Relató(rio)s semanais 2013-2014

RELATÓRIOS ANO 2014.1

TEMAS: Epistemologias – Pesquisa dialógica – Formação e lugares de formação
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Reunião do 14/03/2014

Anotações

Documentários foram exibidos.
Jon- Diz que o documentário fala sobre a modernidade, faz uma reflexão  que o documentário é uma representação do real.
Thiago- Diz que o sujeito é um sujeito silencioso.
Valéria-  Fala   que o documentário traz libido, “ uma velha de cabelo branco dizendo que gosta”....
Sam- Levanta sobre as questões sobre estereótipos
O grupo passa a fazer reflexões a respeito do amadurecimento feminino.
Mazinho- fala sobre as mudanças dos tempos atuais “ as meninas arrastam os meninos”...
Camilla- levanta o questionamento do que é maturidade.
Jon- Diz que não sabe se dá p/ levar a questão do amadurecimento p/ questão de Gênero.
Sam- Fala da idealização das mulheres em várias obras literárias....
Valéria- fala das responsabilidades femininas.
Sam- narra explicação sobre o conceito de trans sexual
O grupo faz reflexões a respeito da Academia
Jon-  O tempo acelerado a academia é perversa  de modo a funcionar que nada que entra na academia e só potência, narra sobre a importância da experiência .
Thiago- fala de  sua experiência na pesquisa e de Vida, fala da diferença de Viver e de Pesquisar.
Sam- narra também suas experiências de pesquisa.
Mazinho- fala que usamos demais as pessoas...  é difícil falar sobre si.
O grupo prossegue trabalho sobre as experiências das Prostitutas no documentário.
João Figueiredo faz um exórdio sobre Nadir Azibeiro.
Faz uma introdução verbal sobre vida e obra da autora suas experiência e formação.
A professora Nadir está ligada ao grupo mover, tendo proximidade com Mignolo, fala de suas experiência com a autora e a experiência da autora com um grupo de jovens.
Érica- Dá um informe  sobre a liderança Pitaguary- Rosa Pitaguary. Thiago complementa com algumas informações, fala também sobre as disputas no grupo dos pitaguary
O grupo passa a fazer reflexões sobre o texto de Nadir
Questionamentos são levantados a respeito do trabalho de Nadir
Sam- fala que nadir traz algo revolucionário, o que Nadair propõe não é fugir, mas insurgir...
Mazinho- fala sobre algumas comunidades e o que si poder fazer p/ melhorar as condições de vida das pessoas
O grupo problematiza que  sobre as intervenções de Nadir na comunidade de jovens....
Jon- fala que o que tornaria a experiência dela construção da subalternidade..
Patrizia- fala que Nadir tomou uma solução de emergência p/ com o grupo de jovens....
Sam – faz reflexões sobre a teoria da universalidade de Mignolo, narra que foge da ideia da universalização
Mazim- narra a necessidade de também si pensar na estrutura.
Jon-  questiona  quais são as insurgências que rolam dentro da comunidade trabalhada por Nadir
Thiago- fala da Luta pelo território.... a resistência, a esperança, nos mantém vivos ... temos muitas perdas mais buscamos pequenos ajustes....
Érica – fala de toda experiência com o Coco também fala que lutas da Jornada de Junho, do projeto político cearense atual, fala das resistências, diz que a luta não ta isolada, mas tem medidas que são emergências...
Mazinho... fala das vitórias que a luta traz
Sam- reflete sobre a lógica da prostituta coitada, cita Michel de Certau.
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Encontro Gead  21.03.2014

Equipe: Anúsia e Moisiely

Iniciamos as atividades com um vídeo de Boa Ventura de Sousa Santos, no qual ele debatia sobre o porquê das epistemologias do Sul, e para que essas epistemologias. Vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ErVGiIUQHjM

Nesse vídeo ele trata de questões como a necessidade de um pensamento alternativo a alternativa. A sociologia das ausências, a sociologia das emergências, A ecologia do saberes e a tradução intercultural. Ele nos fala que todo conhecimento é a superação de uma ignorância particular, não existem conhecimentos completos, sobre a incompletude de todos os saberes, sobre o conhecimento mais adequado depender do objetivo que se quer alcançar. Não há tradução intercultural sem justiça histórica.

Depois desse primeiro vídeo foram entregues trechos da introdução do livro Epistemologias do Sul e de Quijano para que fossem lidos e relacionados com o primeiro vídeo e demais que foram apresentados. Os trechos no geral traziam as idéias de raça como justificativa para a colonização, denunciavam a hierarquização de povos, culturas e vidas, um dos textos falava sobre o fato de a hierarquização dos povos não ser exclusividade dos europeus, mas de terem sido os europeus a conseguiram levar isso pra escala mundial.

Outros vídeos apresentados:

Documentário as caravelas passam: https://www.youtube.com/watch?v=HnjVsBTE1AI
Nesse vídeo os recortes se focaram na relevância da educação diferenciada indígena e a concepção de índio.

Vídeo de comédia sobre o comportamento dos matutos para receberem os professores do filho doutor. https://www.youtube.com/watch?v=1maklulNzro

Clipe no qual a cantora vai se transformando no decorrer da música: https://www.youtube.com/watch?v=0NrP4y07h

Debatemos sobre critérios de hierarquização com base na raça, religiosidade, cultura, posição social.
Falamos sobre a Roma antiga já ser o lócus de elementos dessa modernidade atual, conquistas, expansão, estradas.
Discutimos sobre como a história dos outros povos e silenciadas na construção da historia européia como sendo a mais desenvolvida, o berço da civilização, da industrialização, do avanço e progresso.
Camilla trouxe a narrativa de um episódio de um seriado que ela assiste que fala sobre como a um cientista, às vezes, é difícil questionar a lógica de sua forma de produção do conhecimento.
Thiago questionou quem determina o que é superior e inferior?
Boa Ventura fala de três categorias, nível de análise da realidade, a saber, epistemológico, sócio-político e cultural. João questiona se apenas esses três dão conta, ou teriam outros.
Discutimos sobre o problema da seca no semi-árido, a seca como fenômeno social e natural. As formas como as soluções chegam para as populações que vivem a problemática da seca e qual seria a maneira mais adequada de se buscar soluções para o problema da seca.
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RELATÓRIO GEAD – 14/ABRIL/2014

Presentes: Camilla, Moisi, João, Sahmaroni, Anúsia, Renata, Jon, Mazinho, Patrízia, Thiago, Ana Valéria, Érica
Documentário 1: “O céu sobre os ombros” -> entrevista de seleção para doutorado com um travesti.

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=tp8qPT0Ym0Y&list=PLBC3819AE0B119C98
Documentário 2: “Praça da luz/ 69” -> entrevistas com prostitutas, relatos sobre suas histórias de vida.

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=7v0XhQ_ObIk
COMENTÁRIOS:
JON: “Documentário é próprio da modernidade; é uma representação do real. Não é atuação, é real!”
SAHM: “Obras sobre a prostituição, geralmente, mostram tristeza, sofrimento. Essa não, são risos...”.
THIAGO: “A fala dela ‘posso falar?’ demonstra um sujeito silenciado, demonstra também um cuidado com quem vai ouvir”.
VALÉRIA: “Quebra de paradigmas: a mulher com a cabeça branca sentir prazer. Ela tem o corpo muito estimulado. Uma velha de cabelo branco e diz que gosta!!”
ANÚSIA: “E tem homem que gosta, né!”. Ela ficou impressionada com prostitutas velhas.
SAHM: “Valorização social de mulheres novas. Aos 20, você é muito mais paquerada. Uma mulher que deixa a família por um homem mais novo é chocante. Já quando é um homem que o faz, não choca tanto”.
VALÉRIA: “A mulher amadurece lentamente, em relação à vida íntima, sexual. Liberdade no corpo, mas não na mente”.
MAZINHO discorda, pois as meninas da escola “arrastam” os meninos para o “corredor da morte”.
SAHM: “As mulheres sempre foram atiradas”. Deu exemplos de romances do século XIX, em que era comum as mulheres traírem.
JON: “A academia não dá visibilidade a algo por acaso. Por que ela (a transex) teve essa visibilidade? Será que se fosse uma mulher pesquisando o mesmo tema teria a mesma visibilidade?”
THIAGO diz que passou por isso, pois foi pra academia pra contar sua história, e se viu se embasando em teóricos, para “se dizer”. Foi o orientador dele que chamou sua atenção para isto.
MAZINHO: “Mas é importante o olhar de fora”.
JON: “A pessoa de fora pode ser de qualquer fora”.
SAHM: “O discurso acadêmico não é hegemônico. Quando a pessoa fala, há uma ‘polifonia’, pois há inúmeras vozes ali atrás”.
MAZINHO: “Chamou a atenção o fato de as pessoas terem se aberto tanto para aqueles que estavam fazendo o documentário”.
RENATA: “Um tipo de vocabulário de quem tem intimidade”. Contou que a tia dela se chocou, porque quando se fala em prostituta, se pensa em mulher jovem e bonita, e ali elas eram gordas, velhas e feias.
VALÉRIA: “No Pelourinho, há prostitutas antigas, que tiveram histórias semelhantes”.
JOÃO: “Exórdio ao texto. A Nadir Azibeiro é muito interessante, de Santa Catarina, ligada ao MOVER. Trabalha com crianças e jovens em situação de risco, dentro da lógica da desconstrução da subalternidade. Suas discussões giram em torno disso, e do ‘pensamento fronteiriço’. Tem proximidade com os estudiosos da Colonialidade. O conceito de ‘desconstrução da subalternidade’ tem afinidade com o que eu venho chamando de ‘descolonialização da microcolonialidade’. Importância das pessoas reverem seus valores a partir da reflexão do que é hegemônico. Foucault e Derrida. Linhas de fuga: possibilidades que encontramos nas entrelinhas, para destituir este controle, vigilância. Nadir estimula refletir sobre isso e buscar alternativas para sair, superar esta lógica. Autonomia. Neste sentido, é freireana.
SAHM: “Na prática, a teoria é outra...”.
Após o exórdio (introdução, introito, prefação, prefácio, prelúdio, preâmbulo, proêmio, prólogo) do João, houve um interessante debate sobre o significado da
experiência da Nadir Azibeiro (com os quatro jovens ameaçados que foram retirados de sua comunidade e “reeducados” dentro de outra lógica). Comentários: “Será que adiantaria ‘salvar’ só quatro jovens? Será que disponibilizar acesso aos bens de consumo, como computadores, internet etc., não seria um estímulo ao capitalismo? Se não dá pra ‘salvar’ a todos, adianta fazer só por alguns? Exemplos do abrigo, que não tinha ‘condições’ de ter atividades para os jovens e um dos educadores levava para o CUCA. ‘Agir local, pensar global’. Trabalho de formiguinha, que dá exemplo aos outros. E não deixa eles (os ‘opressores’) dormirem em paz. Viaduto do Cocó. Árvores da Dom Luiz.
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Reunião Gead 25/04/2014

Iniciamos nosso encontro com uma dinâmica conduzida por João Figueiredo, depois de um exercício de respiração , batemos os pés no chão, o pé direito simbolizando o lado financeiro e o é esquerdo todos os demais.  Rimos bastante durante a atividade e zoamos de nossa vida financeira e dos demais âmbitos dela também.
Iniciamos a reunião com a leitura feita por Mazim do relatório da reunião anterior. Em seguida Patrízia indagou sobre a data em que se comemoraria o aniversário do GEAD. Nenhum dos presentes soube responder, ainda assim ele presenteou o grupo com um livro “Eram dez Largatas”.
O encontro foi conduzido por Maclécio e a relatoria foi feita por Renata e Jon. Maclécio trouxe a Música “ A seta e O Alvo” de Paulinho Moska pra dar inicio as discussões do dia sobre  Pesquisa Dialógica.  Ouvimos essa música aproximadamente 4 vezes. Durantes as duas primeiras vezes alguns de nós no ausentamos da sala para pegar a agenda da UFC de 2014 na Secretária. Quase todos os geadianos escolheram a agenda de cor verde.
Depois de ouvir e ler a letra da música, compartilhamos alguns aspectos da canção que nos remete a pesquisa dialógica. Segue algumas colocações sobre a pesquisa dialógica pensandas a parti da música:
ü      As pesquisas que tem mais volume têm a ver com nossa vida, do que já foi, o que é, ou será.
ü     A música fala numa oposição entre vida e morte, isso lembra Freire, quando coloca a biofilia associada a educação dialógica e a necrofilia associada a educação bancária.
ü     Acredito que a pesquisa dialógica tem o cuidado pra não se focar no mito do alvo, por entender que o alvo não espera, ás vezes, o alvo é outra coisa.
ü     A festa faz parte da pesquisa dialógica, a festa é fundamental, o transitar em lugares de não pesquisa alarga a percepção da própria pesquisa.
ü     A verdade versos não se preocupar em se machucar, tem a ver com o processo, comumente as resposta que vão surgindo não são as esperadas, às vezes, são até opostas as esperadas. O que fazer com a pesquisa então?
ü     Eu andava no labirinto e você numa estrada de linha reta.  Faz pensar no tempo, nas temporalidades da pesquisa, vejo dois tempos na pesquisa e mesmo na intervenção, o tempo cronológico e o tempo das reflexões, a vivência da pesquisa e a racionalização dela, o tempo do relógio e o do acontecimento.
ü     A seta no alvo remete a um pragmatismo.
ü     O alvo não é real porque a pesquisa é dinâmica, você pesquisa a realidade, o resultado é, portanto, diferente do esperado, a pesquisa não é um apriore é um porvir.
ü     O Alvo remete muito a uma educação bancária.
ü     A letra da música apresenta os elementos enquanto antagônicos,  no sentindo de um depreciando o outro, o encontro talvez fosse o melhor, pegando elementos da própria música e pensando sobre eles, pra ter amor a vida eu tenho que ter medo da morte. Então opor o amor a vida ao medo de morte não faz sentido, na realidade eles se completam.
ü     Quando ele fala sou assim, você é assado. Ele está destituindo o outro. A vida fala da morte, a gente que nega a morte na vida, e ao negar a morte, a gente deixa de incluí-la na vida.
ü     O alvo é o caminho. Perder-se também é caminho. A gente que não sabe conviver com o não saber que fazer.  A gente não se contenta em estar perdido. A gente quer saber sempre onde o caminho vai chegar.
ü     O equilíbrio é dinâmico, não fixo.
ü     O problema do alvo como o entendemos  é que ele tem um centro, específico e delimitado, as bordas não contam como acertos. Tudo o que chega na borda esta errado, pra fora ou excluído.
ü     A linha reta e o alvo têm a ver com a colonialidade que esta na gente.
ü     O problema não é o alvo em si, é o apego ao alvo, o apego aos modelos.  É interessante trabalharmos o apego e o desapego.
No terceiro momento da reunião assistimos ao Trailer do filme ‘Vidas Cruzadas’ (The Help) e discutimos sobre alguns aspectos metodológicos do processo de pesquisa. Foram elencadas questões sobre os percursos de vida do pesquisador que os fazem desperta para certas problemáticas em suas pesquisas. A questão dos impactos da pesquisa na própria vida do pesquisador, ‘quando a pessoa não sente no pulmão sente no estômago’. Falamos sobre as estratégias de campo para chegar no outro e a necessidade de estabelecer uma certa relação de confiança. Discutimos que não só o pesquisador tem suas intencionalidades, mas o pesquisado também as tem, o pesquisador quer saber sobre algo e o pesquisado tem o que ele quer, o que ele deseja e o que ele pode falar. O processo de pesquisa também e inventabilidade.
Nesse momento Sam, João e Mazim colocaram questões de suas pesquisas. Mazim falou sobre um certo acaso nas entrevista realizadas por ele e Jon em Almofala, quando eles não tinham um roteiro, nem algo delimitado a fazer. Eles foram a campo e as coisas foram acontecendo, embora eles tivessem sua temática em mente.
 Sahmaroni falou sobre suas entrevistas realizadas em cafés, em viagens, e particularmente do caso em que ele vai pra entrevistar um de seus pesquisados e quando ele chega fica ele esta e continua a escrever no seu pé. E aí quando começou a entrevista, quando o rapaz começou a fazer sua narrativa ‘falada’ ou quando estava escrevendo com linha e agulha no próprio pé?
João colocou que em seu doutorado ia entrevistar algumas pessoas e quando chegava na casa deles a família estava reunida e as pessoas participavam na conversa, esclarecendo o entrevistado, complementando e mesmo o contradizendo.
Debatemos ainda sobre a utilização de categorias e metáforas de análise no processo de pesquisa. Compreendendo que para uma pesquisa dialógica o conceito de metáfora talvez fosse o mais indicado por esse ser polissêmico, enquanto o conceito de categoria é restritivo e excludente. Pensando ainda sobre a utilização de metáforas na pesquisa dialógica, talvez ela exigisse outros critérios de validade e reconhecimento do conhecimento, uma vez que as metáforas fazem alusão a algo criando possibilidades para a compreensão, mas não o delimita e enrijece.Mais informações conversa com João Figueiredo e Erica Pontes. Rsrsrs
Algumas metáforas podem ser chamadas de confetos, numa referencia a sociopoética.
Estiveram Presentes: Patrizia, Jon,  Anúsia, Renata, Moisiely, Thiago, João,  Sam, Mazim, Deyse, Erica e Maclécio.
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Encontro 02.05.2014

Em Sábado, 3 de Maio de 2014 18:53, maclecio sousa <maclecio@yahoo.com.br> escreveu:

Oi

1 -  Da sexta passada: Tema práxis da pesquisa

Envio slides que tinha/fiz sobre entrevista reflexiva (uma parte eu fiz e outras foram colegas da disciplina pesquisa qualitativa).
A referência é a seguinte:  A entrevista da pesquisa em educação: a prática reflexiva. Organizado por Heloisa Szymanski. 
Os slides abordam o 
CAPÍTULO 1 – ENTREVISTA REFLEXIVA: UM OLHAR PSICOLÓGICO SOBRE A ENTREVISTA EM PESQUISA
CAPÍTULO 2 – PERSPECTIVAS PARA A ANÁLISE DE ENTREVISTAS
Infelizmente a cópia do texto não encontro para enviá-los. Se ainda tiver a pasta da disciplina, das professoras Ercília e Celecina do semestre passado, talvez encontrem por lá.
2  - Da sexta que passou: Sobre mil e uma técnicas de pesquisa
Os vídeos indicados por Jon, são os seguintes:
https://www.youtube.com/watch?v=GpTuO6qym5w 
e o nome do video é "Saramago Platão...O Mito da Caverna"

O segundo video que não deu tempo para reproduzir é este:
https://www.youtube.com/watch?v=nxf0rUQSkJk
E para procurar no you tube, basta escrever: "D- 21 - Narrativa Histórica e Memória Oral"

E por fim o artigo que exemplifica círculo de cultura como método/técnica:

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Relatório da reunião acontecida em 16 de maio de 2014
Equipe facilitadora: Mazinho e Jon
Relatora: Anúsia

Técnicas Sociopoéticas: Encontro entre Arte e Ciência

No encontro anterior foi decidido que o tema do dia seria modificado de “Análise de achados e perdidos: compreensão dialógica” e passaria a ser “Técnicas da Pesquisa Dialógica”.
No início da manhã o João lançou a ideia do grupo produzir um livro a partir das discussões travadas nos encontros e dos relatórios feitos. O livro versaria sobre pesquisa dialógica, seria eletrônico e publicado pela UECE.

Sociopoética
É um método de construção coletiva de conhecimento que parte do pressuposto de que todos os conhecimentos são importantes. Faz da pesquisa uma poiética. Tenta trazer o novo, o que não é dito.
Inspiração teórica: Pedagogia do Oprimido (FREIRE, 1987).

- Análise institucional (Rene Lourau)

- Esquizoanálise (Deleuze, Guattari)
O grupo pode analisar a pesquisa, ele é o próprio pesquisador.
Mazinho: A contribuição do Deleuze abriu mão da identidade para usar o devir.
Jon: Procurando outro método de análise que superasse a psicanálise. O esquizo tem a ver com a análise daquilo que é dissonante. Tem um cunho de anarquismo.

- O Teatro do Oprimido, de Augusto Boal
O sujeito deixa de ser o pesquisado-expectador e se torna um co-pesquisador. Ele pode até mudar os rumos da pesquisa.

- Escuta mitopoética, de René Barbier
Fala sobre a pesquisa-ação. As escutas do pesquisador e dos participantes não devem investir em julgamentos. Devem se “livrar” dos estereótipos que eles trazem. Ela não necessariamente gera categorias ou conceitos, traz sentimentos em torno do tema, elementos intuitivos.
Mazinho: As sensações também são importantes como elementos de pesquisa e não somente os “dados”.
Jon: Por exemplo: É importante não perder de vista o incômodo que uma pessoa teve ao falar de algo, porque, se não levar isso em consideração, pode descaracterizar o que foi dito.
Mazinho: Esses sentimentos podem trazer “achados”.
Pode-se fazer uso de um diário itinerante, ele passa pelas mãos de todos para que sejam feitos registros desses sentimentos. Ele é diferente do diário de campo, este fica somente com o pesquisador.

Princípios: Sentir o mundo com todo o corpo para produzir conceitos novos¹, ou seja, desterritorialização e/ ou polifônicos e/ou instituintes que são afetos (conceitos carregados de afetos).
¹ O novo surge a partir do estranhamento.

João: Desterritorialização gera uma perda, por conta da perda política que pode acarretar.
Sahm: Muitas vezes, o pesquisador está tão preocupado com o resultado, que não percebe o que emerge no ato da entrevista, os sentidos que emergem na interação.
Jon: Entre os pesquisadores há uma postura de achar que as coisas florescem sem haver intervenção dele.
Mazinho: A sociopoética se preocupa em valorizar a cultura popular.
João: É preciso transformar a curiosidade ingênua em curiosidade epistêmica. O pesquisador potencializa que o grupo tenha um olhar relevante sobre a pesquisa.
A sociopoética proporciona o emergir de conhecimentos subliminares e subjetivos para se desvelar o que nem se sabe que sabe, por isso a arte é usada. Esta gera espontaneidade para permitir que esses saberes emirjam.
Sahm: Não adianta o pesquisador achar que não está interferindo, porque está. Estão por que não deixar isso claro?
Slide:
“-O reconhecimento do corpo todo como uma fonte de conhecimento.
-Valorização das culturas de resistência.
-Os sujeitos pesquisados são corresponsáveis pelo conhecimento produzido.
-Potencializa a criatividade de tipo artístico no aprender, no conhecer e no pesquisar.”

Mazinho: Dá muito trabalho. É complicado porque tem que analisar todas as falas.
João: Às vezes a gente acha que uma coisa é hegemônica, que é batida, mas, na verdade, para muitas pessoas não o é. Na realidade, vemos de acordo com o nosso meio.

Procedimentos:
Formação do grupo pesquisador e definição do tema gerador. Quando se tem o grupo, escolhe-se ou apresenta-se o tema que vai conduzir a pesquisa. O grupo pode interferir ou indicar o tema de acordo com as suas demandas. Essa etapa é orientada pelo interesse do pesquisador oficial, assim como pelas demandas de saberes dos co-pesquisadores.

Slide:
“Busca diferentes linguagens que recorram a mais de um sentido corporal e que cause estranhamento, gerando potencialmente dados imprevistos que permitam mexer ou suscitar outros afetos e saberes inconscientes para o grupo. Por isso, portanto, tona-se necessário uma mínima familiaridade do pesquisador com o método e a técnica de modo a discernir sobre o recurso vivencial que será mais apropriado.”

Durante as vivências ou oficinas há a verbalização dos co-pesquisadores sobre o que eles produzem.

Dimensões da análise:
Análise classificatória       Texto transversal       Análise filosófica 
      Contra análise        Socialização.

Jon apresentou os “Aspectos da análise da sociopoética”
Slide:
Percurso de cultivo e análise dos achados:
- Negociação do tema gerador. (Jon: O Régis Ramos a utiliza para os objetos geradores.)
- Visitas dialógicas.
- Oficina com as crianças, os adolescentes e os adultos com o uso dos objetos geradores.
- Oficina com crianças, adolescentes e adultos.
- Análise dos achados que foram encontrados nas oficinas.
- Contra análise.
- Análise filosófica

Jon: A via dogmática é uma forma de analisar, porque, às vezes, as pessoas usam ideias que são partilhadas pelo grupo e, às vezes, elas trazem sentidos diferentes, divergentes. Os significados são percebidos no grupo ao decorrer da pesquisa. A partir desse conjunto de significações, é possível perceber quando há significados diferentes.

