e Celso cujos estudos são mais
ligados ao Brasil. O GEAD tem articulação com esses grupos.
Foi esse grupo de pesquisadores que iniciou a discussão contestando uma
lógica civilizatória para entender que lógica está por trás do cartesianismo.
O cenário da modernidade ganha visibilidade na modernidade mais madura
através da grande crise onde nega a si própria como moderna, entende-se como pós-moderna
e hiper-moderna.
O saber na modernidade é um saber de lugar nenhum porque parece não ter
lugar de origem, mas é preciso entender que colonialidade tem origem na
invisibilidade.
Trata-se de um modelo de ciência hegemônico que não deixa perceber a
gente o discurso alinhado com a modernidade.
Em relação à questão dos negros, Mazinho sugere um texto que fala sobre
o encontro da Europa com outros mundos.
Questiona-se como abordar a questão da modernidade, de qualquer maneira
não evangelizando o diabolizando. O ponto de partida é este lado da rua a ser
atravessada construindo pontes para alcançar o outro lado e não a imposição.
Estamos diante de um problema político-ideológico que se manifesta na
resistência que a colonialidade não consegue erradicar.
João cita um índio que ele encontrou no Sertão que se dirigiu a ele com
as seguintes palavras: “Professor, verdade é que serve para viver”. E Manoel nos
elucida com uma frase de Berthold Brecht: “A ciência não vale sem a vida”.
Continuando na sua apresentação João fala da existência de um legado
epistemológico que seria compreender o mundo a partir do próprio mundo em que
vivemos e das epistemes que lhe são próprias.
Anibal Quijano e Wallenstein se referem à modernidade como um sistema de
mundo moderno colonial complexo.
A partir da questão da imposição do nome a este continente invadido em
1492 pelos europeus, João explica a diferença entre colonizar e colonializar,
onde colonizar seria uma questão física. Ao colonizar eu tomo posse de
propriedade material que não me pertence, como de fato o continente recém
“descoberto”, enquanto colonializar é um projeto que envolve o imaginário.
Colonializar é a conquista total do outro, é um processo de ideologização que
ressalta a superioridade do possuidor diante do apropriado.
Manoel pede informação ao Lucho sobre a destruição das culturas Inka e
Maia.
Segundo Lucho os Inkas também expandiam seu território para outros
lugares e também conheciam a prática da violência, mas o poder tomava conta dos
lugares sem destruir a autonomia dos grupos. O Deus dos Inkas não engolia as
outras divindades e nunca houve uma anulação de uns pelos outros, ao contrário
dos espanhóis que destruíam e aniquilavam tudo. Acabar com a diferença é a base
estrutural do modelo capitalista.
Põe-se a pergunta de como se livrar da colonialidade. Segundo João
invertendo a ideologia captalística que funciona de cima para baixo de fora
para dentro, fazendo o contrário agir de baixo para cima e de dentro para fora.
Para Lucho temos um pensamento colonializado e trabalhamos com ele. A
modernidade não sabe dizer o que é ser humano dentro de uma cultura não
moderna. Segundo ele temos que refletir como recuperar tradições culturais para
trazê-las para dentro das disciplinas. “Pacha Mama”, por exemplo, é uma maneira
de ser humano, é espiritualidade. Estamos acostumados a pegar pensamentos de
fora para discutir nossa cultura.
João fala de alternativas epistemológicas nos últimos anos, que
promoveram um processo de mudança:
- Processo de
gênero;
- Processo dos
saberes indígenas;
- e ultimamente
no Brasil a partir do Grupo Mover a discussão em torno da complexidade.
Mazinho diz que é preciso também pensar uma alternativa metodológica,
que produz o saber a partir do que se tem chamando a atenção para a palavra “parangoé”
que significa uma roupa sem costura.
Nessa altura tive que sair um momento, ao voltar a discussão estava
voltada para a antiguidade, para a cultura grega o que me provocou para
contestar a antiguidade e falar da cultura romana como princípio do capitalismo,
que colonizou e colonializou todos os “povos primitivos”, marcados com o
carimbo de “bárbaros” dentro do imaginário dos tão civilizados Romanos.
Isso levou João a dizer que os Romanos mantinham o poder, mas
respeitavam os escravos e os outros povos, no que tive que contradizer porque
“elucidada” por documentários da televisão alemã, que está descobrindo que os
Romanos não eram o que nos ensinaram na escola, aqueles que fizeram de nós
gente, mas uma máquina bélica mortífera que esmagava quem não se dobrava às
suas leis impostas, que roubava a terra aos camponeses (os seus) e exigia
tributo de todas suas províncias somente para manter uma minoria de
latifundiários na sua “dolce vita”.
Silvia acrescentou que é preciso questionar de onde os Gregos e os
Romanos tiraram seu pensamento, porque existia intercâmbio com outras culturas.
Seguindo o pensamento João enfatizou que tudo se coloca como Europa, a
Grécia e outras nações, mas que não é, e que toda filosofia romana era grega.
Os Romanos mantinham professores da Grécia, que não era Europa e a Grécia
buscou seu saber na África. Segundo João a Europa não existe, a Europa se
apropria.
Lucho diz que temos que ter cuidado ao idealizar o passado, por exemplo,
o reino dos Inkas. Não se trata de um paraíso, que tem que ser retomado, mas de
trazer maneiras de ser pessoa para o presente para o ensino, contestando o
capitalismo.
João fala sobre missionários que
estão alfabetizando através da Bíblia os índios na Amazônia o que é pura indoctrinação
que tenta legitimar a colonialidade. Ao longo da história a colonialidade
promove processos de separações progressivas e vários reducionismos, por
exemplo, na caracterização dos nativos. Eles são identificados como “ateus”,
“não humanos” o que os distingue dos invasores. Mas as separações e os
reducionismos não terminam aqui eles se expandem progressivamente no tempo, o
público e o privado, a mente e o corpo, o mundo e a razão, a ciência e o senso
comum, a universidade e o resto, a modernidade e a barbárie, o culto e o
inculto.
Lucho comenta que houve também uma separação no sentido religioso que
divide espírito e corpo. A relação com Deus somente é possível através de
técnicos especialistas. Os nativos não tinham as barreiras da teologia moderna.
O cristianismo com sua estrutura de pastor, culto, igreja, sacramento rompeu
com o pensamento do Deus que está no cosmos. A esperança pós-moderna
Pentecostalismo, Nova Era etc. que pauta no sentir “sinto logo existo” numa
contradição ao cartesianismo “penso logo existo”, traz consigo o perigo da
ligação espiritual individual, da segregação.
Segundo João o fim do colonialismo não é o fim da colonialidade. Existe
o pós-colonialismo e o colonialismo interno. Quanto mais uma cultura se parece
com a cultura eurocéntrica, mais valorizada é. Historicamente o atual padrão de
poder mundial começa com o conceito de raça.
Silvia comenta que segundo uma pesquisa de censo, no futuro haverá mais
pessoas pardas do que brancas e pretas.
Lucho se lembra dos mestiços na Bolívia que levam o apelido de “chulos” e
que representam uma maioria naquele país, mas que sempre foram submetidos a uma
minoria de 10% de brancos dominantes. Após a eleição de Ivo Morales como
Presidente uma empregada se tornou primeira ministra da justiça e o Governo é
definido como intercultural e plurinacional. Ainda nos informa Lucho, que
Peruanos e Brasileiros nos Estado Unidos são chamados de “latinos” e isto
significa a pior raça que existe. Por outro lado os Brasileiros não se
identificam com a América Latina, mas se distanciam dos outros, ele fala em
“hegemonismo brasileiro” que pode resultar no isolamento.
O relatório encerra aqui porque tive que sair antecipada.
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Relatório da Reunião do GEAD 31/08/2009
Nossa reunião começou por volta das
08:30. Quando eu cheguei, alguns já estavam na sala, dentre os quais, João
Figueiredo, Adriana, Mazinho, Patrizia, Manoel Sampaio. Logo em seguida, chegou
Fernando, que entrou como sempre com um belo sorriso e acompanhado de seu amigo
Mardonio Silva (que nesta reunião não foi apresentado oficialmente ao grupo,
mas não ficará livre de uma apresentação nesta reunião de sexta-feira).
Ficamos, inicialmente a olhar algumas fotografias que estavam sendo
apresentadas pelo João Figueiredo e que retratavam sua participação no
Congresso ARIC, que ocorreu em julho em Santa Catarina.
Fomos apresentados, a partir das imagens e muitas
personalidades que estão discutindo atualmente as questões relativas à
intercultura, modernidade, colonialidade, dentre outros...
Após algum tempo de espera, e com a
chegada de Tereza, demos início a reunião, que contou no dia de hoje com a
participação de Karla, Magda, Ana Maria, que chegaram a seguir quando do início
da reunião.
E assim principio o meu breve
relato com a união dos pontos para articulação dos pensares, sabendo que nem
tudo o que parece ser, o é de fato, no cenário do real. A princípio, idéias
desarticuladas, fora do lugar, começam a ganhar corpo e se transformam em
curiosos temas que irão instigar muitas outras discussões. Quem sabe poderão se
tornar novas teorias!?? Foi assim que percebi nosso primeiro momento da reunião
que teve como tema “A Educação
Intercultura Crítica”.
Para início de conversa, tivemos a
contribuição de João Figueiredo que abordou em sua fala: a Colonialidade e Interculturalidade;
as experiências interculturais no semi-árido brasileiro e a Educação
Intercultural Crítica. Sua fala serviu de referência para muitas outras
intervenções e participações que foram sendo estabelecidas ao longo da reunião.
Sempre de forma atenta, mas ao mesmo tempo, descontraída, todos foram se
integrando ao debate e, assim, muitas questões extrapolaram o próprio tema.
Percebi, mesmo estando ausente de algumas reuniões, que o grupo (nós), vêm
avançando em suas elaborações e articulações de idéias. Foi legal, parar para
ficar ouvindo as muitas falas que traziam informações e exemplos do cotidiano,
das relações sociais para além do grupo, que demonstravam uma maturação e uma
internalização (ou seria, já naturalização?) da temática em questão... a
colonialidade em interfase com a interculturalidade...
Retomo aqui, de forma breve, as
principais temáticas que foram debatidas:
- A Interculturalidade – que foi apresentada
como uma discussão que começa a partir de uma definição formulada pelos
Europeus – da invasão dos outros povos – processo de imigração – todos os povos
se voltam para a Europa e Estados Unidos – E assim uma nova lógica passa a
predominar – a lógica de que o bom é o moderno – o bom é o que está nos Estados
Unidos e Europa – vendem a idéia que o que é bom está na Europa...
- Assim, todos os outros países querem
incorporar estes modelos – modelos dos países em desenvolvimento – E Isto se
torna impossível para nosso planeta – pois não temos a capacidade de suportar –
Há a própria incapacidade do planeta – temos que discutir as causas...
- Os europeus começam a pensar em estratégia e
políticas para se consolidarem como potências... e isto de seu a partir do
Sistema-mundo artificial – a própria Europa não se caracterizava como Europa.
- Quando Portugal e Espanha se fortalecem
começam a ter recursos próprios para financiar as grandes navegações – foi
possível com isto a invasão das Américas – com a capacidade financeira de
integração de alguns povoados (foi possível com este movimento a invasão das
Américas – viabilidade financeira de alguns povoados – recursos das invasões e
estes países começam a se juntar e a se integrar)
- A Europa é Europa em contraposição às
Américas – segundo os estudiosos latino-americanos;
- No momento em que se tem a descoberta da
América é que se consolida o que se chama de Europa;
- A Europa é o contrário das Américas - O que
são as Américas? Mundo selvagem. E a Europa é que é o mundo civilizado; o que
são as Américas?: é mundo de gente que nem gente é – pessoas não civilizadas –
gente é o louro, o ariano, - O que são as Américas – quem são aqueles?: – povo
sem cultural;
- Toda a constituição da Europa se dá a partir
da Américas;
- A Europa como centro se constitui a partir
das periferias;
- Após a descoberta das Américas é que a África
vem garantir o processo – Africanos são burros de carga para este processo.
- A Europa foi viabilizada pelas riquezas das
Américas e pela mão-de-obra africana, posteriormente alastrando o seu campo e
os seus limites
- Quando os Europeus chegam às Américas é um
povo que não tem nada...
(é preciso aprofundar o estudo)
- Houve uma lógica que foi universalizada;
- A discussão sobre raça – cultura –
supervalorização de outras raças e culturas em detrimento da sua.
- As relações entre Raça e colonialidade:
Aprofundar esta discussão de que talvez estas idéias que nos são apresentadas
hoje sobre a colonialidade venha a ser resgatada desde o povo romano;
- Aprofundar estas reflexões acerca de pensar
que esse movimento (colonializante) de colonialidade já se estabelece desde a
Roma antiga;
- Com a invasão das Américas se instala, então,
o conceito de raça como hierarquia que passa a ser estabelecido;
- Em que medida esta racialidade realmente faz diferença no processo de
colonialidade?
- Em que medida esta mudança de critério, que define a raça como
critério isto se torna mais impactante...???
- Há diferentes identidades neste movimento de
colonialidade;
- Num processo de invasão, ao se instalar,
destrói-se o que é preciso destruir e aproveita-se o que é possível aproveitar;
- Não há nenhum reconhecimento que se
estabeleça um processo de que há algo que se possa aproveitar no processo de
colonialidade do mundo Europeu pelos demais;
- Com as invasões das grandes navegações
tínhamos um processo de universalizar – Há uma cultura, que é a cultura
Européia e esta é a única que tem valor, nenhuma outra cultura tem valor;
- Em que medida a dimensão religiosa ela é
relevante neste processo de colonialidade, porque que ela é extremamente relevante;
- Outra questão que vai entrar neste processo
de discussão é a intervenção do Estado;
- Temos então, três grandes questões que podem
ser pensadas como articuladas nestes processo de colonialidade – raça – religião – estado, sendo perpassada
também pela questão de gênero;
- É a questão da raça que vai dar consistência
a este processo;
- É a junção de todos estes fatores, como raça,
gênero, religião que vai dar consistência a este projeto de colonialidade;
Após
este debate inicial sobre a colonialidade para pensar a Interuclturalidade
tem-se a retomada do tema Intercultura – e inicia-se um pausa na discussão
acerca da colonialidade;
Mas fica ainda como sugestão que
pensemos na ampliação da leitura (para aprofundar este tema) para que possamos
discuti-la num outro momento. E também, que possamos aprofundar esta tríade:
RAÇA – RELIGIOSIDADE – GÊNERO – perpassado pelo Estado
João
Figueiredo, ao ser indagado sobre os fatores que o levaram a optar pela
apresentação inicial com foco na colonialidade assim nos informa: “Eu havia
iniciado esta discussão apresentando a colonialidade para mostrar que há essa
relação entre colonialidade e Intercultura”. Para discutir a Intercultura a partir das referências da Colonialidade
- A intercultura começa a ser discutida na
Europa, no próprio berço da Colonialidade, mas ela começa a ser discutida tendo
o seguinte propósito: como é que eu posso manter esta sociedade que agora é
misturada, com um grande número de imigrantes para que estes continuem a ser
comportados? Porque estes estavam instalados...
- A intercultura com o objetivo de amoldar o
que vem de fora ao que está aqui... Como processo de adaptação do imigrante
para continuar servindo, mantendo-se como inferior.
- A relação da Intercultura com a perda da
identidade anterior para aquisição de uma nova identidade.
- Assim é possível a inclusão do conceito de
Crítica para a Educação intercultural, mas numa concepção crítica que vai
problematizar as questões da colonialidade;
- Para a abordagem do Tema Educação
Intercultural, forma retomados alguns conceitos do tema da reunião anterior e
pensar esta temática articulada a discussão sobre o semi-árido; Promovendo uma
articulação com temas que são discutidos em nosso grupo;
Desse
modo, a opção que João Figueiredo fez foi retomar experiências interculturais
no semi-árido brasileiro, tema apresentado no encontro anterior e mostrar um
pouco como é que esta discussão sobre Intercultura chegou ao GEAD, a partir dos
próprios estudos que já eram realizados pelo Grupo.
- Desse modo, a apresentação se desenvolveu a
partir da apresentação de slides que iniciavam com a apresentação de várias
imagens de Irauçuba.
- As Primeiras pesquisas em Irauçuba, foram
consideradas como marco para nossas discussões;
- A fala seguiu a apresentação de slides que
trataram dos seguintes temas, descritos abaixo:
1. Apresentação do Município de Irauçuba, sua
localização, suas características regionais;
Com a apresentação do tema
especificado acima, tivemos o encerramento de nosso primeiro momento. Fez-se,
então, nesta etapa, um breve intervalo...
Logo
após a volta de todos à sala, o tema foi retomado e trabalhamos seguintes
sub-temas:
- O mundo vivido e o mundo pensado
- Apresentação de alguns gráficos acerca da
Interculturalidade
- A Educação Intercultural – “A preocupação
fundamental da EI passa a ser a elaboração de modelos culturais que interagem
na formação dos educandos. Tal deslocamento de perspectiva legitima as culturas
em cheque a coesão da cultura hegemônica. E este fato traz conseqüências, para
elaboração dos métodos e das técnicas de ação pedagógica e compartilhamento de
informações.
