Tema da semana:
planejamento semestral para o período 2015.2
Geadians envolvids: João, Jon, Renata, Valéria, Tânia, Magda,
Patrizia, Maclecio, Mazinho, Moyse, Anúsia, Fátima e participação de Camilla.
1. A praia como ambiente para relação:
1. A praia como ambiente para relação:
Para esse planejamento usamos do
método ‘praforamento’ – consiste na ida a algum lugar alternativo para mudança
de ares - escolhendo a Praia do Futuro como ambiente. Lá aproveitamos o espaço
e o meio para fazer da reunião uma relação mais agradável e compromissada.
Assim, pouco a pouco chegaram à barraca escolhida @s participantes:
2. Jogando tarô:
2. Jogando tarô:
Para coordenar as projeções do grupo para o semestre seguinte, João lançou as cartas do baralho Rider-Waite, na perspectiva de um tarô. Mas o jogo de interpretações se deu com as representações imagéticas de cada participante em relação a cada um a partir do ícone escolhido da carta que uma a uma foi traçada.
Do destino geadiano, as cartas disseram: 8 de paus para João; Ermitão para Maclecio; Rei de Copas para Magda; Ás de espada para Tânia; 4 de paus para Camilla; Juízo final para Jon; 3 de espadas para Mazinho; Sol para Anúsia; Cavaleiro de paus para Fátima e 9 de copas para Patriza. (* infelizmente não fiz anotação da carta de Valéria :o
Com relação a elas, como se comportarão as pessoas ao longo do tempo que virá no Gead? E, como será o Gead?
A etapa seguinte foi a descrição das principais características de bichos que pudessem representar o que seria o grupo no período adiante, cada um fez a sua, surgindo principalmente bichos da terra e do ar. Alguns que transitam pela água:
Havia o som do mar, o vento, nuvens no céu, que muito azul se realçava. Rolou água de coco, uns poucos goles de cerveja, saladinha, caranguejo, dentre outras comidinhas. Vez outra e quase sempre risadaria. Foi assim que de uma hora para outra deu-se o tempo do almoço. Muitos pratos e outros papos...
Desse trajeto, especialmente a partir dos bichos, os temas e as formas metodológicas de interesse individuais foram colocados como sugestões para o fazer do grupo. Daí, foram postas contribuições em torno da descolonialidade auto-biográfica (Marzinho), metodologia anfíbia (Jon), etnografia intercultural reptiliana (Magda), a reflexão própria em contraponto a mera revisão bibliográfica (Patrizia), Etnografia e a questão de gênero (Anúsia), Perspectiva Eco-Relacional e subalternidade (Renata), articulações dentro e fora do grupo (Maclecio), estudos em Freire (Fátima), pesquisa engajada (João), educação ambiental (Valéria e Tânia)..
Com tantos temas e a partir das nossas trajetórias e experiências passadas, percebemos que o dilema do planejamento estaria em tentar contemplar temas diversos ou aprofundar temas de base e identitários do grupo?
De um lado, abriria a possibilidade da diversidade, mas que pelo pouco tempo de reunião disponível e pela oportunidade de fortalecer as bases epistêmicas e as perspectivas futuras do Gead, o grupo, após debate, apostou na consolidação dos referenciais de base com ênfase nas contribuições que trazem para as nossas atividades presentes e nossos saberes. Dessa maneira, 3 viés foram estabelecidos:
1) Estudos
da (des)colonialidade e interculturalidade – como uma construção de novas
epistemologias:
Nossa busca é por compreender melhor a origem, @s
autores/as e as principais categorias desse campo, de modo que possamos
dialogar com eles/elas sobre as nossas experiências de educação e pesquisa
ambiental. O último encontr o desse eixo temático pode originar a realização
de um ateliê autobiográfico descolonizante, que funcionará em paralelo,
complementando as reuniões de sexta.
|
2)
Educação – dialogada a partir da pedagogia do oprimido e da educação
ambiental:
Vamos fortalecer os princípios que animam as
nossas experiências de educação, estudando e expandido os contributos de
Paulo Freire na construção de perspectivas de educação popular. Emerge nessa
caminhada como oportunidade de uma práxis Eco-relacional. Por isso, será
mobilizada em nossos encontros.
|
3)
Pesquisa engajada – como possibilidade concreta de realização a partir do
Gead.
Reencontraremos alguns/algumas de noss@s
princípios e parceri@s. Assim re-conheceremos o que e como são realizadas
pesquisas que se inspiram nos estudos da (des)colonialidade e
interculturalidade, de Paulo Freire e da educação ambiental dialógica. De
maneira que possamos caminhar, trocando e fortalecendo parcerias e
Eco-Relações.
|
Nesse movimento
definimos algumas maneiras de trabalho. Dos dois grandes primeiros eixos
temáticos foram estabelecidos dois grupos de facilitadors, que se organizarão (agenda,
materiais e meios, abordagens, referenciais, facilitadors ou coordenadors etc.)
para alcançar as perspectivas que foram traçadas para cada bloco, acima
exposto. O terceiro eixo seria definido ao longo do semestre de acordo com as
possibilidades de possíveis convidads e do andamento das pesquisas e
experiências desenvolvidas pels geadians.