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RELATÓRIOS ANO 2014.2
TEMAS: Descolonialidade – EAD/Dialogicidade – Educação Indígena
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Relatório 31.10.2014

Educação Indígena – Thiago Halley
“O processo de busca é em si mesmo esperançoso e se define como a esperança que se vive. Não importa que você busque algo que não encontre, mas que busque sempre com a esperança de encontrar”.   Paulo Freire


                              Faço uso das palavras Paulo Freire para definir o encontro de hoje como um processo de busca esperançoso. Thiago Halley mostrou com muita propriedade e sabedoria um pouco da história e da educação do povo indígena Anacé que também é a sua história num dialogo amoroso, profundamente significativo e essencialmente esperançoso. Propôs fazermos uma relação da sua apresentação com a Perspectiva Eco-Relacional dos estudos de grupo em nosso contexto com ênfase na escola.
                             Assim, numa dinâmica criativa a partir de pontos significativos do contexto histórico cultural dos povos Indígenas Anacé pudemos em cada trecho da história que se lia fazer uma reflexão crítica da situação e ao mesmo tempo buscar um significado para nós do ocorrido.
                             Nesta viagem dialógica, no aflorar das ideias tecemos caminhos na história de um povo que marcado por perseguições, vive um longo e sofrido processo de desapropriação e aculturação destituindo-os de sua identidade, de seus costumes, de seus valores éticos e morais para implementação de um modelo econômico “colonializante”.
                             Dentre os aspectos apresentados ouvimos a voz do povo Anacé : “Tínhamos uma tradição muito forte que era o nascimento de crianças em casa, feito por parteiras e cachimbeiras. A Mãe Firminando, João Freire, Maria José do Adelino, Mãe Cecília, Elina Cachimbo e Dona Alvina”.          
                               “O que produzíamos era trocado, por exemplo, produzimos farinha, goma, tapioca, beiju, bolo pé de moleque, Ipanema (bolo de carimã feito da palha de bananeira) grude que trocamos por peixe, queijo, pão, bolacha, rapadura, mel de cana de açúcar”.
                               Vimos a resistência de um povo que se afirma nas tradições quando relata: “Uma afirmação cultural muito forte que temos até hoje é a prática dos mezinheiros, são pessoas que fazem curas através das plantas medicinais e tradicionais por meio dos chás, lambedor, cozimento, banhos, garrafadas, e o leite das janaguba e os benzem com as mãos ou galhos de plantas, os que trabalham com os encantados (pajelança)”.
                                 “Acreditamos ainda hoje na corrente dos encantados que vem da lagoa do Giral para a mata do Cirica (morro do Caia Canga) do poente para o nascente e do ronco do mar para a serra passando pelo Cambeba, do norte para o sul, cruzando na lagoa da Baixa Funda”.
                                    Um povo que afirma sua identidade “Eu? Eu sou índio! Quem dizia que não era para contar era minha mãe, mas eu sei que sou índio e agora devo dizer”. José Bolacha- Anacé”.
                                 Vimos à sabedoria de um povo em relação às causas ambientais “Todo ser humano é um agressor da natureza! Eu sou! Eu planto na horta e considero isso uma agressão, mesmo que seja pequena, é uma agressão, tenho consciência disso” Alexandre Anacé.
                                 Neste processo de desapropriação sofrido pelos Anacé sente-se que há um esfacelamento, uma quebra dos laços afetivos com a sua gente a sua terra, os seus valores culturais. Na época trazer as crianças ao mundo tinha todo um sentido, um significado no sentido de gerar uma vida.
                                Com o loteamento imobiliário e a saída do seu povo o lugar se tornou cidade dormitório onde as pessoas que ali estão não tem identificação com a história do lugar, não existe entre eles um sentimento de pertença, uma relação mais forte que os una, estão ali só para dormir.
                               Percebemos também que a relação dos povos com o trabalho mudou, perde-se a característica de um trabalho que era feito pelo prazer e alegria de está no convívio e em comunhão com o outro, compartilhando ideias, aprendendo com e na alegria desse convívio e ver-se a implementação do modelo trabalhista que foge totalmente a essa perspectiva. Em sua fala Thiago diz: Eu trabalhei a minha vida inteira desde criança e não sentia que estava trabalhando, muito pelo contrário aquele trabalho era um prazer, não era visto como forte de renda, mas como um lazer, um momento de encontro e de significativa aprendizagem, o que produzíamos era trocado para suprir as necessidades um dos outros só se vendia o que sobrava.
                               Neste longo e doloroso processo de desapropriação os povos Anacé viveram o massacre dos três setes em 1977 com o cerco ao seu povo e a falta de mantimentos.
O massacre dos três oitos de 1988 a lagoa do Banana é banhada de sangue.
O Massacre dos três noves de 1999 com o Polo Industrial do Percém.
                               Nas falas que ouvíamos percebia-se que no convívio com a natureza cria-se uma identificação com os espíritos da natureza a restrição a esse convívio acaba com a visão de espiritualidade, a cidade é um tipo de câncer que vai tomando espaço do que a gente precisa e nós precisamos dessa terra dessa espiritualidade.
                              Todo esse processo de desapropriação e aculturação que vem sofrendo o povo indígena Anacé faz desse povo sábio, humilde e resistente, um povo extremamente esperançoso que se vê massacrado por uma pequena minoria em prol de um modelo econômico que se arroga no direito de humilhar e destruir os menos favorecidos.
                             Quase na finalização do encontro Thiago propõe um exercício:
 IMAGINE A SUA ESCOLA. (pausa)
 IMAGINE UMA ESCOLA INDÍGENA. (pausa)
Apresenta-nos a foto da sua escola e questiona:
Se a aldeia é a escola quais as consequências da destruição da aldeia?
Por fim a apresentação é encerrada com uma oficina de pintura indígena ministrada por Silmara Morais Teixeira Anacé, vimos as fotos e o significado de várias pinturas indígenas e pudemos no finalzinho vivenciar um pouco na nossa própria pele da história desce povo sofrido, mas vitorioso por que mantém a esperança de permanecer vivo.             
                         Parabenizo o Thiago pela brilhante apresentação e por não se deixar intimidar pela falta do Cacique João Figueiredo e do Coordenador Maclecio, assim como também pela didática criativa na qual conduziu o trabalho, percebíamos em cada fala e em cada gesto seu o carinho do mesmo na organização desta apresentação. Thiago nos proporcionou um momento de descontração, de mútuo aprendizado e de total interação do grupo com a fala e participação de todos presente bem como, da valiosa reflexão crítica sobre a história e educação dos povos indígenas Anacé e da sua luta esperançosa no sentido de ser mais.                              
PRESENTES: Thiago Halley (Dinamizador), Silmara Morais Teixeira (oficina de pintura indígena), Patrizia, Renata Lopes,Rochelle de Almeida Moura,Jairo Vieira De Sousa do Nascimento,Anúsia Pires, Eleomar dos Santos Rodrigues,Érika Pontes, Tánia Leal, Moisy Soares, Magda Silony Maciel e Fátima de Lacerda.

OBS.: O encontro foi realizado em outra sala, pois não tínhamos a chave da sala do GEAD ocasionando um atraso no início do mesmo e na providencia do costumeiro café e da saborosa água de coco que foi justamente criticado pelo Thiago. Ressaltamos também que mesmo sem a presença do Cacique João Figueiredo e do Coordenador Maclécio pudemos contar com um número significativo de pessoas prestigiando o encontro.
      
                                     RELATÓRIO GEAD

                         Fortaleza 31 de outubro de 2014.  Maria de Fátima de Lacerda
Fotos do encontro:
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Fotos: Patrizia
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Relatório 08/11/2014

Em Sábado, 8 de Novembro de 2014 0:07, "Anúsia Pires anusiapiresp@gmail.com [geadufc]" <geadufc@yahoogrupos.com.br> escreveu:

O tema de hoje foi Educação Escolar Diferenciada Indígena. Durante a manhã discutimos sobre educação indígena e educação diferenciada e específica Tremembé, relacionando-as com a Perspectiva Eco-Relacional, a Interculturalidade e a Colonialidade. Tivemos direito à meditação, sala aromatizada, músicas Tremembé, comidas gostosas, análise dos materiais didáticos da etnia e boas reflexões, tudo isso em um clima leve e bastante agradável.

Anúsia Pires

Fotos do encontro:
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Fotos: Anusia, Fátima, Moysielle
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RELATÓRIOS ANO 2013.1
TEMAS: Epistemologia do Sul – Colonialidade – EAD – Corpo Consciente
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Relatório GEAD     12.04.2013

Temática: Descolonialidade e PER
Texto: Colonialidade e descolonialidade: Uma perspectiva eco-relacional.

Iniciamos nossas atividades com a prática de exercícios corporais e uma massagem coletiva conduzida por Flávia. Esse foi o momento ótimo para as liberações das tensões do cotidiano que o diga Virgínia. J

Vê depoimento sobre o momento:

Maclecio Depois Então, estive apenas nas prévias e curti as técnicas de tai chi chuan da Flavia Muluc, o que em parte deu uma tranqulizada no meu corpo tenso de sempre, colonializado. (via facebook)

Nossas discussões em torno de colonialidade podem ser pensadas a partir do exemplo que Mazim utilizou sobre o pássaro que vive em uma gaiola. Que mesmo um pássaro bravo depois de um certo período aprisionado ele começa a desaprender a viver na natureza e a se tornar dependente dos cuidados do dono (alimento sem ter que caçar, proteção dos predadores...).
Depois desse tempo aprisionado mesmo que a gaiola seja aberta ele fica assustado em torno de qual atitude tomar, demora a perceber que a porta já esta aberta, hesita em atravessar a porta da gaiola, às vezes, até passa pela porta, mas muitas vezes tenta regredir a gaiola. Reaprender a viver na natureza sem a prisão da gaiola é um desafio, e é provável que muitas vezes esse pássaro volte a buscar a gaiola em busca das ‘comodidades que ela representa’.
(Era mais ou menos esse o sentido da historinha contada)

A história de Mazim me faz lembrar um forma poética onde Rubens Alves faz uma escola e a prática do vôo.

Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.

Rubem Alves diz que “Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-las para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo”, é assim que nós vivemos também, engaiolados e sob controle. Controlados por nossas crenças (que nem são nossas), controlados pelo sistema, e o pior, controlado por nossos amores. (um site qualquer da net)

Debatemos sobre a força dos discursos oficiais que convencem, mesmo que não sejam necessariamente a melhor proposta.

Ex:
Ponte no Cocó (fiscalizar a devastação do mangue)
Pecém (Obra gerará emprego e renda)
Estádio de futebol não poder se chamar Garrincha, porque não é um nome internacional e tem uma pronúncia difícil.

Bem pensando os mecanismos de descolonialidade debatidos no grupo creio que esse texto apresenta-os metaforicamente.
As estações (autor desconhecido)
Um homem tinha quatro filhos. Ele queria que seus filhos aprendessem a não julgar as coisas de modo apressado, por isso, ele mandou cada um viajar para observar uma pereira que estava plantada em um distante local.
O primeiro filho foi lá no Inverno, o segundo na Primavera, o terceiro no Verão e o quarto e mais jovem, no Outono.
Quando todos eles retornaram, ele os reuniu e pediu que cada um descrevesse o que tinham visto.
O primeiro filho disse que a árvore era feia, torta e retorcida.
O segundo filho disse que ela era recoberta de botões verdes e cheia de promessas.
O terceiro filho discordou. Disse que ela estava coberta de flores, que tinham um cheiro tão doce e eram tão bonitas, que ele arriscaria dizer que eram a coisa mais graciosa que ele tinha visto.
O último filho discordou de todos eles; ele disse que a árvore estava carregada e arqueada, cheia de frutas, vida e promessas…
O homem, então, explicou a seus filhos que todos eles estavam certos, porque eles haviam visto apenas uma estação da vida da árvore…
Como se li em algum lugar o todo tá nas partes, as partes constituem um todo e o todo e mais que a soma das partes.
Discutimos a diferença entre colonizar e colonializar.
Pensando os Movimentos Sociais, discutimos a importância da construção conjunto das soluções para as demandas populares e não a imposição de nossa lógica e forma de resolução dos problemas, pois a responsabilidade gerada na participação da tomada das decisões leva a corresponsabilidade na execução das medidas adotadas.
Flávia nos apresentou o pouco do conceito de ecologia profundo onde o Eu, meu corpo, é primeiro ambiente sobre o qual tenho responsabilidade, do qual devo tomar consciência e sobre o qual interfiro, o segundo ambiente sobre minha responsabilidade é o outro. Só ultrapassado esses dois ambiente posso chegar ao mundo, mas como segundo Freire eu e o outro só existimos na relação... COMPLEXO.
Observação sobre o encontro: Flavia Muluc Acredito que uma questão importante, foi estudar a colonialidade no sentido de práticas alternativas, mais sistêmicas e livres, que podemos exercer no nosso meio pessoal e profissional. O que pode se descolonializar, não é a academia, e sim os academicos. Neste sentido um diálogo que aponte para nossas subversões, novos olhares, e um entendimento de que precisamos evoluir na forma como resolvemos os nossos "problemas", pois segundo meu amigo Bohm, a fonte dos problemas estão na forma como temos buscado resolvê-los.
Estiveram presentes:
Camilla, Pedro Henrique; Mazim, Manuel, Valéria, Deyse, Ana Larissa (presente pela primeira vez em nossos encontros. Ana Larissa seja bem vinda!!! ), Flávia, Virgínia, Renata, Maclécio.
TEXTO COMPLEMENTAR. KKKKKKKKK
A discussão em torno do exagero em tudo pode ser colonialidade ou não, me fez lembrar esse texto, muito bacana(eu acho).

Onde está a Liberdade?

 Um singelo pássaro tem a sua simples vida resumida a um pequeno espaço de uma fajuta gaiola enferrujada. Para ele o mundo era apenas o que se passava a sua volta. Não imaginava a miríade de coisas e lugares existentes pelos quatro cantos do globo. Contentava-se com a fartura de água, comida e a atenção do tosco dono. Cantava alegremente a todo instante, era o seu sorriso ao sentir o entusiasmo do companheiro. Para ele só havia a sua rotina, nada mais. Não se preocupava com a morte, pois não sabia da existência, sequer podia imaginar que um ser descendia de outro. A prisão o privou de quase tudo. Era um analfabeto do viver.
Certa manhã, um pássaro, da mesma espécie, ao passar voando pelas redondezas escutou o chamado alegre de um irmão. Não titubeou, pousou sobre uma frondosa mangueira. Observava atentamente, esperava um novo chamado. O passarinho da gaiola deixou uma suave melodia se perder pelo horizonte. Na pura emoção ele de cá respondeu. Um silêncio eterno apoderou-se do local, o pássaro preso congelou-se ao ouvir algo que até então nunca havia escutado, o outro esperava uma resposta.
- Mas o que será isso? – indaga o pássaro da gaiola.
O outro não aguentou a demora e soltou um alto e estridente canto. O da gaiola respondeu timidamente, estava com medo, não imaginava o que poderia ser. Da mangueira o bichinho voou para um galho seco de uma pinheira. Pôde em fim avistar o ser engaiolado. Voou e pousou sobre o fio de um varal. Estava frente a frente. Se antes cantavam, passaram a se comunicar no linguajar da espécie.
- O que é você? – pergunta o pássaro da gaiola. – O que você quer aqui? O que você quer comigo?
- Calma… sou da paz… Meu nome é Cri-Cri. Qual é o seu nome mesmo?
- Nome? Meu nome? Eu não tenho nome. Para que nome?
- Você não tem nome? Vou te dá um nome. De agora em diante você se chamará “Tem Café Aí”.
- Por que esse nome?
- Hoje ao acordar escutei um pássaro cantando deste jeito: “Tem café aí! Tem café aí!”. Achei bonito.
- Para mim, tanto faz, nunca tive um nome mesmo.
- Gostei de você.
- Esta é a primeira vez que consigo entender outro ser. Um bicho grande sempre solta um largo sorriso quando estou a dedilhar minhas canções. Será se ele me entende? Quando o vejo feliz continuo a cantar, isso me deixa alegre. Eu gosto dele.
- Você não tem saudade da liberdade?
- Não entendi. De que você está se referindo?
- Sair voando pelo céu; ir se banhar nos riachos; conversar e namorar as passarinhas…
- E existem essas coisas?
- Como você parou aí dentro?
- Que eu me lembre, eu sempre estive aqui.
- Então você foi pego ainda no ninho. Que dura sina.
- Eu gosto da minha vida.
- É porque ainda desconhece as maravilhas do mundo. Você tem que conhecer a liberdade, sair por aí a apreciar as belezas que a natureza nos proporciona. Tente fugir dessa gaiola.
- Você me deixou confuso.
- Eu posso comer um pouco dessa sua comida?
- Se conseguir apanhá-la, sirva-se.
- Na vida tudo dar-se um jeito.
O pássaro se empanturrou. De papo cheio disse:
- Foi bom conversar com você. Pense no que eu lhe falei. Ser livre é bom demais.
O dono do passarinho preso ao escutar a cantaria saiu ao quintal para ver qual o motivo daquela alegria. O passarinho solto ao notar a presença indesejada do humano não hesitou e se mandou, tinha aversão à prisão.
- Que passarinho que canta bonito… Vou armar um alçapão, pois quando ele aqui retornar o pegarei para mim – disse o humano alegremente.
O pássaro não retornou mais. Passado alguns dias, o rapaz resolveu retirar a armadilha. Ao erguer o alçapão, a porta da gaiola suspendeu junto. Recolocou a gaiola no prego sem notar o deslize.
O pássaro lembrou-se do amigo. “Fuja! Vá conhecer a liberdade”. Ele queria sair, mas ao mesmo tempo tinha medo. Queria e não queria. O Diabo mandava partir, o Anjo pedia para ficar. Esteve na enrola da indecisão por alguns minutos.
- Que se dane tudo! Vou conhecer esse tal mundo. Quero-me a liberdade de volta.
Bateu-lhe as enferrujadas asas e sem rumo cavalgou pelo ar fresco do dia a contemplar as belezas dos vales, das serras e dos animais. Ele encontrou pelo caminho vários pássaros da sua espécie, nenhum sequer notou a sua presença, era um fantasma em meio a uma multidão. Pela primeira vez ficou frente a frente com um ser do sexo oposto. O amor germinou, cresceu e morreu em segundos. Tantos sentimentos que sentiu o coração crescer a ponto de querer sair pela boca, murchar a ponto de sumir, e tremer a ponto de quase o levar a morte. Esteve apaixonado, esteve decepcionado, por fim, amargurado. A passarinha o ignorou por completo.
- Que liberdade é essa que nos faz sofrer? Ele tinha me dito que a liberdade era algo maravilhoso, mas não consigo vê-la. Quem sabe eu ainda não a encontre?
Continuou a voar, voou sem rumo e sem direção, tudo era novidade, não atinava aos perigos do mundo, aos perigos da liberdade, pois no mundo onde há caça existem os famigerados caçadores, a liberdade de um termina no apetite desmedido do outro.
- Estou com fome… – a barriga dava seus sinais, cobrava o alimento. – Mas comer o quê? Não vejo nada em que posso saciar minha fome.
Ele não fora treinado para esse tipo de vida, não detinha as artimanhas para ter êxito. Lembrava-se com saudade da prisão, lá sim ele podia cantar feliz, cantava para alegrar o dono, sentindo-se satisfeito por servir. Estava em apuros, sequer imaginava como voltar, não conhecia o caminho de casa. Chorava mansamente, naquele instante pensou no pior, mesmo sem conhecer a morte, pela primeira vez sentiu a friagem negra do medo. Viu um inseto passar voando, na sua loucura de fome o instinto o lançou a captura da presa, sem habilidade foi humilhado pelo pacato ser. Os passarinhos pararam para apreciar a cena, viram quando o inseto ao realizar um zigue-zague o fez enterrar a cara no chão de terra batida, alegremente, sorriram os pássaros, inclusive a fêmea que o fez ficar encantado em momento anterior, a própria em um voo suave e rasante apanhou o pequeno inseto sem muito esforço. O pobre ficou humilhado. A fêmea levou a presa ao chefe do bando e a colocou de bico a bico no dele.
- O que você está fazendo em minha área? – pergunta o chefe em tom bravo. – Parta já do meu território, pois não quero te ver por aqui. Se ousar em permanecer, saberá do que eu sou capaz.
- Isso é um idiota, não sabe sequer capturar um inseto – falou a fêmea enquanto paparicava o chefe.
Sem muito pensar, apenas impelido pela força do medo, saiu a voar sem rumo. Desejava copiosamente retornar a sua querida gaiola, chorava por não saber como. De repente foi sacudido por um forte grito.
- Saia daí agora!
De imediato ele lançou ao encalço do outro pássaro.
- O que foi que aconteceu?
-Entre na copa daquela árvore.
- Para que tudo isso?
-Você é cego? Um perverso gavião estava preste a lhe dá o bote. Também, viveu todo esse tempo enclausurado em uma gaiola, não tem experiência de mundo. Por que você chora?
- Queria voltar para minha gaiola… Mas não sei o caminho.
- Você não se lembra de mim? Sou Cri-Cri.
- É você mesmo? Que bom lhe encontrar.
- Vamos, vou lhe guiar até a sua casa. O bom é que eu encherei o meu papo. Estou com uma fome…
O brilho voltou ao olhar do pequeno pássaro. Em fagulhas de tempo a angustia devastadora cedeu lugar ao sorriso e ao alívio da felicidade. O brilho nos seus negros olhos trouxe a luz ao tempero áspero e cinzento dos momentos anteriores.
- Você quer antes do seu retorno ao seu doce cárcere que eu te mostre as belezas deste mundão velho?
- Não. Eu já conheci o suficiente. Hoje sei o que almejo para minha vida. A felicidade para uns não é a felicidade de outro, eu posso ser feliz com pouco, outro infeliz com muito, a felicidade não se encontra na liberdade dos passos, mas na liberdade dos belos sentimentos.
- O gavião já bateu asas. Acompanhe-me! – saiu a voar. – Em pouco tempo estaremos lá.
Ao chegar, encontrou a gaiola no prego com a portinha aberta. A esperança do dono vislumbrava a volta do amiguinho. Também armou um pequeno alçapão.
- Vou entrar para a gaiola e esperar que ele venha.
- Não! Vá e pise no alçapão e curtirá a magnífica adrenalina.
- Eu devo? Então eu vou sentir esta tal de adrenalina.
- Neste mundo há de tudo… até um ser que sonha em ser engaiolado. Vá lá e pise naquela geringonça.
O pássaro voou e ficou sobre o alçapão, olhou para o amigo e em um simples salto pisou na madeira, que acionou um dispositivo, que fez a tapa descer com violência, que o privou dos ares, que o recolocou na antiga vida e que o fez assustar.
- Gostei desta danada adrenalina.
- Você precisa sentir a fuga das garras de um temido gavião, o coração acelera, o sangue corre loucamente pelas veias, mas ao final sobra uma satisfação gostosa.
- E agora o que eu faço?
- Espere. Não foi você quem quis a prisão? Agora eu vou comer a comida que está na gaiola, por isso que eu te mandei entrar aí, desta forma sobraria o alimento para mim.
- Você conhece mesmo as malandragens do mundo.
Fartava-se enquanto papeava com o amigo. Um estalar de gravetos, um barulho, a porta dos fundos da casa abria-se, de lá um ser com sorriso farto nos lábios corria ao encontro da gaiola. O passarinho na pura explosão da adrenalina, desbaratado, conseguiu sair da gaiola, e na loucura voou ao céu cantando:
- Breve eu voltarei! Breve eu voltarei! Breve eu voltarei, amigo!
O homem ficou encantado com aquele canto.
- Por pouco aquele danadinho seria meu. Olhe quem está aqui! O fujão voltou. Você nunca mais sairá desta gaiola, pois meus cuidados serão redobrados. Estava com saudade das suas melodias. Chorei muito neste tempo que ficou a vagar pelo mundo. Um amigo me disse que viu você perambulando por sobre aquela mata verde. Estive lá a sua procura, mas não o encontrei. Deus escutou as minhas preces.
O homem recolocou comida e água nos compartimentos da gaiola, pegou o pássaro na mão, olhou bem para ele, soprou a cabeça do pequeno animal, passou o dedo devagar sobre a plumagem da cabeça e o recolocou na gaiola.
- Agora eu quero ver você fugir novamente… – amarrou com um pedaço de barbante a porta.
O passarinho ao sentir o entusiasmo do amigo retribuiu a alegria que sentia com belas melodias.
Moral da história: “Na vida a liberdade se encolhe frente às necessidades; a liberdade total não existe enquanto houver dependência; para o homem a liberdade total só se encontra nos pensamentos”.
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Relatório 24.05.2013

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 Encontro Gead – 24 de maio de 2013
Tema: Educação Diferenciada Indígena
Responsável – Marzinho, Jon, Deyse, Patrizia,  Anúsia
Relatoria – Erica e Marzinho


ñ      Iniciamos o nosso encontro assistindo um vídeo ...
ñ      Atividade: representar, através de desenhos, palavras, frases, @ indígena no Brasil.
ñ      Antes da socialização dos registros de cada um(a), houve a discussão sobre a relatoria dos encontros. João propõe o retorno de duas pessoas como relatoras, a cada encontro. Erica propõe a gravação, em áudio, de todos os encontros, para colaborar com a relatoria. Após a discussão, com recusa da Camilla, houve o consenso sobre as duplas na relatoria e a gravação das reuniões.
ñ      João informa sobre a implantação de EA, na UFC. Pede a colaboração do grupo na leitura e sugestões nas Diretrizes Curriculares, com o objetivo de justificar e fundamentar a implementação de EA de forma presencial e, portanto, abertura de concurso. Os avanços da proposta estão, principalmente, em três eixos:  pensar em comunidades de vidas; EA crítica, emancipatória; sustentabilidade, ao invés de desenvolvimento sustentável.
ñ      Foi retomada a socialização da produção (desenhos, frases, etc):
Sephora:
Erica: indígena excluído do território brasileiro;
Joh: o que é ser índi@? O que é ser brasileir@?
ñ      João faz uma intervenção sobre o “sei que nada sei”. Só sei que não sabia com a descoberta do saber.
Renata: o que é ser índi@?
ñ      João faz uma intervenção sobre @s indígenas tremembé, relatando a sobre a feitura do artesanato, usando o exemplo de colares com búzios. O artesanato tem se perdido no tempo, uma vez que só duas mulheres constrói esses colares. Atividade que exige muito conhecimento ambiental: onde estão os búzios, época da extração, forma de curar e colorir e, por fim, costurar. Há um desvalor sobre o conhecimento da artesã, da parteira, da curandeira.
Relato sobre a escola diferenciada indígena d@s Tremembé. Expectativa sobre uma nova turma de graduação Magistério Indígena Tremembé Superior, experiência diferenciada no Ceará.
Despedida da Flávia levou a discussão sobre a mudança no cronograma, uma vez que era uma das responsáveis pelo próximo tema, “O corpo consciente”.
Camilla: conflito
João:  Coexistir vitalmente; é necessário exitir @ outr@, só existimos no contexto relacionais; coexistência vital, entre humanos e com os outros seres da natureza. Algumas comunidades interagem socialmente com plantas e animais, comprovado pela espiritualidade e religiosidade com esses elementos naturais.
Marzinho: interrogação; diante da diversidade social existente – a exemplo dos Tremembé -  conclui que não sabe nada sobre indígena.
ñ      Anúsia faz o fechamento dos trabalhos. Menciona a concepção de alguns representantes indígenas que abordam a questão da representatividade identitária d@ indígena, fazendo um paralelo com as concepções trazidas pelo grupo, a partir dos desenhos. Propõe para o próximo encontro pensarmos o conceito de cultura, como algo dialético e dinâmico.
ñ      Erica questiona sobre o conceito de povos e de comunidades tradicionais e indígenas. João comenta que essas definições, para os Tremembé, por exemplo, estão relacionadas com a aplicabilidade dos termos, no cotidiano e, portanto, varia de acordo com as situações.
ñ       “isso é todo um processo que envolve a complexidade nos paradigmas da contemporaneidade”
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Relatório 24.05.2013


De: Eleomar Rodrigues <mazinhoufc@yahoo.com.br>
Para: geadu ufc <geadufc@yahoogrupos.com.br> 
Enviadas: Quinta-feira, 30 de Maio de 2013 9:15
Assunto: [geadufc] CARTA-RELATÓRIO EDUCAÇÃO INDÍGENA


Olá Parceir@s, estou lhes enviando em anexo uma carta-relatório da reunião passada. A carta tem como destinatária a amiga Patrizia que ainda se encontra enferma, entretanto é extensiva a todos(as). Quem puder, por favor, imprima para ser lida no encontro de sexta, pois estou sem impressora em casa e hoje é feriado e não tem "lan house" aberta.
Abraço.
Mazinho.
O QUE É SER ÍNDIO NO BRASIL?