Ao término da apresentação acerca da Educação
Intercultural, foi realizada a leitura do texto “Que bom que as índias não
foram para a escola. Seguiu-se, então, a apresentação de outros slides que
tratavam da Interculturalidade Crítica, com a discussão dos tópicos abaixo:
-
Processo ético, política epistêmico; - requer a construção de condições
distintas de ser, estar, pensar, conhecer, viver...
Estes
foram os principais temas que foram discutidos nesta manhã de segunda-feira...
Antes
ainda de finalizar a reunião, tivemos a sugestão (proposta por Patrizia), de
que o relatório fosse escrito por mais de duas pessoas. A proposta ficou para
ser analisada e debatida na próxima reunião, do dia 05 de setembro de 2009.
Manhã
de intenso e fervoroso debate, com uma participação pouco vista em outros
encontros de outros grupos os quais fazemos parte... Percebemos uma integração
leve e natural... Tão natural entre todos e todas que deixamos de lado até
mesmo algumas formalidades, como apresentação de alguém novato que entra
(Mardônio Silva)... Para o grupo não é apenas mais um integrante, mas é alguém
que é mais um a somar nas ações que desenvolvemos. Sinta-se, desde já um novo
geadiano...
E para iniciar o fechamento deste não mais
breve relato, apresento aqui uma canção que penso retratar um pouco minhas
percepções deste mais um dia de nosso encontro... de novas descobertas e
aprendizagens que se fizeram assim como não tendo coisa com coisa... Mas foi
algo tipo assim...
E ai vai a canção que penso fala um pouco de
nós...
Todos Juntos
Uma
gata, o que é que tem?
- As unhas
E a galinha, o que é que tem?
- O bico
Dito assim, parece até ridículo
Um bicinho se assanhar
E o jumento, o que é que tem?
- As patas
E o cachorro, o que é que tem?
- Os dentes
Ponha tudo junto e de repente
Vamos ver no que é que dá
- As unhas
E a galinha, o que é que tem?
- O bico
Dito assim, parece até ridículo
Um bicinho se assanhar
E o jumento, o que é que tem?
- As patas
E o cachorro, o que é que tem?
- Os dentes
Ponha tudo junto e de repente
Vamos ver no que é que dá
Junte um
bico com dez unhas
Quatro patas, trinta dentes
E o valente dos valentes
Ainda vai te respeitar
Quatro patas, trinta dentes
E o valente dos valentes
Ainda vai te respeitar
Todos
juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
Uma
gata, o que é que é?
- Esperta
E o jumento, o que é que é?
- Paciente
Não é grande coisa realmente
Prum bichinho se assanhar
E o cachorro, o que é que é?
- Leal
E a galinha, o que é que é?
- Teimosa
Não parece mesmo grande coisa
Vamos ver no que é que dá
- Esperta
E o jumento, o que é que é?
- Paciente
Não é grande coisa realmente
Prum bichinho se assanhar
E o cachorro, o que é que é?
- Leal
E a galinha, o que é que é?
- Teimosa
Não parece mesmo grande coisa
Vamos ver no que é que dá
Esperteza,
Paciência
Lealdade, Teimosia
E mais dia menos dia
A lei da selva vai mudar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
Lealdade, Teimosia
E mais dia menos dia
A lei da selva vai mudar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
E no
entanto dizem que são tantos
Saltimbancos como nós
Saltimbancos como nós
Organização: Eleni Henrique
____________________________________________________________________________
RELATÓRIO DA
REUNIÃO DO GEAD DO DIA 04/09/2009
A reunião semanal do GEAD do dia 04
de setembro teve início às 14:05, contando com as presenças dos companheiros
geadianos Patriza, Eleni, João Figueiredo, Viviane Alves, Adriana, Pedro
Camelo, Mazinho, Mardônio, Danielle Batista, Karla, Tereza e o presente
relator. No segundo momento da reunião tivemos a chegada da Viviane, a mais
nova componente do grupo.
Antes de iniciarmos a reunião
propriamente dita foram colocados alguns pontos iniciais que ficaram para
análise e aprovação no final da reunião. O professor João comunicou que não
poderá encontrar-se conosco no dia 18 do corrente mês, solicitando a
transferência da reunião para 21 de 09/09. Os nossos amigos Pedro Camelo e
Adriana Farias comunicaram que não poderiam realizar a reunião no dia 11 do
corrente, solicitando que suas apresentações ficassem para o dia 14 de setembro
de 2009. A
nossa confreira Patriza deu a sugestão que o relatório das reuniões fosse
construído coletivamente. O nosso colaborador Eleomar deu a sugestão que as reuniões tivessem uma
dinâmica de integração.
Vale ressaltar que em virtude das
propostas e solicitações do parágrafo anterior nossas datas de concretização
das nossas reuniões foram alteradas para as datas subseqüentes: 14/09 (
Segunda-feira)- 18/09 (Sexta-feira)- 21/09 (segunda-feira) e 25/09 (sexta-feira).
Algumas pessoas deram sugestão do
lanche, que ficou aprovado que será variável e que na primeira será fruta.
Outrossim, informo que o rol dessas idéias
foram aprovadas no seu todo ao final da reunião.
Professor João Figueiredo comunicou
ao grupo que o nosso confrade Fernando Leão havia comunicado que por força de
medidas superiores não poderia comparecer ao encontro da presente data.
Ainda no momento dos informes a
nossa confreira Danielle Batista comunicou que iria enviar para a lista do GEAD
informes sobre o evento ENGEMA que será realizado pela UNIFOR como realmente
fez.
Antes que o professor João fizesse
uso de sua fala sobre a temática, tivemos a apresentação de todos os membros do
grupo para o nosso mais novo geadiano, o professor Mardônio que em seguida fez
jus a sua respectiva apresentação ao grupão.
Foram nomeados como relatores da
próxima reunião os geadianos Danielle Batista e Eleomar Rodrigues.
Antes de fazer sua exposição sobre
“A TESSITURA ACADÊMICA: a elaboração do
trabalho acadêmico”, o professor João Figueiredo fez uma retrospectiva da
trajetória da ciência ocidental, iniciando com a sua concepção de Epistemologia e de Teoria.
Apresentou de forma brilhante o
pensamento grego do fazer ciência nos pensamentos de Sócrates, Platão e
Aristóteles.
Dando um salto na história
apresentou-nos os pais da Ciência Moderna: Galileu, Francis Bacon e DESCARTES,
destacando a personagem de Immanuel Kant com a sua obra prima “Crítica da Razão
Pura” como um figura de grande influência no iluminismo.
Em seguida, o nosso professor fez
alusão aos pesquisadores que contribuíram de forma direta para o
desenvolvimento da Ciência Contemporânea, principalmente com as contribuições
da Física Quântica e da Ecologia, dentre esses: David Bohm, Heisenberg,Geoffrey Chew com sua Teoria do
Bootstrap, ressaltando a teoria da Teia da Vida, teia de relação,
interdependente, ressonância, sem emissão e recepção.
Na tentativa de superação da
vontade de verdade e baseada na relatividade da verdade, procurando fazer a
ciência avançar tendo por base a contextualização e interpretação.
Nesse momento a reunião pegou fogo,
pois, enquanto nosso professor João que apresentava a sua fala, juntamente com
o nosso confrade Mazinho defendiam a produção de um saber científico de forma
coletiva, a nossa amiga Eleni defendia a impossibilidade do fazer pesquisa de
forma coletiva face as exigências de cunho acadêmico.
O nosso confrade Pedro Camelo
questionou sobre como fazer ciência para não repetir o que outros já tenham
afirmado, pesquisado.
O relator deste, perquiriu ao
expositor se a afirmação terceira era
fruto da influência Hermenêutica ou se da Reviravolta Lingüística.
Ambos questionamentos foram
respondidos prontamente pelo professor João.
Logo depois desse anteloquio, o
professor João iniciou a sua apresentação sobre o como construir um projeto de
Pesquisa, valendo ressaltar no presente relatório os seguintes pontos:
apresentação – aquilo que se pretende saber, investigar.
Justificativa – o que? Para quê?
Como? Relevância?
Objetivos – O que a pesquisa
pretende investigar?
O problema da Pesquisa- Qual a
minha pergunta de partida?
Foco da Pesquisa – Como responderei
teoricamente
Revisão de Literatura – O que já se
encontrou sobre esta questão. O Estado da arte.
Referências Teóricas – autores com
os quais se vai dialogar
Antecipações metodológicas
Orçamento (quando apresentado a uma
instituição de fomento de pesquisa) Quanto vai custar?
Cronograma – Qual o tempo que vou
dispor e as atividades da pesquisa
Etapa exploratória.
O estudo da tarde foi encerrado
quando o professor João Figueiredo apresentou as definições dos marcos da
pesquisa, colocando suas etapas: exploratória, execução e revisão.
A nossa geadiana Karla Martins
convidou-nos a todas e todos para um
show de músicas e poesias no próximo dia 15/09/2009, intitulado “ Em casa de
Vinicius,” das 18 às 19:30 horas, no
Espaço Cultural do Banco do Norte.
Finalizamos mais este encontro com
a votação e discussão dos tópicos que foram apresentado logo no início da
reunião.
Eu, Manoel Sampaio, que estive
presente a reunião de estudo e convivência, apresento e
relato ora este relatório que assino
como testemunho de minha fé.
Fortaleza,
04 de Setembro de 2009
Manoel
Sampaio da Silva
RELATOR
____________________________________________________________________
GEAD - Síntese da Reunião –
14/09/2009
Por: Fernando Leão
A
reunião tratava-se da primeira discussão sobre a Cartografia da Cultura e iniciou-se com uma atividade proposta pela
Adriana. Após dispor sobre a mesa uma série de conceitos sobre cultura,
ilustrações e objetos de artesanato, pediu que o grupo escolhesse livremente o
material que lhe interessasse e pudesse fazer uma relação com seu conhecimento
prévio a respeito de cultura.
A
Adriana iniciou o debate citando uma frase do Geertz que continha a afirmação
de que a cultura em que estamos inseridos nos leva a viver uma única vida. O
João problematizou a citação e discordou de que a cultura seja algo que limita
o ser. Eu (Fernando) li a frase que tinha escolhido e que dizia que a cultura
“domestica” o olhar e o modo de estar no mundo, reafirmando, de certa forma, a
frase do Geertz, e acrescentei com outra frase de Ortega y Gasset: “Eu sou eu e
minhas circunstâncias”. Patrizia levantou a questão de que a expressão cultura
tem uma relação com ‘cultivar’ e que o termo traz uma conotação negativa, pois
‘cultivar a terra’ quer dizer maltratar a terra, estuprar a terra e que prefere
usar um outro termo para designar o modo de estar no mundo. Mayara
problematizou a questão de ‘resgatar a cultura’, e questionou: isso é possível?
Adriana citou frase que diz que ‘a cultura se inicia com a proibição do
incesto’. Vando, estudante da Bahia, convidado da Ana Maria, entrou no debate e
citou um trecho de um livro que estava lendo: “o homem transpôs barreiras (...)
e transformou toda a terra em seu habitat”. Ana Maria trouxe Freire para o
debate e citou a questão da possibilidade ontológica do ‘Ser Mais’. Daniele
falou a respeito da pesquisa dela e problematizou a questão do modo de ser dos
profissionais de administração em relação às questões da educação ambiental.
Viviane e Pedro trouxeram experiências particulares, ela diante da beleza de
Ouro Preto-MG, ele diante dos hábitos de educação na Itália. E, assim, o grupo
discutiu por aproximadamente 2 horas.
Após
um breve intervalo, lemos trechos do texto “Versões de Cultura” de Terry
Eagleton. Vejamos algumas passagens interessantes e que
gerou alguma discussão:
v “Embora esteja atualmente em moda considerar a
natureza como um derivado da cultura, o conceito de cultura, etimologicamente
falando, é um conceito derivado da natureza” (p. 09).
v “A palavra [cultura], assim, mapeia em seu desdobramento
semântico a mudança histórica da própria humanidade da existência rural para a
urbana, da criação de porcos a Picasso, do lavrar o solo à divisão do átomo”. (p. 10)
v “Neste único termo, entram indistintamente em
foco questões de liberdade e determinismo, o fazer e o sofrer, mudança e
identidade, o dado e o criado”. (p. 11)
v “Ao passo que a ‘civilização francesa’
incluía tipicamente a vida política, econômica e técnica, a ‘cultura’
germânica tinha uma referência mais estreitamente religiosa, artística e
intelectual”. (p. 20)
v “A cultura vai de mãos dadas com o intercurso
social, já que é esse intercurso que desfaz a rusticidade rural e traz os
indivíduos para relacionamentos complexos, polindo assim suas arestas rudes”. (p. 21)
v “Enquanto ‘civilização’ é um termo de caráter
sociável, uma questão de espírito cordial e maneiras agradáveis, cultura é algo
inteiramente mais solene, espiritual, crítico e de altos princípios, em vez do
estar alegremente à vontade com o mundo. Se a primeira é prototipicamente francesa,
a segunda é estereotipadamente germânica”. (p. 22)
v “Embora as palavras ‘civilização’ e ‘cultura’
continuem sendo usadas de modo intercambiável, em especial por antropólogos,
cultura é agora também quase o oposto de civilidade”. (p.
25)
v “Edward Said sugere: ‘todas as culturas estão
envolvidas umas com as outras/ nenhuma é isolada e pura, todas são híbridas,
heterogêneas, extraordinariamente diferenciadas e não monolíticas’. É preciso
lembrar, também, que nenhuma cultura humana é mais heterogênea do que o
capitalismo”. (p. 28-29)
Antes de a reunião ser encerrada,
por volta das 12h00min., o grupo voltou a discutir a questão do horário e do
dia em que acontecerão as reuniões. Decidiu-se que será feita uma nova enquete,
por e-mail, para a definição das datas das reuniões. Por enquanto, segue-se o
calendário estabelecido na reunião de planejamento.
_________________________________________________________________________________________
Relatório Reunião GEAD 14/09/2009
Presente: João, Danielle, Ana Maria, Viviane,
Patrizia, Adriana, Manoel, Fernando, Mayara, Vando (visitante – Universidade
Federal da Bahia) e Pedro.
Cheguei a reunião as 9:00 e o debate já estava em andamento. O tema do
dia era “Cartografia Cultural”.
A questão inicial abordava as possibilidades de modos de
vida, levando em consideração a cultura. João ressalta nesse momento a visão de
Gertz a respeito de se viver uma
“única vida”. Reforça de acordo com a visão de Maturana a questão das “derivas” que podem ser entendidas como
“novas possibilidades”.
Foi apresentada uma frase de Gertz que dizia: “(...) Um dos mais significativos fatos
sobre nós é que nascemos com equipamento para vivermos mil vidas, mas
terminamos no fim, vivendo uma só”.
Nesse contexto foi colocado que a cultura é dinâmica. Que
comunidades podem receber elementos de outras culturas e dialogar com eles,
sem, no entanto, perder sua identidade. João ressalta que a nossa capacidade de
superação pode ser mantida. A cultura estabelece limites, mas existem formas de
superá-los.
Manoel pede a palavra e apresenta um exemplo que poderia ser contextualizado no debate.
Um caso apresentando em um documentário que retratava uma experiência no Canadá
a respeito da postura de pescadores (salmão em cativeiro) que acabaram cedendo
a incorporação de elementos em sua atividade, que seriam potencialmente
negativos, mas que foram incorporados a partir do aspecto financeiro. Acredito
que isso retrata um pouco da influencia do capital no modo de vida das pessoas,
considerando que até valores, antes considerados primordiais, acabam sendo
corrompidos em algum momento.
Patrizia entra na discussão e fala um pouco sobre o
que realmente significa atraso. (Maiara
interfere ressaltando a interferência de agentes externos, com motivações
próprias e interesses específicos que acabam comprometendo as características
de comunidades e ecossistemas. Segundo ela, são criadas novas tecnologias que,
na verdade, criam mais problemas do que propriamente soluções). Patrizia retoma
falando sobre a sua percepção sobre cultura. Coloca que o termo em si expressa
a idéia de um grupo ou lugar onde há cultivo e apropriação da terra. A cultura
é composta por um grupo de pessoas que se sente parte da terra (mentalidade
colonizador – pensamento Teocêntrico ocidental). Mas para o índio a “terra é a
mãe”. Ela fala que prefere usar a expressão MUNDO ao invés de CULTURA. Na
percepção dela a palavra cultura se refere à PRODUÇÃO, enquanto MUNDO
representa uma visão mais ampla e complexa.
A cerca dessa visão da Patrizia surgem algumas
discordâncias. Fernando comenta que entende o CULTIVO como algo que também
poder ser amplo. Adriana diz que entende a palavra CULTIVAR como “cuidar”.
Mayara fala um pouco sobre a questão do resgate cultural. Diz que a incomoda a
utilização desse termo, porque traz a impressão de que a cultura é algo
estanque. Vando contesta a visão da Mayara colocando que na sua percepção, o
resgate pode ser considerado como uma busca pelas raízes. Coloca ainda que na
verdade a palavra CULTURA pode ter muitos significados e aplicações diferentes.