Do dia resultou o seguinte cronograma de atividades:
Mês
|
Dia
|
Tema/atividade
|
Relatoria
|
Facilitadr/coordenação
|
Eixo/Referencial
|
Agosto
|
7
|
Acolhimento
|
A
definir
|
Todos
|
-
|
14
|
Colonialidade
do poder
|
A
definir
|
Valéria,
Maclecio,
Marzinho, Patrizia,
Renata
e
Anúsia
|
Estudos da colonialidade e
interculturalidade: a construção do campo, histórico, autores, categorias,
etc.
|
|
21
|
Colonialidade
do poder
|
A
definir
|
|||
28
|
ARIC
(FIGUEIREDO)
|
A
definir
|
|||
Setembro
|
4
|
ARIC
(FIGUEIREDO)
|
A
definir
|
||
11
|
Interculturalidade
(WASH)
|
A
definir
|
|||
18
|
Interculturalidade
(WASH)
|
A
definir
|
|||
25
|
Síntese
temática e anúncio do ateliê
|
A
definir
|
|||
Outubro
|
2
|
Pedagogia
do oprimido
|
A
definir
|
Fátima,
Valéria,
Magda,
Tânia,
Moyse
e
Jon.
|
Educação Dialógica
|
9
|
Pedagogia
do oprimido
|
A
definir
|
|||
16
|
Folga
após feriado
|
A
definir
|
|||
23
|
Pedagogia
do oprimido
|
A
definir
|
|||
30
|
Feriado
|
A
definir
|
|||
Novembro
|
6
|
Educação
ambiental (dialógica)
|
A
definir
|
Patrizia,
Marziho,
Maclecio
e
Valéria
|
|
13
|
Pesquisa
engajada (FIGUEIREDO)
|
A
definir
|
Magda
e
João
|
Pesquisa
|
|
20
|
Diálogos
sobre pesquisa (Parceirs)
|
A
definir
|
Tods
e convidads
|
||
27
|
Diálogos
sobre pesquisa (Em andamento)
|
A
definir
|
Tods
|
||
Dezembro
|
4
|
Avaliação
|
A
definir
|
Tods
|
|
11
|
Planejamento
|
A
definir
|
|||
18
|
Confraternização
|
A
definir
|
Temos como outras propostas para organização do acervo do Gead: a reativação do blog (http://ufcgead.blogspot.com.br) e a continuidade do grupo (https://www.facebook.com/groups/482385755119028/) e página do facebook (https://www.facebook.com/pages/GEAD-Grupo-de-Educa%C3%A7%C3%A3o-Ambiental-Dial%C3%B3gica/385811881469958). Além disso, o grupo yahoo continua como diálogo virtual de sempre. Que troquemos ideias, leituras, experiências, eventos, afetos etc.
Finda o dia, clima
ameno. As cores da tarde começam a sinalizar mudanças. Fim de semestre. Um
coletivo abraço. Uma prece. Despedidas e cada qual segue o rumo da vida. O os
astros diriam?
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Responsáveis: Valéria e Klertianny
Presentes: Andrea, Anúsia, Ana Valéria, Clédia, Fátima, João, Jairo, Klertianny, Maclécio, Magda, Maria de Jesus, Mazinho, Patrizia, Rafael, Renata e Tânia.
Texto para reflexão: Interculturalidade Crítica e Pedagogia Decolonial: in-surgir, re-existir e re-viver. Autora: Catherine Walsh.
1° Momento: Dinâmica: Desenho acompanhado de frase ou não e direcionado a alguém do grupo ou não. Cada pessoa pega o trabalho de outra pessoa e faz a leitura do que está no papel. Depois de todas as pessoas terminarem a tarefa, Maclécio inicia explicando a ligação da dinâmica com o livro Educação Intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas com o artigo de Catherine Walsh “Interculturalidade Crítica e Pedagógica Decolonial: in – surgir, re- existir e re-viver.
2º Momento: 1. Escrever uma situação com exemplo de dominação (Atividade: Criar uma frase sobre dominação direta ou indireta de um grupo social ou indivíduo que você tenha vivenciado ou assistido) e 2. Escrever uma situação de libertação da dominação (Atividade: Escrever um exemplo de emancipação de uma pessoa ou grupo, que pode ser algo que você tenha vivenciado em sua prática). Seguido por todas as pessoas a metodologia, as inscrições foram abertas para grupo se colocar.
Maclécio: Explica esse momento das falas dos integrantes do GEAD.
Magda: Formula a seguinte pergunta: Se os teóricos pensam na perspectiva de sobrevivência e emancipação da América Latina? E responde: quando os autores trazem ou melhor, “pinçam” esses movimentos e dão visibilidade estão desenvolvendo essa perspectiva.
João: A força da Península Ibérica no mundo e hoje claramente a Alemanha influencia toda a Europa e o resto do mundo. Ideia da interculturalidade funcional, Walsh esteve em Santa Catarina. Legitimar esses processos de interculturalidade. Banco Mundial gerido por este bloco hegemônico da atualidade. Alemanha, EUA e China puxam para si essa lógica do acumulo de capital que existe na política neoliberal. Silvio Galo (professor da UNICAMP) tem um texto interessante sobre modernidade (texto que João pediu para ser cobrado para trazer para o diálogo em outro encontro), fala do poder da modernidade tem de se transmutar diante das demandas populares. América Latina é reconfigurada, da ditadura para dirigentes do povo com um indígena e um metalúrgico.
Magda: Essa reconfiguração é um tipo de permissividade para que o capital continue funcionando. Equidade nesse modelo. Será se essa abertura da interculturalidade crítica não é uma forma de qualificar a interculturalidade funcional no diálogo face a face? E não mais “engolindo tudo o que vem de cima” que já está definido pela política vigente?