Querida Patrízia, parece que a virose lhe pegou de jeito dessa vez. Sentimos muito por você não ter participado do nosso encontro. O tema do GEAD da semana foi Educação Indígena e você não ter participado, deixou-me deveras preocupado! De qualquer forma, como sempre, você contribuiu com o grupo, mesmo estando enferma em casa. Pois, parte do vídeo “O Povo Brasileiro”, que você enviou para o grupo foi apresentado. Só que antes, ouvimos uma bela canção chamada A CAMBOA, utilizada pelos Tremembé em seus festejos e lutas.
Em seguida, vimos ouvimos e sentimos a força da espiritualidade Tremembé, através de outro vídeo curtinho, onde o cacique João Venâncio e o Pajé Luís Caboclo “puxavam” uma oração em forma de ritual de iniciação em uma solenidade na escola. Acho que o vídeo foi produzido por integrantes do GEAD, pois nele apareciam pessoas que estão ou estiveram no grupo.
Mas voltemos ao vídeo do Darcy Ribeiro, “O Povo Brasileiro”, que você sugeriu para nossa apreciação do qual vimos apenas um pequeno trecho. Penso que a escolha do material foi interessante para introdução da temática, pois ele trouxe uma história que poucos de nós conhecíamos, acredito. O documento visual, como você já sabe, tratava de duas etnias que tinham traços culturais comuns: os Tupinambá (mais destacados no filme) e os Kayapó. Porém, penso que esses traços poderiam ser representativos de outras etnias presentes no Brasil e países vizinhos, tais como: o conhecimento da natureza com destaque para as plantas medicinais, a vida mais harmonizada com outros elementos da natureza, a presença de espírito em tudo que existe, a força dos rituais, a divisão nítida de tarefas, a relação guerra e festa, a liberdade sexual, a força da tradição tribal, a terra como um bem comum de todos/as, a reinvenção do índio o tempo todo, enfim, a beleza de uma cultura que talvez só possa ser entendida se for minimamente vivida, ou melhor, com-vivida como você insiste em falar. Assim não sendo, cairemos sempre na armadilha das impressões, conhecendo o (a) outro (a) a partir apenas de nossas referências que geralmente são deformadas ou desinformadas e cheia de interferências externas, em sua maioria, eurocêntricas. Dessa forma, podemos ser induzidos ao preconceito, à estereotipia, a naturalizações, ou mesmo à romantização.  Aqui me coloco nesta condição, a daquele que está buscando o com-viver para compreender e respeitar.
Depois da apreciação da película, amiga Patrízia, o grupo facilitador distribuiu folhas de papel em branco para que representássemos através de palavras frases ou desenhos a seguinte pergunta: O QUE É SER ÍNDIO NO BRASIL? Depois deu-nos algum tempo para concluirmos a tarefa, então houve a socialização das produções. No meio da atividade o “cacique” João Figueiredo, como você o chama carinhosamente, trouxe o problema da falta de relatoria nos encontros do grupo. A prática está quase em extinção no grupo. Então decidimos cuidar melhor dessa atividade que é tão cara para a memória do GEAD. Os relatórios servem como informativos aos (às) parceiro (as) que por algum motivo tiveram que faltar a reunião semanal, como é o seu caso no momento. Falta totalmente justificada no meu entender, pois não podemos descuidar da nossa saúde.
Nesse entremeio, ainda teve o momento de impasse protagonizado por Érica e Camilla sobre gravar ou não gravar os diálogos para o relatório. Érica defendia ser importante a gravação de nossos diálogos para a relatoria e Camilla defendia seu direito de não ser gravada. Após a troca de ideias e posicionamentos que aqui não acho importante mencioná-los, ficou acertado que não haveria problema algum com as gravações desde que fossem para ajudar o grupo nas relatorias e produções coletivas. Então ficou acordado que a relatoria de hoje (Educação Índigena) seria feito por mim e Érica e a relatoria do encontro passado ficaria sob a responsabilidade da Sefora e Virgínia. Patrízia, se eles (as) soubessem que você já chegou até a fazer filmagem, acho que o entrevero teria sido maior ainda!
Depois, João nos pediu que lêssemos em casa uma resolução (Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012) do Conselho Nacional de Meio Ambiente, eu acho que isso! O objetivo do pedido consistiu em discutirmos e propormos ideias para que a disciplina de Educação Ambiental seja efetivada nas universidades de forma presencial e através de seleção pública para professor (a). Entendi que existiam pessoas defendendo que tal disciplina fosse ministrada de forma não presencial, ou seja, à distância, ou mesmo ser concebida apenas como componente curricular.
Maclécio lançou a ideia da formação de Grupos de Trabalho para discutir o assunto. João Figueiredo achou que isso não funcionaria, pois nem todos/as participam efetivamente dos trabalhos. Quase sempre o (a) relator (a) dá o parecer e os (as) outros (as) acatam fielmente.
Ainda houve a velha discussão do uso ou não das canecas do GEAD em detrimento dos copos plásticos. Será que um dia isso vai funcionar. Atrasos frequentes e o uso de canecas são dois “gargalos” no grupo que ainda não conseguimos superar. Por falar em atraso, você viu o e-mail do João sobre atrasos e faltas? “O cacique botou foi quente na gente, hein!” Será que agora dará certo?
Sobre o que é ser índio no Brasil, comentarei brevemente o que foi falado das produções de cada um (a). Não vou ser fiel ás falas como você faz nos relatórios, pois não tenho a sua memória e talento de escrita, entretanto tentarei abordar as ideias principais. Vou aqui pela ordem das apresentações, citando o nome o (a) autor (a) para melhor entendimento de sua parte:
1º Manolo Sampa - comentou que o índio é quem sabe viver, nós não sabemos, e temos que aprender com eles.
2º Sefora – Refletiu sobre o índio e tecnologia, ressaltando no final, que os índios estão sendo contaminados.
3º Valéria – disse não saber quase nada sobre os índios e que a escola não lhe ensinou nada sobre eles.
4º Érica – tentou desenhar o mapa do Brasil, novamente trouxe uma mulher “pelada” para falar de gênero e comentou sobre o extermínio dos índios a partir do mapa.
5º Maclécio  - ressaltou a violência mostrada no filme (canibalismo). Disse que era difícil definir o índio pela impossibilidade de senti-los. Trouxe a memória da mãe e da avó na década de 90. Fez a relação da sua avó com o ser índio ressaltando o símbolo da resistência. Disse que BR passou e carregou essas aproximações com o ser índio.
6º Renata – Trouxe o desenho da dor de barriga e um “colar” de bananeira pra curar. Falou sobre o conhecimento das plantas.
7º Jon – Desenhou um rosto com muitas informações para destacar as diversas formas como ele, ou talvez as pessoas, percebem os índios. Destacou que às vezes intuímos muitas coisas sobre o outro e que no caso dos índios eles usam objetos que usamos também. O fato deles não usarem os apetrechos que esperamos não os tira a autoridade de serem o que são. Fez seus comentários baseado nos encontros recentes com os Tremembé. Ainda afirmou que temos que fazer um esforço para apurar nosso olhar. Disse: “vemos só o que queremos ver”. Ainda comentou sobre o canibalismo ressaltando a relação do que vemos (visível) e o que está escondido nesta prática (invisível).
8º Cacique João Figueiredo: lembrou que a gente não sabe o que não sabe para afirmar que o desconhecimento da nossa ignorância tende a nos impedir de avançarmos em nosso conhecimento. Destacou que não podemos perder de vista o que somos, pois o fato de convivermos com os índios não nos torna um deles. Ele disse que a gente só sabe que não sabe quando deixa de não saber. E que o saber só é identificado diante do reconhecimento do não saber. O não saber é uma característica humana importante para o conhecimento. Para ilustrar contou a passagem da vida do filósofo Sócrates que na época foi considerado pelos deuses o mais sábio dos humanos, condição não aceita por ele. Defendia que os poetas, os intelectuais e os políticos eram mais sábios que ele. Mais tarde chegou a conclusão de que seu saber estava justamente em não achar que sabia. Reconheceu que seu saber cabia dentro de uma mala e o que ele não sabia estava fora dela.
9º Camilla: Após pensar um pouco, ressaltou que o contato com a temática indígena ocorreu primeiramente com as músicas da Mara Maravilha, Xuxa e Eliane. Disse que ouvia a rádio FM 93 com apresentação da Samantha Marques e ainda ligava pra ganhar prêmios de um orelhão.
10º Mazinho – Eu assumi o meu desconhecimento sobre o tema e o desejo de com-viver,  experienciar e compreender mais sobre os índios e a sua(as) cultura(as). Basicamente foi isso minha amiga! Ainda houve algumas intervenções que não consegui registrar efetivamente, mas a Camilla acabou de nos enviar um e-mail pela lista do GEAD que completa esse relato. Caso você não tenha recebido, apresento-lhe logo abaixo. Beijos e melhora.
Abraço.
Mazinho.
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Resposta à CARTA-RELATÓRIO de Marzinho:

Amigo do mar, meu amigo Pequeno Mar.
Faz tempo que não chorei tanto pela comoção, pela alegria de poder estar presente ausente, pelo fato de ter sido contemplada com tamanho carinho.
Muitas vezes, a primeira vista, pensamos que o relatório de um encontro é mais uma obrigação entre tantas outras, mas se nos convencemos que é um pedaço de história que juntos criamos para ser mais, incluindo ausentes e presentes, a perspectiva muda e o que parece uma imposição se torna um refazer-se, reinventar-se, reentender-se, reinterpretar-se.
Nessa carta maravilhosa eu estava presente. Vi, senti, cheirei, ouvi dialoguei com cada um(a) de vocês. O ser participante para mim não se reduz ao contato visual ou corporal porque estamos no mundo e com o mundo todos, visíveis ou invisíveis e nele e com ele interrelacionados.
Quero acentuar aqui também quanto é importante para mim a reflexão, a crítica, a opinião de cada um(a) do grupo antes de todos os autores peritos, porque os autores estão imprimidos e sempre posso recorrer a eles nas bibliotecas e livrarias e até na internet. Também um “relatório” dá a oportunidade de sermos criativos, de explorar nossas capacidades e peculiaridades como mostra essa carta, e quem sabe um dia esses múltiplos olhares podem-se tornar uma obra inédita.
Amigo Marzinho gostaria ainda de corrigir uma coisinha, o vídeo “O Povo Brasileiro” de Darcy Ribeiro não foi minha sugestão, mas a do Jon, é que ele escreveu que tinha um DVD e para facilitar o trabalho (pelo menos para dar uma mãozinha na preparação do encontro) eu só fui pesquisar no youtube e encontrei.
Amanhã mais uma vez só poderei estar espiritualmente entre vocês. Ontem fui fazer uma ultrasonografia (depois de esperar três horas num ambiente refrigerado, que consequentemente me causou mais dores na região do pulmão), mas os resultados somente estarão prontos segunda feira.
Gostei da programação e de tudo que vocês fizeram e vão fazer, fiquem ligados(as), estou conectada. 
Beijos e abraços
Patrizia
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Encontro Gead – 31 de maio de 2013
Tema: Educação Diferenciada Indígena

Responsáveis – Anúsia, Deyse, Jon, Patrizia, Renata. 
Relatoria – Erica e João
Presentes: Ana Valéria, Anúsia, Camilla, Eleni, Erica, João, Jon, Maclecio, Manoel, Mazinho, Renata, Sephora.

        O encontro foi iniciado às 08h45, com a leitura do relatório da reunião anterior, confeccionado por Mazinho e Erica. Dê-se destaque ao formato escolhido por Mazinho para o relatório: uma carta direcionada à Patrizia, que esteve ausente no encontro. A leitura, feita por Camilla e Sephora, foi acompanhada de correções, pelo grupo.
        Após a leitura do relatório, Camilla solicitou a participação de tod@s para participar de uma atividade de pesquisa, realizada por ela, João e Eleni. A atividade consistiu em responder a duas questões: 1- qual a contribuição do GEAD para sua formação como educador(a) ambiental? 2-Quais foram as experiências vividas/desenvolvidas por você a partir das contribuições do GEAD? João ressaltou a necessidade de tod@s autorizarem formalmente o uso de seus escritos para fins de pesquisa, fazendo com que tod@s redigissem o mesmo termo de autorização e assinassem.
            Não houve controle do tempo para a atividade. O grupo levou mais de uma hora para tal, o que dificultou atrapalhou a atuação do grupo facilitador, responsável pela temática: Educação Diferenciada Indígena.
            Foi retomada a temática do dia, com a exibição do vídeo “Quem são os povos indígenas no Brasil?”, da TV Escola, de 2004. O vídeo trata da Escola Diferenciada Indígena, abordando como a escola regular eliminava a língua indígena e preconizava a educação religiosa católica. Tratando da escola diferenciada, valoriza os costumes indígenas e sua língua materna na sala de aula, mostrando os exemplos no estado do Amazonas. A arte é outro elemento marcante nas escolas indígenas, como mostra um exemplo apresentado do estado do Acre.
            Outro vídeo é apresentado com a fala do pajé Luis Caboclo, do povo Tremembé (CE). Trata da sua atuação no curso de formação de professor@s, Magistério Indígena Tremembé Superior. Na sua fala, enfatiza o coletivo, pois ninguém faz nada sozinho. Fala da vocação de cada um(a). Relata a discriminação que jovens da comunidade sofriam ao frequentarem a escolar regular, reforçando a importância da escola diferenciada. Conta que a comunidade, através de suas lideranças, foi reunida para escolher quem iriam ser @s professor@s. Reforça a necessidade do aprendizado da língua portuguesa, mas sem desprezar a língua materna indígena, com seu vocabulário específico, a exemplo do pirão de beiju, chamado de manfué.
            Na sequência, Jon conduz a atividade com trechos de textos da tese de José Mendes Fonteles Filho (Babi) – sobre a Escola Diferenciada Indígena dos Tremembé – e da dissertação de Flávia Alves Silva – sobre  a Escola Diferenciada Indígena dos Pitaguary. O grupo fez a leitura do material durante cerca de 10 minutos. Após a leitura, em duplas, Jon dá continuidade explicando a razão da escolha dos textos.
            Erica faz uma intervenção solicitando uma contextualização d@s autor@s mencionad@s. João faz, então, o breve relato da história de atuação de Babi, juntamente com Sandra Petit e Angela Linhares, há quase 20 anos. A tá deu-se em prol da implantação e manutenção da escola diferenciada indígena Tremembé, desde o ensino fundamental até o ensino superior. @s egress@s do Magistério Indígena Tremembé Superior são oriund@s da escola diferenciada, desde o ensino fundamental.
            Sephora (?) questiona sobre a distinção de escola diferenciada indígena para escola indígena. João apresenta uma concepção a partir do exemplo Tremembé. (ouvir gravação de áudio).
            Sephora faz uma pergunta sobre a existência de Educação Ambiental no currículo da escola diferenciada indígena. João responde dizendo que EA existia no currículo do Magistério Superior, juntamente com Saúde e com Turismo. Destaca que EA para o povo Tremembé para reforçar seus valores tradicionais.
            Jon retoma a fala sobre os textos selecionados. Os mesmos tem o objetivo de apresentar as diferentes formas de construção da escola diferenciada indígena, no caso as diferenças entre Tremembé e Pitaguary, reforçando, inclusive um dos princípios indicados pelo MEC para a escola diferenciada indígena: o específico. Os demais princípios são: ser bilíngue, ser intercultural e ser diferenciada.
            Jon fala da ideia de cultura e identidade que é estabelecida/construída na comunidade. E comenta que a iniciação na construção do conhecimento é realizada de forma coletiva ( e talvez institucionalizada) e pelas mulheres.
            Os trabalhos do dia foram encerrados às 12h10.
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RELATÓRIO DA REUNIÃO DO DIA 14 de JUNHO de 2013

TEMA: SABERES TRADICIONAIS
GRUPO FACILITADOR: MACLECIO E MAZINHO

1° momento (em pé, em círculo):
©     Atividade corporal: “acordamos” o corpo com movimentos livres, ao som da música “Corpo total”, cantada pelo Pingo de Fortaleza.
©     Relaxamento guiado pelo Mazinho: pensamos em que sentimento cada um@ acha necessário para modificar o mundo... Procuramos sentir esse sentimento e passar para @s outr@s através de abraços.
©     Relaxamento guiado pelo Maclecio: cada um@ pensou no seu tema de trabalho, no que tem feito, no que tem aprendido com isto, a que caminhos ele tem nos levado...
©     Em seguida, representamos esta “viagem” por meio de mímica ou de imagem corporal, e @s demais colegas tentaram interpretar e nomear a “imagem”.
- do João: amorosidando.
- do Pedro: transferência divina.
- do Mazinho: opressão; crise da humanidade.
- da Deyse: indígena.
- da Camilla: pra dialogar, é necessário silenciar.
- da Séphora: pensamento, reflexão.
- da Renata: sair do espelho.
- do Maclecio: sinapse; encontro; kamenkamenrá.
- da Erica: alegria; saltitante.
2° momento (sentados nas cadeiras, em círculo):
©     Os parceiros do grupo facilitador solicitaram que, agora, cada um e cada uma socializasse com o grupo o que pensou e qual foi sua intenção com a “imagem corporal”:
- Erica: EaD em formato de bonequinho; desenho animado; as letras com olhos, boca, braços, pernas... Imaginou o bonequinho vindo para o GEAD e alguém o confundia com “Educação a Distância”; ele se chateou com isso, mas no GEAD, ele “se encontrou”...
- Renata: pensou em muitas coisas, muitas pessoas... Identidade: representou através do espelho.
- Séphora: teve a semana corrida. Vários pensamentos; confusa. Reflexão. Momento de reflexão. Necessidade de calar um pouco e escutar mais.
- Pedro Henrique: recebendo... Pedindo luz e energia para si e repassando para @s outr@s...
- Mazinho: só veio à cabeça a escola; foi o tema que mais o consumiu... muita fiscalização; tensão entre os diretores. Isso o tem afetado muito.
- Deyse: pensou na questão indígena, que tem vivenciado bastante e conhecido a realidade através da convivência com a escola. Levantou também a questão política da luta pela terra.
- Maclecio: pensou em encontro, enquanto necessidade, vontade, intencionalidade... Encontro como força!
- João: tentativa de fazer uma coisa que não tinha pensado, de transformar um bonequinho em um gesto: compartilhar a amorosidade, no sentido do amor-sabedoria, vindo do coração, e que esse sentimento potencialize o crescimento d@ outr@.
- Camilla: importância de ouvir com todo o corpo, com todo o ser; e de falar e demonstrar amorosamente o que sente e o que pensa...
3° momento (em pé, sentado, andando...)
©     Fazer uma relação exótica entre os temas falados, de maneira conjunta entre estes e os saberes tradicionais.
©     Representar isto através de desenhos, em equipes.
©     Socialização dos desenhos com comentários...
Momento final:
©     Conversa informal, meio que conversa de calçada, sobre o que nós entendemos por tradicional. Tradicional e ancestral são a mesma coisa? O que é preciso para uma coisa ser tradicional?
©     Falamos também um pouco sobre as nossas expectativas para os próximos encontros.
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Grupo de Educação Ambiental Dialógica – GEAD
Relatório do dia 21/06/13 – Anúsia Pires

- Leitura do relatório da reunião anterior.
- Discussão a respeito da manifestação que aconteceu em torno da Arena Castelão, no dia 19/06.
- Durante o encontro foram mostrados e problematizados vários conceitos a respeito dos Saberes Tradicionais. A equipe facilitadora justificou a ausência do conceito de Hobsbawn, pois ele não define um conceito “fechado” e nem “aberto” a respeito do tema.
- Os Saberes Tradicionais estão relacionados somente com a natureza ou para além dela. As duas interpretações podem ser aceitas, entretanto, em tribos indígenas e no candomblé eles são vistos a partir da junção das duas interpretações. Nesses casos, assim como em outros, a oralidade pode ser considerada como expressões, não apenas como fala. Essa também é uma forma de transmissão dos Saberes Tradicionais.
- Os Saberes Tradicionais “devem” ser ancestrais, porém o primeiro conceito mostrado fala que ele pode ser inovado (Ver slides apresentados pela equipe.).
- Sam: A oralidade não é naturalizada, ela é tratada como uma tecnologia que se dá de uma maneira diferente.
- Jon: Há uma valorização da fala dentro da nossa sociedade, em uma aula, por exemplo, o aluno que fala é visto como participativo. A fala às vezes substitui o ato, por exemplo: Em um encontro a pessoa fala “um abraço” e não pratica o que foi falado. Também pode haver uma contradição entre o que se fala e o que se faz.
- Jon fez uma reta, perguntou em qual direção ela ia e qual lado era a direita e a esquerda. Em seguida, desenhou uma reta “menor” e perguntou qual tinha um menor espaço. Ele disse que levando em consideração que as duas possuem infinitos pontos, o percurso é o mesmo. Desta forma, duas tradições possuem a mesma importância, independente do tema, pois ambas possuem infinitos pontos.
Para se estudar uma tradição, se tenta mostrar uma história, uma linearidade, não levando em consideração as curvas existentes nela. Às vezes o pesquisador se depara com um ponto da história na qual o tempo é elástico, ou seja, a experiência de cada indivíduo é diferente com relação àquele ponto, cada um sente-o e interpreta-o de maneira diferente.
- Renata (?): O presente é o espaço de resignificação do passado. Tradição é permanência?
- Os Saberes Tradicionais, quando são apropriados, podem ser usados, mas não apropriados pela sociedade em questão. Por exemplo o copo plástico. Isso depende da interpretação (visão de um grupo), ou seja, determinado grupo pode se apropriar desse copo apenas através do seu uso, já para outros grupos se apropriarem dele, precisariam ter uma relação mais aprofundada com o objeto, sabendo do que é e como é feito.
- Os Saberes Tradicionais remetem àquilo que foi construído coletivamente, por um grupo, ao longo do tempo.
Sam: Nem sempre isso se dá de maneira consciente.
Jon: Para isso, não é preciso que se tenha uma consciência crítica.
- Renata: Se cair na discussão a respeito do que é fixo, não se pode pensar em tradição, pois isso não existe. “Tradição é muito mais do que presente, do que passado.”
- Tradição perdida existe, mas não é usada (colocada em prática).
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         espiral-do-vetor-das-borboletas-9453038.jpg                        Relatório do dia 28 de junho de 2013

“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.” Mario Quintana
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Tema: Saberes Tradicionais
Responsável: Marzinho, Maclecio
Presente: Anusia, Camilla, Deyseane, João, Jon, Maclecio, Marzinho (Pequeno Mar), Patrizia, Renata, Seu Chico