Fala do aculturamento decorrente da chegada dos povos europeus com a imposição
de seus costumes, valores e crenças. Nesse contexto, João ressalta que é
importante considerar as referencias utilizadas, já que CULTURA é um termo polissêmico. Exemplifica com uma
situação em que a identidade liguistica de uma comunidade indígena foi
aculturada. Fala que tem uma extrema resistência em relação a interpretação de conceitos, já que esses
podem ser pensados de várias formas. Na lógica eurocentrica de cultura, o termo
significa domínio da terra e imposição de valores. Já na cultura indígena isso
é algo diferente, que pode inclusive ser visto como cuidado. Ressalta que é
importante utilizar conceitos explicitando o que está sendo abordado a partir
disso.
Viviane lê a sua frase:“ A cultura é um processo
acumulativo resultante de experiências históricas anteriores”. A cultura
pressupõe vivências. A história está intrinsecamente relacionada. Vários pontos
devem ser focados. O Brasil, por exemplo, tem muitas línguas... Deveria haver
uma troca de valores, vivências, não de maneira excludente, mas includente...
com somatório que origina novas possibilidades... No entanto devemos procurar
valorizar o que é local, nosso... Manoel fala sobre algumas tribos indígenas
que não usam o sistema de contagem decimal, enquanto outras falam Frances,
inglês, espanhol... Destaca ainda o aspecto da sensibilidade a partir do
conceito antropológico (La
Platine ,Freud, Lahire) . Acredita que o grande marco do homem
foi a partir da linguagem... Ana Maria fala que os primeiros antropólogos eram
positivistas.
João discorda um pouco do que está sendo discutido e
passa para a apresentação de sua frase: “ Os indivíduos participam
diferentemente de sua cultura (Gertz). Diz que estabelecer como principio da
cultura uma norma não é adequado. Segundo ele, Freire e Brandão ajudam a pensar
a cultura na lógica da superação da subalternidade. A cultura existe desde que
o homem existe. A natureza é “transformada” num sentido interpretativo. É um
conceito muito amplo. Freire mostrava isso a partir de um quadro simples. Nós
individualmente alimentamos o processo cultural; não no viés economicista, mas
numa perspectiva transformadora socialmente falando. Exemplifica a partir do
peão (instrumento disponibilizado pela equipe) que é uma forma de diversão
produzida pelos autóctones, as pinturas rupestres (Piauí) retratam o cotidiano
de pessoas...
Patrizia reforça sua percepção de CULTURA como uma
palavra que fragmenta. Vando diz que a cultura é um conjunto de interpretações
que as pessoas compartilham e que ao mesmo tempo fornece meios e condições para
vivencias de conceitos e poder (Roberto Macedo). Fala ainda que cada um carrega
consigo os elementos da sua terra. Por exemplo, você só percebe que é baiano
quando está fora da Bahia.
Pedro apresenta sua gravura ( QUE RETRATA A QUESTÃO DO
LIXO) e compartilha a experiência do período em que morou fora do Brasil e de
como alguns costumes acabaram sendo por ele incorporados, mesmo quando
retornou. Ele identificou em seu comportamento anterior padrões negativos e
decidiu romper com eles. Danielle fala sobre a questão da necessidade de
superação de paradigmas. Sua frase dizia: “O processo de aprendizagem
influencia o comportamento humano e sua capacidade artística e cultural”. Ela
fez referencia ao comentário do Pedro colocando que de fato, paradigmas
precisam ser quebrados e que isso é possível, mas que precisamos ter acesso e
vislumbrar novas possibilidades, acreditar no inacreditável, se propor a fazer
o “infazível”... romper com padrões negativos.
Ana Maria complementa com a possibilidade do “ser mais” proposta por
Freire, onde se deve identificar limites e se permitir crescer nas interações...
constatando a ainda dominação do discurso econômico.
Frase Ana: A tecnologia ou sustentação e os elementos
da organização social diretamente ligada a produção, constituem o domínio mais
adaptativo da cultura”. ECONOMIA = MEIO DE SOBREVIVÊNCIA = APRISIONA – GERA
ADAPTAÇÃO.
Maiara destaca que as formas de entender a cultura são
também um espaço de disputa. É preciso reconhecer o que uma tradição cultural
tem ao invés de partir para o aculturamento. Vando comenta nesse contexto, o
que acontece na Bahia e também e outros Estados. A cultura passa a ser
folclorizada e trabalhada no sentido de atração para o mercado turístico. Aí se
percebem situações do tipo:Pescadores “se
vestindo” de pescadores...; Baianos “se vestindo de baianos”... Patrizia ressalta que no ocidente existe
uma diferença entre cultura e folclore.
As 10:00 – INTERVALO
As 10:35 retomada das discussões. Distribuição de
texto base para atividade do 2º momento. Leitura e reflexão em grupo.
Texto
Referencia: Visões de Cultura - Terry Eagleton (Capitulo 1)
O primeiro trecho (lido por Danielle) se referia a
relação entre cultura e natureza. Adriana comenta que desconhecia esta
associação, mas que já havia sido comentada na primeira parte das atividades.
Ana Maria lê o segundo trecho que se refere as atribuições associadas ao aspecto
da classe social. Vando lê o terceiro trecho e Fernando questiona: afinal a
cultura delimita ou abre possibilidades? Se eu me modifico eu perco a minha
identidade cultural? Continuo sendo o mesmo ou passo a ser outro?
Viviane lê o quarto trecho e Patrizia comenta.
Continuam as leituras e Manoel comenta que a “lenda” que trata da afeminação
dos gaúchos decorre de experiências que os mesmos tiveram em estudos na Europa
e que fizeram com que adquirissem costumes diferenciados, comportamentos gentis
e educados (o que de acordo com a cultura local fere a postura identificada ou
considerada como masculina). Maiara fala sobre as civilizações Maias, Astecas,
Incas que foram desconsideradas no processo de colonização em função da divisão
Eurocentrica.
Manoel contrapõe a questão da mundialização econômica
e da valorização da cultura, que na opinião dele vem crescendo... João discorda
e coloca que na verdade acredita que o que está havendo é um maior
enfrentamento, uma solidificação dos movimentos de resistência.
Vando fala sobre a negação da identidade indígena e
Maiara comenta sobre um texto que leu de (Stuart Hall) onde o autor defende a
idéia de que a globalização reacende os fundamentalismos mas não permite um
avanço da interculturalidade. Vando ressalta que todas as culturas têm seu
valor e questiona se o termo cultura é igual ou oposto a civilização. Maiara
ressalta a questão de culturas superiores e inferiores (classificadas a partir
do critério de capacidade de acumulação de capital.
Vando fala sobre o acordo ortográfico questionando se
ele fere ou não a soberania de um país, já que a língua representa a soberania.
Patrizia coloca que na verdade não importam as questões a serem discutidas, mas
se perpetua a lógica do mercado, de QUEM vai se beneficiar com os temas em debate. Maiara fala
ainda sobre a questão dos parques eólicos que estão sendo instalados sobre uma
área de sitio arqueológico em Aracati – CE. Que houve a liberação de campos de
dunas para este tipo de empreendimento. Como um sítio arqueológico pode ser
mudado de lugar?
Patrizia fala sobre um documentário sobre fontes de
energia (fusão do átomo)em que se apresentava a seguinte conclusão: “O sonho da
humanidade é ter energia sem limites”. QUE HUMANIDADE?
A reunião foi encerrada e foram feitas algumas
deliberações sobre o próximo encontro e a questão da revisão do horário de
reuniões do grupo. Ficou acertado que seria feita uma nova consulta por meio de
manifestações in loco (os presentes)
e solicitadas as disponibilidades dos que não estavam para definir
(definitivamente) o horário.
Algumas
frases sobre Cultura....
“Sem a
cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais
perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação
autêntica é um dom para o futuro”.
“Cultura é
o que fica depois de se esquecer tudo o que foi aprendido”.
“Quem tem
imaginação, mas não tem cultura, possui asas, mas não tem pés”.
“A grande
lei da cultura é esta: deixar que cada um se torne tudo aquilo para que foi
criado capaz de ser”.
“A
cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos
séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado”.
______________________________________________________________________________________
Relatório da reunião do GEAD 18/09/2009
Encontro do Gead no dia 18 de setembro de 2009
Relatoras: Karla e Vivi Alves, com a contribuição valiosa e minuciosa da
Patrizia.
Quem estava presente: Ana Maria, Karla, João, Mayara, Patrizia, Tereza,
Vivi Alves, Dani, Fernando, Magda, Viviane e Priscila.
Neste encontro, em nossas discussões, passeamos
pelas praias e pelos sertões cearense, guiados pela Mayara e pelo João. Antes, entretanto a viajem começou dentro de
cada um com a ajuda da Viviane, que facilitou para o grupo um momento de
concentração e relaxamento. Foi trabalhada a respiração ao ritmo de músicas
instrumentais, que embalaram o grupo em uma longa viagem que foi proposta pela
voz doce e delicada da Viviane. Ao despertar do relaxamento, ao retorno da
viagem, o grupo foi agraciado pela facilitadora com bombons de chocolate. Uma
delícia!
Após o exercício de relaxamento, foi dado
inicio a apresentação sobre os povos do mar, sua cultura, condições de vida e
luta, conduzido pela Mayara.
No início Mayara propôs apresentar uma poesia,
utilizando o slides, mas não foi possível de início, devido a falta de caixa de
som, o que foi prontamente resolvido pelo Fernando e pela Ana Maria. Então,
inicia sua apresentação sobre os “Povos do Mar” falando sobre a realidade das
populações praianas, apresentando imagens para que o grupo se localizasse e
pudesse acompanhar sua apresentação. Também apresentou uma poesia da
professora, acompanhando as imagens que nos levaram a conhecer um pouco das
belezas dos lugares que conheceríamos melhor no decorrer de sua apresentação.
Depois
Mayara, nos apresentou através de slides as características dos povos do mar do
Ceará. Seu modo de vida, sua sociabilidade e sua cultura e relação com o
trabalho e com a natureza. Destacou que precisamos entender a relação que os
povos do mar mantêm com o seu espaço ressaltando a importância de conhecermos a
história de luta e dessa pessoas para compreendermos melhor o seu modo de vida.
Falou também como se deu o processo de
colonização do nosso território, o Ceará. Que a ocupação do nosso litoral se
deu de forma tardia, iniciando 100 anos após a “descoberta” do Brasil. Mayara
destacou o fato de que ao longo de nossa história existe uma negação da
existência das comunidades indígenas que já ocupava nosso litoral. E há ainda
hoje essa negação da cultura indígena. Com essa negação, também se nega as
condições de exploração sofrida por essas pessoas e ação de resistência dessas
comunidades para manterem-se.
O inicio
da colonização no Ceará esteve voltada para o interior do estado, devido ao
interesse na pecuária de pequeno porte e no cultivo de cana-de-açúcar. Devido a
esta ocupação do interior pelos colonizadores, as comunidades indígenas foram
“empurradas” para o litoral e, por isso, os encontramos ainda próximos às zonas
costeiras. No Ceará existia na Costa apenas alguns pólos regionais como:
Aracati, Aquiraz, Fortaleza e Camocim e a ocupação do litoral, pelos
colonizadores, foi estimulada devido a necessidade de proteção contra novos
invasores e para o escoamento da produção.
Ainda sobre a ocupação dos espaços litorâneos,
Mayara explica que existe uma forte relação entre os povos do mar com o sertão,
pois muitos vinham do sertão fugindo das secas e das dificuldades encontradas
nesses espaços.
Magda nos informa que as pessoas provinham
sobretudo de Pirajim, Chorozinho e Quixadá e que já que não existia ainda a
idéia de especular com a terra, doavam-se terras a quem chegava, convidando a
fazer parte da comunidade.
Mayara, ao nos mostrar fotos de três
comunidades, relata um pouco sobre as mesmas:
·
Aracati,
onde a população se instalou entre a terra da União e o manguezal em faixa de
praia
·
Beberibe –
Prainha do Canto Verde – onde há ainda hoje grande resistência contra a
exploração e degradação da natureza por parte dos pescador
·
Camocim –
Pacajus - Em Pacajus vivem três comunidades, que ainda são “nômades” por que
seu tempo é mediado pela natureza (maré cheia – maré seca). As atividades seguem o ritmo da natureza.
Quando convivemos com populações tradicionais
que no caso esta lida com influência da Terra e do Mar, conseguimos enxergar
sua vinculação com a natureza. Seus conhecimentos, seu modo de vida são
harmônico com que a natureza lhe oferece. Por isso neste tipo de comunidade o
que predomina é pouco ou nenhum interesse no acumulo de capital, as atividades
realizadas tem o objetivo e subsistência da comunidade. Como no caso da pesca
tradicional, que diariamente os pescadores vão para o mar.
Existem no litoral cearense 110 localidades com
populações tradicionais que mantém vinculação com a natureza. São algumas características:
·
Mitos
·
Símbolos
·
Tecnologia
compatível com o meio ambiente (tecnologia amiga, grifo meu)
·
Unidade familiar
·
Tempo determinado pela natureza
·
Uma
dinâmica própria que muitas vezes é desprezada como “preguiça”
Surge no grupo uma discussão em torno da
relação dos pescadores com a natureza. Seu modo de vida é marcado por outra
temporalidade, diferente das comunidades que tem seu estilo de vida marcado
pelos valores e interesses capitalistas. João relata o exemplo do manezinho da
ilha, em Florianópolis, que apresentam um ritmo diferente dos outros
habitantes, pois valorizam as horas para o descanso e lazer e não apenas para o
trabalho e geração de riquezas.
Patrizia comenta que aqui estamos diante de um
exemplo que ainda não foi tomado pela divisão capitalista do trabalho, mas onde
trabalho e lazer se entrelaçam possibilitando a realização o (des)envolvimento
da pessoa.
A partir de citações trechos da dissertação de
mestrado de Soraya Tupinambá, Mayara nos instiga reflexões sobre a questão da
territorialidade para os pescadores. Esta questão é completamente diferente do
que acontece nos sertões, pois a referencia dos pescadores é o mar neste não há
divisões. Esta perspectiva acaba estendendo-se para a terra, que é compreendida
responsabilidade de todos.
Ao discutirmos sobre a relação dos pescadores
com a terra, houve uma divergência no grupo, pois o trecho do texto Soraya
Tupinambá, apresentado por Mayara, permitia duas interpretações: em uma não
havia por parte dos pescadores uma relação de apego à terra e na outra
interpretação, essa relação existia, mas não era reconhecida pelas pessoas que
estudavam e escreviam sobre eles.
Mayara nos apresentou pequenos filmes, que
traziam relatos dos pescadores que falavam sobre suas condições e modos de
vida, da relação com o mar e do impacto sofrido com políticas e ações
inadequadas que trouxeram prejuízos á natureza e às comunidades que sobrevivem
da pesca, como, por exemplo, a degradação e os impactos sofridos pelas
populações praianas por causa da carcinicultura, como por exemplo: a propaganda
enganosa de que haveria aumento de
emprego e renda para os nativos, quando na verdade, isso não aconteceu e
ainda lhes foi tirado a possibilidade de trabalho de forma tradicional, por
decorrência da degradação sofridos pelos manguezais, impactando de forma direta
a catação de caranguejos e a mariscagem, principais atividades feitas pelas
mulheres pescadoras, que também trabalham na confecção de renda e que são
completamente excluídas socialmente dos direitos da aposentadoria.
Ainda em relação aos impactos causados pela
carcinicultura, Mayara destacou a poluição das águas e conseqüentes atritos
para o acesso a água para o consumo humano, e ainda a apropriação inadequada de
terras da união por parte dos carcinicultores.
Sobre atividades pesqueiras, Mayara relatou que
a pesca nunca foi uma fonte de lucros para o estado, mantendo-se basicamente
como pesca de subsistência, feita de forma artesanal. Uma das razões para isso é fato de que na
costa cearense não temos grande diversidade, nem quantidade de peixes, como há
em outros estados. O principal produto marítimo de negociação do ceará é a
lagosta, mas sua pesca tem sido feita de forma irresponsável, visando apenas o
lucro e alguns a exploração de muitos pescadores que tem arriscado suas vidas,
fazendo a pesca com compressores, instrumentos proibidos por lei. Mayara
relatou, ainda, que houve, em determinada época, uma carência de alimentos e
foi determinada uma lei que exigia que a quantidade de pescado fosse aumentada
para alimentar a população, o que obrigou os pescadores a irem ao mar todos os
dias.
A parir da década de 70 houve uma
resignificação do litoral, na qual a sociedade urbanoindustrial, com a
industria do turismo em larga proporção
vem ocupando os espaços da zona costeira, trazendo problemas para comunidade
remanescentes. Com esses novos investimentos e incentivos governamentais as
comunidades tem-se dividido entre os que acreditam ter havido melhorias em seu
modo de vida em virtude de novas vagas de emprego no setor de serviços como por
exemplo em : restaurantes, bares, hotéis, etc e os que criticam esse
desenvolvimento por sentirem-se explorados e destituídos de suas culturas,
terras e valores e modos de trabalho que sempre lhes sustentavam.
Terminada sua apresentação, Mayara distribuiu
para o grupo alguns materiais que foram produzidos pela ONG Terramar nas
diversas comunidades do nosso litoral como: cartões postais produzidos pela
Rede Tucum (Rede Cearense de Turismo Solidário), cartilha “Para compreender os
mangueizais”, o Almanaque Jereré de Fleixeiras, o Almanaque Pescando cultura e
o Boletim Marulho, de julho de 2008.