João: Precisamos entender que uma proposta de crítica seja ela qual for a ideia é radicalizar. Proposta d literal em concretude trazendo assim a postura dogmática, que tenho tentado afastar, pois ela proporciona o fechamento para o diálogo. Fala sobre o diálogo ser impossível com aqueles que não querem dialogar. Boaventura de Souza Santos tenta dialogar com o grupo da colonialidade onde ele foi rechaçado por ser considerado europeu e não estar pensando em mudanças significativas. Precisamos ter o cuidado epistemológico que embora nos traga fragilidades, embora traga o problema da dogmatização, nos garante legitimidade mas impede o caminhar.
Valéria: Na América latina a gente elege um operário, a gente elege um índio, a gente elege Mujica como uma pessoa que foram cooptados. Se a esquerda não conseguir dominar a crise a crise irá dominá-la (Boaventura de Souza Santos).
João: Não se sabe se Evo Morale e Mujica não conseguiram garantir pois a gente não tem essa informação, temos a informação daqui, do Brasil e todos foram cooptados.
Mazinho: A interculturalidade crítica e a decolonidade não vão surgir do Estado e nem da academia, elas vão sair dos movimentos sociais. Os movimentos sociais e suas demandas são atendidas parcialmente pelo estado (mitigação) que o controla. Não sou contra cotas, mas do meu ponto de vista cotas e a escola indígena é exemplo de interculturalidade funcional. Como é que o movimento pode surgir das bases com a cooptação que é feita das lideranças populares? Como se pode fazer um grande movimento social? Como é possível essa interculturalidade crítica e essa decolonidade? Walsh fala das pedagogias mas não aponta caminhos, por isso, como essa pedagogia pode chegar na escola, no MST, nos movimentos sociais? Qual é o método? Qual o caminho? A experiência a práxis, como se pensa pedagogicamente isso? Fala de sua realidade que a teoria não chega na prática até mesmo nos EJA’s.
Magda: Sua obra “Bem-viver” Walsh conseguiu ser melhor na escrita/reflexão sobre interculturalidade crítica.
Mazinho: A interculturalidade crítica é utopia segundo a autora. Vamos aplicar a pedagogia ecorelacional na nossa escola como se faz isso? Próximo encontro proponho que todos tragam uma proposta prática. Que pedagogia é essa? Trabalhar decolonialidade na prática alguém sabe como fazer?
Magda: Se você for analisar as propostas da educação básica, com esse fomento do pensamento latino americano da possibilidade de fazer diferente do mundo na inter, transdisciplinaridade, trazendo a arte e o corpo para escola, as múltiplas linguagens, o currículo real está se pensando nessa perspectiva decolonizante.
Valéria: Ética, interculturalidade, Pedagogia da Tolerância em interface com Walsh. Quem é dogmático e sectário vai ter dificuldade nas questões éticas. Ascenção dos movimentos étnicos, as sutilezas perversas das etnias a sua submissão chegando a estar contra seu povo.
Mazinho: Movimento que vem das bases ancestrais. Pedagogia Decolonial, não consigo acessar isso. Traz freire e Fanon. Que pedagogia é essa? O João faz um entrelaço entre a pedagogia interralacionada.
Anúsia: Educação nos Tremembés vai pela interculturalidade crítica mas tiveram que passar pela interculturalidade funcional para terem autonomia.
Mazinho: A intervenção do Estado é muito forte nas comunidades indígenas exemplo a submissão da escola indígena a SEDUC
Anúsia: A estrutura da escola é diferenciada. Articulação dentro da escola que está ligada aos problemas sociais.
Mazinho: O desfile te disse alguma coisa? O que estou dizendo é que está dentro do processo. A escola diferenciada nasce de uma luta. A universidade está ligada a ela, a SEDUC. Tutela do Estado.
Valéria: Tutela do Estado nas escolas do campo ligadas ao MST com parceria com a SEDUC. Nas escolas do campo o currículo é de acordo com os princípios do movimento social, mas está atrelada ao Estado que detém os recursos.
Andrea: Movimento social quando tenta existir são voltadas as coisas emergenciais. O sistema não deixa.
Valéria: Sem autonomia não se tem nada.
Andrea: Não é longo, é impossível dentro desse sistema.
Mazinho: Como se executa um troço desses contra o Estado? É como se fosse planejar matar meus pais, a interculturalidade crítica é utópica.
Valéria: A subjetividade do nosso povo todo de colonizado.
João: Fudamentante é importante acreditar na utopia. Não seria freiriano se assim não fosse. Os Tremembés apesar de toda a opressão conseguiram preservar seus saberes tradicionais. Creio que é muito difícil, transcende a nossa existência, mas não é impossível. Estou plantando para no futuro colher utilizando o exemplo de um vegetal indiano que plantamos numa geração para colher em outra. Estudantes que passaram por aqui estão fazendo coisas diferentes, realizando trabalhos diferentes. Fui convidado para compor a equipe para discutir as diretrizes da educação ambiental. Irauçuba reconhece o diálogo com a academia.
Mazinho: A rotina do PAE. Parece-me, falta essa troca de experiência. Na escola pública não é possível estudar Paulo Freire.
João: da última escola foi para as cinco melhores. Não é na velocidade que gostaríamos, mas está acontecendo.
Tania: Você tem que ter a crença profunda no outro. Você legitima, use o instrumental da academia. Em Quixadá inovou em duas coisas, uma experiência de projeto. Queriam provar por a + b que estávamos erradas. Você acredita nisso prove que está certo. Tem uma lógica econômica também. Trazer para escola que é uma dúvida que o Mazinho traz.