Pra não morrer na praia
Jornada maravilhosa na beira do mar, não por ser a Beira Mar, passeata dos turistas e da grana, mas por ter conhecido um outro mundo. Seu Chico, pescador e pai do nosso querido companheiro Marzinho (Pequeno Mar) nos convidou mar adentro entre poitas, sassangas, manzuas, caçoeiras, espinheis e tantas outras coisas a mais para conhecer seu mundo, entendendo que a profissão do pescador é “a melhor para quem não tem estudo” como ele enfatiza. Nessa manhã de sol entre bancas de peixe, mar e praia tomando água de coco gelada, aprendemos onde encontrar o peixe e a lagosta “é no cascalho e nas marambaias” (arrecifes artificiais construídos com lixo da civilização moderna, pneus velhos, ferro velho, barcos afundados etc.; antigamente os indígenas construíam marambaias com os galhos da vegetação dos manguezais) e como os antigos pescadores que não conheciam sonda nem gps se orientavam no mar “pelos astros e pelo vento e se não tinha vento e o céu era nublado a gente ficava parado, isso é ruím”. Alguém quer saber se Seu Chico acredita nas histórias sobre aparições no mar, ele não acredita “essa é coisa de pescador” diz sorrindo. Seu Chico fala com os olhos, com as mãos, com o corpo, ele explica, desenhando na areia, a topologia do fundo do mar, utilizando um canudinho mostra como funciona uma sonda, abrindo os braços mede qual a distancia certa entre um manzua e o outro para que a lagosta entre, ainda com gestos exibe como uma lagosta entra no manzua, “de banda não de frente” e por fim informa quantos anzóis deve ter um espinhel que serve para pegar o pargo. Em partilhar sua experiência ele revive o que ele vive. Um homem simpático, marcado pelo sol, pelo vento e pelo mar um excelente professor.
Diante de tanto saber vivido, encarnado me sinto tão pequena, até miúda ao ponto de me perguntar o que é que eu sei e para que serve o que sei? Não sei plantar, nem pescar, não tenho noção de auto-manutenção dependo de quem planta, de quem pesca e de quem vende os produtos e define como bem quiser os preços ao ponto até de ter o poder de decidir quem pode ou não se alimentar.
Neste contexto me pergunto com Paulo Freire para que e para quem serve a educação (aquela legitimada, padronizada)?
Valeu Marzinho e Maclecio pela aula com(vi)vida precisamos mais nos educar vivendo, sentir o cheiro do mar, a brisa nos cabelos e pescar o nosso peixe de cada dia.
Bjs.
Patrizia
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      espiral-do-vetor-das-borboletas-9453038.jpg                             Encontro do dia 12 de julho de 2013

“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.” Mario Quintana
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Pequena reflexão
“Me sinto encasulada, borboletando tentando me tornar borboleta ...” é a Camilla falando.
Penso que podemos dizer isso do grupo como um todo, que conseguiu sair do ovo para a lagarta e agora está encasulado borboletando na mente com o desejo de se livrar das colonialidades no aconchego do casulo, que nos sustenta, nos segura antes de criarmos a coragem de nos jogar no espaço inexplorado das descolonialidades. Abrir asas é um processo complexo e doloroso quando o rumo é o desconhecido, nem tudo é flores no caminho, há também desmatamentos e queimadas, que derrubam e queimam.
“Ser coerente...”; “... fazer da palavra ação”, diz Paulo Freire. “Fazer o que se fala, não falar por falar, fazer a PER acontecer”, proclama Figueiredo. Não basta teoretizar sobre a PER é preciso praticá-la, temos que sair do casulo para nos entregar ao vôo. “É a coerência que nos torna humanos” continua Paulo Freire. Se queremos nos tornar borboletas, precisamos ser borboletas.
Por que, para começar, não paramos de falar em produção e começamos a nos entender como criador@s? Enquanto criação somos criador@s que empenham sua criatividade no longo processo de busca pela nossa identidade, pelo inédito viável, pelo amor que nos criou, pelo nosso ser mais, pela liberdade.
Pesquisar, refletir, agir não é mercadoria com selo de qualidade ou não é criatividade diferenciada, cada qual importante para si, para o grupo, para o mundo. Somos inevitavelmente únicos, diferentes, preciosos em nossa diversidade e, portanto insubstituíveis como as pedras de um mosaico que, se faltar só uma, o todo está incompleto.  O mundo se faz pela diversidade, que gera o equilíbrio, que se torna suporte, que nos sustenta e só nos sustenta na diversidade. Temos que sair do casulo para que as miríades de borboletas não somente façam a diferença, mas sejam a diferença.
Palavra de sapo
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RELATÓRIOS ANO 2013.2

TEMAS: Descolonialidade, Educação Indígena e Saberes tradicionais – Novos paradigmas na educação – O corpo consciente
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Encontro GEAD 13/09/2013

Transcrição de fita da conversa com Gerson Júnior sobre Educação Indígena, Colonialidade e Saberes Tradicionais
Abertura: João Batista de Albuquerque Figueiredo
Transcrição: Renata