Finalizada a apresentação da Mayara sobre os
povos do mar, o Fernando tocou Asa Branca e o grupo acompanhou cantando, já
entrando assim em um clima de sertão que prepararia o grupo para a apresentação
que viria a seguir.
Depois foi a vez do professor João co sua
apresentação “Cartografia Intercultural Crítica – o caminhar no Sertão – uma
leitura sob a perspectiva Eco-Relacional”.
O professor apresentou alguns tópicos de sua Tese. A Caatinga e a Seca.
Através de fotografia conhecemos um pouco mais de Irauçuba, seus problemas,suas
lideranças, suas belezas e até aquela gostosa conversa agachado na beira da
calçada , que conseguimos ver quando voltamos ao nossos saudosos interior, pois
na cidade grande isso foi perdido, não sabemos se foi pela falta de segurança
ou porque não nos permitimos mais pela loucura do tempo.
Explicou-nos que, de acordo com o professor
Caio Lossio Botelho a palavra Sertão deriva de desertão. Começou falando sobre
a caatinga e a seca e que uma das característica do sertão cearense é a
monocultura e o latifúndio, as secas, as condições de pobreza das populações e
o descaso governamental e depois destacou a importância de haver políticas para
a convivência com o Semi-Árido, que se estende agora para uma cultura de
convivência solidária com o Semi-Árido.
Explica diversos momentos para a compreensão do
sertão:
1. O sertão não existe. O Governo desconhece a
existência de tal ecossistema. Portanto não havia problemas.
2. As grandes secas promovem o êxodo rural e a
“invasão” das cidades pelos sertanejos desesperados, dando origem à “indústria
da seca” que descobre o sertão como mina de ouro e a partir deste momento
explora ao máximo os cofres públicos com a desculpa de trazer água para o
sertão. O que de fato ocorre é a privatização da água e sua transformação de
bem comum em
mercadoria. Denominando isso de “ações de combate à seca”.
3. Agora não é mais a seca a ser combatida, mas
o semi-árido que deve ser desenvolvido.
4. Inicia com FHC a política de convivência com
o semi-árido.
5. Atualmente o sertão está passando pela
convivência solidária com o semi-árido.
João nos explica que um dos principais
problemas em relação à água no nosso sertão não é a falta de chuvas, mas sim a
grande evaporação, conseqüência dos grandes espelhos d’água dos açudes, que são
abertos e ficam permanentemente expostos ao sol e calor, levando à evaporação
de uma grande quantidade dessa água. Uma solução encontrada para este problema
tem sido a instalação de cisternas de placa. No município de irauçuba, uma das
áreas de atuação do GEAD já foram instaladas mais de 12.000 cisternas deste
tipo.
João nos mostra algumas fotos do município de
Irauçuba:
·
Um açude
dentro da cidade, projeto moderno da Prefeitura que foi detonado, porque ao
inundar deixaram a vegetação dentro. A CAGECE ainda usa uma parte, mas traz
água de fora.
·
Casas de
taipa e tijolos.
·
Áreas
queimadas, que é uma característica distorcida, porque antigamente os indígenas
costumavam queimar certas áreas para depois sair e permitir assim, que a terra
repousasse. Hoje, o uso é intensivo, após cinco anos o solo não serve mais para
nada.
·
Um
balneário privativo. Quando tem água disponível é privatizada.
·
Uma
paisagem farta de verde. Quando cai a primeira chuva e tudo floresce o sertão
se transforma.
·
Asa
Branca, uma ave típica do sertão, que hoje existe só em gaiolas.
·
Uma
paisagem que exibe degradação. Não existe nada que se destaca para ser
aproveitado para o turismo.
·
Pessoas
sentadas na frente das casas conversando, “cultivando” a tradição oral.
·
Caçadores,
que segundo João comparado aos pescadores, têm poder de fogo grande. Eles
invadem as áreas e matêm tudo o que aparece na mira do fuzil o que significa um
grande prejuízo ecológico.
·
Uma
cacimba pública cercada para uso privativo.
Mayara lembra o Castanhão cuja água beneficiará
a siderúrgica no Pecém e as empresas de turismo em todo litoral, que segundo
Patrizia, para atrair turistas mantém campos de golfe. Ainda segundo Patrizia o
povo de Jaguaribara, cuja cidade virou mar, não pode usufruir da água que passa
encanada pelas suas terras a risco de ser assassinados por guardas armados, que
tem a tarefa de vigiar a água (parece até filme de ficção científica se não
fosse tão real).
·
Outra
característica mostrada por João é a foto que junta um mandacaru, uma cerca e
uma sacola de plástico jogada no chão. Aqui a
“civilização” se une ao “primitivo”.
·
As
estradas do sertão em terra batida, “ótimas” quando chove.
·
O
transporte típico do sertão, camionete e pau de arara.
·
A
pecuária, ovelhas e cabras, animais que comem até não ter mais, inclusive as
sementes que “hibernam” na terra, assim quando chover não existe mais nada para
brotar.
A respeito da caprinocultura no Sertão, Karla
comenta que a EMBRAPA dá orientação e que tem muitas histórias de sucesso com
esse tipo de atividade no sertão.
·
Uma cabeça
de gado morto, símbolo para as pessoas do lugar é outra característica real.
·
Um Juazeiro
no meio do nada, árvore aproveitada para muitas coisas, comida para animal e
gente, para limpeza dos dentes, como sabonete etc.
·
Uma casa
de taipa e uma de pedra.
·
Uma outra
experiência com as queimadas, deixando plantas cortadas no chão para que ele as
reaproveite.
·
Pessoas na
margem da rua repousando deitadas em redes.
·
O dia dos
aposentos (dia em que os aposentados recebem sua aposentadoria).
·
O descaso
com a história. A igrejinha mais antiga da região depredada.
·
O dia das
feiras, antes organizadas pelos moradores do lugar, são mantidas hoje por
itinerantes com perspectiva capitalista. Antigamente as barracas eram cobertas
de lona hoje de plástico.
·
Algo de
muito típico são as porteiras que demarcam o latifúndio. Alguém (não me lembro
mais quem) disse que o problema do sertão não é a seca, mas as cercas.
·
Ainda
existem os postos para alimentar o gado e os vaqueiros hoje andam de bicicleta.
·
Objetos
ainda usados, filtro de barro, lamparinas e potes de barro.
·
Figuras
(“cabras”) típicas do lugar com roupa de manga, chapéu e bengala ou foice.
·
Uma
família típica que posa diante de uma parede cheia de fotos da família.
Tradição mantida até nas favelas nas cidades depois do êxodo rural.
·
O
abastecimento de água pelo transporte com burros; cisternas tradicionais que se
enchiam com a água buscada; o cata-vento para extrair a água do solo; o
chafariz obra da prefeitura; os caminhões que vendem água, que negociam com
quem possui a água. Essa atividade é ilegal, mas não há quem fiscalize e o
poder público não está nem aí.
·
Uma
liderança, uma senhora simples do cotidiano.
·
Pessoas esperançosas.
Para encerrar João nos apresenta a letra da
música “A volta da asa branca”, que é uma resposta esperançosa ao sofrimento
apresentado na música “Asa branca”, o que caracteriza um dos sentimentos que
recorrentemente encontramos no sertanejo: a esperança de dias melhores, o
desejo de voltar pra casa mais presentes.
Para sentir um pouco do sertão Patrizia sugere
em seu relato a leitura do livro “Chão de Mínimos Amantes” de Moacir C. Lopes,
uma história que se passa no sertão de Várzea Pequena no Ceará.
____________________________________________________________________
Relatório GEAD
18.09.2009
Presente: Ana Maria, Dani, Fernando, João, Karla, Magda, Mayara,
Patrizia, Priscilla, Viviane, Viviane.
Relatório: Patrizia
Neste encontro Mayara e João nos presentearam com saberes sobre o
litoral e o sertão. Aprendemos que não existe “o” litoral e “o” sertão sendo
que cada lugar mantém suas características paisagens, linguagens, visões de mundo,
posturas, tradições diferentes e específicas mesmo tendo semelhanças entre si e
coisas em comum.
1. Os “Povos do Mar”
Mayara inicia sua apresentação sobre os “Povos do Mar” com uma poesia da
professora Ângela Linhares, presidente do Instituto Terramar que há anos vem
acompanhando as comunidades do litoral cearense. A poesia é acompanhada de
imagens que nos trazem a beleza deste outro mundo que se destaca ao mesmo tempo
em que se relaciona com o todo, e de sua gente.
Antes de tudo segundo Mayara é preciso entender a relação que os povos
do mar mantêm com o seu espaço ressaltando a importância do saber antepassado,
ou seja, do contexto histórico.
A história da colonização do Ceará inicia 100 anos após a “descoberta”
do Brasilo. Hoje em dia há uma negação da existência da cultura indígena (veja,
comentários recentes do Governador Cid Gomes durante a visita do Presidente
Lula ao Ceará). Também se nega sua ação de resistência (o que é claro, porque
não existindo indígena, também não existe resistência). Portanto sabe-se que
indígenas trabalhavam na busca do pau Brasil, que era levado para a Europa.
A ocupação do litoral pelos europeus tinha mais o sentido de segurança,
no sentido de defender o que já se tinha roubado, da cobiça de outros ladrões.
(Quero deixar claro aqui, que não estou reportando fielmente as palavras da
Maryana, mas que ao longo do relatório surgirão alguns comentários de minha
autoria).
Existia pecuária de pequeno porte e cultivo de cana de açúcar, mas logo
os invasores voltaram seu interesse para o interior e o litoral se tornou o
lugar que permitia a exportação para além do mar.
Segundo Mayara a comunidade indígena está mais presente no litoral o que
seria uma consequência da invasão do interior pelo português, que penetrando a
terra fez com que os verdadeiros donos dessa terra se retiraram para as margens
do país.
Nisso Magda opina dizendo que a resistência em certos trechos do sertão
era muito forte.
Mayara continua sua exposição explicando que por muito tempo o litoral
não é lugar de exploração econômica. A relação sertão – litoral poderia se
desenhar desta maneira: um era depredado, o outro era usado para permitir a
saída do sangue sugado, ambos eram explorados (incluindo aqui a mão de obra
escrava).
Fortaleza Capital do Sertão (DANTAS,
2002: 25) por muito tempo permanece de costas para o mar.
A relação sertão – litoral é descrita por Eustógio Wanderley Correia
Dantas em seu livro “Mar à Vista” da seguinte maneira:
A lógica dicotômica entre o sertão e o litoral
só será questionada no início do século XIX, com a adoção de geoestratégia
reforçando o papel de Fortaleza na vida econômica, política, social e cultural
da capitania. A geoestrategia inscreverá Fortaleza na lógica característica das
cidades litorâneas que se abrem para o exterior, sem abdicar, no seu caso, de
herança proveniente do quadro simbólico do sertão. Constroi-se uma cidade
litorânea-interiorana, que redescobre o mar continuando interiorana, ligada ao
sertão. Este quadro simbólico interiorano media a aproximação da cidade aos
espaços litorâneos. A aproximação de ordem econômica reforçada por medidas
políticas, evolui lentamente para a abertura cultural da elite (em razão dos
contatos estabelecidos com a Europa) diante das zonas de praia, ocupadas
exclusivamente pelos pobres, em especial, os pescadores (2002: 25s).
Segundo Mayara existem no litoral, espaços intermediários, não ocupados
onde aqueles, atualmente chamados de povos do mar vem se instalando ao longo
dos séculos. Indígenas, escravos fugitivos, pobres urbanos e vítimas da seca
forçados ao êxodo rural. Podemos entender a parir desta dinâmica a forte
relação que os povos do mar mantém com o sertão.
Magda nos informa que as pessoas provinham sobretudo de Pirajim,
Chorozinho e Quixadá e que já que não existia ainda a idéia de especular com a
terra, doavam-se terras a quem chegava, convidando a fazer parte da comunidade.
Mayara mostra fotos de três exemplos de comunidade:
- Aracati
- Beberibe – Prainha do Canto Verde
- Camucim – Pacajus
Em Aracati a população se instalou entre a terra da União e o manguezal
em faixa de praia.
Em Pacajus vivem três comunidades, que ainda são “nômades” por que seu
tempo é mediado pela natureza (maré cheia – maré seca). As atividades seguem o
ritmo da natureza.
Existem no litoral cearense 110 localidades com populações tradicionais
que mantém vinculação com a natureza. São algumas
características:
- Mitos
- Símbolos
- Tecnologia
compatível com o meio ambiente (tecnologia amiga, grifo meu)
- Unidade familiar
- Tempo determinado pela natureza
- Uma dinâmica
própria que muitas vezes é desprezada como “preguiça”
João fala de uma ilha (não gravei o nome e onde fica), onde apesar da
invasão de outros povos e outras visões de mundo, a ilha preserva seu ritmo.
Existem momentos em que tudo para, todos os locais dos nativos estão fechados,
exceto aqueles dos gringos, porque a relação com a natureza é muito forte.
Patrizia comenta que aqui estamos diante de um exemplo que ainda não foi
tomado pela divisão capitalista do trabalho, mas onde trabalho e lazer se
entrelaçam possibilitando a realização o (des)envolvimento da pessoa.
Continuando Mayara toca no assunto da territorialidade reportando
reflexões da Soraya Tupinambá que diz que os pescadores entendem que território
é algo indivisível, já que no mar não existe divisão, não existem currais, este
pensamento eles trazem para a terra. (Pensamento que combina com a idéia da
“Pacha Mama”, “a Terra é nossa mãe”, que não pode ser vendida). Pode-se
encontrar a indivisibilidade também na cadeia de produção que mostra toda uma
lógica, cada um tem sua parte nela e não pode ser desassociado, nos traços
familiares, todos são prim@ de alguém.
Para sublinhar o dito Mayara mostra um vídeo deixando falar os próprios
pescadores sobre o que apresenta a pesca para eles. Infelizmente a minha cabeça
não conseguiu gravar o que estavam falando, entre outros por questões
acústicas.
2. O que é a pesca?
Mayara nos elucida que existem dois tipos de pesca a artesanal e a
industrial, sendo que última no Ceará está em crise, porque não tem
sustentabilidade. A produção diz ela, não supera em um mês o que é produzido no
Paraná. O Ceará carece em diversidade, seu marco é a pesca da lagosta, que é o
sustento maior dos pescadores artesanais. Esses são responsáveis por 80% da
produção de pescado no mercado regional e assim chegamos ao motivo porque a
pesca no Ceará nunca chegou à pauta dos interesses do poder público. Ela é de
subsistência. Existia até uma lei que exigia a pesca de certa quantidade de
pescado para alimentar a população.
O que se sabe é que o Ceará é o maior produtor de lagosta e que o
crustáceo é o maior sustento das comunidades de pescadores artesanais. Porém o
fato de render mais atiça a cobiça e instiga para a pesca predatória e o
emprego de instrumentos como a caçoeira e o compressor, ambos proibidos pelo
IBAMA, que infelizmente não possui embarcações e fiscalizadores suficientes
para cuidar da pirataria. A pesca a compressor é feita com barcos motorizados,
que tem dono, na maioria dos casos não pescadores. São pessoas com recursos
financeiros que permitem manter uma estrutura específica. Comunidades
pesqueiras são cooptadas para fazer o trabalho sujo. Muitos já morreram durante
a pescaria.
Apesar disso a Secretaria da Aquicultura e Pesca que foi criada para
promover os interesses da pesca indústrial e não está nem aí com a situação dos
pescadores artesanais, está impedindo a categoria a pescar. proibindo a pesca
da lagosta a quem possui embarcações menores do que seis metros, prejudicando
assim profissionais capacitados que há séculos conhecem o mar como a palma de
sua mão. Da mesma forma as mulheres pescadoras, as “marisqueiras”, sofrem, não
tendo direito à aposentadoria e outros benefícios garantidos pela lei
trabalhista a tantos outros trabalhadores. Isto porque sua pesca é de
subsistência e não voltada para a economia, quer dizer mercado capitalista.
Os pescadores antes eram identificados como camponeses (o termo “Povos
do Mar” é recente e se não me falha a memória foi cunhado pelo António Carlos
Diegues) porque mantinham uma pequena agricultura, definição que foi feita a
partir do que eles produziam na terra. (Mostra, a meu ver o quanto a hegemonia
parte do mundo em que ela se expande, para definir “o resto”, com o qual não
mantém uma relação, lhe é estranho, oculto, suspeito e lhe propicia medo e onde
não se “cultiva”).
Para o pescador a relação com o mar não é produção, mas sim cultura, ele
mantém uma relação com a terra que ele não pode ver desassociada do mar.
Lembrando aqui a questão da “indivisibilidade” (Soraia Tupinambá). A
apropriação do mar é um ato produtivo cultural, se constrói a partir do repasse
de saber, do adquirir saber (que podemos chamar de educação ambiental, aquela,
que ao meu ver inclui todas as outras).
Qual a importância de entender a relação do pescador com a terra?
O avanço da industria do turismo a partir dos anos 70 promoveu a
“desterritorialização”. Segundo do Céu (2002: 15s):
O processo de reprodução das relações sociais,
sob a égide do mundo da mercadoria, tem colocado em perspectiva a desagregação
do modo de vida das comunidades pesqueiras marítimas no litoral leste do Ceará.