João: Existe muito medo. Eu tive um reconhecimento da UNESCO como uma experiência interessante.
João, Mazinho, Andrea e Valéria discutindo em torno da escola, do medo e coragem de propor e mudar.
Maria de Jesus: “Ir para a ponta, ou será que a ponta tem que vir para cá?”. Entrei na academia tarde, com o tempo, com a prática, eu precisava da academia. Fui fazer teatro porque eu estava me achando engessada para trabalhar com crianças e fui fazer teatro. Rindo das metas, índices e números, por enquanto está tudo quieto, todo mundo aceitando tudo. Viu Andrea, nada é impossível.
Andrea: Quando coloquei “impossível” foi dentro de uma lógica sistêmica.
Maria de Jesus: Vontade de conhecer e escola indígena e do campo.
Moizy: resgate do surgimento das universidades e seu papel atual. A necessidade de mudança paradigmática na pesquisa na busca de emancipação. Resgate
para percebemos que o ensino tem a ver com o formato de dominação. A necessidade de Esperança na ação.
Maclécio: Elogios ao texto da Walsh. Falou sobre as potências da interculturalidade crítica e da funcional. Colonialidade global e local. A necessidade da leitura crítica e da criação de sua pedagogia decolonializante.
João: Walsh é também uma ativista, ela escreve sobre o que ela faz e a característica desse grupo é de ser crítica.
Mazinho: Minha fala é sobre a minha realidade, a minha experiência.
Maclécio: Recolher o que foi escrito no 2º momento e apresentar na próxima reunião.
João: Informe - A seca do XV dias 17, 18 e 19 – Núcleo de História e Memória da Educação.
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RELATORIA DA REUNIÃO GEAD - DIA 18/09/2015
Relatoria:
Tânia Leal e Tianny.
O nosso
encontro do dia 18/09/15 ocorreu com alguns começos: o primeiro foi na
FACED para definirmos o local, pois houve proposta de dois lugares. Quando
conseguimos falar com quem ainda não havia chegado, dirigimo-nos em dois
grupos, para o Passeio Público. Um foi direto e o outro em seguida por que fez
alguns trajetos, fugas, travessias e passagem por um lar cheio de charme e
aconchego.
O segundo
grupo demorou para chegar ao Passeio Público. Com a consciência dessa demora,
um membro deste grupo e também do grupo coordenador exclamou: tomara que não
estejam esperando por nós para iniciar, pois faz parte da proposta da
descolonialidade as rupturas, a autonomia!
Enfim,
depois da busca por gelo, por vinho e copos nos juntamos ao grupo que estava à
sombra dos “Benjamins”. Perguntamos se haviam começado as reflexões
sobre o tema, e disseram que sim, o João já havia começado a falar sobre o
texto “Interculturalidade Crítica e Pedagogia Decolonial: in-surgir,
re-existir e re-viver” de Walsh, objeto de reflexões para aquele dia. Houve
uma pausa nas falas, ficamos apreciando. E que dia! Regado a bolos, cajus,
pães, suco, tapioca, bombons de chocolate, biscoitos, água e vinhos, fomos nos
assentando por sobre as toalhas, mantos coloridos estendidos ao chão, e
iniciamos a degustação. Bem, havia os que por algum motivo não conseguiam, não
queriam sentar-se no chão e escolheram o banco lindo de madeira e ferro, forte
participante desse lugar, que realmente nos convidava para sermos acolhidos no
seu “colo”, tamanha era a acolhida emanada de sua presença. Houve quem não
resistisse ao convite, e após um curto tempo sobre as toalhas e mantos do chão,
foi para o banco do Parque, dividi-lo com outros três que já estavam ali.
Naquela
manhã ensolarada, éramos muitos: Tiane, João, Mazinho, Maclécio, Jon,
Moisielle, Renata, Patrízia, Fátima, Maria de Jesus, Tânia e Anúzia. Portanto,
12 pessoas, que número significativo! Fomos, neste dia, testemunhos como os
apóstolos de Cristo, pelo menos da descolonialidade do saber, do poder? Esses
também são dons que devemos viver em nossa trajetória no planeta Terra?
Nessa
busca da descolonialidade, do bem-viver, na sombra com água fresca e visão do
mar, mas também aos pés do Forte, onde Bárbara reclusa se pôs a cantar, alguém
indagou: como o grupo coordenador pensou esse encontro? Como trabalharíamos?
Cada um lê a notícia e vê se pode considerar que há associação com o segundo texto
que recebeu (este foi produzido com o propósito de registrar uma situação de
opressão vivenciada ou que ficou conhecida de algum modo, em seguida, esse
texto foi passado para outro participante do GEAD, que após a leitura,
registrava por escrito no mesmo papel uma situação de libertação, que o texto
de opressão lido por ele o inspirou).
Foram
distribuidos dois diferentes textos para cada um dos participantes: Um digitado
com notícias divulgadas pela mídia, e o outro produzido no encontro de 11/09/15
por membros do GEAD. Realizada a distribuição aleatória dos textos, passou por
nós um grupo de “pacientes” e profissionais de saúde da Santa Casa de
Misericórdia. Uma “interna” se aproximou e afirmou que estava há 18 dias
abstenha da droga, e pediu um chocolate.
Prontamente
foi acolhida, escolheu o chocolate e os grupos retornaram seus trabalhos.