 Desde do ano passado né Gerson que... esperando uma oportunidade que desse pra gente começar esse movimento que a gente espera que posso aprofundar de algum modo muito embora a gente saiba da dificuldade de tempo de todo mundo, mas a gente acha que é importante fazer essas interlocuções é a gente tem caminhado muito nessa interface nesse interlugar da antropologia em certa medida, muito embora, partindo da lógica da educação, né, por que cada vez mais temos incorporado essa compreensão sobre cultura, compreendendo a cultura com um espaço de oportunidade, de possibilidade né, e nesse sentido, então, essas discussões tem nos aproximado ainda mais além da própria... como o lugar que na sua pesquisa no seus estudos né que eu penso que temos muita afinidade, proximidade e na verdade eu acho que a gente tem algumas pessoas no grupo mais recente como éno caso a Moisiely né, as meninas estão com agente ali, não se sabe se são hoje ou mais dias, mas são convidadas a estarem coma gente e de qualquer modo eu acho que vale a pena por que nos estamos retomando para a  pesquisa do campo, basicamente agora, fechamos o relatório da pesquisa  anterior, certo! era no mês passado e agora esse mês e que a gente tá retomando efetivamente a pesquisa com os Tremembé. Em principio estamos retomando do ponto de vista de estudos bibliográficos, de algumas referências teóricas que nos utilizamos para esse diálogo que é cultural e essa ideia de aprofundar nessa dimensão, ela se deu a partir do momento que o GEAD, grupo de estudos que a gente compõe em 2007 começou a se aproximar mais diretamente com os estudos interculturais e eu particularmente tive a oportunidade de fazer esse gancho com alguns grupos de pesquisa do norte e nordeste e no meu pós doutoramento fui me aproximar das discussões que acontecem no sul e no sudeste e é impressionante como ainda hoje nos temos basicamente estruturado de uma forma mais bonsentânea cinco minutos do país que tem discutido interculturalidade no campo da educação A gente vê que isso tá avançando lá, agora mesmo ta acontecendo, por exemplo, o Joh que é estudante, orientando meu que trabalha com os Tremembé também ta no Mato Grosso no evento que é o Educação Ambiental Ibero, Ibero não, luso... (alguém lembra-o: lusófona ), lusófona, mas quem mobiliza o encontro é colonialidade para gente foi muito legal, por que é um tema muito novo mesmo né, para vocês terem terem uma ideia esse é o terceiro evento no Brasil que o nome colonialidade aparece. O primeiro deles foi em Santa Catarina quando agente fazia o pós- doutorado é que foi realizado uma grande congresso internacional promovido pela associação  de pesquisas interculturais que é uma associação que surge na França, mas que cuja é presidido um brasileiro e um indiano, né, é um grupo muito forte por que tem sessão no mundo inteiro quase todos os países têm representantes nessa associação e ela discuti a questão da interculturalidade. E o congresso que aconteceu no Brasil logo na seqüência desse evento que a gente participou ainda com estu... como... no pós doutoramento é o meu supervisor de pós doutorado é o presidente dessa associação hoje e ele conseguiu trazer o congresso internacional na seqüência para o Brasil e o título do congresso internacional foi exatamente sobre colonialidade e tivemos,inclusive, o de  privilégio na conferência de abertura trazer uma dos nomes... um dos nomes mais importantes hoje no mundo sobre essa temática que é a professora Catehrine Walsh, já que o Quijano não pode viajar por que ta velhinho é ta restringindo as viagens, e o Aníbal Quijano foi o criador, em certa medida, dessa discussão na sociologia né, no grupo das ciências sociais no grupo da a clakton que fortaleceu o entorno dessa discussão.E o Quijano consegue depois agregar em torno dele diversos pesquisadores importantes e a Walsh é  uma norte-americana que se sentio impulsionada a aprofundar seus estudos sobre esse tema na America Latina está a 25 anos no Equador trabalhando com essa questão e ela veio para a conferência de abertura e na seqüência o congresso que aconteceu no Rio de Janeiro na Universidade Federal Fluminense coordenado pela professora Regina Leite Garcia, que é coordenadora do grupo Alfa, que também foi um  congresso com esse título, discutindo a colonialidade, eu tive o prazer de participar também como conferencista nesse evento, e agora esse do Mato Grosso do Sul coordenado pela Michele Sarto que também ta trazendoessa discussão, agora eu acho bem legal por que trazendo para a Educação Ambiental , por que na Educação Ambiental, se vocês fizerem uma pesquisa, vocês vão vê, três, quatro textos meus discutindo isso e ninguém mais e então agora que a Michele está viabilizando outros pesquisadores procurem estudar também essa temática no campo da Educação Ambiental. O que a gente ta querendo dizer é que na verdade estamos construindo um campo, estamos potencializando uma reflexão importante, por que no meu entendimento, ai é um entendimento meu mesmo são muito poucos estudiosos no mundo hoje e no Brasil como eu disse, além dos que eu citei que é o grupo Mover da federal de Santa Catarina, o grupo Alfa da federal fluminense, o grupo Quitanda da federal de Santa Maria, o grupo... que eu não lembro do título agora que é coordenado pela professora... meu deus... da PUC de São Paulo...a não vou lembrar do nome dela agora, mas é uma pessoa  importante no campo, e a gente aqui no Ceará, então, é muito novo isso no campo da educação e a gente acredita que vai ter muitos avanços. Na UFC por exemplo né, existe uma aproximação através do PRODEMA, alguns estudos dentro do PRODEMA, estão começando a avançar, tive a oportunidade de co-orientar um trabalho discutindo essa temática, uma dissertação de mestrado já defendida pela aluna do PRODEMA né, em que o trabalho dela discutia a questão dos Macaussaí, agora recentemente, eu tive em uma banca na medicina que também discutia sobre os Macaussaí em uma dissertação do Pablo, um estudante de... que trás uma discussão bastante interessante e ele consegue integrar na sua dissertação o conceito de vigilância ambiental popular, que é um conceito novo muito interessante  em que ele integra a questão do ambiental, a questão do bem viver e a questão da colonialidade, um pouco, assim, em Paulo Freire, então achei que foi bem legal, o Pablo foi meu estudante na disciplina de Paulo Freire na educação e levou isso pra sua dissertação de mestrado. E a... o grupo coordenado pela professora Marília está começando aprofundar essas discussões, inclusive, foi o grupo todo para o Equador em um estágiono Equador.( alguém pergunta: É da Pedagogia? Não?) não é dá Medicina e também do PRODEMA, por que o grupo o dela que é o grupo... meu deus... ( alguém interfere e diz: TRAMAS) TRAMAS, o grupo TRAMAS tem interface no PRODEMA e na Medicina, então, o um grupo TRAMAS é um grupo forte  e eu to co-orientando outro trabalho que é orientado pela Maríliaque é o da Mayara que também trás algumas questões( alguém interfere e diz: é do da Raquel)   Mariliia tava confundindo..então a Raquel Rigoto, e... a Raquel eu to co- orientando o trabalho coma Raquel que tem algumas questões em torno dessa problemática da contaminação da água do Jaguaribe e como essas questões aparecem, enfim, a gente tem visto que essas coisas estão avançando. Eu tive em Mossoró que uma boa parte eram geógrafos como: Jeová Meireles, o próprio Cacau que tô co- orientando um trabalho com ele daquela moça ali e é... tem avançado em outros campos também né...o que eu quero dizer é isso. Então, e muito mais que bem vinda essa proximidade com os estudos que o nosso parceiro ta fazendo e acho que o Gerson tem uma colaboração pra gente e a gente também disponibiliza a colaborar com os trabalhos que estão acontecendo lá. A gente tem também uma tentativa de aproximação na UECE também com a Ana Maria né que é parte do grupo onde o Babi foi acudido desde que assumiu a pró- reitoria, depois voltou pro curso lá do magistério, enfim,e acabou  que mergulhada nos afazeres acadêmicos, enfim, não tem tempo de estar conosco, mas a Ana Maria é tem estado no grupo, e o menino Anacê o... (vozes: Tiago) Tiago, o Tiago Anacê também tem sido um dos componentes do grupo, embora, esse ano ele não... depois que casou na verdade, ele tem estado mais afastado ele deve ta ainda muito envolvido com a vida familiar,os prenúncios da vida .. e é...além dessas pessoas que eu citei tem mais... quem que eu esqueci do grupo? Falei do Joh, falei da Ana ... ( colegas ajudam-no: Eleni) ah? ( Eleni) Eleni Henrique que é formalmente a vice- coordenadora do grupo no CNPQ que trabalha com a formação Eco- Relacional né,  a parte de formação de estudantes, de professores, e um orientando dela também, um orientando de mestrado contra parte de aproximação nessas questões, então a gente tem considerado importante essas articulações, inclusive, por que nos temos feito umas coisas que os outros grupos não tem feito que é integrar a questão da interculturalidade crítica, colonialidade e os estudos de Boa Ventura e do seu grupo né, eu acho que isso é uma coisa também importante pra gente, e ai  então a gente... a questão dos tremembé e as questões indígenas tem sido pra gente um espaço legal por que é um dialogo com uma cultural absolutamente diferente da nossa,muito embora, vizinha a nossa né, é uma das coisas que a gente tem ma gente eu vou ter que atender que é lá do programa,mas rapidamente... então, a gente consegue e tem conseguido fazer uma articulação entre o nosso seguimento é importante e é sinalizada em certa medida da necessidade das epistemologias do sul essa coisa...( pausa para atender telefonema) então desculpem gente é a gente acha Gerson que esse dialogo intercultural ele trás diversas questões, por exemplo,  e quando você tiver a oportunidade de ler o livro você vai verificar que uma das questões que a gente mapeia é que a perspectiva de uma cultura oral, residualmente oral ela trás uma questão importante que é... eu posso dizer é uma perspectiva homeostática no sentido de que as pessoas procuram criar uma aproximação e criar uma possibilidade de diálogos na cultura oral e nós constatamos no nosso trabalho de pós doutoramento que ainda não foi publicado até hoje por falta de tempo a gente tá com o livro pronto, mas falta tem que fechar umas coisas pra publicar e que essa cultura oral não é uma característica nordestina é uma característica brasileira e eu suspeito que não é só brasileira, mas não posso dizer, por que a cultura oral ela se distingue frontalmente da cultura letrada né, e essa distinção se anuncia, por exemplo, quando nós vamos verificar o fracasso da educação brasileira, por que o fracasso? Por que a gente ensina pessoas que não existem, que não existem, por que na sala de aula que a gente apreendeu que devia ensinar pra elas, então, a gente já parte do errado, por que a gente parte do principio que vai ensinar alguém que não existe, então, toda técnica, toda tecnologia educacional brasileira é pensada para um público que inexiste, usando os conceitos de “Lamentrié” é outra bobagem né, então, nos precisamos revisitar o próprio processo educativo para entender que a primeira coisa que tem que ser percebida e que as pessoas que estão em sala de aula, por que as pessoas que estão em sala de aula são reais, de carne e osso né, e,portanto, precisam de uma articulação, de reconhecimento de que são  e que não são iguais, são diferentes. Eu me lembro de quando cheguei a UECE pra UFC eu era professor da biologia na UECE, quando eu cheguei na educação eu ouvi cada coisa que eu digo meu deus do céu, onde é eu cheguei? Por que professores da faculdade de educação, doutores em educação, com mestrado em educação, com formação em pedagogia e diziam cada barbaridade que eu ficava impressionado, por exemplo, uma das aulas que eu recebi lá no meu departamento era que a teoria e prática tinham que tá próximas, como é? Próximas? Como assim? Entendam o que to querendo dizer assim...quando você vai estudar essas coisas você pode até ter isso como coisas separadas, mas isso não existe, um professor com doutorado em educação, mestrado em educação, pedagogo, dizendo uma besteira dessa para é uma loucura... por... como é que próximo, teoria e prática são a mesma coisa, tem que ta ligada, tem que ta integrada, não são próximas não, são a mesma coisa, quer dizer como é que eu vou ta trabalhando uma prática que não tem uma fundamentação teórica implícita a ela ou vice-versa, é eu achava uma loucura aquilo que o cara tava botando lá no quadro, pra eu olhar, ai ele botava uma coisa aqui outra coisa acolá, eu sei que era um artifício pedagógico, mas pra mim aquilo ali era uma barbaridade, um departamento, um grupo de pós doutores, o cara dizendo aquelas besteiras acolá, que eu acho que na graduação tudo bem pra explicar que não são separadas, a gente pode até mostrar que são separadas pra juntar de novo, mas no meio de um buncado de doutor falando essas coisas para mime uma barbaridade, mas assim, isso é  um exemplozinho, uma loucura dessas. A outra loucura é assim a gente trabalha com a lógica extremamente cognitiva com as pessoas só fossem cabeça, e na educação continua-se pensando desse jeito, e as referencias é do campo da psicologia que são trazidas de lá pra cá, e alias, eu fiquei chocado também por que eu dei uma disciplina de Educação Ambiental, onde quarenta porcento da turma era da psicologia e os estudantes da psicologia tinham uma visão que eu ficava impressionado, por que era uma visão extremamente byverbiorista   aquela coisa de adestrar cachorro né, então educação ambiental pra eles era aquele adestramento de cachorro que você lá na época do Pavlov aquilo ali ainda ta valendo, e eu fiquei impressionado, por que o que eles me deram a transparecer na psicologia isso era importantíssimo, ainda hoje né, ai eu digo, ai vai... né só história não, isso não é só história pra psicologia não, isso ainda é real... eu ficava assim meio chocado com essas coisas, o que eu to querendo dizer com todas essas frustrações compartilhadas é que é... não é pelo fato de ser a educação, uma educação, que a gente resolve muita coisa que devia ter sido resolvido  a muito tempo, nós estamos realmente em um espaço de transição grave, inclusive, na educação e eu digo, inclusive na educação, por que na educação nós...nós... Deveríamos ter um avanço maior por reconhecer essa né, eu posso dá um exemplo de que muitos colegas meus dizem assim: eu vou dá aula de Didática, mas eu quero uma turma só da Letras, não, eu quero só uma turma da História, ai eu digo, ai vai, quando eu quero uma turma é com um monte de gente de vários cursos, eu não consigo entender por que eles querem essas turmas fechadinhas, só com estudantes de tal curso. E um dos resultados do meu pós doutorado foi constatar que na sala de aula, quer dizer, constatar cientificamente, constatar que na sala de aula nós temos múltiplas culturas, co- habitando aquele espaço por mais que a gente imagine que todo mundo ta na mesma cultura, não está, e ai surgiu o conceito de microcolonialidade que era essa ideia que nós cotidianamente  manipulamos as relações no sentido de subalternizar o outro, que interage com o outro e essa perspectiva de subalternização no cotidiano que a gente ta chamando de microcolonialidade é uma questão muito séria, por que na verdade ela alimenta, ela retroalimenta o sistema que é o sistema colonizador, então, nós criticamente,nós negamos, mas nós fazemos, nós contribuímos para esse modelo que tá posto, então, a necessidade que agente tem é essa tomada de consciência da nossa própria postura diante do cotidiano, né, e dai, a importância da gente se deparar com essas outras culturas e produzir o tal do estranhamento, por que na verdade precisamos estranhar é a nós mesmos, mas as vezes a gente precisa do outro para reconhecer isso, geralmente a gente precisa do outro como diz na psicologia, e eu penso que por essas questões todas e que é importante a gente poder estar dialogando com pessoas que tem essa inquietação, com é o caso desse casal que está conosco hoje. É isso companheiro, fique a vontade companheiro.
Gerson Júnior:
Então vamos lá né, é... eu queria, não vou mais falar,assim, dessa coisa do, da interdisciplinaridade que já foi muito bem colocada, todo esse discurso da importância desse saber, só quero dizer que fico muito feliz, por que eu tenho me debatido demasiadamente com isso  lá na UECE né, eu e ela, no caso, por que a gente montou uma vez um grupo de estudos do Edgar Morin, trabalhar complexidade, realigação dos saberes e encontrou muita resistência,e também, quando eu fui trabalhar com a antropologia da alimentação por que ta inserido dentro de um contexto amplo que implica religar saberes né, comportamento pela  cultura quando ele é produzido, quando ele é distribuído quando ele é consumido, enfim, e a gente não come só pra si nutrir né, é essa a grande diferença entre o comedor humano, então, e ai, eu fui pra História como eu sou graduado em História  eu já era vinculado ao curso consegui um espaço no curso e esse espaço no mestrado tem-se configurado sobretudo com um espaço físico, não como um espaço vivido pra a abertura pro dialogo é muito fechado ainda lá né, mas a gente vai conseguindo fazer acontecer algumas coisas, então, eu fico muito feliz de ta... eu tava anotando aqui, o pessoal da geografia, num sei o que do meio ambiente, psicologia, História, sociologia, letras, rapaz é fantástico né, por que... é... trás um riqueza de experiências e possibilidade de reflexão, eu acho isso muito rico. E dizer assim que tem coisa que acontece na vida que a gente não sabe explicar direito, não, o João, não conhecia o João, a não ser através de nome, por que a gente tava junto lá no magistério indígena Tremembé, orientando os trabalhos dos índios e eu já tava dando aula lá a algum tempo, ele também deu aula, mas a gente nunca tinha se encontrado e um belo dia a gente  se encontrou e aquela coisa né, rapaz eu fui com a cara desse cara, né, fui com a cara dele e ele com a minha cara , então pronto foi legal, e ai, depois conheci o Mazinho e também fui com a cara desse rapaz, agora tive essa oportunidade de ter uma proximidade maior com o Joh né, por que o Joh tinha sido apresentado... eu tinha sido apresentado a ele mais ele... ( intervenção João: ele andava com o Mazinho e ainda andava com o Babi) ele era muito comportadinho, ele foi passando pra gente aquela imagem de um cara muito comportado, rapaz eu vou dizer que tu tá no grupo, ele disse:não, não diz não que eles vão tirar onda comigo, o João gosta de frescar com a cara dos outros, vai ficar tirando onda com a minha cara, eu digo, rapaz eu tenho que dizer, por que tem até a história do Frank Júnior né que tu já sabe, por que eu conversava com um professor... tinha um professor que ligava pra mim que o nome dele era Frank Júnior, ta também orientando um trabalho da gente, eu tava junto numa banca e no dia que eu cheguei tinha um cara sentado, um cara... o nome do rapaz é Airton só que o cara bem arrumadinho, com aquela camisa pólo, todo sentadinho desse jeito, ai eu fui entrando na sala e eu digo; ô professor Frank Júnior muito prazer eu sou o Gerson, ai ele pegou disse: não, não, não sou Frank Júnior não, ai vem o Frank Júnior que é o Wilson Frank Júnior de bermuda, cabelão e tal eu sou Frank Júnior, então, tu não tem cara de Frank Júnior não, essa bermuda, esse cabelão todo assim hipão  ai, Frank Júnior é esse cara aqui, rapaz o cara ficava vermelho, azul, todo errado, não, não meu nome é Airton, então ta bom, ai eu fui dizer pro Joh tu parece Frank Júnior viu cara, mas ai ele tava se soltando lá em Almofala sabe, ai foi muito legal o final de semana lá, bom ai diante do convite eu fiquei perguntando Mazinho afinal de conta o que é que eu vou falar lá? O que querem? Ai disse: bom pode falar da sua trajetória lá nos Tremembé , como é que foi, então vá... Pegando a trajetória, é eu trabalho com os Tremembé desde o final dos anos 80, como é que eu cheguei até Almofala? Não foi passeando, não foi eu fui lá comum intuito né, eu fazia parte de um grupo de estudo na UECE já no final do curso que... éramos quatro colegas que resolvemos fazer u grupo de estudo, por que na época o curso de História na UECE era um curso muito complicado, ainda tinha muitos militares né, por conta que era um curso formado na ditadura é com uma orientação extremamente positivista ainda, e a gente queria fazer pesquisa e num tinha essa coisa de pesquisa, num tinha nada e a gente por conta própria começou a juntar, pegar textos de outras referencias e montar um grupo que dê pra fazer pesquisa, e ai a gente... só que aquela coisa, a gente quer fazer pesquisa  quer estudar, mas não tinha ninguém pra orientar , eu não sabia o que era direito... eu sei que nessa historia começaram a surgir é... interesses, né, diferentes dos integrantes do grupo, então, um era o professor Marco Aurélio, atualmente é professor lá da UECE que se interessou pela história do riso né, da... das piadas e tal e everredou o trabalho dele por ai, até que fez uma tese, foi por ai, o professor Damasceno  que na época tava querendo estudar o movimento punk, num sei o quê mais lá, também foi por ai, e eu e o outro que é atualmente professor lá da UVA o Océlio, a gente queria estudar os índios do Ceará mais ai lá vem aquela coisa né, os índios do Ceará é um negocio muito bom, que índio é esse? É era exatamente no momento que estava começando a ter  a mobilização dos grupos indígenas  que ai é interessante como você falou da questão da oralidade  e eu concordo com você algo que desrespeita a cultura brasileira exatamente por esse fracasso e daí a importância da memória é dos contadores de histórias na nossa cultura e ai eu vou já chegar aonde entra a dimensão da memória para esses grupos indígenas, então, eram grupos que eram considerados extintos né, existia toda uma historiografia dizendo que não existia mais índio no Ceará e os índios  estavam começando um processo de mobilização, então, quais eram esses grupos? Os Tapebas que tinham né na frente a arquidiocese de Fortaleza  da pastoral indígena que foi criada pelo Dom Aluisio, com o apoio do Dom Aluisio e depois os Tremembé que ai quem foi, quem estava a frente da mobilização inicial era o Cire através da Maria Amélia Leite que conseguiu juntar um grupo imenso de pessoas, de jovens, que tavam assim como eu terminando a graduação, outros tinham acabado de terminar, que tavam querendo estudar a realidade indígena, fazer alguma coisa e uns tinham o objetivo de fazer mesmo intervenção... ô desculpe (celular tocando), era pra ta desligado... e ai... é... a Maria Amélia veio pra cá trabalhar tinha trabalhado em outras áreas indígenas e estava começando a fazer articulação com os Tremembé, enfim, ai nos aproximamos , ela criou o grupo de estudo, começar a passar textos, começou  a passar textos, pra as  pessoas se inteirarem da problemática e nesse grupo surgiu o meu interesse para estudar o Torém e com a ideia clara que era estudar o torém dentro do processo da luta política, né, o Torém como sinal de acrítica, marcador da identidade étnica Tremembé, por que toda literatura apontava pra isso, né, o Torém como, estando sempre ligado aos índios, e eles também tavam investindo no Torém isso também com intervenção da Maria Amélia como um elemento definidor da etnicidade Tremembé, e ai nesse momento eu trabalhei exatamente com o objeto da minha dissertação de mestrado  a relação terra,luta política, afirmação étnica e Torém. A... depois disso quer dizer ai nessa perspectiva da terra entra a importância da memória, por que como esses grupos indígenas no nordeste né, ai eu acho que para quem ta começando a trabalhar com os grupos indígenas no Ceará é importantíssimo ter clareza disso, por que entenda são grupos que eram considerados extintos, porém, se mantiveram nas suas áreas, nas suas terras tradicionalmente ocupadas, inclusive, comum conjunto de saberes né, de modos próprios de si relacionar com a natureza, muitas vezes, quase sempre posso dizer assim esses modos pautados em elementos míticos né, seres sobrenaturais com elementos encantados habitando, as lagoas, os lagos, o rio, o córrego, mar, as plantas e essas pessoas tavam ali sempre tiveram, na verdade desapareceram do ponto de vista da lei , e como é que eles conseguiam manter esse, esse... vamos dizer assim  estilo de vida e  esse conjunto de saberes? Com a oralidade né, então passando de pai pra filho tava lá a história dos encantados, Uguajará em Almofala especificamente a mãe d’água , enfim, e... esses grupos do nordeste, eles de um modo geral tem, por exemplo na memória ou nos lugares de memória, como por exemplo a igreja é  para os Tremembé de Almofala né, a categoria... ( Fim do lado A da fita)
Lado B da Fita
João: Qual é o salão?
Gerson: Como?
João: Qual é o salão?
Gerson: Lá na Varjota.
João: É aquela parte onde tem aquela escola?
Gerson:
Não, não e noutra parte é mais lá pra dentro onde tem umas casas assim em volta, ta inclusive agora com esses dias ta sendo... tão derrubando as paredes, tão reformando, então, foi construído para isso. Lá o que acontecia? O que eles chamavam de celebrações, que eram as celebrações da comunidade...
João: Perto da casa do seu Augustinho, não? Perto da casa do Agostinho, não? Do seu Agostinho?
Gerson:
Relativamente perto a casa do Agostinho, era como se o salão fosse aqui e a casa do Agostinho ali, e a casa da dona Baia era em frente por que é que tô falando da dona Baia por que ela é... representa a última tecelã de toda uma geração lá, de mulheres que tinham teares de tecido, por que eles plantavam algodão, o algodão era processado  no tirão e depois iam, faziam os teares e tal... e ela tinha um tear, ainda tinha um tear que tava completamente é... destruído, assim, largado, entendeu? Ela já não fazia mais nada nesse tear, o tear tava lá ela, ela gostava, ai eu fui lá, conversei com ela, ai aonde é que eu to querendo chegar, a turma na época se eu não me engano tinha 31 jovens né, eles eram bem mais novos, não sei se os meninos se formaram, eram bem mais novos , a maioria absoluta, a maioria absoluta, eu acho , com exceção de umas cinco pessoas, nunca tinha visto um tear . ( intervenção joão: Caramba!)
Nunca tinha entrado lá, nem se preocupado em entrar na casa da dona, da dona Baia, pra ver o tear, e ai, eu já sabia disso, tinha perguntado, tinha sondado, muitos deles... lembrava  e se sabia não lembrava, não sabia nem que ela tinha. E ai bom, no dia da história, da história lá da mala aula não aconteceu naquela escola da Varjota, aconteceu lá, no salão, e a mala ficou aberta, eu digo então pronto vamos lá... o quê é que você trouxe da sua casa, diga ai... eu trouxe esse gravador pa pa pá, pa pa pá, né, ai começaram a trazer as coisas e botaram, rapaz tinha uns que traziam mais de uma coisa, rapaz, até pedra de sal eles trouxeram,olhe isso aqui é uma pedra de sal do mangue, ô, do rio que antes a gente, não, não, não comprava sal, não tinha esse negócio de sal industrializado era esse sal aqui, a gente não sei o quê, encheram a mala, ai pegaram, trouxeram o fuso, o algodão, o fio, o caroço, tudo eles trouxeram, botaram dentro da mala, ai eu disse, ó, então vamos relacionar isso com a terra né, o caroço, o algodão, a semente que planta na terra que vem que faz o algodão, que pega o fuso  que faz o cordão e que a gente leva lá pra casa da dona Baia, o cordão, depois de já ter comentado tudo, então fomos lá pra casa da dona Baia  e lá teve uma aula em torno do tear que ela começou a explicar o tear e tal e eles ficaram sensibilizados por que ela chorou, emocionada por que foram ver o tear dela e falou pra todo mundo e tal, e ela disse que ficava muito triste por que o tear...tava se acabando e quando era período de sol ela não podia ir pra lá, por que era muito sol, e no período de chuva também não podia por que chovia e molhava, então, eles chegaram a conclusão que deviam fazer uma cobertura para o tear, foi o resultado da discussão, fizeram parece, eu não cheguei a ver por que depois eu voltei pra São Paulo pra fazer a, a...disciplina e tal, enfim, o fato é que eu to dando o exemplo concreto de como esses lugares de memória começaram a ser  reconfigurados com a própria participação, com a interação de pesquisadores de professores que estavam lá, a... inclusive, quando a gente mostrava, né, eu fazia tudo isso, mostrava material, contava história, eu dizia ó, isso aqui cara eu to contando, mas eu aprendi com teu avô, seu Marciano, seu, seu Gonçalo que já faleceu, conversei muito com ele, eu andava aqui tu era menino, e tal e pá, e eles ficaram assim, e diziam, rapaz, olha essas coisas são importantes e derepente precisa de um pessoa de fora pra dizer isso pra gente, mas era mesmo meu avô contava umas histórias assim, ai eles já iam atrás, então teve essa interação o tempo todo, entende? E, e, e a própria dinâmica, eles começaram, o Getúlio que é uma liderança, o Getúlio era um menino andando de cabeça baixa e tido com um gorro do Palmeiras na cabeça, e isso vai enteder, né, o pessoal vai falar que a gente vê um índio de cocar, vai entender o cabra no sol quente daquele de lascar com aqueles gorro que usa no frio, Palmeiras e ele pegou e participou da aula, e ele não era assim um efetivo lá das histórias, e ele arranjou um, uma se eu não me engano cara,  um coquinho, um negócio assim... e botou lá, levou pra história da mala e comentou, e eu sei que eu elogiei a história do coco e a gente começou a dialogar e ele ficou empolgando ficou por lá,por que ai a história foi, a mala encheu não cabia tudo, ai a, o grande lance da memória é, né, a gente fez uma discussão sobre a memória,  a memória a gente esquece e quando você viaja você não leva tudo, você leva aquilo que você considera essencial pra aquela viajem e do ponto de vista da etnicidade na construção de referenciais do passado para respaldar essa luta do presente, essa relação passado presente que é... configura por exemplo a afirmação do grupo étnico como nós coletivo, em uma perspectiva weberiana, como uma grupo político que compartilha uma origem em comum que já ta lá no Weber, ai depois vem um bocado de gente falando isso, repetindo,mas o Weber vai dizer: o grupo étnico é um grupo político que é respaldado por uma ideia de um nós coletivo que vai buscar uma referência no passado, a Manuela Carneiro da Cunha que é uma antropóloga brasileira né, aqui do Brasil ela vai, olhe, pronto ele vai no passado e existe uma bagagem cultural essa bagagem ela vai ser utilizada como um instrumento de algumas coisas a serem pensadas para operacionalizar um contraste com presente uma construção identitaria o que vai ser tirado como importante dessa mala é o contexto que vai dizer é a realidade que vai dizer, então, é tudo muito dinâmico não pode ser previsível, eu usei essa metáfora para entender por exemplo como o Torém foi pensado né, como elemento importante na construção da identidade, etc, aquilo que eu falei no começo, e com relação a mala a gente fez essa discussão e colocando essas questões né, então, ó, do que vocês trouxeram aqui se eu for fechar a mala muita coisa vai ficar aqui fora, mas isso também é normal, por que ninguém leva tudo numa mala,sempre tem que tirar, você encher depois diz depois; tá cheio, tá pesado, vai tirando, ajeita, e o mais surpreendente,  eu peguei um livro, Dorival Seraz, na verdade é um texto sobre o Torém que ele vai chamar de folclore e tal de Almofala e tal e ele descreve o que seria uma casa tipicamente Tremembé começa a falar de alguns utensílios que tem na casa, e ai, eu ia lendo a.. o que ele dizia, e eu mandando tirar da mala o que eles tavam dizendo, identificar o que tava na mala, rapaz eu acho que não tinha uns dois a três itens, o resto tudo tinha é o texto foi escrito em 1955, ai eu disse olhe, tem coisa que o folclorista falou que não ta ai nessa mala, mas é por que ele também fez a triagem dele né, esse texto dele aqui é a mala dele, a nossa aqui é essa, então, mas vocês trouxeram coisas que ele não disse, mas ele pode ter visto, mas ele não botou nessa mala aqui, né,e  ai foi um momento muito rico, isso ai era no começo, doido,  no ano 2001 cara, foi um dos primeiros, na verdade  eu acho que foi a primeira disciplina, então, de lá pra cá, ai eles tiveram contato com outros pesquisadores, vinheram outras pessoas, você mesmo já no MITS,né, Miguel, o Miguel agora, inclusive, pegando e devolvendo na,na... em toda costa de Ceará o trabalho dele, através um vídeos, discussões,né, o Miguel trabalha com as embarcações artesanais, e ai essa coisa da memória como tu diz ai, o trabalho do Miguel é fantástico por que ele trabalhou especificamente com os construtores navais, né, e ele foi conduzido, foi identificou que temos técnicos usados para a construção de embarcações como: canoa, paquete,né, são  temos da Escola de Sades e se encontram num manual, manual é... tem um que inclusive... que foi editado em 1947  tentando assim organizar,rapaz,eu vou organizar o que existe aqui sobre construção naval, no Brasil, então o cara editor, baseado na, em todos os estudos, os termos da Escola de Sades e esses termos, e esse saber fazer permaneceu ao longo do litoral, obviamente com transformações, né, mas temos instrumentos que são os mesmos e o Miguel mostra isso, por que, as embar... ai entra a questão da cultura, da dinâmica da cultura que não é dagora, né, as embarcações a vela não eram conhecida dos índios, os índios não tinham embarcações a vela, ou seja não navegavam, inclusive, em alto mar, por que o mar é outra história, navegar no rio, navegar numa lagoa é um coisa o mar é outro mundo, viu, apesar dessas conexões, mas é outro mundo sobretudo no que diz respeito a, a essa distância de pra lá da risca, como eles dizem, né,  pra lá do laforão, por que eles dividem o mar, o mar como um lugar antropológico, no sentido que o Macaugê coloca, né, eles dividem, inclusive, assim; tem o mar de terra como o próprio nome sugere, perto da terra; o mar de fora que eles chamam que é mais longe, e depois do mar de fora tem o que?, tem o laforão, laforão, laforão( intervenção: que não babe, né, que não sabe), laforão já diz tudo, laforão a gente não vai lá não, laforão, então, e ai eu fiz essa discussão do mar como um lugar antropológico e o Miguel faz a discussão do saber na construção naval e que inclusive com a criação né, daí pra entender essa dinâmica da cultura, por exemplo, tem um lugar onde eles desconstroem  o paquete de canoa, então canoa é um paquete, então o que é isso? É um local, é um paquete que é paquete, mas não é paquete é canoa é a mistura dos dois e é interessante que ele diz que ele faz um mapeamento de dizer onde é que tem... onde é que predomina paquete, onde é que predomina canoa, onde é que predomina bote a vela, etc, etc, é geralmente nas fronteiras dos lugares emerge essas construções híbridas de forma mais intensa, o paquete de canoa é exemplar disso é num lugar aonde, aqui tá terminando a predominância dos paquetes e começando a da canoa e aqui no meio emerge o paquete de canoa, então, lá em Almofala você vai ter também  esse processo, entende? E a escola né... ai eu vou ficar lá e vocês perguntarem, né, por que eu tô falando muito... ( João: Não...) ai a escola vai ganhando corpo nesse processo e todo esse saber, disperso da população dali, sobre a mata, o rio, o mar, a lagoa e sei lá e pa pa pá, pa pa pá, começa a ser sistematizado dentro da escola, então, evidentemente com isso você tem uma redefinição dos lugares da memória, por que eles começam fazer trabalho visitando esses lugares,ou novos lugares pessoas indo a lugares que nunca tinham ido, por que ai é aquela história que eu digo, eu até falei, tava falando pro Mazinho,né, a gente tem que ter cuidado, as vezes tem pessoas que vão pra lá e... tem a intenção de ajudar, mas as vezes pode reforçar estereótipos, né, pode passar uma visão meio equivocada, quer dizer, por exemplo, tem gente de Almofala que,  ou melhor do outro lado da mata que nunca foi no mar no sentido que eu fui por exemplo, só admirado por que eu fui pro mar, por que eles... imagine eles pescam nos rios, inclusive, mulheres, entende? E  a construção, ai é como eu vejo a escola hoje, como um grande palco de conflito, quando eu fiz o trabalho do Torém, o Torém era o momento por excelência aonde o conflitos se exacerbavam e também se... eram resolvidos, por que o Torém era o elemento da expressão da identidade do nós coletivo, agora, muito embora, não estando, não é objeto do meu interesse de estudo,né, especificamente, mas observando trabalhando na escola e vendo, dialogando agora com vocês, estamos lá, a escola é por excelência o lugar onde se exacerbam os conflitos e também se resolvem, inclusive, (intervenção: por que é o espaço da discussão, por que  é o espaço da discussão.) por que é o espaço da discussão e o espaço de redefinição das lutas, por que é a grande vitrine, por que é o lugar aonde emerge as novas lideranças, as novas lideranças estão na escola, e isso fica tão serio que eu fiquei intrigado no sábado, tava até conversando com o Mazinho, é na hora da marcha pelo povoado que tem que entender uma coisa. A macha vai pelo povoado passa no cemitério que o lugar, né, dos mortos, que faz referencia aos encantados, especificamente a escola faz uma referencia a Raimunda que é a filha do João, era, né, que faleceu... ( intervenção: Joâo: João Venâncio que é o caçique ) e era diretora da escola, né, o que acontece depois eles chegam e param na porta da igreja e fazem discurso e apresentam as faixas e dizem que a terra e deles e tal, a relação deles com a igreja num é um relação através da perspectiva eminentemente religiosa, a igreja é por excelência o grande lugar da memória, o grande suporte da memória que remete ao aldeamento, ele não mão da memória da igreja, não é por que eles são religioso  e querem ficar lá na  igreja rezando, coroinha, não, e por que eles tem referencias da igreja como o ponto importante na ligação com o passado indígena, com o passado do aldeamento, então, e ai, como todo uma época que eles não podiam andar no povoado que eram ameaçados de morte, etc, etc, etc, eles fazem isso e param em frente a igreja, e o que me chamou atenção, eu nunca tinha ido a pra uma marcha fui agora pela primeira vez, o João Venâncio e o Luis Caboclo, não foram ,ou seja pra quem não conheci, o cacique e o pajé, que são as duas grandes lideranças, hoje, do ponto de vista oficial, inclusive,são mestres da cultura com título e tudo e eles não foram e a marcha ficou na mão dos jovens lideres e evidentemente que por trás daquilo ali tem uma tensão instaurada que se exacerba com o fato deles não irem, por que que eles não foram? Ai eu não sei, ai quem tava me pergun... o menino por exemplo o joh, né,  você e tal, o joh que tá trabalhando com essa coisa da, dos conflitos intergeracionais é um prato cheio, agora é importante entender  isso essa ideia da retroalimentação, a igreja, ô igreja , a escola ela surge de uma luta onde ela é um elemento que retroalimenta essa luta, e é importantíssimo... ( intervenção João: redefini em certa medida) e não tem como separar mais, pensar a luta dos índios sem a escola, e evidentemente que tenha um movimento, inclusive, das lideranças, mais velhas de estarem na escola, mas eu vejo sobretudo a figura do João Venâncio e do Luiz Cabloco  que inclusive estão com esse título de mestre da cultura, e que, é, vamos dizer assim isso é uma leitura minha também, foi uma construção política como tem se dado desde do inicio da mobilização do grupo, por que é uma tensão muito, muito, muito forte que existe entre o pessoal do outro lado chamado o lado da mata e o da praia, quando foi... quando eles começaram a dançar o Torém foi do mesmo jeito, tinha um tensão, inclusive, o. o Augusto ele não sabia dançar o Torém e a Maria Amélia pediu que eles ensinassem as pessoas do outro lado que não sabiam dançar, a dançar, e tinha um deles que não queriam, o, o cara chamado como Geraldo Cosme que era conhecido como pajé, chamavam de pajé de macumbeiro de tudo, ele era um pajé na verdade, um feiticeiro, e ele uma vez conversando comigo dizia, não o Torém é o nosso pulo do gato, então, ele tinha uma consciência muito grande da importância do Torém na luta política naquela momento ali, e hoje eu acho que é a escola, porém, passível entender que a realidade é muito mais complexa do que isso, a escola vai ali emergir ser o elemento palco aonde essas questões vão aparecer mais é preciso entender como se dá a dinâmica com toda a comunidade, né. Eu participei de uma banca de uma menina que agora voltou ela ta fazendo o trabalho do doutorado  lá, Juliana Gondim, e ela.. ai eu vou dá o meu recado pro os novos pesquisadores que tão querendo ir lá, o do movimento indígena, o do pessoal do campo, MST... nunca trabalhei, mas pode ser esse ai também, a mobilização política quando você está chegando né, o pessoal que tá chegando se empolga muito é legal você vê aquilo ali é um teatro tremendo, né, eu levei um aluno agora ele ficou doido vendo o pessoal se pitando, sabe? Cantava, ficava tirando foto das meninas com cara de índio e tal, e ai eles pintavam mesmo, só que, ai essa menina foi fazer a pesquisa e ela foi apresentar a Juliana, que não era coisa de se empolgar era dissertação de mestrado, ela não teve essa cultura, mas assim, a própria eu acho a questão... da falta da experiência, né, então ela foi falar dos terreiros que tem no aldeamento, na perspectiva pra entender a questão a saúde das mulheres, melhor dos índios, como eles são tratados e tal, e ela num... de cabo a rabo no começo, na qualificação né, depois, era só falando do Luis Cabloco, era o pajé e tal, por que o Luis Cabloco falou isso sobre os encantados que o Luis Cabloco falou isso sobre o aldeamento, eu falei minha filha deixe eu lhe fazer uma pergunta, você já viu dona Neném biata fazer discurso na assembléia indígena, dos povos indígenas? Como você pegou o discurso do Luis Cabloco e colocou aqui, se você já viu dona fulano de tal outra que trabalha, fazer discurso em assembléia indígena em movimento indígena, aparecer na televisão com cocar com não sei o que, por que a legitimidade delas quanto liderança espiritual não se dá no movimento político não vem daqui, um dimensão espiritual dos encantados, de outras coisas e as pessoas reconhecem, tá doente? Vamos levar ali na dona Neném biata, não precisa..... seu Manuel Marocá que é rezador,  todos eles, os  que tem terreiro que não tem eles não ficam passando, apresentando e a legitimidade deles existem para além, disso ai, ai você vai lá no Levy-Strass entender, Educação simbólica quando ele vai falar, né, o que garante o poder do feiticeiro é uma educação simbólica, compartilhar com a crença com a comunidade ta, ta,ta tau.... então e essas pessoas existem mais e eu dei um dado pra ela na época, se você imaginar existiam é sete ou era oito terreiro que eram catalogado dos sete somente um não era, ou melhor dos oito, somente um não mulher, de uma mulher, mas era de um homossexual, os outros sete é de mulher já velhas e tal e que todas trabalham com a cura, a, os agentes de saúde, se eu não me engano também são oito ou são nove, dos oito ou nove só tem um homem que é o Zequinha que é o filho do seu Augustinho, o  resto são tudo mulheres, ou seja a saúde Tremembé, tanto do ponto de vista espiritual, como do ponto de vista de saúde, está na mão das mulheres e existe uma tradição da importância das mulheres na organização política deles, não é a toa que sobretudo você nota isso lá na praia, dona a...  chamada tia Chica da lagoa seca  que é a bisavó do João, né, mulher, agora a Raimunda, né, inclusive, construindo todo o mito em torno da Raimunda a grande referencia, a grande encantanda e ela e colocada já na figura de encantada de uma referencia da escola e tal, né, então, essas e esses saberes sobre os encantados eles estão dentro da sala de aula, estão na explicação do cotidiano da escola, cê lembra daquela história lá do...tava lá no dia da colação de grau, não, da defesa, né, que teve um problema com o pessoal da matemática pra quem não sabe rapidinho,quer parar, parei de falar... (intervenção: não, não) rapidinho tava tendo apresentação a monografias, certo, então, nós estávamos na banca, o João também participou a gente teve na mesma banca, o Mazinho também tava por lá, enfim, e pegou uma banca, um trabalho que era de matemática, e ai, na hora que o grupo foi apresentar faltou energia e eles iam usar um datashow e não conseguiram e tal, depois no final da apresentação quando foram dá as notas, eles tiraram uma nota baixa em relação a todas as outras notas, ai acharam ruim, foi uma confusão, criou um clima terrível, por que uma mulher que é a Sônia coordenadora pedagógica, interferiu disse que não concordava com aquela nota, ai o Miguel disse que nunca viu aquilo, de alguém na banca... de alguém que não  era da banca e o Miguel era da banca, como é que uma pessoa que não é da banca interferi, rapaz, ficou um clima pesado é o Babi já tava estressado, já tinha dado um esparneio no dia anterior, ai tava um clima,ai eles notaram, tava um clima pesadíssimo, ai fiquei só prestando atenção nas coisas, ai o almoço, o almoço, ai na hora do almoço formaram aqueles grupinhos, né, um grupinho aqui outro acolá,falando um malhando o outro, rapaz,....terminou o almoço foram começar as atividades a tarde, as atividades sempre começam com o Torém, só que ai nesse momento duas lideranças novas, Getúlio e João Filho que tá emergindo que nem é de falar, falou... (intervenção: Que é filho do atual cacique) filho do atual cacique, e o João, primeiro o Getúlio falou disse, ó eu queria pedir que a gente tá precisando unir nossas forças pedir forças aos encantados por que o clima tá no seu que, e pa pa pá , fez um discurso, ou seja, vamos deixar dessas arenga negrada, a turma deixa disso , mas evocando os encantados, não é, a turma deixa disso e o João também fez a mesma coisa, inclusive, disse: olhe queria lembrar, ai tinha um negócio lá com o nome da Raimunda, na parede, lembrar que hoje tá fazendo tantos anos da morte da Raimunda, e eu acho que a gente tem que respeitar por que ela é uma das referencias e um encantado e tudo mais, depois de passando isso ai, todo mundo voltou pra sala deu aquela amenizada foi um momento de ____ , né, ai eu conversando com o João eu disse.João, João Filho, João Filho que falou; rapaz, explica direito esse negócio essa confusão que eu não entendi nada, ele disse assim, rapaz, ó é seguinte   claro que eu sei que tu anda aqui e tal, mas pode ser que tu não acredita no que a gente acredita, ó, isso ai aconteceu por causa dos encantados, cara, o que os encantados fizeram, que vê vamos entender aqui.Hoje que dia é? Sexta-feira, desde de domingo que estão acontecendo as apresentações de monografia, não faltou energia nenhum dia, faltou exatamente com relação... na hora que o pessoal da matemática ia apresentar e depois (intervenção: contra  matemática é?) e depois que eles terminaram de apresentar a energia voltou imediatamente, e foi mesmo,foi mesmo, entendeu? Então, tu acha é por causa de que ? deixa eu explicar, primeiro, eles não fizeram o que deveriam fazer, um deles foi eleito vereador, foi o primeiro vereador Tremembé ele negligenciou as obrigações que ele tinha na escola, as obrigações com a escola, as obrigações com a escola e  com a luta também são obrigações dos encantados (João: e outro e que coordenou a campanha dele), é e o outro era o coordenador da campanha... fizeram os trabalhos nas coxas de última hora, segundo, ai, ou seja, eles brincaram, brincaram com coisa seria, não pode brincar com coisa seria, os encantados são muito serio, segundo, a Raimunda que está completando parece que é três anos quatro anos de falecida, né, desencantou detestava matemática e hoje é o aniversário de morte dela, então essas coisas todas e claro que tinha o nome da Raimunda, entendeu? E isso tá dentro dá escola, não tem como separar( intervenção: e tudo ta acontecendo dentro da escola), dentro dá escola e esses saberes tão lá, no sentido de que estão sendo colocadas no papel, as monografias, todas elas foram sobre eles, essas coisas.... então é um novo momento onde a escola está redefinindo essa oralidade, redefinindo as lideranças ( João: e  eu vou dizer mais uma coisa aquele tcc foi um dos poucos que não tinha muito a ver com a cultura Tremembé, mesmo), exatamente,mas eu acho que...( intervenção, conversação)  Esposa de Gerson jr: Mas é interessante também observar na medida que os encantados eles regulam as relações dos Tremembé com a natureza eles também servem de elemento regulador das relação dos Tremembé em relação a eles mesmos, e notadamente nos momentos  onde o conflito se exacerba, né,  então os encantados... é eles entram com elemento, então como a relação dos Tremembé com a natureza e essencialmente, também, a relação deles mesmo, então esses encantados são acionados no momento que representa perigo pro grupo...
João: E teve mais uma coisa né Gerson a questão do Babi tá meio exacerbado do ponto de vista da, de cumprir os protocolos acadêmicos e eles também deram uma lição muito bonita.
Gerson: Concerteza.... (fim do lado B da fita 1)