Caso se caracterize, concomitantemente, essa situação de desagregação e a perda
da posse da terra o conseqüente processo de desterritorialização instaura-se.
(...)
Essa nova realidade caracteriza-se pela perspectiva de “modos de vida em confronto” em espaços ocupados historicamente pelas comunidades pesqueiras marítimas. Os conflitos evidenciam a disputa pela posse da terra, o aflorar de mecanismos de desagregação e afirmação do modo de vida dos pescadores e marisqueiras frente as tentativas de imposição de formas de viver na zona costeira cearense.
Essa nova realidade caracteriza-se pela perspectiva de “modos de vida em confronto” em espaços ocupados historicamente pelas comunidades pesqueiras marítimas. Os conflitos evidenciam a disputa pela posse da terra, o aflorar de mecanismos de desagregação e afirmação do modo de vida dos pescadores e marisqueiras frente as tentativas de imposição de formas de viver na zona costeira cearense.
Mais uma vez, mediante tecnologia moderna, Maryana nos permite ser
participes dos olhares de mundo dos “Povos do Mar”. Entre outros os seguintes:
“Nós planta feijão, milho, mandioca” diz uma pescadora e sublinha que “a
terra é para criar, trabalhar, namorar, ela é para nossos filhos e netos” e um
pescador reclama se referindo aos grileiros de terra que oferecem progresso e
emprego, “melhoria todo mundo quer, mas o que estão oferecendo, não dá para a
comunidade não”.
A partir dos anos 70 inicia uma resignificação do litoral. Segundo
Dantas “a valorização das zonas de praia pelo veraneio provoca movimento
peculiar na estrutura urbana do Ceará”. O que propicia este movimento são as
novas tecnologias que permitem percorrer mais rapidamente grandes distâncias.
Amantes de praias naturais a procura da paz e
da tranqüilidade perdidas em Fortaleza, os veranistas constroem após os anos
1970, residências secundarias nas zonas de praia nos municípios cearenses.
(...)
Este movimento originário de Fortaleza somente
se realiza graças a modificação da estrutura da propriedade da terra e da
oferta de infra-estrutura mínima. Desta forma os veranistas podem apropriar-se
das praias por meio da construção de residências secundários (...)
(...)
A modificação da estrutura da propriedade da
terra é obtida à mercê da ação dos empreendedores imobiliários, responsáveis
por pressão exercida sobre as zonas de praia ao comprarem ou tomarem posse de
grandes extensões de terra nesta zona para disponibilizá-las como loteamento
aos veranistas (2002: 77s).
Acostumados ao conforto da sociedade urbano-industrial os novos “donos”
do litoral exigem do Estado infra-estrutura, com a infra-estrutura instalada
abre-se o caminho para grandes ressorts que podemos encontrar hoje em quase
todas as praias do litoral. Consequencia: com a turistificação oferece-se um
outro tipo de trabalho, um novo estilo de vida. Pescadores e pescadoras se
tornam caseiros, empregadas, garçom, cozinheira etc. Há quem acredita nas
melhorias, no progresso. A partir disso consegue-se dividir as comunidades
jogar um contra o outro, já que as expectativas fazem com que as pessoas
recuam, e se despedem da luta pelos seus direitos. Os jovens não querem mais
continuar na profissão dos pais, a relação com a tradição começa a si romper.
Jericoacoara já mostra os primeiros efeitos de tal desenvolvimento com a
presença de uma favela gigantesca. As pessoas que aí moram não conseguem mais
sobreviver como o faziam antigamente, oferecendo passeios nas dunas ou de
jangada.
4. Os manguezais
Maryana nos mostra via filme a beleza dos manguezais e as atividades
desenvolvidas pelos povos ribeirinhos, enquanto isso fala sobre a exploração
máxima e a conseqüente destruição, desse ecossistema pela carcinicultura.
Por causa desta invasão, mais uma vez motivada pela cobiça, que propicia
lucros aos proprietários, que abastecem com este produto de luxo o exterior, os
povos ribeirinhos perderam a relação com o mar. É-lhe proibido de passar pelos
camareiros, porque são de propriedade privada. Apesar disso o que sobra de
espaço para a extração e a pesca diminuiu tanto que promoveu a disputa e a
divisão entre os ribeirinhos.
O processo de desterritorialização descaracteriza o modo de vida das
comunidades tradicionais, destrói sua segurança alimentar, polui a água, eles
perdem os espaços de acesso agravando-se assim os conflitos entre as pessoas.
Mas graças a Deus há comunidades articuladas, organizadas no Fórum da
Zona Costeira, na rede Tucum (Turismo comunitário) e outras organizações para
resistir ao “novo” colonialismo, enfrentar as consequencias causadas por esse
último chegado.
Uma das ações concretas é a educação a partir do mundo de vida da pesca,
como é praticada na Prainha do Canto Verde.
Outras comunidades são articuladas na rede Tucum onde refletem a própria
história e diante deste pano de fundo constroem caminhos viáveis de
sobrevivência como o turismo comunitário, que preserva sua história, seu modo
de viver, suas tradições, seu mundo de vida.
Algumas comunidades estão em processo de desterritorialização, outras de
resistência, ainda outras no início do processo de resistência.
Em Flecheiras, por exemplo, o processo de conscientização é difícil,
porque o emprego dificulta o trabalho. As alternativas não podem ser colocadas
como mera substituição do emprego, mas como reconquista do espaço de criar e de
ser.
Existem grupos mobilizados que tentam resistir, mas enfrentar o
capitalismo é um processo difícil.
Terminando sua apresentação profunda Maryana distribui almanaques que
contam a história esquecida da comunidade de pescadores de Flecheiras, feitos
pelos jovens dessa comunidade. O objetivo de tal criatividade é saber o que se
tem de bom para poder agir de outra forma.
Seja o almanaque de Flecheiras como o de Caetano de Cima são obras
primas fantásticas. Parabéns para os jovens dessas comunidades.
Mayara valeu, você merece nota 10.
O Sertão
João traz o sertão para dentro de nós mediante nossas vozes e a
habilidade de tocar violão do Fernando, com a canção “Asa branca” do
Gonzaguinha.
Depois que o mar inundou nossas almas os nossos corações vibram com o
sertão, que não vira mar porque alma e coração se completam, ou seja, são
indivisíveis.
Como aprendemos no início o sertão não existe, mas como no litoral
existem algumas características em comum.
Sertão vem de desertão nos ensina nosso mestre e caracteriza vastas
áreas que contém poucas coisas.
Uma característica do sertão cearense é a monocultura e o latifúndio.
O sertão é um ecossistema único no mundo que ocupa 75% da área do
Nordeste e 8% da área nacional.
Outras característica
são:
- A grande seca
- A pobreza da população
- O descaso
Momentos do sertão:
1. O sertão não existe. O Governo desconhece a existência de tal
ecossistema. Portanto não havia problemas.
2. As grandes secas promovem o êxodo rural e a “invasão” das cidades
pelos sertanejos desesperados, dando origem à “indústria da seca” que descobre
o sertão como mina de ouro e a partir deste momento explora ao máximo os cofres
públicos com a desculpa de trazer água para o sertão. O que de fato ocorre é a
privatização da água e sua transformação de bem comum em mercadoria. Denominando
isso de “ações de combate à seca”.
3. Agora não é mais a seca a ser combatida, mas o semi-árido que deve
ser desenvolvido.
4. Inicia com FHC a política de convivência com o semi-árido.
5. Atualmente o sertão está passando pela convivência solidária com o
semi-árido.
João nos faz entender que o problema da seca não é a precipitação, mas a
evaporação. Chuva até tem, mas apenas 8% da água pluvial é aproveitada. O
principal recurso no sertão são as barragens que seguram a água, mas também
essas não podem ser aproveitadas cem por cento porque expostas ao sol suas
águas também são sujeitas à evaporação.
A solução encontrada até agora são as cisternas de placa. Mais 12.000
dessas foram instaladas ultimamente em Irauçuba, lugar onde o João atua há 10
anos com eficiência.
Para a retenção da água são necessários projetos econômicos mais
efetivos do que aqueles que existem, nisso João alista várias estratégias, que
não consegui gravar. Importante é a reflexão a partir da questão mais grave,
que é a dificuldade da população se manter a partir do que foi dito acima.
Em seguida nos é mostrado o mapa das regiões do semi-árido a nível
nacional e regional. Euclides da Cunha delimita características dos sertões e
dos povos. Existem regiões e povos diferentes, características que marcam
esses, não existe unidade. A canção “Asa Branca” (aquela que cantamos antes de
iniciar a apresentação e que mexeu com os nossos sentimentos) se tornou ícone
do sertão porque relata suas características. Para citar algumas:
A terra ardendo, a fogueira de são João, a tamanha judiação, nem um pé
de plantação, a falta de água, a perda do gado pela sede entre outras.
João mostra fotos de pólos de identificação do sertão de Irauçuba:
- Um açude
dentro da cidade, projeto moderno da Prefeitura que foi detonado, porque
ao inundar deixaram a vegetação dentro. A CAGECE ainda usa uma parte, mas
traz água de fora.
- Casas de
taipa e tijolos.
- Áreas
queimadas, que é uma característica distorcida, porque antigamente os
indígenas costumavam queimar certas áreas para depois sair e permitir
assim, que a terra repousasse. Hoje, o uso é intensivo, após cinco anos o
solo não serve mais para nada.
- Um balneário
privativo. Quando tem água disponível é privatizada.
- Uma paisagem
farta de verde. Quando cai a primeira chuva e tudo floresce o sertão se
transforma.
- Asa Branca,
uma ave típica do sertão, que hoje existe só em gaiolas.
- Uma paisagem
que exibe degradação. Não existe nada que se destaca para ser aproveitado
para o turismo.
- Pessoas
sentadas na frente das casas conversando, “cultivando” a tradição oral.
- Caçadores,
que segundo João comparado aos pescadores, têm poder de fogo grande. Eles
invadem as áreas e matêm tudo o que aparece na mira do fuzil o que
significa um grande prejuízo ecológico.
- Uma cacimba
pública cercada para uso privativo.
Mayara lembra o Castanhão cuja água beneficiará a siderúrgica no Pecém e
as empresas de turismo em todo litoral, que segundo Patrizia, para atrair
turistas mantém campos de golfe. Ainda segundo Patrizia o povo de Jaguaribara,
cuja cidade virou mar, não pode usufruir da água que passa encanada pelas suas
terras a risco de ser assassinados por guardas armados, que tem a tarefa de
vigiar a água (parece até filme de ficção científica se não fosse tão real).
- Outra característica mostrada por João é a foto que junta um mandacaru, uma cerca e uma sacola de plástico jogada no chão. Aqui a “civilização” se une ao “primitivo”.
- As estradas
do sertão em terra batida, “ótimas” quando chove.
- O transporte
típico do sertão, camionete e pau de arara.
- A pecuária,
ovelhas e cabras, animais que comem até não ter mais, inclusive as
sementes que “hibernam” na terra, assim quando chover não existe mais nada
para brotar.
Karla comenta que a EMBRAPA dá orientação e que tem muita história de
sucesso.
- Uma cabeça de
gado morto, símbolo para as pessoas do lugar é outra característica real.
- Um Juazeiro
no meio do nada, árvore aproveitada para muitas coisas, comida para animal
e gente, para limpeza dos dentes, como sabonete etc.
- Uma casa de
taipa e uma de pedra.
- Uma outra
experiência com as queimadas, deixando plantas cortadas no chão para que
ele as reaproveite.
- Pessoas na
margem da rua repousando deitadas em redes.
- O dia dos
aposentos (dia em que os aposentados recebem sua aposentadoria).
- O descaso com
a história. A igrejinha mais antiga da região depredada.
- O dia das
feiras, antes organizadas pelos moradores do lugar, são mantidas hoje por
itinerantes com perspectiva capitalista. Antigamente as barracas eram
cobertas de lona hoje de plástico.
- Algo de muito
típico são as porteiras que demarcam o latifúndio. Alguém (não me lembro
mais quem) disse que o problema do sertão não é a seca, mas as cercas.
- Ainda existem
os postos para alimentar o gado e os vaqueiros hoje andam de bicicleta.
- Objetos ainda
usados, filtro de barro, lamparinas e potes de barro.
- Figuras
(“cabras”) típicas do lugar com roupa de manga, chapéu e bengala ou foice.
- Uma família
típica que posa diante de uma parede cheia de fotos da família. Tradição
mantida até nas favelas nas cidades depois do êxodo rural.
- O
abastecimento de água pelo transporte com burros; cisternas tradicionais
que se enchiam com a água buscada; o cata-vento para extrair a água do
solo; o chafariz obra da prefeitura; os caminhões que vendem água, que
negociam com quem possui a água. Essa atividade é ilegal, mas não há quem
fiscalize e o poder público não está nem aí.
- Uma
liderança, uma senhora simples do cotidiano.
- Pessoas esperançosas.
A riqueza e beleza do lugar não são
reconhecidas.
Para sentir um pouco do sertão quero sugerir
aqui a leitura do livro “Chão de Mínimos Amantes” de Moacir C. Lopes, uma
história que se passa no sertão de Várzea Pequena no Ceará.
Referencial Bibliográfico:
DO CEU, Maria de Lima. Comunidades pesqueiras marítimas no Ceará –
Territórios, costumes e conflitos, Dissertação (Doutorado em Geografia Humana ),
São Paulo: Universidade de São Paulo – USP, 2002.
DANTAS, Eustógio Wanderley Correia. Mar à Vista. Estudo da marítimidade
em Fortaleza, Fortaleza: Museu do Ceará, 2002.
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RELATÓRIO GEAD
13/11/2013
A reunião do Gead do dia 13 de novembro de 2009 começou por volta das 14
:30, estavam presentes: João Figueiredo, Eleni, Ana Maria, Pedro Henrique
Campelo, Magda, Tereza, Daniele, Manuel Sampaio, Adriana Melo e Patrizia
Imelda. Tivemos como temas centrais à elaboração e apresentação de trabalhos
científicos, apresentados por João Figueiredo e Eleni, respectivamente.
Segundo João Figueiredo um trabalho científico, seja, projeto de
pesquisa, dissertação, tese e ou mesmo um artigo seguem uma mesma lógica de
articulação e estruturação de idéias. Ainda no primeiro momento de sua
apresentação, o mesmo fez uma apresentação sucinta da PER (Perspectiva
Eco-Relacional e a pesquisa engajada). Sobre a perspectiva engajada, o
facilitador afirmou que:
É engajada; tem uma abordagem dialógica; é comprometida com grupos
populares; está próxima à pesquisa participante; tem que ter fidedignidade com
os pressupostos que balizaram a proposta
inicial e o desenvolvimento do trabalho.
O autor deve necessariamente: apresentar o seu trabalho, explicitando em
que o mesmo consiste; problematizar as questões que envolvem a sua temática de
interesse; justificar a importância do mesmo; apresentar uma pergunta de
partida, mostrar caminhos teóricos que possibilitem responder a pergunta de
partida e questões que emergem do campo e o desenvolvimento do trabalho
científico.
Na sequência nosso primeiro facilitador, chama a atenção para
combinações teórico-metodológicas, afirmando que, essas combinações são
possíveis quando o autor pesquisador domina as epistemologias que fundamentam
essas combinações, contudo se assim for, o mesmo pode enriquecer sua proposta e
consequentemente seu trabalho utilizando múltiplas linguangens...
Noss@ segund@ facilitor@ apresentou elementos de apresentação científica
no Power point , levantou questões sobre
estruturação do trabalho, tempo e apropriação dos recursos do software.
Nossa reunião terminou por volta das 17:30 da sexta
feira treze....
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Relatório reunião GEAD 13/11/2009
Responsáveis Tereza e Magda
João Figueiredo, Eleni, Ana Maria, Pedro Henrique Campelo, Magda,
Tereza, Daniele, Manuel Sampaio, Adriana Melo e Patrizia Ismelda.
O tema abordado nesse encontro foi Tessitura acadêmica, apresentado por
João e Eleni.
João iniciou mostrando a dimensão técnica para elaboração de trabalhos
científicos relativo ao tema proposto, através de slides, apresentou
detalhadamente a estrutura básica para elaboração de trabalhos cientifico.
Posteriormente a Eleni faria a parte de apresentação desses trabalhos, tomando
como exemplo um paper.
João falou que usa Paulo Freire, como principio epistemológico para uma
lógica dialógica em suas pesquisas. Fez uma rápida abordagem sobre pesquisa
engajada ao se construir um trabalho científico falando que nessa direção
precisamos refletir os meios e propósitos para realização desses trabalhos. Que
para a apresentação da banca precisamos mostrar uma compreensão lógica do
trabalho e seu caminho desejante, deixando claro, os referenciais teóricos, os
objetivos e principalmente os procedimentos, métodos e técnicas que serão
usados na pesquisa.