Internamente, o que essa situação vivenciada produziu em nós não foi
partilhada, houve silêncio diante dessa imagem real.
A
proposta de trabalho foi iniciada e alguém leu em voz alta a notícia: 1
-Assédio moral.... em seguida o segundo
texto: Faça silêncio, cale a boca, menino.
Outra
pessoa do Grupo leu a notícia: Alunos são agredidos e humilhados por
professores em escolas...
Um membro
da relatoria solicitou uma questão de esclarecimento: qual é mesmo a proposta
do trabalho? Como ocorrerão as leituras, o que definirá sua sequência? Pois
havia duas diferentes propostas. Encontrar associação entre as diferentes
notícias? Entre a notícia e o segundo texto recebido? Outra pessoa do grupo
reforçou, que seria realmente necessário esclarecer.
A
sequência da leitura das notícias seguiu de acordo com a afinidade com outras
notícias, ou com o texto produzido no encontro do GEAD anterior. Não houve uma
lógica explícita, mas as conexões percebidas por cada participante?
As
discussões ocorreram também em consonância com as afinidades pessoais, momentos
vivenciados ou situações problemáticas. As narrativas seguiram, ou não; fugindo
da proposta inicial do grupo coordenador, que foi a leitura das notícias.
Um membro
do grupo coordenador nos lembrou que Walsh, em sua colonialidade do saber e do
poder, apresentou também a colonialidade da natureza. Outra pessoa narrou que,
mesmo depois de tantas promessas da modernidade, ainda estamos bastante
submersos nessa colonialidade. Mas, também foi colocado que “seria ingenuidade
acreditar nas promessas, sem verificar quais as intenções de quem as propõe”.
A Tiane
relatou uma situação vivida na escola onde ela vai fazer sua pesquisa onde os
estudantes estavam se articulando para fazer uma pesquisa sobre merenda escolar
dentro da sua própria escola, no entanto, diante dessa articulação não
conseguiu naquele momento incitar os estudantes a pensar sobre seus direitos e
a reivindicá-los. E que para ela essa seria uma forma de trabalhar a
decolonização na escola.
A notícia
sobre escravidão produzida pela ODEBRECHT em Angola foi seguida do segundo
texto, pois foi reconhecida a associação entre eles. E, também, produziu o
comentário contudente: “...ao mesmo tempo que somos todos escravizados, somos
também todos livres. E, não acreditar em nossa liberdade, isso é muito
perigoso, por que precisamos nos apoderar das questões cruciais maiores, como
por exemplo da exploração do Urânio. Poderíamos trabalhar com estratégias
vinculadas à arte, e isso só ocorre com liberdade.”
Desse
modo, João sugeriu que, além das notícias, fossem apresentadas opções
políticas. Maclécio argumentou que a notícia produz a denúncia, mas o Mazinho
complementou lembrando-se de sua fala sobre as lacunas no texto de Walsh, no
que se refere a apontar as “feituras”.
Foi
descrito o exemplo de como fazer a história que originou a Fundação Casa
Grande. Nasceu da necessidade de ressignificar, restituir para o povo, aquele
espaço físico da Casa Grande.
Acreditar
nos sonhos e não desanimar foi uma pauta defendida por alguns participantes
deste dia. E veio a fala da Maria de Jesus, com sua crença profunda na Escola
Pública, nos seus espaços de liberdade de criação, nas possibilidades de seus
projetos.
Jon
mencionou o texto do Lander com as cisões entre a vida e o trabalho. Lembrou a
necessidade de re-encontrar o trabalho, sentir-se realizado, re-encantar-se. E
como fazer a ponte entre a educação, o professor como mediador? Trouxe Freire para
ressaltar que se re-inventar por meio da práxis. Mas, é muito importante ter
cuidado nesse caminho, que legitima o professor como mediador exclusivo, pois
no re-encantamento não deve assumir o fardo imposto de tantas atribuições,
jornadas e metas.
Patrízia
alerta para a importância essencial da crítica, como etapa que antecede as
mudanças. ”O que é escravo? No momento em que você não produz seu próprio
alimento, você tem que se vender.” O Passeio Público de Fortaleza foi palco de
estratificação social, no passado havia três patamares, e foi dito que cada
patamar correspondia a uma camada social. O forte Nossa Senhora da Assunção,
marco do poder instituído, local de opressão, cadeia. Será que esse cenário foi
escolhido por acaso, para trabalhar o tema da Descolonialidade?
****************************
Relato
de uma reunião, no grupo Gead, em
23 de outubro, no ano de 2015.
Cantina.
O café salva. Mas e a chave? A porta abre? Todos os olhares e uma ou umas duas
fechadura. Eu! Chave. Que chave? Há um encaminhamento. Subi a escada. Degrau
por degrau. Outra sala vaga. Emburaquei-me. Pequena nova outra sala vazia. De
sempre só o barulho nosso daquele outro lugar.
Uns
dois bolos. Biscoitos, chocolates finos. Meus olhos brilham. Uma vela de 1 ano
de aniversário. Fez-se 1 ano e Patrizia faz festa do doutoramento dela. O seu
modo brasileiro de agradecimento.
Sem
data show? Pois é. Olha só, um quadro e o pincel azul, alternativa. Então o
grupo troca a tela virtual por um quadro manchado pelas
rugosidades de outras aulas, agora pichado por um esquema reproduzido por
Clédia, Jon e Valéria (facilitadores/coordenadores do dia) a partir do texto “Tramas
conceituais freireanas: uma prática de ensino e pesquisa construída na cátedra Paulo Freire da PUC/SP”.