Fita 2, Lado A.
Gerson Jr: (…) São saberes que não estão separados, porque eles são  vividos, cada experiencia concreta; tenta inclusive explicar o mundo, a vida, a relação com a natureza, como a menina disse a relação entre eles mesmos. Porque teve outro momento que eu estava na pericia com a Izabele, isso foi em 2010, estávamos eu a Juliana Gondin, a Izabele, “Samprisaque” que é um antropólogo do ministério público, uma pessoa chamado Chico que é chamado Seu Chico que é da FUNAI e o motorista do ministério público, por conta da pericia oficial, ai a gente foi conversar com a Maria Lídia que é uma  mulher que tem uma iniciação muito grande nos terreiros, ai ela foi explicar como era a questão das energias que tem, ela sempre fala de uma voz que ela ficou inquieta, quando você vai em um canto, uma encruzilhada, agente num sente aquela coisa assim as vezes né, ela falou isso com uma convicção tão grande, pegou no braço da Izabele, a senhora sente num tem aquela coisa né! Ai a Izabele ficou olhando assim, todo mundo olhou, tá olhando bobo porque? É como se eu tivesse, na verdade ela estava convidando nos a confirmar que era compartilhar de um universo mental, de uma preocupação de mundo que não é a nossa, embora a gente esteja aqui falando e eu entendi perfeitamente o que ela tava dizendo, ela disse poque, quando você sente pronto, ali tem o espirito com a energia ruim, porque esses espíritos ficam aqui na terra, estão aqui no meio da gente, eles estão no rio, eles estão na lagoa, estão em todos os cantos, e tem os bons e tem os ruins, e quando você sente aquela coisa assim é porque é um ruim que tá ali (voz de alguém ao fundo diz: geralmente para abrir caminho) eles geralmente ficam numa encruzilhada (voz ao fundo diz: e ai tem os mais ou menos), os ruins gostam de ficar em encruzilhada, ai continuou explicando a história dela, ou seja, um mundo permeado de seres de espíritos, que estão aqui entre a gente e vão fazer de tudo para atrapalhar as relações ou ajudar, vai depender de quem é esse espirito e também de quem são essas pessoas que estão mediado as relações com eles. (Shamaroni:  Posso fazer uma pergunta?) Pode cara, quebrou  agora todo o espaço da informalidade, quem vai fazer a inscrição?
Shamaroni: Porque ainda é acadêmico, mesmo que a gente tente não ser, eu fico, então eu vou fazer a pergunta,é um monte que eu anotei varias coisas, eu não tenho experiencia nisso, conheço pessoas que se identificam com a vida indígena, mas não conheço é aldeias indígenas, mas eu conheço, mas do que ouço do que eu leio, e eu concordo contigo assim, acho muito massa quando você falou que a uma certa idealização, e que ela muito perigosa, eu tava lembrando uma dissertação que eu li de uma colega, e eu achei muito, e eu ri porque ela se admirava ao ver um índio com um celular, ai eu fiquei pensando, já pensou se o índio lesse isso, como ela escreveu “Nossa, eles têm celular!” Idaí, né, quem não têm assim, quem mora próximo aos centros urbanos enfim, ai eu achei interessante que você falou que as vezes, que realmente eu tinha e tenho certas idealizações, politicas e não sei o que, e isso me faz mal, e faz mal com as pessoas com quem eu convivo trabalho enfim, mas assim, eu queria focar em torno dessa coisa que você falou da oralidade, você e o João, nós somos querendo ou não, nós fomos formatados pelas teorias que embasam a gente, na forma como vocês falaram da oralidade, e eu to falando porque eu tenho o minimo de propriedade porque me formatei minimamente nessa área, ela a forma que tem de oralidade, ela ainda é uma fora da década de 70, que falava de um foço entre oralidade e escrita, isso é de alguns antropólogos enfim, e hoje em dia muitos autores questionam isso, que são dois sistemas simbólicos que se entremeiam, principalmente numa sociedade complexas, ai vai ter gente dizer por exemplo, é a forma de olhar como você diz, ai eu queria te perguntar assim, será que não existe nenhuma, quando é que surgiu a escrita nesse povo e se não existia outros escritos que não eram observados, não eram vistas talvez, né, essa é a primeira questão.
Gerson Jr: (…)Na sala de aula o que estão  fazendo para escrever e para poder atender as exigências na academia, é nesse sentido (Shamaroni: Explica bem especifico) é nesse sentido, fica negando o (?) do trabalho escrito, o trabalho do cara chamado Alex Ratts antropólogo, hoje ele está em Minas Gerais,  fez mestrado e doutorado na USP, e ele começou justamente estudando grafia e os tremembés, eu entendo a discussão sobre as sociedade agrafas que já tacaram o pau de todo jeito, que pre supõe que não tinha grafia nenhuma, não é assim, então eu não to reforçando isso, to tentando dizer para aqueles pessoas que estão começando a chegar na escola que esse é um momento novo, se esses jovens estão buscando essa escrita, inclusive fazendo curso de especialização já, fora, sabe, e claro vai acontecer um choque ai com relação a isso, e como eles vão se apropriar, como é que vai ser a escrita tremembé, e como tinha antes, é tanto que a tese do “Babi” é que a escola chamada Alegria do saber, que era  a escola da praia, já tinha acontecido no inicio dos anos 90, que a educação tremembé não começou por mim, mas foi com a Raimunda tremembé, ai como que as trajetórias das pessoas, essa Raimunda que desencantou, morou aqui em Fortaleza. Nossa pesquisadora foi trabalhar lá e convidou a Raimunda para vim morar cá, na casa dela como empregada domestica, evidentemente que a Raimunda morando na casa de uma professora pesquisadora,  foi minimamente escolarizada, estudou aqui, volta, se engaja na luta e começa por conta própria a dar aula aos índios a ensinar, entende. Então evidentemente já tem esse processo ai, mas tinha já a história da grafia que eles já faziam inclusive com o toá, com barro, tirado do rio e pintado e etc., então eu não faço essa, é só no sentido pra dizer, o tem um dado novo que a escola traz, você imagina uma sena toda todo trabalho  que eles fazem na escola tem que ter um relatório, igual aqui, eu vi vocês comentando: “Quem vai ser o relator de hoje? Quem vai transcrever esse negocio?” pois lá tem a mesma coisa, “O curso tá começando hoje, é segunda-feira, vamos tirar logo aqui quem é a equipe que vai passar a semana toda fazendo relatório”, cada final de tarde tem um relatório, eles lê e dizem “ O faltou dizer isso, bota ai! Samarone tinha dito lá pro Gerson na hora que ele tava falando sobre a, coloca ai que não tem não.” E ai fazia os trabalhos, um dia eu passei um trabalho nesse começo ai, o que é, então tentando começando a fazer uma escrita lá, um texto junto, ai tinha um cara que foi fazer o dele, ai pra ele separar, tu pega, eu pego essa, tu pega essa, José Valdir, jovem literata, rapaz eles cantaram assim (som de algo batendo, imitando um pandeiro ou algo semelhante) e suado, rapaz e vi uma agonia, sabe um cara agoniado, falava pra um cearense entender o nome completamente agoniado, eu cheguei lá e disse: Seu Valdir, o que que está acontecendo ai, que tu tá tão aperiado? Tu tem que fazer esse negocio mesmo? “Rapaz, tá todo mundo fazendo”  Tá não, agente pode conversar aqui “ Isso é muito difícil rapaz, é porque” Ai eu disse: É não, você quer saber de uma coisa, eu sei que tu vem de uma família que gosta de fazer verso, fazer improviso, canta poesia, que faz num sei o que, porque tu não faz esse relatório em forma de verso “ E pode?” Eu disse: Pode, eu sou o professor da disciplina e estou dizendo que pode, pode, “pois tá bom”, rapaz é como se eu tivesse tirado da cabeça desse cara o peso do mundo. Ai ele foi lá, quando eu vi tava lá, vários deles fazem isso. Então, o conteúdo,  tá entendo, ele tentando colocar no verso, que é uma outra forma, certo, como eu to falando, é mais nesse sentido, e como é que esse pessoal foi sendo enquadrado, ai por exemplo, para dar o  exemplo completo do  conflito das gerações da escola e etc. Esse José Valdir, por exemplo, no período da campanha politica, a outra, sem ser essa agora, o cara que foi eleito, na outra eleição, eles fecharam em torno de um nome, tipo assim, o pessoal o nosso candidato vai ser o Shamaroni: , mas ai o José Valdir pegou e disse: “Não, o meu candidato vai ser aquela menina lá de Itarema, a Deiziane” A Deiziane? Que sempre foi contra a luta, ela é ligada aos grupos ai econômicos daqui essa politica mais safada que tem aqui de combate aos índios, tu vai fazer campanha pra ela? Pois o bicho fez, o que aconteceu com ele? Foi cortado da escola, era professor e tudo, ai a questão: Tá na luta, ou não tá na luta. Ser índio é tá na luta, assumir todas as consequências daquilo que o grupo vai determinar, ai foi um conflito que deu aberto dentro da escola, ai quem é que vai assumir o lugar dele? Porque João tu tem, tem, como é que chama, o salario, não sei o que, pa pa pa, é então, tu vai ser o filho de quem? Quem é o merecedor desse lugar? É uma pessoa que tem que tá na luta, porque se eu tirei o cara que ele não tem o compromisso com a lei, vou botar outro que não tá na luta, entendeu.
Esposa do Gerson Jr: Eu acho que também tem a questão de daquilo que Pierre Nora chama de lugar da memoria, né que são os lugares onde a memoria se enraíza, no caso dos tremembés  eu percebo que quando ele fala da oralidade é uma forma de esses saberes serem transmitidos, muito mais do que essa memória se, digamos assim ficar registrada em documentos e tal, então esse, esse, até porque a gente sabe que a memoria precisa de suporte para que ela possa continuar, ela precisa do suporte do próprio grupo, né e ela precisa se enraizar em eventos, em pessoas, em lugares e (Alguém fala:principio), é! Então digamos assim a escrita é mais um meio de fazer a memoria sobreviver, e ela ficar enraizada ali, e no caso dos tremembés, a gente percebe nitidamente que há todo um processo de transmissão de saberes que é essencialmente oral, e esse esforço da escola, eu vejo como esforço também de, digamos assim de fazer tudo isso como a grafia, como mais um suporte, mas um suporte, mas talvez não como ô suporte que digamos assim, nós elegemos suporte, nós que somos a acadêmia, e elegemos como um suporte extremamente relevante, daí porque de repente o professor conta histórias, como o professor Gerson Jr, é até mesmo no espaço da sala de aula parece problemático pra muitos, uma sociedade que convive com a lógica da velocidade você quer consumir teorias, né, ou então conceitos, é nem são definições, porque assim se a gente entender que conceito é uma coisa mais fechada.
Gerson Jr: Mas tu tinha outras perguntas?
Shamaroni: É só porque você falou da reclusão ai eu anotei um monte de pedaços que você não diz exatamente isso, mas você falou que é meio que uma identidade leva a uma construção a partir da luta politica, ai eu achei genial essa coisa da mala que você traz alguns elementos, alguns não cabem e ai eles são reutilizados a partir do contexto histórico politico. Eu queria saber a partir de quais autores você define isso ai, essa identidade, se é mais ou menos isso que você.
Gerson Jr: É, na verdade a Manuela Cunha trabalha com a ideia da bagagem cultural, né, essa ideia de unicidade como construção politica situacional, ai obviamente que ela vai lá pro ? e ela vai dizer isso, né ? chamada de tradição, e que os elementos dessa tradição são pensados e no presente eles assumem um novo significado, ao torém ele diz, o que é o torém dos nossos antepassados, é o torém, mas não é o torém, então, porque no contexto da luta politica ele é outra coisa, então ele era essencialmente visto como a brincadeiras dos índios velhos, na luta politica ele é o torém dos índios, dai eles fazem a ligação aonde tem o torém tem tremembé, aonde tem tremembé tem terra torém, terra tremembé, torém terra tremembé, fazem essa relação ai, e a história da mala, essa primeira experiencia quem fez foi o Alex Ratts, esse cara que eu tava falando aqui, ai ei copiei a experiencia da mala que ele fez de um contexto de um trabalho lá em Jaguaribara, que a gente trabalhou juntos de assessoria no Imopec?, na época eu trabalhava com o pessoal de Jaguaribara, uma cidade  destruída foi construído o Castanhão, e a gente tava lá, e o Alex fazendo uma oficina comigo sobre memoria utilizou essa metáfora da mala e eu peguei e copie, levei a metáfora para lá, mas a base disso ai tá na Manuela e na ideia de que (Alguém pede para ele repetir o nome da autora) Manuela Carneiro da Cunha um livro chamado antropologia do Brasil, ai tem um capitulo especifico chamado Etinicidade: da cultura residual irredutivel, editora tempo brasileiro.
João: Assim é.
Gerson Jr: Isso é oferenda é?
Alguém: Os escantados.
João: Essa questão da oralidade, a academia começa a estabelecer suas fronteiras, as suas valas de defesa e ai entram questões outras, que são questões de garantir o  principado, quando eu venho discutindo a oralidade, costumo muito propenso a pensar  seriamente essa questão é nessa perspectiva mesmo que tem muito a ver com a questão da cultura, tanto é que eu não falei oralidade, eu falei cultura oral ou residualmente oral e cultura letrada e eu penso que apesar de nós sabemos que existe esse espaço de interlocução, existem informações que demarcam claramente essas especificidades, se você for pegar “Folsultor”, “Valterone”, esses caras que vêm discutindo a partir do medieval todo aquele processo de mudança cultural que se da na idade média precocemente, começa a mostrar que existem especificidades culturais que foram sendo consolidadas historicamente e que marcam de maneira muito forte, eu tive dúvidas quando me sugeriu na época da tese “Vamos dar uma olhada nisso aqui, pra ver com” eu tava com um dilema muito grave  porque eu trabalhava com a comunidade rural, uma comunidade tradicional do sertão, e eu não entendia o que tava acontecendo no lugar, eu tava dois anos e meio trabalhando com a comunidade e não entendia o que era, não conseguia entender a comunidade, pra mim era muita piração, porque eu sempre convivi com o sertão, transitando no sertão e eu fiquei inquieto demais e ai depois que eu fui buscar essa questão, eu comecei a entender claramente essas distinções, inclusive porque eu me reconheci também remanescente dessa cultura oral, e eu nunca me imaginei dentro dessa, dessa sapatilha né cultural, porque nós não somos também só, quer dizer não da para imaginar, você é só de uma cultural oral e pronto, não porque a gente não é assim, como Pav … a questão do aculturamento como algo também salutar, eu sempre pensava o aculturamento como uma coisa que distorce e que nessecia, quando eu ouvi você falando “Bom essas cadeiras de plástico são da cultura tremembé” Como? A primeira vez que vi tu falando eu “como assim?” Que dizer efetivamente nós temos que compreender as outras dimensões que estão presentes, e essa questão da cultura oral presente no ambiente oral, ela é uma realidade, podem dizer o que disserem, mas é uma realidade, é uma realidade que dizer, eu venho fazendo pesquisa com essas culturas diferentes, porque por exemplo eu constatei que  a tradição oral tremembé é diferente da tradição oral sertaneja, onde eu trabalhei lá em Irauçuba por exemplo, é muito diferente a oralidade tremembé, a cultura oral tremembé é diferente da cultura oral de Irauçuba, eu ainda não , tava pensando ainda essa reflexão tá com 2 anos e pouco, eu ainda não sei como fazer isso não, mas existe uma diferença, é uma outra oralidade, quando por exemplo quando eu tenho o depoimento do Luiz cabocó, do pajé falando dos encantados, o conceito de encantado ele não é um, o conceito de encantado tem aqui outro sentido acolá outro sentido acolá, então isso foge ainda mais das nossas características letradas da conceitualização, que é aquilo que você tava falando pra mim, que um letrado na cultura letrada, nós trabalhamos muito na contraposição do que distingui do que singulariza, do que (Alguém diz: E não no padrão que une), né não é no que une, enquanto que na oralidade é o que une, isso é concreto não tem como  não fugir disso, então quer dizer, eu ensino pras pessoas como é que se separa quando eles estão trabalham que junta, então é o oposto dessa lógica, eu acho engraçado, se você for a qualquer cidade, poderia sugerir qualquer uma, mas a grande maioria dos sertões, eu trabalhei com a companhamento de supervisão de educação de jovens e adultos, muito tempo no ceará todo, era impressionante como eu via isso, eu vou mais o fulano, vai fulano, vai sicrano, vai beltrano, o mais aparece explicitamente, não é como a gente diz assim: fulano e beltrano e não sei quem, bota virgula que não é, bota virgula virgula virgula virgula e né  mais, é mais, a palavra mais aparece (Alguém diz: É a soma) É a soma (Alguém diz: É a junção), isso é concreto, não tem como dizer Não aquela é linda, isso ai é uma reflexão possológica que pode ser pensada a partir do ponto de vista  linguístico, e não interessa o ponto de vista é assim, a experiencia prática, mostra que isso é desse jeito, e isso faz a diferença, quando eu boto a virgula e o “I”, faz a diferença na compreensão deles, então quer dizer, concretamente, a gente tem que reconhecer que existem diferenças e por isso é que o contador de história, por isso que  a mala da memória, o baú de registro, faz a diferença,  né faz toda a diferença, ai eu vou buscar inclusive nessa discussão da modernidade  ?? sociológica do Valter Benjamin que ele vai falar da perda da narrativa, quando nós perdemos a capacidade de narrar, e isso faz toda a diferença, faz toda diferença, é eu comecei esse semestre uma disciplina de educação ambiental, a primeira aula foi eu contar a minha história, era impressionante eu olhando pra cara povo, vocês querem que eu pare? Não, acho que não tem nada a ver, vou parar. Não professor continue. Mas achando estranhíssimo o que eu tava fazendo ali, porque eu queria conta para eles como era que a educação ambiental chegou na minha vida, e ai fui contando, fui contando, fui contando e eles gostam, mas eles estranham, eles gostam, mas eles estranham, porque parece que não tem nada de aula ali.
Esposa do Gerson Jr: É porque o tempo da narrativa também ele requer um silídeo com a temporalidade muito diferente dessa nossa, uma logica temporal que impregna a modernidade do modo geral, que é a logica da velocidade, então assim o tempo da narrativa, é um tempo mais, é um tempo diferente (João: Totalmente) totalmente diferente e ai você precisa, digamos assim as coisas precisam de latência e as coisas não podem ser gestadas assim de repente, né. (João: Exatamente) Então eu acho que quem lida com a questão da oralidade e notadamente a relação que envolve identidade e memoria tem que tá atento pra isso, tem que tá atento pra essa questão do tempo, e tem que também  tá atento pra não assim saber o padrão que une, mas por aquele que distingui, mas se a gente quiser observar aquilo que distingui, também tem que entender é que as coisas assumem diversas significações, dependendo daquilo que tá em disputa, a momentos que quando a memoria entra em disputa pra gente utilizar ai os teóricos da memoria, ou daqueles que travam uma relação entre memoria e identidade, é exatamente porque tem alguma questão importante sendo afirmada ali (João: ou legada) ou legada, ou digamos que precisa ser ressignificada, então mais do que entender o que é verdade, o que não é verdade, ou se é oral ou se é escrita é que o momento que há a narrativa, se faz muito mais preponderante e onde é que há, digamos assim a grafia ela se coloca como problemática, né.
Shamaroni: Só pra não ficar um mal entendido, é que vários autores tem partido das concretudes das palavras das pessoas apontado muito para isso que você está falando, as nossas oralidades são múltiplas, mesma cultura e eles se modificam a partir quanto tá em disputa, porque que eu to falando, certo ( Esposa do Gerson Jr: Porque eu estou acionando) isso, ai eu aciono é isso que eu to querendo discuti, entendeu, numa cultura oral existem diferentes oralidades a partir dos interlocutores e a partir daquilo que tá sendo narrado, do tipo politico que tá sendo narrado, ai você complexifica uma coisa que era vista como simples, oralidade é simples é não tem logica, então, pelo contrario, eu acredito que ela é muito complexa, e muitas vezes ela é mais racional do que certas escritas que nós temos também, então ela é mais complexa, por isso que.
Gerson Jr: É porque o ?? já dizia né, não existe o simples existe o significado.
João: No momento que a gente começa a fazer esse movimento concreto a gente tem possibilidade de problematizar inúmeras questões, né. O uso de determinados conceitos de modo despolitizado, a questão que o Paulo freire traz do uso das palavras geradoras ou dos temas geradores que na verdade tem tudo a ver com a oralidade da cultura oral e a gente começa a ver porque que algumas coisas funcionam e porque que outras não, porque que o modo como  a logica dos saberes tremembés, ela é potencializada a partir da maneira como eles reelaboram, eu achei muito legal  porque quando eu cheguei lá nos tremembés eu vi eles fazendo coisas que a gente tem feito aqui no grupo, já fazia no grupo, que dizer coisa que  vamos discutir cada coisa dessa aqui, qual o sentido de a gente ter isso aqui na nossa aula do nosso curso, tirar fora o que não tem sentido, construir coletivamente essas questões, porque a gente vai perdendo essa referencia, a gente vai perdendo essa possibilidade, porque o padrão cultural hegemônico, estabelece os critérios e acabou-se a priore né, na logica oral da cultura oral, regra geral essas questões são definidas a cada situação, tem alguns momentos que fazem sentido outros momentos que não fazem sentido.
Esposa de Gerson Jr: Eu acho que a gente tem uma preocupação muito grande de fazer com que as coisas se fechem como se nossos estudos fossem da conta do real, as vezes também tentamos achar que as teorias vão da conta da realidade, quando a realidade é muito mais surpreendente do que pode qualquer teoria né, e ai nós de alguma forma tentamos distingui as coisas, mas sempre que a gente distingui a gente automaticamente tá conjugando e ai é que fica ruim, fica assim ruim pra gente, a gente se incomoda se inquieta.
Gerson jr: E o restante não tem pergunta não?
João: Eu vi que os doutorando não tem privilégios não os graduandos também podem.
Erika: A minha experiencia não é com a história da aula sobre a geografia física, mas a minha pesquisa e também com a comunidade litorânea, que é na prainha do canto verde, e eu to lá desda graduação assim horas mais próxima, horas mais distante né, porque a vida né, a minha, e eu fiz, quando eu fui para lá, era pra fazer uma atividade de extensão e acebei ficando lá envolvida com a luta tava numa época de luta muito intensa pela questão da terra e acabou essa experiencia gerando a minha dissertação de mestrado, mas eu fiz uma analise ambiental, mas na época eu me sentia muito mais relatando o que eu estava né coloquei nos mapas né, sistematizando o que eles estavam me dizendo, a sensação que eu tenho é essa apesar de ter feito o mapeamento enfim deixei lá, e agora eu voltei pra fazer a tese em educação ambiental, e quando você falou da escola, ao longo desses  anos eu tinha sentido isso mas não conseguia dizer da forma que você colocou, a escola como ponto de ressignificação da luta, inclusive, né e pra é resumir isso eu vou relatar o que eu vi mês passado lá no.
Fita 2, Lado B.
Valeria: … próximo porque já vimos, é o grupo que já vem quase com 30 anos de caminhada desde de piveta, desde do movimento secundarista entrando no mundo universitário e a gente fundou a cooperativa para trabalhar no campo e também para trabalhar no litoral e assim tive a honra de participar de vários momentos importantes que formaram, que ajudaram a formar o que eu penso e o que eu sou hoje, então assim  a luta na prainha do canto verde, quando ela já começou já na década de 70 e o Instituto terra e mar ele aprofundou na década de 80, na metade de 90 inclusive com a vinda de Renê também que era uma pessoa de fora e que trouxe muito recurso de fora, então a gente entrou em contato com ongs alemãs, com ongs de todos os cantos, a prainha do canto verde ela se tornou vitrine de lute né, e eu lembro de uma coisa muito interessante que eu fiquei tão encantada a segunda vez que eu fui que eu perguntei: Como é que eu faço pra comprar um pedaço de terra? Ai o pescador olhou pra mim e disse: “Só se minha fia casar com eu”. Então assim é eu vi que era uma coisa diferente que era uma coisa assim que é muito interessante de vários pontos de vista pra quem já saiu da universidade já com uma visão já direcionada, mas quem vinha do movimento politico que procurava construir outras coisas, então de várias ações é os índios eles estiveram muito presentes, por exemplo, como mesmo tendo se tornado a segunda reserva extrativista, porque a primeira foi o Batoque, que foi uma luta também encantada pela a gente, porque ai a gente montou um curso que durou 3 anos, esse curso era de lideranças do litoral cearense  de leste a oeste, inclusive eu tenho todos os relatórios, muito material, muito interessante, muita metodologia que a gente formulou conjuntamente, tanto a “aspat” como o Instituto terra mar e a Aquase entrava em alguns momentos e outras ongs, então era um grupo grande e nessa época, mesmo tendo se tornado uma reserva extrativista, houve uma invasão e amanheceu o dia a prainha do canto verde tava cheia de estacas, foi uma das primeiras vezes que assim, eu acho que a primeira vez que eu tive contato com o torém, a gente derrubou as estacas a gente se pintou, foi assim uma coisa é muito, uma experiencia muito rica né, porque estavam os pescadores, estavam os índios, estavam pessoas da universidade, tanto da UECE como da Federal, o professor Jeová Meireles, então tava um grupo muito grande, nós eramos é mais de 100 pessoas eu acho, então assim, essa derrubada de estacas, foram quilômetros de estacas derrubadas, e depois com o torém né, e depois com as discussões na escola, toda a vida que a gente fazia alguma atividade a gente ia pra escola, então inicialmente o terra mar ele foi fundado com uma proposta já que a gente vinha do movimento estudantil de reorganizar o litoral, porque foi a época do provedor o Tasso, o primeiro provedor, a gente discutia intensamente essa questão do turismo, eu fiz parte do GD de turismo do fórum de defesa da zona costeira durante, sei lá, bem 8 anos, durante muito tempo né e a gente discutia o prodetur e depois houve a segunda parte do prodetur, que foi essa extensão né, na cidade vazia, foi a extensão no litoral em que a gente via que existia uma roupagem enorme de dominação né, e toda orla marítima a gente mapeou e a gente viu que tinha ali é italianos, franceses, espanhóis então foi uma luta muito interessante, continua sendo, e os índios eles se juntavam nesses momentos e foi nesse período que eu conheci a Maria Amélia também né, pois assim só pra contextualizar a historicamente, o que vocês fizeram um resgate da época dos navios e foi possível eu lembrar da minha história, muito interessante isso ai, isso faz se tornar participativa
Erika: Eu queria só colocar uma coisinha em relação a prainha do canto verde, eu lembro que um dos resultados, das indicações, observações também, que eu coloquei na dissertação é que na época, eu defendi a dissertação em 2005 e uma das coisas que eu coloquei na época a maior liderança era o Renê, e o Renê não é nativo, ele é casado com uma  nativa, é pois é , mas uma das coisas que eu coloquei era isso que as lideranças nativas precisavam tomar conta e agora quando eu voltei para fazer a tese, que eu me reaproximei do pessoal é eu percebi que aconteceu exatamente isso né, é tanto que tava, ele não tem, ele não tava no conselho por exemplo né, então as pessoas que estão no conselho são os novos mesmo, os nativos ...o partido da escola e eu fiquei superfeliz, não que seja algo pessoal com Renê, mas ele tem um significado importante pra comunidade, mas que ele teve o seu papel de articular e as pessoas foram todas se juntando, e isso foi muito importante (Valeria: A gente vem discutindo bastante essa questão de novas lideranças) ai eu fiquei muito feliz, ai eu observei isso, escrevi e coloquei, ai deu certo, funcionou, não porque eu tenha escrito, obviamente, eu fiquei muito feliz de constatar as duas coisas. (Valeria: E como não há de deixar de ser existe uma enorme contradição muito grande na prainha do canto verde que são duas associações que pensam diferentes que agem diferentes) e o representante é o  ..
Renata: Eu tenho uma pergunta. Você falou que quando você iniciou a pesquisa  com os tremembés, que você fez a dissertação sobre o torém, o torém era aquele espaço privilegiado pelas questões das discussões politicas e pelo debate e que hoje vocês tem observaram que a escola tem digamos que captado essa função. Ai eu queria saber assim pela sua observação que … se o torém teve também uma ressignificação assim digamos na função social ou na forma como ele é praticado, uma vez que a escola tá digamos que captando essa função. E a nossa  segunda pergunta em relação a isso, tá falando do local de memoria da igreja, tal coisa e eu queria saber se você consegue explicar o torém enquanto lugar de memoria, já que a “Piete morant” não sei como fala não sei como é que fala o segundo nome dela nome dela, que fala que até um minuto de silencio pode ser considerado comunicável.
Gerson Jr: ... mas vamos aqui. O torém é aquele ponto no espaço de pulsão, porque o torém é uma  dança, na organização da dança era possível você perceber toda a tenção do grupo, o que é que você tinha, você chama Almofala .., é uma área ampla, que compreende uma área que é o antigo aldeamento missionário que teve como referencia a igreja, ai eu aconselho a vocês entrar no site da UFPE tem umas fotos dum antropólogo chamada Carlos Estevam, um cara impressionante, as fotos foram feitas na década de quarenta, esse cara andou por lá, então se você pega o depoimento de pessoas mais velhas né, e eles falando como era Almofala naquela época, ai tu olha pras fotos que o cara fez, tipo assim, aqui só era a igreja e era tudo tono não tinha coqueiro, não tinha nada, ai você olha a posição que o cara bate a foto, no sentido que tá batendo daqui pro lado do litoral, tá batendo pro lado do povo, pessoal dançando o torém, cara encaixa legal, assim de uma maneira fantástica  com o que o pessoal mais velho dizia, entende, então o torém dentro desse contexto, você tem essas localidades, você tem duas localidades, contrapô, seria assim genericamente, você tem o pessoal da praia e você tem  o pessoal da mata, a praia é, o pessoal da praia é altamente sedutor, o que a praia tem, o mar é o mar, desde de sempre o mar já dizia Cecilia Meireles, Fernando pessoa, o mar é o mar, tem um livro chamado água mãe, do José Lins do Rego, que ele vai fazer de uma comunidade que vivia numa lagoa, e essa lagoa era chamada de mãe, porque eles tiravam o peixe, o camarão de lá, o pescador de camarão, ai ele falava que o jeito que o pescador da lagoa serviu de objeto de zombaria pelo pescador do mar, quem passava dizia olha olha tá pescando na lagoa é pra pescar no mar (alguém diz: o besteira, né) na lagoa, o grande coisa, (alguém diz: é pra criança) tem que pescar no mar, se tem uma praia e eles tem essa consciência dessa diferença, ai tem um dado a mais, por onde foi que a colonização chegou? No mar. Se as pessoas ia pra Almofala elas chegavam por onde? Pela praia, então a praia de Almofala foi sempre o lugar por onde o tremembé estava durante os antepassados deles mantinham contato, quando os caras chegavam pra falar dos tremembés, aonde é que eles ficavam? Na praia. Tu imagina hoje. Eu perguntei Mazim tu conhece a lagoa da batedeira, eu vou mostrar a foto depois pra vocês, é um lugar belíssimo, eu até mostrei pro pessoal no começo aqui, ai um cara disse: Rapaz tem muito lugar do Ceará ainda pra ser explorado. Ai ei disse: Não, não é pra ser explorado não. Isso ai é pra ser demarcado essa terra, ai os índios vão dizer, depois que foi demarcado como é que eles vão querer explorar, mas ai dizer que é pra ser explorado, né não, já pensou, aquele pessoal naqueles carros 4por4, só um minutinho... ai tem essa divisão, certo, tem que ter um número  mu8ito grande de registro da praia, cria uma certa, vamos dizer assim, ciúme do pessoal do outro lado, uma área bem grande que tem várias localidades, como eles foram dançar o torém, começaram a dançar na década de 80, nos anos 80, nessa perspectiva politica, tinha gente lá do outro lado da mata que não sabia dançar o torém, o que que o pessoal da praia faz, ensinando, era todo mundo? Rapaz, sempre tem aquele né “pra que que eu vou ensinar?” “ Eles não dançavam” mas na verdade eles dançavam também, não a gente teve um documento que dizia que eles vinham lá do outro lado da praia pra festa da igreja, eles vinham lá lado da mata pra festa da igreja, ai tava rolando ali um torém, ai participavam da roda, ai ficavam olhando, num tem aquela coisa, se todo mundo gosta de futebol, mas nem  todo mundo joga, mas a gente vai pro futebol olhar, né num é assim, então o torém ficava com essa, essa,  assumiu esse posicionamento de voto, que vai expressar simbolicamente a identidade. E o torém  é um lugar da memoria? Sim, é um lugar por excelência, tanto é que foi lugar que foi, primeiramente colocado em evidencia, exacerbado né, o ritual, mesmo que ele não estivesse mais celebrando o mito no sentido do passado, mas estavam celebrando o que? A coesão pelo fato, a identidade do presente, a luta do presente, foi-se o mito ficou-se o rito, que ritualiza essa indianidade perdida, né  essa indianidade (Muitas pessoas falam ao mesmo tempo) entendeu ai, esse índio que também vai ter … de terreiros, cabocos, desce o caboco lá, bota lá uma pena, o cocá, já viu já o ritual no terreiro de umbanda, pois lá você vai encontrar os índios tudim, com as penas num sei o que, quem, então acho que a pergunta era essa, o lugar aonde mora? É!Ele era um espaço, um espaço comprido, não é que fosse um espaço, porque na dança, o torém entra na roda, daqueles que compartilham, né, e ali naquele momento, estavam celebrando, exatamente a identidade. ( Renata: Eu fiz a pergunta porque quando..) Não, eu tô repetindo, legal, beleza.
Renata: Quando eu li o livro eu vi a dimensão politica do ritual, entendeu, da presença do torém na afirmação da identidade étnica tremembé naquele contexto da sua pesquisa, ai quando eu tive a oportunidade de ir lá, assim nos discursos que eles faziam sobre o torém, eu visualizei, alguns outros elementos, como a questão espiritual e tudo, não assim que seja apartado, mas que já aparecia no discurso de uma forma mais, até pelo motivo das disciplinas que eles colocaram, torém ciência, filosofia e espiritualidade.
Esposa do Gerson Jr: Se bem que assim, se você utilizar um conceito, o conceito não uma definição que foi emprestado pelo Marcelo Moura na Obra Ensaio sobre a dadiva, onde ele vai falar o fato social total, é se a gente pensar que o torém é um fato social, que ele é total, nós vamos pensar que ele comporta diversas dimensões, que só a gente mesmo na hora da observação separa, separa talvez por que nem vê, mas por exemplo, vamos pegar ali a feira da 13 de maio, que até júnior já fez um trabalho com os alunos dele na feirinha da 13 de maio, aquela feira é religiosa? É. Ela também é politica? É. Ela é um fato econômico? Também é. Ela é um fato, enfim, se a gente for pensar o que é o torém (Gerson Jr diz: você tá falando da festa religiosa da nossa senhora de Fátima que tá rolando agora, né.) rolando agora, né todo o dia 13, então assim, dentro daquele evento, tem um monte de coisas que você pode ver, da mesma forma o torém, e dependendo da circunstancia que ele é acionado, uma parte do torém vai ficar mais visível, por exemplo, o torém foi acionado e continua sendo em prol de uma luta, que é a luta pela demarcação da terra, a luta pela posse da terra, então ele vai continuar sendo acionado como sendo sinal de a critica do povo tremembé, mas o sinal de a critica não implica que ele só vai ser acionado naquele momento da luta, ele tem outras dimensões enquanto fato social total, que o tornam religioso, para além de politico, enfim né (Gerson Jr: Eu não entendi sobre a questão da politica) e ele pode mudar até pela forma como as pessoas se apresentam, dependendo pelo contexto.
Gerson Jr: Mas eu não entendi porque até agora há um investimento tão mutuado nessa dimensão de dizer que o torém é espiritual ( esposa do Gerson Jr: Espiritual) né (Mazim: Porque o João que) … “Bari” inclusive explica levantando essa tese ai, e ele já disse isso várias vezes nós estamos presentes em alguns locais … o “Bari” diz assim é o Gerson Júnior trabalhou o torém como uma dimensão politica, pois na minha tese eu trabalhei verificando a sua dimensão espiritual, né, na verdade eu foquei isso ai, não falei do olhar, porque todo mundo enforcado, engordou tanto a academia que eu ganhei um prêmio nacional porque trab\alho, foi a primeira vez que o Ceará ganhou um prêmio de honra ao mérito, um prêmio que foi conferido pela FUNART, né quer dizer, que o professor que adorava esse trabalho do torém, gosta inclusive do seu trabalho, e gosta do encanto das águas também, mas ai ele chegou pra mim no encanto das águas e disse: É porque eu começo falando da minha experiencia pessoal, meu pai  não sei o que, mas cito Cecilia Meireles, cito Adelha Padres, né Castro Alves, Fernando Pessoa, José Lins do Rego,num sei quem, Jorge Amado, ai ele pegou e disse assim ( Shamarony: Isso é ciranda?) ai ele pegou … foi passando, foi passando, ai ele tacou a mão na testa, PA, sua tese começa a aqui, daqui pra isso é literatura. Fazer o que. Mas essa se você for analisar, olhando ai no passado, há agora o torém tá recebendo uma dimensão espiritual, na verdade, as pessoas que estivam na frente do torém, sempre foram pessoas que eram também pessoas que estavam a frente dessas questões relacionada ao mundo espiritual, a tia Chica da lagoa seca é tão cantada e decantada como a grande referencia do tremembé era conhecida como o que? Como feiticeira, como fazendo pajelança, a importância da mulher tremembé é fantástica, a referencia a grande lideres, lá são mulheres. (Shamarony: Mas isso politicamente entre eles é claro?) Não, mas é aquela coisa, não é porque, tipo eu não vou dizer quem manda aqui é a mulher, mas você pode olhar, olha ai na praia a Raimunda, vai pro lado a irmã do João a Dijer que é agente de saúde, a outra a mãe do João, a bisavó dele que era a tia Chica da lagoa seca ai vai pra outra dona Neném biata, ai vai pra outra dona Maria Lídia ai vai. E quando você chega lá na casa dessas mulheres que são lideranças os maridos são apagados, a Dijer o marido dela que já falei o Zé Raimundo que era o cara que falava do mar de forma fantástica, tu leu no livro num foi? (Shamarony: Não) Tu tava balançando a cabeça, eu pensei que você tinha lido (Shamarony: É que eu tô envolvido) Tem uma cena lá que eu cito: Rapaz, Júnior eu queria que você fosse comigo ver o mar, ele fala desse jeito,  eu queria que tu fosse comigo ver o mar, ai tu bota a  cabeça assim e tu olha lá no fundo do mar, ai tu vê um bocado de planta, ai depois tu vê uma terra limpa, ai depois tu vê uma pedras, cara é igualzinho ao seco, ele ficou repetindo assim, só que ele tava sentado numa mesa cuidando dos meninos, é lindo cara é lindo ele dizia desse jeito, cara foi emocionante  o depoimento dele, ai essa cara ficava cuidando das crianças, enquanto a Dijer ia fazer as coisas, ai ele cuidava da casa, fazia o almoço e no final da vida, quando ele tava doente,  o cara ficava e ai foi quando a Dijer ficava. Dijer, entendeu. Ai vai lá, tem uma figura que é a Babi, o marido dela já faleceu, a Babi, eu sou mulher de ter .. forte, tá entendendo. Dona Diana, mãe do cara que falei agora, do negocio das .. bicho a dona diana era uma fera, era a liderança tá entendendo, então tem outros que por exemplo, a Dona Conceição, mulher do seu Agostinho já era mais assim, porque o seu Agostinho era o líder lá. As mulheres que são lideranças, são lideranças, tu chega na casa o cara é apagado, entendeu, é igual lá em casa, eu só mando na cozinha, porque eu cozinho muito bem, ai ela sai de cena, eu sou o cara, ela faz umas reuniões tipo essa daqui lá em casa com o grupo de estudo, e a maioria são mulheres, um complô contra os homens, que estudam a violência domestica, né ai a maioria, ai ela acha pouco porque ela chega, convida os alunos pra ir pra lá, as alunas, no grupo dela só tem um menino o resto é tudo mulher, ai ela diz: Olha Júnior, as meninas vem pra cá hoje tu vai prepara o almoço, o lanche o que tiver, o jantar, ai eu preparo alguma coisa, ai eu chego e eles acham bom porque eu digo: Aqui em casa quem manda na cozinha sou eu, não entra mulher aqui não, então assim, brincadeiras a parte, lá sempre tem, e essa figuras que estão a frente do torém, que estavam, por exemplo, .. Geraldo Costa, já falei que ele era conhecido como feiticeiro e tal, tinha uma mulher que chamava, não tô lembrando o nome dela agora não, lembro já, outra, uma dimensão espiritual fantástica, inclusive diziam que ela tava na roda do torém, incorporava os encantados, a filha dela, tem um terreiro foi ser formada, iniciada na Bahia, olha, entendeu, não tô lembrando o nome,  tem um depoimento dela belíssimo, né comovente dizendo o dia em que o filho dela morreu, o melhor filho, claro, o cara sabe aquele filho perfeito, um bom filho, responsável, pescador, foi pro mar pescar, o que aconteceu? Tava pescando com linha, a noite, numa época que eles tavam pegando muito tubarão, que foi aquela época que pegava o tubarão pra pegar a cartilagem, pra produzir um produto com caldo pra vender, ai teve uma febre no litoral e o pessoal, pá pega tubarão,ele foi, na verdade, eu acho que ele não tava nem afim mesmo, nera nem pescando tubarão, mas acontece tudo a noite, os companheiros de pesca entraram na embarcação, foram dormir, e ele ficou em cima fazendo a vigilância lá do da lanterna que tem que ter, e é tipo pescando, que eles ficam, pra quem não entende é o seguinte, a noite no mar eles ligam a lanterna, porque é obrigado, é um elemento de sinalização, pra ele não entrar na rota do navio, porque  se pegar ai tem acidente, e quando o cara tá ali ele fica pescando, e ai, os dois companheiros dele foram dormir, porque revesa, tipo assim, o Mazinho vai dormir o João e eu vou ficar aqui em cima, depois o João vem e eu vou, depois o Mazinho vem e a gente vai trocando até o dia amanhecer, enquanto isso ele tava pescando, quando ele tava pescando ele identificou o tubarão, ai o tubarão, quando a linha puxou né, ai ele foi dá a linha pro tubarão, só que a linha enganchou na mão dele e arrastou, quando conseguiram pegar, pegaram ele e o tubarão, os dois morto morto, ao mesmo tempo, o tubarão tinha quase 2 metros e mais de 70 quilos, ai ela disse que tava em casa e ficou sentindo uma coisa ruim, viu inclusive um vulto, mas não sabia o que era, mas sabia que tinha alguma coisa ruim acontecendo e começou a pensar no filho, e tá ra ra, ai ela tava em casa sozinha, tava tarde, ai viu aquele vulto entrar dentro de casa e era uma pessoa querendo dar um aviso a ela, e não dava, ai viu um animalzinho parecia um coelho, pulando no quintal, tinha alguma coisa acontecendo, ela só não sabia o que que era, mas tinha uma coisa ruim, ia chegar alguma noticia pra ela, só podia ser, porque aquilo dali não era bom, depois da cena tão ruim que ela tava sentido, no final da tarde, não sei o que,  chegou o pessoal com o corpo do cara, ai ela disse, acabou com a vida dela aquilo dali, a saúde dela foi pro espaço, ficou muito mal, só vivia doente, chorando, até que um dia ele apareceu em sonho, e disse pra ela: Mamãe não chore mais, porque eu tô bem, tô num lugar calmo, eu morri no lugar que eu mais gostava que era exatamente o mar e ai, aquilo ali pra ela, aquele sonho, foi algo que (Alguém diz: a revelação, outra pessoa diz: libertador) deixou ela tranquila. Aqui a gente pode fazer uma interpretação do sonho, como a gente tava falando, numa sociedade onde o sonho, o João não tá aqui …ele tava falando dessas coisas , e ele tava falando exatamente isso, quando muitos sonho são  trabalhados numa perspectiva catalogizada, hoje em dia .. através do sonho é que você tentava entender a neuras das pessoas, tudo de ruim, porque aquela coisa (Esposa do Gerson Jr: O sonho é a realização dos desejos) também né, mas também é patologisado (Esposa do Gerson Jr: Do ponto de vista psicanalítico é a realização dos desejos) e também tem a patologização segundo o João, é mais o sonho não é visto na ciência, muito embora  o Descartes disse que recebeu a mensagem de um anjo pra tornar o sonho científico (João: Essa cabras tiveram sonhos, né) é  … pera ai, o fato é que nessa mulher a história do sonho revelando. Qual o lugar do sonho na nossa sociedade? Tô falando um sonho nesse sentido, o que que revela?, não na perspectiva do desejo, mas subitamente, ou como tá lá na própria bíblia, quando José interpretou o sonho do faraó, interpretando elementos da natureza, isso não acontece, é o desejo, o desejo não realizado, o recalcado,é num sei o que, é assim que isso é segundo a psicologia, segundo o John, John Anderson .. rapaz te digo, vocês estavam falando de mim, rapaz isso é nome de vinho John Oliver da safra de 2010, né não, entendeu, então mas essas pessoas, Dona Maria, se você pegar quem chama de toremzeiro, os antigos,todos eles tinham uma perspectiva de vivencia do território profunda, o que que você vai ter no torém novo, que é a tua pergunta. Eles estão investindo nisso, ai você tem a nova geração invocando o pai Tupã, coisa que não invocava (Esposa do Gerson Jr: Pai  Tupã..) Pai Tupã, quando eu comecei a andar lá em 1990, não tinha esse papo de  Pai Tupã, e é problemático isso? Não é, entender como é que vai ser introduzido a articulação deles com o movimento nacional, grandes lideranças indígenas, no movimento nacional, não reconhecendo os índios do Nordeste como índios, o Xavante que vinheram pra cá, tavam falando, tu falou foi, alguém falou comido esses dias, o xavante, eles, .. O que são xavantes? como dizem meus alunos, os índios de verdade, né (...)
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Relatório 20/09/2013