Partindo de Brandão, também complementou com um pouco da pesquisa
participante, mostrando a importância de ter cuidado na aplicação das técnicas
de coleta de dados quando já se estiver em campo, na flexibilidade em
redimensionar idéias já preestabelecidas, para se atingir os objetivos
propostos na pesquisa, pois não pode tentar mudar estes objetivos depois da
pesquisa pronta. Mostrou também que na hora da apresentação para a banca, as
exigências sobre a objetividade e simplicidade no manuseio dessas técnicas
podem variar de acordo com a visão do avaliador. Dessa forma é importante usar
a estrutura básica para a divisão ou não quanto á métodos, técnicas, amostragem
e analise de dados.
Citou também as contribuições de Jorge Vala quando diz que “ninguém
atenta para o fato que a pesquisa participante é eminentemente brasileira”.
Complementando a importância inicialmente da leitura e interpretação dos dados
na hora e depois das entrevistas em campo e da analise de discurso do que foi e
usado como amostragem, levado em conta os objetivos práticos e teóricos da
pesquisa.
Nesse contexto iniciou os questionamentos sobre os tipos, técnicas de
coleta e análise de dados, principalmente das dissertações e teses que estão em
andamento, sobre a quantidade de paginas que devem ser usados nesses trabalhos,
onde o João ressaltou a importância de ser conciso e objetivo nos seus escritos
e que isso é bastante relativo tanto em dissertações quanto a tese, podendo
variar entre 400 e 600 páginas...
Enquanto João estava apresentando os slides e foi tecendo comentários de
cada parte de uma pesquisa, Adriana iniciou os questionamentos...
Dentre as partes apresentadas nos slides estavam, às orientações de como
elaborar o título, resumo, introdução, revisão da literatura e fundamentos
teóricos que para João significa fazer uma releitura
do que já se tem escrito por vários autores, como também é importante iniciar
esta revisão fazendo uma rápido percurso nas concepções históricas de forma
descritiva e teórica mais em geral, lembrando os contextos nacional e regional,
destinado e relativo ao tema.
Falou também que podemos fazer uma releitura do que já foi tratado,
partindo de determinado ponto, ou focar determinados pontos e aprofundá-los.
Juntamente com os comentários do Manoel e suas dúvidas relativas às suas
pesquisas, João usou como exemplo base a Perspectiva Eco-relacional buscando
sua fundamentação como também explicar os fundamentos da corrente
fenomenológica.
Foi bastante discutido e esclarecido varias dúvidas sobre a importância
da organização clara e objetiva do material e métodos, resultados, discussão
desses resultados, conclusão, bibliografia e análise enquanto significados
fracionados.
Eleni iniciou sua participação usando como referência para a
apresentação de trabalhos científicos o material que foi usado por ela e a
Karla na apresentação da ANPEED. Percebeu-se então, a necessidade de boa parte
da turma em aprender a usar o programa Power point.
Infelizmente como sempre tive que sair mais cedo para viajar, então não
deu para ficar até o encerramento.
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RELATÓRAIO DA
REUNIÃO DO GEAD DE 20/11/2009
Caros
amigos Geadianos, o presente relatório tem o propósito de comunicar-vos os
principais fatos ocorridos na nossa reunião semanal do GEAD, ocorrida em
20/11/2009, que teve seu início às 14:25, contando, inicialmente, com as
presenças dos confrades: Danielle Batista, Viviane Alves, Tereza Viana, Ana
Maria Cardoso e este relator, Manoel Sampaio. Ana Maria expôs de forma
brilhante e translúcida sobre Modernidade
e Pós-modernidade.
Logo,
no início da reunião, a nossa confreira Karla Ferreira Martins passou na
reunião para distribuir os convites com todos os presentes para o
lançamento do livro “Simples” do nosso confrade Enrique Beltrão. Logo no
introito de sua apresentação frisou
sobre os papéis e contribuições que Karl Marx, Emíle Durkhein e Max Weber
legaram para a construção do conceito de Modernidade. Weber afirmava que a
exposição da burocracia impedia a criatividade e a autonomia dos indivíduos.
Para os pensadores modernos ás
idéias de emancipação estavam vinculadas ás idéias iluministas.
Em
seguida a nossa expositora, apresentou-nos as caracter´sioticas da modernidade,
tais como: ritmo de mudanças acelerado, distância tempo e espaço, generalização
das mercadorias, deslocamento das relações sociais, crença no conhecimento
técnico, valores líquidos, domínio da natureza e dos homens por meio do
cientificismo e da tecnologia.
A
nossa assistente social, colocou com muita propriedade o confronto entre
Modernidade e Razão, ressaltando que: a modernidade é decorrente do pensamento
iluminista, um tipo de certeza ( divina), a certeza dos nossos sentidos, a
providência divina foi substituída pelo progresso providencial.
Antes de adentrar nas discussões
sobre a pós-modernidade, Ana colocou-nos as dimensões institucionais da
modernidade, destacando: a vigilância, controle da informação e a supervisão
social, a presença do poder militar, (controle dos meios de violência no
contexto da industrialização da guerra); o industrialismo ( transforamação da
natureza: desenvolvimento do “ambiente criado e, finalmente, do capitalismo,
caracterizado (acumulação de capital no contexto de trabalho e mercados de
produtos competitivos).
Após
essas discussões, Ana Maria Iniciou as discussões sobre a pós-modernidade como
uma condição. Fazendo um paradoxo entre Pós-modernidade X Pós-modernismo,
enfocando a arte, literatura e arquitetura e música.
Pos-modernidade o que ignifica?
Fase de transição. Nada pode ser conhecido com
certeza e a história é destituída de teleologia e os fundamentos
epistemológicos sem credibilidade.
A
nossa geadiana do Gead din din e da sobremesa
Viviane Alves afirmou com muita seriedade que o que se perdeu muito na
modernidade foi o sentido da existência.
Antes
de fechar sua exposição com chave de ouro, a Ana Maria presenteou-nos a todos e
todas com um rol de gráficos mnemônicos sobre a tipificação da modernidade e
pós-modernidade que estão inseridos no livro “As conseqüências da Modernidade”
da autoria de Anthony Giddens. ( VIDE
APRESENTAÇÃO enviada pela Ana Maria por e-mail para a lista do gead grupo).
TIPOS DE MOVIMENTOS SOCIAIS
Democráticos
(liberdade de expressão), pacifistas, trabalhistas e ecológicos ( contracultura).
RISCOS DE ALTACONSQÜÊNCIA DA MODERNIDADE
Crescimento
de poder totalitário, conflito nuclear ou guerra de grande escala, colapso dos mecanismos de crescimento
econômico.
PERFIL DE UMA ORDEM
PÓS-MODERNA
Participação democrática de múltiplas camadas,
sistema pós-escassez, desmilitarização e humanização da tecnologia.
DIMENSÕES DA
GLOBALIZAÇÃO
Sistema de Estados-nação, ordem militar,
divisão internacional do trabalho e a economia capitalista mundial.
DIMENSÕES DE UM SISTEMA
PÓS-ESCASSEZ
Ordem
global coordenada, organização econômica socializada, transcedência da guerra e
sistema de cuidado planetário
É
bom frisar que ao longo de toda apresentação, houve a participação e
intervenção dos presentes, comentando ou contando causos e contando exemplos,
com intervenções pertinentes.
No
final, por unanimidade, a Ana Maria ficou responsável de colocar a enquete
sobre o dia, local e comemoração e confraternização do nosso GEAD.
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Reunião do GEAD dia
27 de novembro de 2009 - Transcrição
Educação do Campo e Pedagogia da Alternância
João- a Bia vai apresentar uma parte do trabalho dela. A Bia vai estar
conversando com a gente e eu, se for necessário, evidentemente só se for necessário,
vou complementar alguma coisa da fala da Bia e o Manuel também, arbitrariamente
eu inclui ele também como responsável para ajudar...
Bia- A é ...
(Brincadeiras com a Aninha sobre a gravidez)
J- Então, eu vou passar a palavra pra Bia, começar a participação dela e
faltam basicamente o Manuel, a Tereza, a
outra Viviane, o Mazinho, a Magda não chegou e o Fernando e a Mayara falaram
que talvez não pudessem vir.
Bia- Então gente, eu vim pra essa apresentação que é parte do primeiro
capítulo da minha tese que é sobre Educação do campo, que eu to pesquisando na
escola família agrícola aqui no Ceará que é a escola Agrícola Dom Fragoso. Ai
eu fiz um pequeno histórico da educação no campo no Brasil e ai depois vou
falar sobre a pedagogia da alternância. A denominação de educação do campo é
uma coisa bastante recente. Até mais ou menos os anos noventa você usava a
designação de educação rural, então ela começa no Brasil com o processo de
urbanização e de cristalização que basicamente era pra fazer os ...para nos
centros urbanos e aumentar a
produtividade, que a partir dos anos 30 você começa a ter a industrialização no
Brasil e aí começa a ter início o processo de migração no Brasil e as cidades
não estavam preparadas para receber essas pessoas, como ainda hoje não
estão. A partir de 50, com Juscelino e
com o processo de desenvolvimento nacional começa a pensar a questão da
educação no contexto dos projetos nacionais e ela passa a ter relação com
processo de desenvolvimento nacional, com o processo educativo, até então ele
seria o projeto de desenvolvimento nacional.
João - Quem relata? E quem transcreve?
João- Então a Bia tava falando, pra atualizar quem ta chegando agora,
que o conceito de educação no campo é um conceito recente, que até então se
falava no conceito de educação rural.
Bia- Só nessa denominação de educação rural você tem alguns movimentos,
alguns projetos de educação, que são ligados á educação popular que são super
importantes, né? Que são o movimento de educação popular com o método de Paulo
Freire, ai você tem o NEB, que é o Núcleo de Educação de Base, tem os Centros
Populares de Cultura e a metodologia de alfabetização e teatro popular e a
formação de grupos populares e de escolas radiofônicas, que foram ligados à
Igreja, que tá ligado ao movimento de educação de base, que iniciam na década
de 50 e vão até 65, com o golpe militar, que em 65, você interrompe esses
projetos ou diminuem as atividades.
Ana- Como eram as escolas radiofônicas?
Bia- As escolas radiofônicas, começam em 50, foi um projeto da CNBB em
parceria com presidência da republica de Juscelino, se não me engano em Alagoas
e no Rio Grande do norte e depois passa a trabalhar no Centro-oeste, Norte e
Nordeste. E a partir desse trabalho com a UNEB, que começa o trabalho de educação
popular, o Paulo Freire pega uma carona . A Une também pega uma carona nessa
metodologia e passa a trabalhar a questão da alfabetização, do teatro popular e
as escolas radiofônicas. É um momento de muita efervescência. Era no rádio.
Como tem os telecentros, com aula pela televisão, você tinha pelo rádio. Era a
programação no rádio e era muito interessante. Até hoje pra se chegar as
pessoas na área rural o rádio é o melhor meio de comunicação. E aí nessa época
você tinha 70% da população do Brasil na área rural e urbano 30%, então num
período de 20 anos ou 30 você muda radicalmente e tem, de acordo com o IBGE,
apenas 30% da população vivendo em área rural e 70% em área urbana. Mas tem
toda uma discussão que você trata áreas que não são rurais, que ainda são rurais
como perímetro urbano. Tem toda uma discussão com o IBGE para definir melhor o
que é rural e o que é urbano no Brasil. Existe uma discordância sobre a forma
como ele define o que seria rural e o que seria urbano. Aí você tem também uma
redução desse fluxo migratório para as grandes cidades, a gente vê isso aqui no
Ceará, antigamente as pessoas iam muito para o Rio e hoje ficam habitando onde
tem mais trabalho, mais produção, né? Só que se a gente for pensar hoje em
termo de escola, a gente pode pensar, por exemplo, a aqui a própria SEDUC tem
uma dificuldade em trabalhar com a educação no campo porque eles não tem uma atitude...eles acham a coisa mais
terrível os meninos estudarem na área rural. Ficam penalizados, o mito da
modernidade da cidade ele ainda é muito importante. Ele predomina ainda na
subjetividade, sobretudo dos gestores.
Karla _ O que a Seduc quer?
Bia_ Eles propõem uma escola que é igual uma escola normal, eles não
absorvem. Agora é que eles estão começando a entender o que seria a possibilidade
de você trabalhar com a educação no campo, uma educação de qualidade e pública.
Agora que começou a cair a ficha deles, mas faz três anos que a gente vem
tentando, depois de muitas discussões, mas eles não compreendem. Pra cabeça
deles é como se os meninos fossem pegar na enxada, viver na pobreza.
Karla – Mas o que eles querem? Uma educação feita lá, mesmo nos moldes
da educação urbana ou a idéia deles é que eles saiam pra estudar?
Bia- Porque é assim, Karla, quando você começa ...quando as escolas
famílias agrícolas começam, é na França, no período entre guerras. A França ela
tinha esse problema naquela época, até hoje ela é um país que tem essa tradição
de ruralidade, com produção de queijos, cabras, vinhos, e lá nesse período se
os meninos fossem estudar, eles saiam e não voltavam mais pro campo. Então as
famílias, elas se reúnem, são seis famílias, elas junto com a paróquia começam
a pensar uma... (fala interrompida pela chegada do Manoel) ...e aí eles
começam, eles constroem essa metodologia, ela é toda empírica, só acho que...aí
quando eles começam a trabalhar essa desenvolvem essa pedagogia da alternância
de forma totalmente empírica. Aí só depois de uns dez ou quinze anos é que eles
começam a se aproximar das teorias pedagógicas, se aproximar das universidades
e aí a pensar a questão teórica na área da educação, mas ela foi construída...
E aí vc tem isso na década de 30 e no Brasil você pega uma legislação que é da
década de 40 que, por incrível que pareça, com Getúlio Vargas, que eu acho que
foi um dos gestores que pensou isso de uma forma mais interessante, aí depois
você tem só adaptações. Você tem uma proposta de educação que é nacional e aí
só adapta ela pras áreas rurais, né? Se a área rural é abandonada, o litoral
brasileiro é completamente abandonado em termos de um processo de educação, de
escolarização das populações em idade escolar. É uma coisa muito mais recente e
aí que você com essa proposta de educação no campo.
Adriana – sobre o litoral, na praia ....a maioria é de analfabetos. Essa
educação não acontece.
Bia. – A área rural mesmo com toda a precariedade você tinha aquelas
escolinhas, nas fazendas com as filhas dos fazendeiros, se inicia o processo de
escolarização e no litoral não tem. E a mentalidade dos gestores, de uma forma
geral, a cidade é ainda um mito, ela ta ligada a um sonho.
Karla- Tem coisas que a gente sabe e eu achei interessante você falar da
realidade daqui da Seduc, como você tá lá, mais próxima, participando das
discussões, eu fiquei mais curiosa em saber como acontece aqui. Eu achava que a
Secretaria de educação daqui estava voltada pra essa questão da educação do
campo e ouvindo você falando agora me pareceu que ela não...
Bia- É porque eles não absorvem,
Karla, eles não conseguem entender a proposta. É uma questão de visão de mundo.
A subjetividade deles não alcança o que é esta proposta. A própria constituição
prevê adaptações, não falava em adequação. Só com a LDB, que você começa a falar
em adequações.
(chegada do Fernando)
Manoel- professora eu acho que a questão da educação no campo é mais
voltada pros movimentos sociais mesmo. O governo vai fazer tudo isso aí....no
MST, a Fetraece, no caso aqui do Ceará...
Bia- No Ceará, mas tem estado que já tá muito...vc tem a Bahia, o
Paraná, Maranhão, Pernambuco, alguns lugares em que já ta bem mais avançado,
mas é que você tem assim, eu acho que a mentalidade das pessoas que estão na
gestão, no ceará é muito conservadora, não só nessa mas também a gestão passada
era muito conservadora.
Manoel – E nos estado todos os que estão lá saíram daqui da UFC. Todos
eles passaram aqui pela UFC.
Bia- Só agora, nessa semana, é que começou a cair a ficha, mas faz sete
anos que a gente ta...Então em 88, Karla, com a constituição é primeira vez que
você coloca, além do direito universal, a palavra adequação. Substitui a
questão da adaptação para a adequação. A constituição de 88 coloca a educação
como um direito de todos, e aí ela passa a ser um direito do povo, independente
dos cidadãos habitarem na área rural ou urbana. Então você começa com essa
coisa da adequação é começa todo o trabalho do MST , com a educação no campo.
Então se agente tem hoje a educação no campo na pauta e em termos de discussão
de educação do Brasil é um fórum de discussão privilegiado, que as pessoas
n~~ao se deram conta ainda da riqueza e da importância que a educação do campo
tá tendo para se discutir a própria educação brasileira. Enquanto projeto
nacional, projeto de sustentabilidade. E aí, a gente deve isso muito ao MST,
embora hoje eu tenha algumas críticas, a algumas coisas que eles colocam como o
que seria a educação do campo, como projeto pedagógico e tal, é inegável a
importância do MST..
João- Me diga uma crítica, por exemplo, que você tem em relação a proposta do MST?
Bia- Uma crítica que eu tenho, por exemplo, é em relação ao fato de eles
terem as escolas fechadas só pra eles, isso eu acho uma coisa complicada. Outra
coisa que eu acho é que vc trabalha ..
Adriana- As escolas geralmente se localizam dentro dos assentamentos,né?
Bia- Mas é mais do que isso. O MST tem...eles tem uma formação que é
toda específica, eu mesma trabalhei a pedagogia da terra, foi uma experiência
de trabalho que eu nunca tive, mas aí quando vc chega pra escola, barra porque
o MST é um movimento, então ele tem uma unidade e tem uma proposta enquanto
movimento, só que quando vc vai pra
educação do campo é uma coisa mais ampla e aí a necessidade de vc tá
interagindo.