Tentarei reproduzir:
Algumas
ressalvas: Das setas, elas têm dupla direção. Além disso, adentram
palavras-chave em cada uma delas (a saber: requer; implica; desenvolve;
expectativa; demanda; promove; permite; possibilita). Tais palavras correspondem
ao processo que interliga cada esfera à esfera central como uma
retroalimentação. O trio de coordenadores denomina de trama conceitual dos
capítulos 3 e 4 da Pedagogia do Oprimido. Céus, não li. Não deu para lê.
Inserirei na listagem para uma biblioreferenciação.
Chamou-me
atenção a caixa de fósforos da marca “Olho”. Os chocolates finos circulam.
Ainda não foram devorados. Porta aberta é sempre chegada. Duas fatias de bolo
se foram. Uma de cada um.
Enquanto
isso, Valéria discorre de suas interpretações do texto fonte e visitou, como
exemplo, conflitos de uma sala de aula. Cledia prossegue percorrendo o esquema
desenhado. Elas Fazem do quadro uma tela. Dela, janelas e janelas de acesso
temático. Ela e outros visitam o livro. Recitam trechos. Penso qual a nossa
recita-Ação com isso?
O
trio inclui exemplos, do tipo, quando sobre como professores adentram a escola
provocado pela desmotiva-Ação (ação desmotivante da esperança e sua consagração
prática) e pela acomoda-Ação (performance do ensaio à reprodução ininterrupta).
Parênteses meus.
Jon
recorre a um arquivo que salvou antes em meu notebook (o arquivista é sujeito
importante na roda da vida, responsabiliza-se por colocar em acervo certo
legado de um grupo). Recorro novamente ao parêntese. Jon Contextualiza como em
Paulo Freire foi trabalhado o termo conscientização, desde o jeito e efeitos de
autores que o próprio Freire consultou, perpassando pela definição que ele
mesmo usou, até problematizar as apropriações adversas da conscientização que
fazem (até hoje em dia) a partir dele.
Manuseio
a vela de 1 ano. Cor de rosa e pincelada com algo tipo purpurina. Dou meu riso.
Aspectos sobre a fenomenologia apareceram para conceituar a complexa fundação
da nossa consciência. Uma moça dos cabelos bem lisos amaciou suas mechas.
Vestidos e saias floridas reforçam o diverso. Boina e óculos paisagisam outra
personalidade. Adiante, par de óculos em armação vermelha, colares artesanais,
cadernos, canetas, papéis e anotações. O que se discute é que além de sentir as
expressões que se revelam no cotidiano, tais como as que mencionei, além de
contemplá-las, como acabei de fazer, vou tendo nessa medida certa consciência
desse sentir. Esta é mais ou menos a forma de interpretar o interpretado da
interpretação de consciência de Paulo Freire.
Vejo
ainda um sujeito de sorte de braços cruzados, recostando-se na desconfortável
cadeira de se assistir aula, quase como que deitando as pernas entre o assento
e o piso. Dispõe de olhos atentos. Até certo ponto viajantes. Por enquanto, o
trio insere problemas sobre as relações de poder. De quando e como é possível
horizontalizar-se repousando a horizontalidade como e na relação? Em que
posição você pousa? Como a pose se historiciza?
Dito
isso, quer dizer digo outra coisa, mas que assim o pronuncio, recorremos ao
processo de conscientização fundado no diálogo, uma vez que se permite em
práxis acontecer (onde, quando, como, aqui, por acolá. Até de certo modo
fazer-se no mundo).
Pegamos
de mão em mão a tese, versão capa dura de Patrizia, já que sem amor não há
mesmo perspectiva (uma referência ao título desse trabalho)! Este foi ponto de
partida e ponte. A tampa da minha caneta salta ao chão. Próxima às botas do
rapaz, que estabelece conexão. Na verdade a tomada, trata o debate, de
consciência, vai até à conexão, já que estamos interconectados no ato de ser
mundo.
Mencionando
a biofilia, continua Jon, citando Fromm, que se apresenta com esse assunto na
obra de Freire. Fala-se sobre a vida que se funda no movimento da vida,
enquanto que no sistema de relações, (im)posto, somos necrófilos (não no
sentido da morte como balizadora da vida), necrofilia enquanto coisificação da
vida. Vem da posse, do consumo, do
controle e do ato de controlar, matando a vida.
Mais
uma fatia de bolo, enquanto uns twiters e outros Zaps acontecem. Aliás, tanta
coisa acontece? Será, então, o diálogo expressão do amor (ou amorosidade, o que
mesmo ouvi?), assim sendo, não é no diálogo que se concretiza o amor? (ouvi
mesmo, amor).
Passam
adiante, questões sobre codificação e descodificação da realidade. Na
codificação, conhecer a representação é relevante e precisa garantir
diversidade de linguagens e aspectos que as pessoas ou grupos vivenciam. A
descodificação é a problematização da codificação, quando emerge em novas
possibilidades. Dúvidas é claro que surgiram sobre as formas de redizer tais
questões.
O
inevitável, e fazia parte do planejado, que daqui adiante as inquietações dos
demais tomassem conta da roda. Ahhhhhhh! Aquela moça adentrando a sala com um
copinho de café cheiroso na mão. Visão fantástica da realidade. Então, Jhaanes
relata como se deu uma experiência com teatro no trabalho de um círculo
reflexivo biográfico, o registro resultante nessa proposta ajuda a elaboração
do ser acerca do seu vivido.