EDUCAÇÃO INDÍGENA, COLONIALIDADE E SABERES TRADICIONAIS.
GEAD
20 de setembro de 2013

Marzinho, Moise, Sahm, Jon, Valéria, Renata, Camila, João, Patrizia, Anúzia, Mac, Iara, Naiara.
Relatores: José Maclecio de Sousa; Anúsia.


Muitos objetos pelo piso, livros, encartes, revistas, objetos pelo piso, seus signos: “opulência e desigualdade”, “violência no campo”, “Brasil livre de opressões”, “caminho pro o oeste”, “PIB”, “fronteiras”, “petróleo”, “cartas de consórcio”, “secos e molhados”, monumentos, “veias abertas da América latina”, “bárbaras utopias”, “aprendizagem”, “minas de carvão”, “escola verde”, “pedagogia do oprimido”, “memorial”, “Incas”, “marujuara”, “presságios”.

De costume nos pusemos em círculo, sob recomendações de João, aos som que nos acostumamos ouvir no grupo, músicas Tremembé e de outras etnias indígenas brasileiras, alimentam imagens-e-ações, decorre a imaginação do grupo:

De repente, uma criança do Tibete se afasta de sua comunidade, encontra uma árvore sacudida pelos fortes ventos. Caem as folhas. Ouve o menino um som estranho, outro. Aguça a curiosidade. Há um novo que se revela. Que fazer, se sua comunidade condena ou acha atrasado tal manifestação? Aproxima-se, mas nem tanto. Esconde-se na moita. Fica vendo e ouvindo o círculo tribal, das músicas que a velha produzira junto com os demais de sua tribo. Brinca o menino, de decifrar o desconhecido, apesar de sua falta de habilidade com aquele saber. Busca sinônimos daquilo que nunca acessara, mas que ali estava e lhe parecia um tanto quanto comum; [...] Sente liberdade. Vê paisagens do interior. Lugares bucólicos. Atinge a zona rural de Aquiraz-CE. Fica circundada pela horta [...] Circula a energia, permite a visibilidade, o círculo é horizontalidade. Ainda assim, desarmonia. Um descompasso. E também evocação de saudade, o não-presente, uma saudade que marca e fica [...] É infância. Ciranda para crianças. Que desafiadas, se apartam. [...] É um som. Que se reconhece. Não se sabe onde. Mas, se reconhece. Danças circulares, movimentos de vários povos [...] são os povos Xingu, com seus movimentos circulares, suas batidas, o xamanismo, os saberes do pajé/ dos povos. Tambores que induzem ao transe. De onde vem a percepção de que essa dimensão é apenas uma. Estado físico. Cujo equilíbrio se já dá através de seu desligamento.