Karla – Então ele limita?
Bia- Não é limitar, ele tem um projeto, ele é um movimento, tem que ser
dentro dos princípios deles, quer dizer o projeto de desenvolvimento do país,
que engloba, um projeto de educação deles.
João- a Roseli veio aqui em 97, 98 e agente tava conversando com ela,
que é praticamente a maior referencia em educação o MST e eu perguntei a ela sobre
a questão ambiental dentro da proposta educativa no MST. E ela disse que
nada.Aí perguntei por quê? João porque isso é uma coisa ainda muito recente e o
movimento como um todo ainda não incorporou essas discussões e é consensual,
quer dizer, na hora em que o movimento se der conta disso, é que isso vai
acontecer, ou seja, não havia uma discussão a priori para essa questão. Depois
eu tive uma oportunidade em 2007, quando estava em santa Catarina
tinha uma estudante, que fez uma disciplina comigo que o mestrado dela era
sobre a educação ambiental no MST. Foi o primeiro trabalho sobre educação
ambiental no MST. Para fazer um mapeamento, ela tinha uma relação forte com os
grupos gestores do movimento e ela teve muito acesso a informação. E na
conversa que eu tive com ela, ela disse: olha ainda hoje é complicado porque
tem muitas coisas que eles não admitem discutir, porque problematiza a questão
econômica. Ao discutir a questões ecológica, ambiental, problematiza e questão
econômica, então não se discutem essas questões. Na mesma época, praticamente,
eu tava aqui dando uma disciplina pro MST sobre Paulo Freire, com pedagogia da
terra e conversava com o pessoal que são educadores, formados, com licenciatura
voltada para eles que vão atuar dentro dos assentamentos e tudo o mais. Alguns
deles pensam a questão ambiental, de uma forma muito legal inclusive,
entretanto há um conflito sério porque eles já contestam, por exemplo a questão
das palavras de ordem, das imposições de alguns procedimentos que tem que ser tomados
e que fazem parte da doutrina do MST. Então como é que a gente pode ... essa é
uma das questões que a gente levanta: a educação no campo, uma das grandes
referencias da educação no campo é a proposta do MST, que na verdade tem uma
grande influencia freiriana. Entretanto como pensar isso a partir desse
princípios doutrinários?É complicado, em própria sala de aula as vezes eu
provocava e uma vez um disse: “é...mas é sem malícia”, aí o pessoal caia de pau
em cima “como que é sem malicia, isso é importante isso é fundamento... então,
quer dizer é complicado vc contestar esses esse princípios, são princípios
autoritários mesmo. O povo grita aquelas
palavras, tem que ser desse jeito, etc. tem umas questões assim, complicadíssimas.
Bia- E em relação a questão ambiental é assim, uma discussão que eu tô
fazendo é que a educação o campo e a educação ambiental, pra mim, é quase a
mesma coisa. Acho que daqui a algum tempo elas serão consideradas como
sinônimos, pra mim, pode ser que hoje não seja,mas acho que se elas continuarem
nessa direção elas vão se tornar sinônimos porque leva vc a refletir sobre todo
o teu relacionamento, quando vc começa a trabalhar a pedagogia da alternância,
quando vc começa a trabalhar em uma pedagogia que é voltada pro contexto e que,
o lugar, o campo é o contexto ambiental então vc começa a pensar de uma forma
mais direta, se vc entro dessa linha de agroecologia, toda essa linha de
sustentabilidade, elas são sinônimos, que por exemplo o MST ele peca, pq pensa
a questão do campo, a questão produtiva e ele vem pensado a questão ambiental
há muito pouco tempo. Ele tem uma prática produtiva que degrada tanto quando
qualquer prática tradicional. Isso vem sendo trabalhada há bem pouco tempo pq a
preocupação deles era com o acesso à terra e com a questão da produção pra
subsistência.
Dani- quando se fala disso como
um sinônimo, a gente não está tirando um pouco o foco da educação ambiental na
cidade, descaracterizando uma visão do todo e associando só a uma visão do
campo.
Bia- Mas aí, Karla, quando se está trabalhando a questão da educação no
campo não existe como vc dissociar a cidade do campo. É na verdade tem a sua
especificidade, mas vc pensa o projeto, vc ta pensando o projeto. Quando vc tá
trabalhando na educação vc pensa um projeto de sociedade. Pra mim é impensável
vc pensar o campo sem pensam na cidade.
João- Penso que a educação no campo tem suas especificidades que
precisam ser trabalhadas e para serem trabalhadas ainda é distintivo. Por
exemplo, uma das coisas fundamentais da educação do campo é exatamente discutir
uma educação que esteja integrada ao lugar
e estilo de vida que é o campo, que é completamente diferente do
contexto urbano. Então uma educação nas cidades, efetivamente cidades urbanas,
que precisamos também fazer uma discussão para saber o que significa isso
implica num outro conjunto de especificidades...da Universidade católica de
Brasília tava me dizendo que estão fazendo pedagogia da alternância na cidade
de Brasília, na área urbana e aí, bom, se pensa numa outra lógica, não é a
mesma coisa. De antemão pensar na pedagogia da alternância no urbano é
diferente de pensar a pedagogia da alternância no rural. Concordo com a Dani
quando ela diz assim, na cidade ela tem um conjunto de questões que são
diferentes. Eu diria que vai chegar um dia em que a gente não vai precisar
ficar fazendo definição do que é educação do campo, educação ambiente, mas
falta muito tempo ainda e o que a gente te propondo é que a educação ambiental
também esteja na educação do campo. Mas que a educação do campo tem as suas
especificidades e a educação ambiental tem as suas especificidades.
Bia: a educação ambiental são princípios trabalhados nos contextos. Ai
as especificidades.
João- só pra contextualizar, eu estava escrevendo um texto pra um livro
que vai sair agora da ARIC e me pediram para definir a questão da colonialidade
e na discussão sobre a colonialidade chega um ponto em que eu digo assim: “olha
quando a gente vai discutir colonialidade a gente tem de pensar o que significa
isso do ponto de vista do contexto atual” Existem problemas contemporâneos que
geram, necessariamente uma discussão compatível. Por exemplo, quando eu penso a
questão da racialidade no contexto atual...ai eu vou usar alguns verbos que eu
to propondo lá pra gente pensar essas questões, eu digo assim: esse é um
processo que desconstrua essa colonialidade, quer dizer, o processo de
descolonialização,eu tenho que pensar que esse processo precisa
necessariamente ter uma racialização, ou
seja, discutir o conceito de raças nesse processo, ele tem que ter uma dimensão
da ambientalização, ou seja, uma ação de pensar o ambiente e ambientalizar os
processos e ele tem que ter uma popularização no sentido de trazer a dimensão popular pra essa discussão
e tem que ter uma contextualização. Ora se eu penso a educação no campo, o
grande princípio da educação no campo é a contextualização, mas aí a
ambientalização é isso que a gente tem discutido bem mais recentemente que
ainda é bem pouco discutida dentro da educação no campo. Tem aquela menina lá
em Pernambuco que tem discutido isso um pouco, mas pouquíssimas reflexões
acerca da temática, mas assim...
Bia – Por conta desse viés, do viés do MST, mas onde há escola ela é
totalmente ...
Fenando- quando a gente fala de ambientalização e contextualização, o
que é a diferença de uma pra outra?
João- To propondo, porque eu faço essa proposição, mas quando é
apresentado de forma diferente é porque de fato a contextualização é não
necessariamente ligada a questões ambientais, agora, na leitura que a gente tem
do que é ambiental, contextualizar também é ambientalizar, porque os temas
fundamentais que vão potencializar essa contextualização, estão diretamente ligados às questões
ambientais, pq o ambiental incorpora o social, agora não só.
Bia – e no caso do campo essa coisa do ambiente é uma coisa muito direta
você tá lidando com isso de forma direta, imediata, diferente da área urbana em
que essa relação é mediada por vários objetos e no campo essa relação é
direta.
João- é aquela historia que eu
sempre conto do pai do Marlyn, lá de Irauçuba que diz: professor, quando os
velhos morrer, esse povo vai comer pedra porque ninguém quer mais plantar. Não
vai ter mais o que comer.
K- Em relação a essa desvalorização, vemos que alguns jovens que
trabalham na agricultura tem vergonha de dizer.
Vivi- (...)lá em Ubajara, quando fui, os filhos de agricultores tem, não
é aversão, mas são desconectados com a terra, então não entendo essa educação
popular e preparação pra escola....
Bia – é porque no Ceará isso é mais complicado.Eu como pesquiso em um
lugar qu é extremamente privilegiado, é outra história. Então é completamente diferente...eu fiz um
intercambio de educação do campo na Bahia e visitei 3 municípios na área de
Sisau e é impressionante o trabalho que é feito. Aí você tem um trabalho de
formação e acompanhamento nessas escolas. Você não muda a estrutura física da
escola. Você trabalha é o professor, então os meninos adoram a escola. Todo o
ensino, toda a pesquisa é feita pro contexto em que esses meninos vivem, aí tem
um viés sobre a questão ambiental também. Agora no Ceará, infelizmente, a gente
tá muito aquém.
Manoel- educação rural e educação do campo...antigamente se falava em
educação rural e era aumentar a área da
escola, construir escolas, essa era a idéia daqueles projetos antigos, da época
do professor João Figueiredo, era o pró-rural o projeto nordeste, os grandes
projetos quando viam pra educação na área rural era nesse sentido: era expansão
das salas de aula e hoje quando se fala em educação rural se lembra muito do
MST, mas a educação rural não se limita só ao MST não, vai da educação infantil
ao ensino superior e hoje tá chegando mais educação superior, depende muito do
município e das lideranças, tá chegando é ensino superior, agora eu não sei a
qualidade. No caso do Tauá nós temos uma média de sete a oito faculdades. Agora
não sei a qualidade.
João- mas isso não é educação do campo, é educação no interior.
Adriana- Tá chegando ao morador do campo.
Ana- mas a proposta não é de educação do campo é
Karla – mas isso na é educação do campo é expansão de proposta
capitalista pra educação, porque são pagas...
(confusão de falas)
João- Vou retomar aqui uma discussão mais recente ...e a gente até
chegou a elaborar uma reflexão sobre essa questão e a gente viu que os dados
indicadores, naquele momento em que a gente viu esse material, eles eram trágicos e continuam. Esse
indicadores, são trágicos, eu acredito que a gente vais ter só a confirmação
desse processo: exclusão, o que a gente pode chamar de expulsão da escola, por
isso que a gente chama de expulsão escolar mesmo porque o aluno é “reprovado”
ou “tem que desistir” porque não tem condições de se manter. Então são os
piores índices de reprovação e abandono e reprovação que a gente tem, são os
índices do semi –árido brasileiro. E de defasagem de idade, quer dizer, fora da
faixa, a questão do numero de analfabetos continua enorme, apesar de os
indicadores serem de apenas 8%, e porque que são enormes apesar de apontarem só de 8%? Porque hoje o que nós podemos
chamar de analfabetismo, o que as políticas públicas de educação tem de
incorporar e que ainda não incorporaram, não pode ser só quem sabe ler ou
escrever não. Porque o cara pode até saber ler e escrever, mas se ele não tiver
acesso a internet, se ela não souber usar o computador ele tá fora do sistema.
Ele tá estritamente fora do mercado de trabalho. Então ele tem que ter noções
de uma língua estrangeira compulsoriamente pq se ele for usar um computador ele
tem que ter noções de língua estrangeira, tem que ter noções tecnológicas, pra
usar um celular...ou então ele tá fora do mercado de trabalho. Isso no
interior, o caba pra trabalhar tem que saber pelo menos digitar, então o
analfabetismo hoje não é mais saber ler ou escrever, a gente alimenta esse
índice de 8% pra mais de 50 %. No Semi-árido brasileiro o índice é exacerbado.
Eu não tenho dados não, mas eu tenho quase certeza de que é mais de 50 %
Bia- é não, o índice é de 30%,
pelos dados do ministério são 30.
João- o que? De analfabetismo funcional? Mas isso é brincadeira, se a
gente chegar em qualquer cidade... Então vamos supor mesmo esse dado de 30%,
isso é uma situação alarmante! E porque
é desse jeito? Exatamente porque os processos educativos são fundamentados em
uma lógica que não tem nada a ver com a realidade do lugar, são desconectados
do real. A questão da oralidade, por exemplo, que é uma questão vital é
totalmente desconhecido pelos professores. Lá em Tauá os professores não sabem
nem o que é esse negócio de oralidade, a não ser um detalhezinho no curso de
letras, uma disciplina no curso de pedagogia., mas do ponto de vista da
qualificação do profissional educador, isso não existe! E olha que é uma
escola, um campo da universidade que foi feito para a interiorização da educação.
Há toda uma política de interiorização da educação, no entanto uma
interiorização no sentido mais perverso, porque o que leva pro interior, é uma
educação que não tem nada a ver com o interior, e olha que é uma universidade
publica, se for pegar uma universidade privada, nem se fala. É um projeto
educacional que não tem na da a ver com a educação no campo, porque a discussão
de educação no campo tem um viés político, de pegar aquela problematização e
contestação que faz sobre educação rural e dizer assim: gente tem que ser uma
educação compatível, pertinente, integrada e contextualizada com o lugar. Então
tem que trabalhar é com essa realidade do lugar. Isso é que é educação do
campo. E aí uma das teses que a Bia tá propondo no trabalho dela é que a educação
do campo, apesar de avançar consideravelmente, ainda tem muitas coisas a
avançar, entre elas acrescentando a questão ambiental. Porque essa educação do
campo, que é um avanço, politicamente, ainda assim, não vem problematizando a
questão ambiental. Então você trabalha a questão do contexto local, mas não
trabalha esse contexto local a questão do desafio dos problemas ambientais
locais.
Bia- E nacionais.
Adriana – talvez seja porque eles
são todos fechados. Por este aspecto, contextualizar, mas eles precisam também
daquela mão-de-obra, aí da produtividade daquelas pessoas dentro do
assentamento, tendo em vista que aí já uma parceria que eles fazem junto ao
ministério e ao Incra que...o
desenvolvimento dentro do assentamento. Eles indicam pessoas que tem a
formação, pra que essa formação seja contextualizada de acordo com as
necessidades e as regras que eles tem no próprio plano. Então por isso que as
vezes eles se tornam tão fechados nesse sentido da educação. Preparar esses
jovens pra que eles assumam... no movimento. Então assim, é algo que não é tão
fácil. Você poder..., manter a produtividade dentro do assentamento, conseguir
esse título de domínio da terra, se emancipar...
Bia- Eu acho que é mais do que isso, mas vamos deixar pra discutir isso
mais na frente. Educação do campo é o contexto ,mas ela é o contexto pensada de
uma forma mais ampla, porque se você se limita só ao contexto, você, reduz,
limita a visão de mundo das pessoas.
Manoel – O nosso ...reitor,
Martins Filho falava: “pensar o universal
a partir do local, por isso que o símbolo é a carnaúba...
Bia- Mas a antropologia faz isso.
Patrizia- (...) quem é que pode falar de MST? (...) Tô me perguntando
também em relação a essa questão da educação especifica no MST porque o João
colocou aqui agora, os indicadores do campo e que o analfabetismo não é só não
saber ler e escrever, mas é não ter acesso ao sistema. E aí eu me pergunto: O
MST tem conseguido (...) é outro mundo. Por isso a educação não sei..tô
pensando agora, mas eu penso assim: é um mundo fora desse sistema. A gente fala
assim da inclusão, inclusão de que? Do sistema e do sistema capitalista. E a
ideologia do MST não quer ser o sistema capitalista. Então eles pensam a partir
da terra a educação... existe um exemplo de faculdade no MST onde as pessoas
trabalham no campo e estudam, quer dizer, também se mantém. A instituição, a
educação trabalhando e todos que trabalham não é com separação uns trabalham no
campo e outros estudam, mas é uma idéia de uma visão de mundo totalmente diferente
(...) então essa questão de (...) são duas coisas completamente diferentes.
Bia- Eu não entendi o que você colocou.
Patrizia: Eles tem que partir de que? A situação que (...) é uma
situação que se deu a partir de um processo (...) que tá tomando conta do
mundo. O que nós estamos fazendo? Tentando incluir todo mundo nesse que tá
continuando? Nesse pensamento mercantil. A nossa educação é galgada em cima
desse princípio.
Bia – Não, mas a educação do campo e ai o MST, eles trabalham uma outra
concepção. Essa proposta de educação do campo, ela parte do contexto, mas ela
não se circunscreve ao contexto. Ela tem um projeto maior. Projeto de educação dos meninos parte da
realidade deles, MS ela tem uma proposta de sociedade. Tem um projeto
Patrizia - Mas é outro tipo.
Bia- Sim é outra.
P- mas esse ai não (...) essa questão de reclamarem de as pessoas não
serem incluídas no sistema, não é compatível porque não é essa a lógica.