Dani
relata um trabalho de grupo com uso de um bastão, denominado bastão da fala. De
alguma maneira o bastão quando em mãos de alguém determinava quem falava e quem
ouvia. Balizava o exercício da fala e da escuta, como uma espécie de
aprendizagem. Particularmente, achei mais interessante quando ela citou outro
detalhe da experiência, sobre cada pessoa possuir um objeto de conexão que
servia para que cada participante estruturasse seu relato acerca do tema
trabalhado. Mas, como o foco das atenções acentua-se no referido bastão,
inicia-se toda uma discussão de prós e contras e das celeumas que afetam o
processo de melhor escuta no próprio grupo.
Já
que preciso descer à cantina e render-me ao café, deixei de operar alguns
registros calorosos. Que deliciosa hora de se fazer o corpo andar. No retorno,
ouço algo positivo sobre comer e ser comido presente no prefácio de um livro,
salvo engano ‘a vida secreta das plantas’.
Desligo
o aparelho de ar-condicionado. A sala estava glacial. Religo em seguida.
Esquenta rápida demais. Diferentes são os sentires entre esse frio e esse
calor. Cada qual sabe. Andreia contribui falando da dificuldade de uma
autopercepção e na percepção do outro na sensibilidade ao longo do processo de
compreensão humana. Escuto um barulho que me remete ao som de mãos se
esfregando, na verdade, foi o de uma serra de serrar umas unhas em pleno
exercício.
Fátima
retoma o fator simbólico do bastão. Traz a dificuldade do estabelecimento da
escuta. Continua sendo tema matriz de diferentes concepções e possibilidades
quase nunca convergentes entre si. Mazinho e Valéria surfam nesse debate e
outros e outros. Moyse fala mais sobre, mas como sou ligado nela fui me inebriando,
contemplativamente, até o instante que ouço: há quem fale, tem quem tem que
escutar. Dito por outra pessoa. Paro esse transe.
Patrizia
abre seu livro, recita Freire para problematizar o lugar de onde se realiza a
escuta, sem ter que se entregar ao elitismo do ato. Tânia menciona o dualismo
quando se dá entre o ativismo (prática) e a idealização (teoria). Como
aparentando ser dilema desse grupo. Daí que dispara novo arranjo discursivo
sobre o modus de falar e escutar nosso, aqui, toda sexta pela manhã.
Pouco
confuso, ponho-me a rabiscar papeis. Talvez seja pelo debatido ser o confuso.
Existe carta de tarô chamado O confuso? Está na mesa! Caiu uns versos de um
músico que invadiu meu rascunho: “eu não sei dizer, o que dizer, o que vou
dizer”.
Instantaneamente
pego o notebook e parto para o youtube. Sem fone de ouvido. ‘Help’. Consulto
somente a tradução de outra canção para ver se se liga nisso tudo:
Help me if you can, I'm
feeling down
And I do appreciate you
being round
Help me, get my feet back on
the ground
Won't you please, please,
help me
Puts!
Coincidentemente (sério!) alguém veste a estampa de uma imagem icônica dos
rapazes de Liverpool (a foto dos Beatles atravessando a rua Abbey em Londres).
Será que estamos todos na faixa de trânsito? E o sinal encontra-se aberto,
fechado ou na cor da dúvida eterna?
Liana,
que apareceu pela primeira vez no Gead, apresenta seu interesse para com o grupo.
Momento em que circula um pacote de biscoito integral da marca Bauducco. Alguém
desligou o aparelho de ar novamente. Pedi que abrissem a janela da sala, mas o
calor invadiu sem vazão. Assim o debate ficou entre o morno e o quente. Parecia
ebulir como quando o leite ferve e desce como quando se apaga o fogo. Acho
mesmo necessário que alguém gire o botão e encerre a chama, afinal já são 12:03
e o almoço já se deve ir à mesa. Resta-me caçar um bon appetit pessoal.
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RELATÓRIOS GEAD ANO 2015.1
TEMAS: Paulo Freire – Descolonialidade – EAD – Educação
Indígena – Espiritualidade
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Relatório
Data:
22.05.2015
Relatora:
Anúsia
Presentes:
Anúsia, Érica, Fátima, Maclécio, Mazinho, Patrizia e Renata.
Tema:
Índios no Ceará
O
facilitador da reunião de hoje, Mazinho, fez uma apresentação a respeito do
livro “Terra dos Tremembés”, do autor Luiz Zizi de Oliveira.
Mazinho
- O autor faz uma discussão a respeito da construção da igreja de Almofala-CE.
Ele verifica se o responsável foi a coroa portuguesa ou o estado.
Com o
objetivo de desvendar a questão, ele foi pesquisar entre os próprios Tremembé.
Eles relataram que os indígenas encontraram uma imagem de Nossa Senhora feita
em ouro e os portugueses proporam fazer uma troca da imagem por outras e pela construção
a igreja.
Após a
construção da igreja, os indígenas foram proibidos de dançar o Torém próximo à
igreja. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, chamaram genericamente as
etnias indígenas de “Tapuias”.
Anúsia
- Na construção do Estado nacional foi falado, inclusive por historiadores, que
não existiam mais indígenas no território com o objetivo de mostrar que havia uma
unidade na população, ou seja, uma “sociedade nacional”.
Érica -
Em uma roda de conversa, no aldeamento dos Anacé, foi feito um agradecimento a
Deus, rezaram o “Pai Nosso” e logo depois dançaram o Torém e revereciaram o
Deus Tupã.
Anúsia
- Os índios do Nordeste brasileiro incorporam sinais diacríticos para afirmar a
sua indianidade perante a sociedade circundante. Por ex: Mostrar crença em Deus Tupã , que não é um
Deus cultuado originalmente por todas as etnias.
Partizia:
Deve haver um conflito interno neles por exercer a espiritualidade indígena e
não indígena.
Anúsia
– O torém pode ser dançado também como um sinal diacrítico, não necessariamente
como manifestação espiritual, mas sim como afirmação política da identidade
étnica.
Renata
– Entrevistou uma Tremembé que dizia ter medo dos encantados, que tem outras
crenças religiosas, mas tem medo deles.
Mazinho
– A pesar de haver essa incorporação dos sinais diacríticos, há ainda muitos
costumes que são preservados, por ex, o artesanato feito de palha.
Renata
– Os mais velhos sempre vão achar que os mais novos não valorizam a cultura,
mas ela é reelaborada.
Mazinho
– Touchá diz que antigamente o povo era mais unido e que havia menos violência.
Anúsia
- O Touchá fala que atualmente a vida é
melhor porque eles têm acesso ao estudo e ao salário, mas deve-se ter em mente
que essas são necessidades incorporadas através da globalização, porque antes
eles viviam sem isso.
Patrizia
- A gente pensa em território, para os
indígenas não existia o território.
Mazinho
– Eles [as pessoas em geral] não estão preocupados em saber a ligação dos seus
conhecimentos com os dos indígenas, eles vão vivendo. Quem está preocupado com
isso somos nós.
Renata
– A colonização não foi fácil em territórios indígenas, foi preciso negociação
de costumes.
Mazinho
– Nesse período da colonização houve um verdadeiro etnocídio.
Quando
os Tremembé de Tutóia matavam, eles deixavam o machado em forma de meia lua no
local da assassinato.
O que é
ser índio?
Anúsia
– A questão de “ser índio” está relacionada com a identidade étnica. Ela só é
construída em contato com o não índio. Quando ele está isolado, ele é o que é.
Quando está em contato com outros povos, há o contraste que proporciona a
diferenciação.
A
identidade requer o sentimento de pertença ao grupo e o reconhecimento por
parte dele. Além disso, a questão da identidade e das comunidades étnicas são
construções também políticas. Atualmente a grande luta
política dos indígenas é a luta pela terra.
Mazinho
- A ancestralidade é dinâmica, não é
estática.
Érica –
Não sabe da onde vem os seus costumes, o jeito que arruma a casa, como cuida
das plantas, mas faz isso da maneira como a mãe e como a avó fazia.
Mazinho
e Érica – São saberes que estão incorporados e não são racionalizados.
Anúsia
– A cultura não é estática, ela se transforma. Novos
elementos são incorporados e outros são ressignificados. Alguns podem até se perder, mas os mais instrísecos
serão mantidos ou reformulados.
Mazinho
– Mas muitas coisas são perdidas. A escola tem essa preocupação de preservar a
cultura.
Maclécio
– Concorda com a questão da mudança, mas acha que a essência é importante para
a cultura.
Anúsia
– A concepção essencialista da cultura a que me referi, diz que a cultura deve
ser imutável. Esse discurso é utilizado,
inclusive, para a dominação, para a colonialidade. Por ex: se os Tremembé não
vivem mais como há séculos atrás, eles poderiam não ser vistos mais como
indígenas.
Renata
– O capitalismo é tão forte porque ele tem o poder de legitimar novos valores.
Mazinho
– A cultura se transforma, mas deve-se atentar para a questão de perda das suas
particularidades, se não, eles podem deixar de serem considerados indígenas.
Érica –
A necessidade de se definir surgiu também da necessidade de sobre-existir, de
sobreviver. O que está relacionado com o momento atual do movimento indígena.
Patrizia
– Deve-se ter cuidado com a homogeneização. O que mais me admira em algumas
tribos é o sentimento do coletivo. Eles podem ter geladeira, mas ter o seu coletivo
é mais importante do que a geladeira.
Renata
– Tem que ter cuidado, pois se tudo pode ser mudado, tudo pode se perder.
Patrizia
– Há culturas que convivem mais em harmonia com a natureza e com a vida humana
do que outras. Por exp.: o material de que é feito o celular mata várias vidas
na China. Nunca discutimos aqui sobre a questão de Belo Monte.
Érica –
O encontro Ecossocioalista organizado pelo Psol vai trazer o Maurício Matos,
que vai discutir a questão de Belo Monte. Poderíamos discutir essa questão com
alguém que vivencia.
Patrizia
– Eles aprendem sobre a nossa cultura, mas o que nós aprendemos da deles?
Anúsia
– A escola tem a titulação de intercultural, mas só pra eles, nós estudamos
pouco ou quase nada sobre a cultura deles nas nossas escolas.
Érica –
Quando foi falar sobre o Maracatu, pediram pra que parasse porque tinham alunos
evangélicos. Ela disse que por isso mesmo não iria parar, porque eles precisam
ter contato com o diferente. A nossa escola não é intercultural, é
eurocêntrica.
Mazinho
– Na minha escola, nós trabalhamos a questão da cultura africana e só final
relacionamos com os orixás. No final até as senhoras evangélicas desfilaram
vestidas de orixás. Nós vimos que é melhor
partir dos saberes próximos das pessoas.
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