João – mas Patrizia, quando você fala assim, me dá a impressão da
seguinte forma...então deixa eu tentar explicar como é que eu penso isso, mas
não é um pensar muito maduro sobre isso. Eu penso que a gente tem que
qualificar para entrar no mercado de trabalho sim, mas agora entrar no mercado
de trabalho com uma outra lógica. Pra contestar esse modelo e tentar propor um
modelo diferente de sociedade, mas não é fora da sociedade. Não dá pra imaginar
que eu posso propor a esses estudantes que eles sejam anarquistas, que não se
vinculem a essa sociedade que está aí e que eles saiam totalmente desse sistema
porque se eles fizerem isso les vão morrer de fome. Se eu não ppreparar esses meniinos pra entrar
no mercado de trabalho eles vão morrrer de fome ali na coxia e não vão fazer
coisa nenhuma pra mudar nada. Então isso a principio eu to tentando problematizar.
Do mesmo modo quando eu penso a educação do campo eu penso em contribuir com a
qualificação dessas pessoas no sentido de que elas tenham condições sim de
produzir pra se manter. Agora que esta produção seja cada vez mais descolada
dessa lógica capitalista. Não dá pra fugir da idéia de que estão inseridos no
sistema e que vão depender do sistema inclusive pra se manter. É nesse sentido,
agora que eles tem que sair desse modelo, sim, que eles tem que propor um outro
modelo, sim, mas que eles possam pensar
outro modelo, mas dentro da sociedade. Só posso problematizar essa sociedade
dentro dela. A educação no campo propõe questionar essa lógica, que na medida
do possível eles possam propor uma sociedade diferente, sim, mas dentro da
sociedade na qual nos encontramos, que a gente não tá fora dela. Eu só posso,
na minha compreensão e na minha escolha problematizar essa sociedade nela. Tem
quem faça diferente. Tem aquele Norton, que fez um livro com Paulo freire. Ele
propõe discutir a sociedade fora da sociedade. Ele conseguiu fazer isso lá nos
EUA, mas a contribuição que ele deu, pouquíssima gente conhece. Pouquíssima
gente foi beneficiada com as reflexões que ele fez. Então eu acho muito mais
limitada essa proposição, eu acho, por exemplo, muito mais limitada do que a
contribuição que Paulo Freire deu, que propôs isso dentro da lógica do sistema.
Criticar essa lógica, dentro dessa lógica. Mas então, a educação do campo, ela
propõe questionar essa lógica, mas propõe qualificar as pessoas para estarem podendo
sobreviver nesse sistema.
Bia – E construindo uma outra coisa. Você tem uma concepção de mundo.
João – a idéia das escolas que trabalham a pedagogia da alternância, as
escolas famílias agrícolas, é uma proposta super avançada porque abre uma possibilidade
incrível. Eu tive agora, a convite do movimento eclesial de base, no Cariri
conversando sobre a pedagogia da alternância eles vem na pedagogia da
alternância a possibilidade enorme de chutar o pau, de fazer outra coisa,
inclusive professores e diretores de escolas ligados ao sistema e levar pra sua
escola ligada à rede uma idéia diferente, mas ainda tá na rede. É como em
Irauçuba a gente tá fazendo uma problematização do sistema, tá propondo uma
mudança, a gente tá trabalhando com as três maiores escolas do município, os
professores estão pensando em uma estratégia diferente, mas ainda é dentro do
sistema.
Patrizia – você não pode estar fora do estado, como é que pode estar
fora? Tem que mudar por dento, por assim dizer.
João – mas se vai mudar por dentro, eu tenho que deixar a possibilidade
de as pessoas sobreviverem nesse contexto.
Bia- A lei 9324 de 96 define no
artigo primeiro que a educação abrange os processos formativos é diz que educação abrange os processos formativos que
se desenvolvem na vida familiar...no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa e desenvolvimento social e organização da sociedade civil e nas
manifestações culturais. Quer dizer, que essa concepção de educação é que vem
norteando todo o sistema educacional brasileiro. Ou seja, educação não é só o
processo de escolarização, mas tudo o que abrange a vida da pessoa na
sociedade.
João- Só que a agente tá fazendo o contrario, a gente tá levando pra
todos os lugares a mesma fuleragem. Ao invés de trazer um projeto educativo
efetivamente crítico e transformador que aconteça nas várias instancias, a
gente tá fazendo um processo alienante e domesticador que acontece nas diversas
instancias, inclusive nas famílias.
Bia – Você tá falando do processo de escolarização pra tudo.
Manoel – (...)
Patrizia- quando você diz: eu não deixo de formar para o mercado...
João- não também não vamos exagerar, não para o mercado...educar para
que a pessoa tenha condição de sobreviver no sistema, não para o sistema
Patrizia – Sim a pessoa vais conscientizando e vai pro mercado. De que
jeito ele pode mudar essa estrutura? Tem uma escola particular, por exemplo,
que tem essa estrutura, que não pode pular fora. Até na pública, você pode até
adequar, mas na privada, por exemplo?
João- Eu vou falar em nome dos meus colegas, vou falar a partir da
privada. Eu acredito que o trabalho que o Fernando e a Dani fazem é um trabalho
que leva uma contribuição sim, tá problematizando essa questão.
Patriizia- tem a possibilidade em uma universidade privada de fazer uma
outra coisa...
Dani- Pelo menos no meu caso, tem.
Tereza- Eu levei a Magda na semana passada e a briga foi feia. O nível
de discussão na faculdade...e aqui em Maracanaú, onde a gente tem um curso de
especializaão em
educação Ambiental , de uma forma ou de outra a gente tá
levando, por exemplo a Magda, no dia llevou discussões bastante importantes
junto até a secretaria do meio ambiente, técnicos...penso que dá pra criar
discussões bastante interessante.
Dani- na minha experiência eu sou professora do curso de administração.
Então, se em outras áreas existe uma lógica para o mercado, imagine na
administração. Os meninos saem querendo ser gestores de empresas, ou seja,
totalmente capitalistas. Eu consigo levantar questões visando a mudança na
percepção deles, na forma como eles enxergam ...e hoje apesar da resistência,
porque eles não conseguem ver possibilidade de superar o que tá posto, a gente já começa a perceber... eu lanço a
idéia de que eles desenvolvam um projeto de educação ambiental ou relacionado a
gestão, que pode ser em qualquer lugar, pode ser em uma escola, no condomínio
deles, em qualquer lugar que eles escolham... é uma forma de tá trabalhando
isso e tem sido muito gratificante chegar ao final do semestre e ver como eles
conseguem ver outras possibilidades.
Fernando- no meu caso, tem acontecido uma coisa bem interessante na
minha escola. Primeiro que uma pessoa bem jovem assumiu a direção e isso, de
uma forma ou d outra tem trazido novos ares pra escola. Eu sou coordenador de
artes e me convidaram pra escrever o novo material didático, o livro de artes
pro ensino fundamental e aí que eu acho que a gente avançou ...bem eu topo, eu
sei,mas eu não quero fazer isso sozinho, quero todas as pessoas que trabalham
com arte na escola pra gente dialogar e mai do que escrever esse livro
didático, é a gente repensar como a arte é trabalhada dentro da escola como um
todo. Porque não adianta eu escrever um material para o fundamental, se no
núcleo infantil trabalha de outra maneira, se nem existe arte lá no ensino
médio e se nos cursos livres, que não fazem parte do currículo também se
trabalha de uma outra forma. Então é uma proposta que a gente tá agora, eu to
começando esse trabalho uma proposta de repensar a arte na escola como um todo
e eu acho que a arte é uma ferramenta importantíssimo, privilegiada para se
trabalhar a sensibilização dos jovens para um mundo mais possível de se viver.
Patrizia (...)
Bia: ele tem uma formação política, trabalha a formação voltada para a
terra e principalmente a questão política. Acho que o Manoel que trabalha com o
MST pode dizer de forma mais.
Mmanoel- na região norte tá começando um projeto de expansão das escolas
alternativas. Com a pedagogia da alternância. Em Ipueiras, Santa Quitéria, na
região dos Inhamuns, tá todo mundo começando com a pedagogia da alternância.
Bia - tem a possibilidade de sete escolas família agrícolas.
Patrizia- em que vão trabalhar esses alunos? Vão fazer o que? estudam
pra que no mst?
Bia –as escolas do MST, como as escolas do Brasil, tem a educação básica. Discussão desde o
inicio é que quando vc trabalha a questão da educação contextualizada para o
campo, você começa a estudar a realidade das pessoas. Por exemplo eu nunca
estudei os rios brasileiros, só bem mai tarde. Os meninos que estão lá não estudam os rios deles eles
vão estudar europeus primeiro e lá pela quarta, quinta série do ensino
fundamental é que eles começam a ver. Aí as escolas que os meninos do MST
estudavam também era desse jeito, então eles começam a trabalhar a questão dos
acampamentos, depois de algum tempo eles começaram ter uma educação voltada
para a realidade das pessoas que tão assentadas ou que tão em ocupações. Voltada
pro campo.
Patrizia (...)
Bia - Muitos fazem o ensino superior e muitos voltam...professores,
comunicação da terra.. vão pra Cuba fazer medicina e já voltaram.
Joãoo- eles ficam atuando na comuidade.
Patrizia - eles tem os próprios
médicos, os próprios professores etc.
João - não tem ainda, mas vão ter.
Patrizia- então é uma outra sociedade ao lado de outa.
João- a ideia é construir uma sociedade alternativa.
Patrizia- Era aí que eu tava querendo chegar.
Bia- eles tem um projeto, Patriizia, mas quando chega na parte ambiental
eles escorregam.
Adriana- Deixa eu dar um exemplo, no assentamento em que estou
trabalhando- em relação aos resíduos sólidos, a prática é queimar, enterrar ou
jogar em terreno baldio. E eles sentem a necessidade de investimentos nessa
área da educação ambiental, da reciclagem já tentaram iniciar uma parceria
com...eles tem que cumprir uma média lá de ...por exemplo, pra produtividade
dentro do assentamento, então acaba ficando de lado essa questão.
Vivi- eu não conheço muito bem o MST, a única oportunidade que eu tive
foi na disciplina de movimentos sociais, que foi convidado, e a idéia que eu
tenho é assim que as pessoas tão se formando pra uma sociedade alternativa, não
capitalista, mas também às vezes eu penso assim: tem uma hierarquia e o chefe,
o comandante tem um tipo de sociedade, não tal como o capitalismo, mas que aqueles
que tem um poder aquisitivo maior, que acabam liderando, mantém o domínio
diante daqueles que não tem. Até que ponto é diferenciada dessa sociedade
capitalista na qual nós vivemos? Eu tenho dúvidas.
João_ quando a gente pensa em um projeto alternativa a gente pensa que é
todo mundo igual e todo mundo igual, portanto todo mundo tem os mesmos direitos
e deveres, então todo mundo faz a mesma coisa, todo mundo...efetivamente a
gente sabe que a humanidade não é assim. Primeira questão. Segundo, o fato de haver
um projeto democrático que é, por exemplo o projeto do MST não implica na
negação da hierarquia. Existe a necessidade de coordenadores. A grande questão
é que não há essa coisa de uma classe que explora outra classe. Há um projeto
de sociedade em que há um compartilhamento social. O projeto de sociedade é um projeto de
compartilhamento social. Essa é que é a grande questão.
Karla – e apesar dessa questão, que eu até acredito que é necessário
mesmo, de uma hierarquia bem forte, porque eles têm que lutar contra um mundo,
né? Sendo uma organização bem forte e bem disciplinada, mas, diferente do que a
Vivi disse, as vezes quem tá acima não necessariamente é o mais rico. Pode o
mais rico estar abaixo hierarquicamente ou nem participar da direção. Os que estão
acima são os que tem maior articulação política, são os líderes realmente e não
necessariamente os que tem mais dinheiro.
Fernando- Foi lançado um CD “os sem terrinhas”, das crianças do MST, que
tem algumas canções que toca nessa questão do meio ambiente. Tem uma musica que
é linda eu diz: não jogue lixo no chão, chão é pra plantar semente, pra dar o
bendito fruto pra alimentação da gente. Tem algumas musicas que tocam essa
questão do meio ambiente.Eu acho que já é pelo menos uma semente.
Bia _ no artigo 28, do capitulo 2 da constituição, ela estabelece que a
oferta da educação básica para as populações rurais, do sistema de ensino, deve
sofrer as adaptações necessárias para adequar as peculiaridades das populações
rurais de cada região. Aí em termos de conteúdos curriculares, as metodologias
apropriadas, e os interesses dos alunos da zona rural. As organizações escolar
próprias. Aí entraria os calendários para as fases do ciclo agrícola, as
condições climáticas e a natureza do trabalho rural. Aí qual o maior
impedimento que a gente tem? É em relação ao TCU, em relação ao financiamento.
Porque a forma de prestação de contas, era tudo feito de uma forma linear,
pensando só o urbano aí quando você vai trabalhar as especificidades do rural
você ..as vezes o calendário escolar não seria o calendário de um ano, ele
entraria de um ano pra o outro, ai isso em termo de orçamento pra união é
ruim...o maior impedimento é a questão orçamentária.
Karla – teve um trabalho que eu fazia lá em Tauá, em trabalho passado, a
gente fazia um calendário com os agricultores, em que havia várias atividades:
a questão da escola, alimentação, emigração, água, etc e a gente via que o ano
que era considerado bom pra agricultura
era um péssimo ano pra escola porque no ano bom as crianças saiam pra
trabalhar e o ano que era seco, ruim pra agricultura era um ano bom pra escola,
porque elas frequentavam mais a escola por causa da merenda escolar e por causa
da água, já que a escola tinha a cisterna maior e ano que era considerado bom
as crianças precisavam ajudar os pais no plantio e na colheita e por isso saiam
da escola.
Fernando - tem uma questão que eu
acho que é pertinente. Esses professores sabem reconhecer, valorizar e admirar
esse trabalho, essa comunidade? A Mayara uma vez até colocou aqui pro grupo a
questão de uma comunidade, que me parece era em flexeiras, que a professora
colocava pro meninos: “menino tu estuda porque se não estudar tu vai ser igual
ao teu pai, pescador. É uma questão de cuidado.
João – no interior, dizem : puxar a cobra pros pés, coma enxada.
Bia- na área rural é mesma coisa. Então a gente tá quase concluindo. A
educação rural no Brasil nunca teve diretrizes políticas e pedagógicas
especificas pra regulamentar o funcionamento, a organização da escola. A gente
nunca teve uma adaptação orçamentária, a gnte tá começando a ter, agora,
adequada, que possibilite tanto a institucionalização, quanto a manutenção da
escola em todos os níveis...essa discussão tá começando agora. Se as pessoas
forem inteligentes vai dar um salto qualitativo imenso. A gente tem 500 mil
escolas no campo no Brasil inteiro. Então a gente é capaz de dar um salto
qualitativo imenso em dez anos. Ai a educação do campo se constrói em oposição
ao conceito de educação rural a exceção seria aquele...as escolas
radiofônicas e o trabalho que o Paulo
Freire fez. Mas mesmo assim, essas experiências que foram de quinze anos a
gente tá incluindo dentro do que seria educação do campo. Ela hoje tem a cara
dos povos do campo. Aí o que que tá se chamando de povos do campo? São os
agricultores, os extrativistas, os caçadores, a população ribeirinha, os
pescadores, os indígenas, os quilombolas, os posseiros, arredatários, meeiros e
pequenos proprietários. Então a gente sai dessa concepção de rural que é só o
homem que trabalha na terra e passa ser toda essa gama de populações que são as
tradicionais do Brasil e que vivem ligadas a natureza de forma direta. Essa
atividade seja uma atividade produtiva ligada diretamente ao meio natural. E
ela rompe com essa idéia de que o campo, é o lugar do atraso, de que é
inferior. Por isso que eu tava colocando assim, a proposta de edducação do
campo é, pra mim, só tem sentido de você pensar em um projeto mais amplo,
dialogando com o rural. Não tem como você pensar isso sem dialogar com o rural.
Em 95 você tem congresso nacional
do MST que começa a discutir isso. Aí
depois você começa a discutir a questão da educação, porque quando o MST começa
ele não trabalha a questão da educação. Nos anos 50, a Contag, as ligas
camponesas também não discutiam a questão da educação. No máximo a discussão
era da questão da formação política dos sindicalistas, das lideranças. O
próprio MST trabalhava com a questão das lideranças. Aí em 97 tem o primeiro
encontro nacional de educadores e educadoras da reforma agrária, já puxado pelo
MST. Em 98 a
primeira conferencia nacional de educação no capo, que é como se trabalha essa
concepção do que seria a educação básica do campo. Hoje a gente não chama mais
de básica, a gente tá falando de educação do campo. O que abrange todos os
níveis de escolarização. Aí em 2002 tem as diretrizes operacionais para a
educação do campo, no Google tem como
baixar, é muito importante pra ler. Aí em tem 2002 tem a criação do grupo permanente
de educação do campo, que passa a ser ao comissão nacional de educação do
campo, que hoje tem poder de decisão dentro do MEC, antes ele era só
constritivo e hoje ele tem poder
deliberativo e em 2004 tem a segunda conferencia nacional de educação do campo
e em 2004 tem a secretaria de educação continada, alfabetização e diversidade,
que dentro dela tem a coordenação de educação do campo, que a briga hoje com o
MEC é de transformar essa coordenação em uma secretaria, que tem mais peso
político.
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