A imaginação permite conteúdos diversos, que misturados em conversas movimentam os grandes temas: os ritos de passagem porque passam grupos indígenas diversos (derrubadas de colmeias, a captura de tubarão por um jovem...); e a permanência dos saberes tradicionais captados nas fotografias de Sebastião Salgado nesses dias de hoje...
Passam a circular revistas sobre nações indígenas: “Porantim em defesa da causa indígena”, trazidas de Cuiabá-MT por Jon, durante encontro sobre Descolonialidade e temas afins. Lá, por aqui, e em todos os lugares repercute o extermínio de povos indígenas.   Nessa ocasião, houve menções sobre a Carta da Terra; o documento Tbilisi; e, de tratados alternativos das sociedades...

Mas, é claro que seria improvável ficar diante do LP Secos e Molhados sem querer ouvir ao menos uma faixa. Mesmo sem vitrola, toca pelo “Youtube”: “Sangue Latino” e “Primavera nos dentes”.

Sangue Latino
Ney Matogrosso

Jurei mentiras
E sigo sozinho
Assumo os pecados
Uh! Uh! Uh! Uh!

Os ventos do norte
Não movem moinhos
E o que me resta
É só um gemido

Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Uh! Uh! Uh! Uh!
Minh'alma cativa

Rompi tratados
Traí os ritos
Quebrei a lança
Lancei no espaço
Um grito, um desabafo

E o que me importa
É não estar vencido
Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Minh'alma cativa




Primavera Nos Dentes
Secos & Molhados

Quem tem consciência pra se ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa contra a mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade, decepado
Entre os dentes segura a primavera


Cada qual, pois, que pega seu artefato/conteúdo pelo piso. Problemas surgem: Sobre as fronteiras agrícolas, Iara, trata dos conflitos gerados pelos latifundiários, a falácia dos biocombustíveis e o reducionismo da economia verde; Valéria pensa na liquidez do tempo, traduzido por Bauman, fala do tempo indefinido que se faz em relação aos movimentos, desorganização, caos, desarranjo, caos emotivo que lhe toca, que lhe faz marear os olhos “partidos” (PT, CUT, PSTU, PSOL...), do seu e “nosso” orfanato das representações, o seu artefato é “as veias abertas da América latina”; Moise escolhe e faz lembrar o massacre dos Carajás, há mais de dez anos, cuja impunidade demarca nossa história desigual. Maclecio escolhe imagens mexicanas de esculturas com seres fantásticos e recorta citação de Felipe Linhares “um peixe que não é peixe e no qual se põe patas e mãos. Animais que voam, nadam e se lastimam. Isto é uma arte, nada mais...”. Érica seleciona imagens de Machu Picchu, reflete sobre a sensação de roubo que a visita ao lugar lhe fez, ao imaginar a opulência em ouro das igrejas ocidentais usurpando as riquezas do continente em detrimento aos povos nativos, como também remete às violências contra a mulher; Camilla escolhe o livro Pedagogia do Oprimido e relata o individualismo que apreende das lutas sociais ao se deterem às suas bandeiras, não se unindo ao objetivo comum da libertação; Nayara problematiza a escola verde, focada na questão de sua organização física espacial, não indo além para uma formação ampliada, educativa no viés ambiental, pois não incorpora a realidade, não trata da inclusão social, se limita a coleta seletiva, à aquisição de bens sustentáveis; Renata se detém à beleza negra, criticando a imposição dos padrões homogeneizantes e estigmatizantes dos brancos. Moise expõe parte do documentário “Fabricando Tom Zé”, sobre a relação de franceses com outros povos de língua diferente, apresentando e problematizando o conflito e a sobreposição.
Acalora o debate quando os padrões se confundem e se procura argumentações: o que se opõe ao o que? Quem coloniza quando o contra argumento usa dos meios que o colonizador tradicional? Nesse entremeio, Marzinho e Sahnmaroni escolhem a capa do LP Secos e Molhados, repercutindo as letras das canções Sangue Latino e Primavera nos dentes. João debate, fala da possibilidade de criticar aquilo que dizem/acham que não deve ser criticado. Para ele o padrão único é que é o problema, pois caminhamos no fio da navalha cujo cuidado (em troca do termo vigilância antes muito usado por ele) epistemológico permite que não se caia nos perigos da cultura colonizalizante, cita Freire “A compreensão de que estamos certos esse é o erro... minha única certeza é a incerteza”. Patrizia insere questões que remota a dominação romana, aprofundada na dominação da mãe terra, a consolidação de um império global, que não garante futuro, pois as formas de dominação culminam com essa indefinição, fato que se revela em diferentes frentes, como exemplo a construção de um viaduto no Parque do Cocó em Fortaleza-CE. Mas, essa é uma “outra” história... Como tantas outras que insurgiram no encontro e que se deixam por se fazerem abertas. De modo que tudo isto que em aberto está, está, e permanece nos pisos dos dias que nos dai hoje, nesses artefatos modernizantes que agora nos circundam. Vejamos, não estamos agora a ver nas telas todos esses ocorridos? Num impresso no mínimo.
Em relação a isso, basta um ou dois cliques de “delete” para a próxima mensagem de e-mail ou do grupo acessar, eis a modernidade, vai pra lixeira, pouco tempo após, lixo eletrônico, que hipermoderno! Noutro diminutivo, no mínimo, amassam-se os impressos e os lança ao cesto. Pronto, fim de reunião. Por outro, salve, salve, para a sobrevida do que somos e podemos vir a ser, temos pra saber algo sobre: 

EDUCAÇÃO INDÍGENA, COLONIALIDADE E SABERES TRADICIONAIS.

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Relatório GEAD - 27/09/2013


EDUCAÇÃO INDÍGENA, COLONIALIDADE E SABERES TRADICIONAIS.


Presentes: Jon, Renata, Patrizia, Moise, Lorena, Maclecio, Mazinho, Sephora, Camila, Sahm, Erica, Valéria - (12).
Relatores: Valéria e Sahm

O grupo decidiu que iríamos fazer a discussão em um ambiente diferente ao de costume. O argumento utilizado foi o ar condicionado da sala continuar com defeito, mas acho que a maioria queria mesmo era estar ao ar livre e assim foi feito, fomos parar debaixo de uma gostosa árvore na Reitoria da UFC. Entre a brisa suave, reclames de cocô de gato e risos, assim iniciamos o nosso debate, a nossa troca de informações, saberes e experiências.


Renata deu inicio falando sobre a metodologia: Partes diferentes do texto distribuídos para os integrantes do GEAD. Texto: No Encontro das águas, o Encanto da Natureza. Autor: Gerson JR.

Depois de uma acalorada discussão do grupo sobre quem leu os textos e ...

- Sephora: "Evoluído e contaminado".
- Mazinho: Evoluído x atrasado! Se for evoluído como pode contaminar?
- Jon: O próprio João Venâncio chama de "contaminação".
- Sephora: "Pela fala de vocês a gente vê que muita coisa está indo embora. Eu nem sabia o que era índio antes do grupo".
- Valéria: Sobre a concepção do que é ser índio e geralmente é levado pro sentido de atrasado, bem pejorativo, de não saber escrever ou falar.
- Renata: Fala sobre a questão das práticas na terra, seus costumes que vem da tradição.
- Patrizia: Modelo de sociedade de mundo. Conhecimento que eles teriam para ajudar a não degradar o meio ambiente.
- Mazinho: "O mundo deles não é igual ao nosso. Tem muitos deles que não estão nem aí. Maclecio, Renata, João foram algumas vezes e ainda estamos vendo como é".
- Renata: Fala sobre sua experiência com alguns índios no facebook. "Colocando os comentários dos índios no facebook, nessa questão da tradição tem diferença".
- Mazinho: Conta de sua experiência em pescar a noite e da conversa que teve com D. Maria Bela sobre a vida dela.
- Jon: "Acho que foi em Dourado, um Guarani Kaiowá diz que ele não é menos índio por que usa celular. As pessoas questionam ele porque ele faz mestrado. Ele nem gosta desse termo índio - o filhote de carneiro ficou órfã e tomou o leite da vaca, isso não o transformou em vaca".
- Renata: Contando sobre a experiência de um índio loiro de olhos claros em que uma pessoa brincou questionando como ele poderia ser índio.
- Valéria: " O porque da admiração no uso do facebook? Nos assentamentos os jovens usam muito e e-mail também para se comunicar. Os jovens não querem ficar no atraso."
- Patrizia: Fala sobre o que vêm de bom que a tecnologia traz e de ruim também, os tipos de influência em nossa sociedade.
- Erica: Relato sobre sua reunião na Prainha do Canto Verde, 2ª RESEX do CE - a cerca de 15 dias anteriores. Reunião onde seria decidido sobre a sua pesquisa aprovada ou não pela comunidade através do seu conselho. Colocou a reclamação de um pescador nativo sobre a falta de pesquisas sobre a pesca, só sobre o turismo. Necessidades de tecnologias mais evoluídas sobre a pesca para fortalecer a tradição. " Como a gente pode interferir positivamente nesses espaços. A cobrança da comunidade pelo retorno da pesquisa pra própria comunidade".
- Mazinho: "Sobre o Torém é um movimento político, é na tradição sim. Os indígenas agora que estão pesquisando academicamente". Nota da relatora para quem quiser saber mais sobre o Torém: http://www.ifce.edu.br/miraira/Patrimonio/DancasTradicionais/Torem/Torem.pdf
- Renata: "Quem aqui faz um TCC em grupo? Não faz!"
- Patrizia: "É isso que estou colocando! O que vem de lá pra cá, a sua importância."
- Mazinho: "O MEC!"
- Erica: "Na medida em que você se propõe, você vai ter que se enquadrar nas regras deles. O que eu me comprometo a fazer é uma pesquisa engajada, entrar no sistema".
- Renata: "Mas entrar no sistema da uma certa força!"
- Jon: "Tem universidades no mundo que são de índios. Nos Tremembés tem algumas coisas de antropofágica. Quanto mais a pesquisa tiver, mais legitima os Tremembés."
- Patrizia, Erica e Mazinho: Discussão animada sobre o papel da universidade no mundo - poder, opressor, colonizador.
- Valéria: "Existe uma ordem vigente".
- Jon: "Importante legitimar o MEC porque ele interfere a favor dos índios em relação a empresa Coco".
- Patrizia, Jon, Erica e Mazinho: Discussão sobre o papel das instituições na legitimação das comunidades tradicionais em relação as empresas opressoras.
- Mazinho: Conta da sua emoção e responsabilidade de ter sido escolhido para falar com os Tremembés em nome da UFC - Encontro na tribo dos Tremembés na companhia de João Figueiredo e Sandra Petti (foi se tremendo) - Trazer um novo paradigma de educação.
- Renata: "O índice de analfabetismo era alto, 91%. Eles aprenderam a escrever, a usar a biblioteca".
- Mazinho: "TCC em prol da memória deles".
- Maclecio: "Eles são de nosso mundo tentando encontrar o mundo deles".
- Valéria: "Ou estar no mundo deles tentando se encaixar no nosso".
- Patrizia: "Pesquisa mostrando a necessidade desses saberes - Vocês são importantes nesse mundo".
- Erica: "Babi enaltece as pequenas vitórias".
- Mazinho: "Discurso de Babi na Concha Acústica, eu cheguei quase a chorar do Getúlio e do Babi na colação de grau".
- Valéria: "O Getúlio é indígena?"
- Jon: "É".
- Patrizia: “Cada grupo tem algo a contribuir".
- Renata: Conta sobre experiência familiar onde o seu tio levava sempre comida pros encantados quando ia caçar. No dia em que esqueceu voltou só no outros dias e os encantados tinham mudado as árvores de lugar (risos).
- Jon: "Natural está num lugar em que as pessoas estão mexendo no celular (faz o gesto) e de cabaça baixa (risos). Experiência do drop box e porque não pode existir os encantados?"
- Erica: "Que na verdade algumas legitimações são necessárias para algumas pessoas, mas não pros indígenas. O povo ocidentalizado precisa usar as instituições para legitimar o que eles não conhecem".
- Mazinho: "É antropofagia mesmo. Usar como forma de luta".
- Jon: Contou sobre os Tremembés em que um rapaz votou nas eleições passadas em um candidato que não representava os interesses da tribo. "Teve que sair, foi embora".
- Patrizia: "O coletivo está acima do individual. Numa sociedade individualizada..."
- Jon: “Tem bolsas para você ir para outros países para você aprender a tecnologia, mas não tem para você aprender aqui (se referindo aos saberes indígenas tradicionais)”.
- Patrizia: "É isso que começa com essa coisa de legitimação, pode ser isolamento de novo".
- Mazinho: "Como é que uma pessoa muda?"
- Erica: "Quando se relaciona".
- Patrizia: "Pesquisa não é convivência".
- Mazinho: "Pesquisa pode ser convivência. Meu desejo era poder conviver com eles".

- Erica: Conta sobre o conselho da RESEX, a confusão sobre assédio sexual, acusação feita por algumas mulheres a um dos integrantes do conselho afastado na reunião anterior. As mulheres pediram sua expulsão, mas o conselho aguarda o parecer final da justiça. O conselheiro afastado apareceu na reunião com uma comitiva, com capangas e houve ameaças a todos os presentes e barraram a porta da sala. Houve choro, gritos e insultos. Contou a conversa com o professor João Figueiredo na qual disponibilizou o GEAD para acompanha-la até a Prainha do Canto Verde em sua próxima visita. O Professor Jeovah Meireles aconselhou-a a não ir mais na Prainha do canto Verde e finalizar ali a sua pesquisa.


O Grupo do 2º tema: Novos Paradigmas da Educação - Valéria, Jon, Maclecio, Camilla, Sahm, Erica e Mazinho (mesmo sendo do grupo anterior quis contribuir) se reuniram depois de finalizada a reunião para discutir os passos do grupo na apresentação do dia 4 de outubro de 2013. Lembrando que estarão na relatoria: Moise e Anúsia.
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GEAD – 5/10/2013
Novos Paradigmas da Educação


Equipe facilitadora: Maclécio, Valéria e Camilla.
Participantes: Anúsia, Maclécio, Valéria, Camilla, João, Deyse, Renata, Pedro e Nayara.
Relatora: Anúsia.
Legenda:
? – dúvida da relatora
[ ] - fala da relatora

A equipe facilitadora passou por dificuldades para planejar o encontro porque alguns integrantes não puderam participar da reunião. A Virgínia, que tinha atividades a realizar, não pode comparecer por questões de saúde.

O João pediu licença à equipe para realizar a introdução da temática em questão, abordando o tema “Ruptura Paradigmática”.

João: Qual a importância de se discutir novos paradigmas?
Nayara: Discutir os paradigmas é importante para se pensar se eles são adequados.
Maclécio: É importante para a construção do saber.
Valéria: É importante para a quebra do modelo atual.
João: - [Em um mesmo cenário] Cada pessoa vê uma coisa diferente e quem vê a mesma coisa a percebe de maneira diferenciada.
- As pessoas olham de formas diferentes, por exemplo, uns olham mais pra cima, outros mais pra baixo, uns observam mais os detalhes, outros veem de maneira mais ampla.
- A realidade é composta por camadas, nessas camadas estão os valores sociais, pessoais... [O que permite várias leituras do real.] Desta forma, o real é inacessível.  É preciso compreender as camadas (que estão superpostas) da percepção da realidade.
- Kant discute a razão pura a partir das ideias de Descartes, sendo assim, a sua discussão é limitada a cognição. O conhecer a partir da cognição não é suficiente para se mudar algo.
- Paradigmas são os filtros que temos no olhar.
-Ruptura é diferente de separação. Por exemplo, um relacionamento amoroso quando é rompido, os dois passam a não ter mais nenhum tipo de relação; já quando é superado, ele se torna um relacionamento diferente, podendo se tornar, por exemplo, amizade.
Maclécio: Para haver superação, deve haver ruptura ou, pelo ao menos, vontade de que ela aconteça.
João: - Então você acha que para haver a superação, deve haver a ruptura? [pensativo]
 - O que define um paradigma hegemônico? O corpus científico define.
- Nós estamos em uma zona de transição paradigmática, não sabendo exatamente onde estamos.

[Várias fotos foram mostradas para que possamos perceber que as pessoas têm percepções diferentes sobre uma mesma imagem. Uma das imagens mostradas Foi “A Balsa da Medusa”, de Theodor Gericault.]

1-the-raft-of-the-medusa-theodore-gericault.jpg

Camilla: O quadro mostra como as pessoas agem de maneiras diversas diante de uma mesma situação. Depois de muitos dias naufragadas, as pessoas da balsa avistam terra firme. Algumas delas ficam euforias e esperançosas pela salvação, outras nem deram tanta importância, por estarem já cansados e sem perspectivas e outras já desistiram ou morreram.
Renata ou Maclécio(?): Tem uma imagem no Facebook que mostra uma pessoa naufragada avistando terra e ficando muito feliz por achar que aquilo significaria a sua salvação, enquanto que, tinha uma pessoa na ilha que tinha ficado eufórica ao avistar a balsa, pois achava que seria resgatada.
João: - Atualmente tenta-se o contraponto entre os paradigmas cartesiano, dialético e [não copiei o último paradigma].
Slide: Paradigmas:
·       Cosmocêntrico;
·       Teocêntrico;
·       Antropocêntrico;
·       Novos paradigmas emergindo: holístico, dialético, ecocêntrico[?], eco-relacional...
Slide: Crise de paradigma cartesiano
Crise civilizatória – crise ecológica minimamente enfrentada, poder manipulatório, abismo em relação à ética, sistema mundial, neo-capitalismo, mercado definidor da razão humana, precarização da vida humana.

- O paradigma epistemológico se confunde com a crise civilizatória, pois ele é o modo como se vê a vida.
- A representação da realidade é uma representação de uma leitura do real.
Real           Realidade            Representação

Não tenho acesso.
            Vejo aproximado do real.

- O que se fala não é o que se pensa, mas sim uma representação aproximada. Assim como o que se escreve não é o que se fala. Para se passar de uma representação para outra, existem filtros e reformulações sobre o que será dito.
- Uma coisa é o pincel [enquanto mostrava o pincel], outra coisa é a palavra que define o pincel. Ela é uma representação.
Slide:  A crise do paradigma cartesiano.
Problemas resultantes na educação: A civilização técnico-científica invade a escola, multiplicidade e quantidade de associações à infinidade de informações, o relativismo generalizado; a ética se restringe aos fenômenos.

- Os sentidos decorrem do modelo de percepção e as representações são construídas a partir dos sentidos.
- Os paradigmas influenciam as epistemologias que, por sua vez, influenciam as metodologias.
Slide: Física Quântica e o novo paradigma
É um campo inovador.
Max Plank (1901);
Falibilidade da ciência abriu espaço para a subjetividade e outros fatores, porque elementos quânticos não são previsíveis. Uma partícula pode aparecer e desaparecer dentro de um sistema hermeticamente fechado.

Teoria da Relatividade – A posição do observador altera o observado.
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     espiral-do-vetor-das-borboletas-9453038.jpg                  Relatório do dia 11 de outubro de 2013

“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.” (Mario Quintana)
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Novos Paradigmas da Educação
Equipe facilitadora: Sahmaroni, Jon.
Participantes: Anúsia, Camilla, Deyse, Erica, Lorena, Marzinho, Maclécio, Moysele, Patrizia, Renata, Sephora.
Relatório: Patrizia/Renata

Quando o sul se desloca para o norte
Mais uma vez não podemos usar nossa salinha aconchegante, temos que nos deslocar para a Sibéria, a sala adjacente nada aconchegante, cadeiras branco gelo combinando com a imitação do clima do hemisfério norte, colonialidade na pele. Nenhuma dinâmica escaldante (aqueles abraços). O velho (não vou dizer bom) rigor tradicional está em pauta hoje. “Primeiro nós vamos apresentar o texto, depois podemos debater” (Sahmaroni sorriso maroto no rosto). Funciona até certo ponto, logo segue um debate escaldante porque “cultura é verbo”, ou seja, somos dialógicos. A essa altura não consigo mais distinguir quem falou o que, e assim não se sabe onde fala o Mignolo e quais os comentários do GEAD (esse é um abstrato), digamos dos presentes membros do grupo.
Jon e Sahm apresentam trechos do texto seguinte de Walter D. Mignolo:

DESOBEDIÊNCIA EPISTÊMICA:
A OPÇÃO DESCOLONIAL E O SIGNIFICADO DE
IDENTIDADE EM POLÍTICA*


Segundo Sahmaroni o que o autor escreve transpassa por todas nossas pesquisas é muita informação que não é novidade porque vem sendo discutido pelo grupo há tempo.
A desobediência epistêmica significa para Mignolo desencadeamento, ou seja, sair do modelo eurocéntrico, combatê-lo, mas dentro do sistema. Desobediência é um processo de criar uma nova episteme saindo do modelo convencional. Existem oposições dentro do jogo, uma postura de romper e experimentar outra coisa levando em conta críticas que surgem dentro do próprio sistema. Mignolo não apóia a postura “descolonialista” de quem se recusa a estudar tudo o que vem da Europa. Não podemos renegar essas contribuições, mas devemos combater os ismos (Freudianismo, Freireanismo etc.), evitar que os autores se tornem objetos de veneração o que faz com que seus pensamentos se transformam em ismos, ou seja somente aquele autor dá conta de entender o mundo como tal.

Na tentativa de entender o mundo (de dominar o mundo digo eu) cria-se uma política de identidade baseada em conceitos que abstraem e se tornam universais (o negro é assim, o índio é assado, as mulheres, os homossexuais, os jovens etc.).
Todo tipo de saber é utilizado para caracterizar a essência, criando conceitos que depois são naturalizados.
Exemplo: no GEAD todos são ...,  isso é um abstrato que se torna universal, mas é cheio de diferença.
Estudar a essência de certos grupos deixa de fora a questão política, por exemplo, a discussão política dentro da discussão de cultura.
Em política” significa: perceber a construção sócio-histórica que é política, “cultura é verbo”, a modificação da cultura mostra um momento político.
Você racializa quando diz: negro é mais chegado ao manual do que ao intelectual, você cria uma outra espécie humana.
Saída: identidade como construção em política.
Expl. no texto de Mignolo: “Não sou índio sou Aymara – você me fez índio” é uma construção dentro das relações sócio-políticas.
Preciso perceber e criar argumentos políticos para lutar contra o “eu sou isso, eu sou aquilo” está dentro do jogo político.

Comentários:Exemplo no texto de Mignolo:


Eles falam de si como índios
É a negação do que foi negado e é preciso abandonar a negação das pessoas.
É preciso desaprender.
Aprender novo conteúdo, se você aprender um novo conteúdo vai melhorar isso coloca na mesma categoria para resolver o sistema, mas na verdade mantém o sistema.
É preciso desaprender as categorias para poder pensar de outra forma.
A proposta da desobediência epistêmica é perceber e não negar os efeitos, mostrar outros caminhos, valorizar os saberes dos outros.
Exemplo de como quebrar o esquema padronizado na universidade: anos atrás foi criada uma tese por três doutorandos que podia ser lida começando por qualquer página, uma tese que incluía o brincar e o sentir, algo que rompeu com o esquema padronizado e imposto, mas os três alunos tiveram maior dificuldade para serem aceitos. É um exemplo como se pode derreter certos congelamentos digo eu posteriormente.
Como se constrói a identidade da universidade e quais são os efeitos?
Qual é o sentido da universidade?
Opiniões sobre a universidade:
Por exemplo, a escola Tremembé o que ela cria em termos políticos?
“Você me fez estudante eu vou usar isso para lutar para os meus direitos.”
A universidade também é um fazer não somente um blábláblá.
Estou na academia pode ser ruim, pode ser bom. Ela pode ser altamente funcional uma fábrica de tecnologia que entra no sistema de produção, também pode ser usada para legitimar o sistema político, por exemplo, se utilizando de dados pesquisados em prol de um interesse específico, como limpar as ruas de uma cidade de crianças pobres.
A universidade é o lugar onde pode se ter um mínimo de criatividade, pode se expressar o que em outras instituições não se pode, por exemplo, uma ONG.

A universidade reproduz o sistema.
Mignolo diz que não há algo fora do sistema, “mas há muitas exterioridades, quer dizer, o exterior construído a partir do interior para limpar e manter seu espaço imperial. É da exterioridade,das exterioridades pluriversais que circundam a modernidade imperialocidental (quer dizer, grego, latino, etc.), que as opções descoloniais se reposicionaram e emergiram com força”. Ele cita os eventos no Equador e na Bolívia nos últimos 10 anos e enfatiza que “as opções descoloniais e o pensamento descolonial têm uma genealogia de pensamento que não é fundamentada no grego e no latim, mas no quechua e no aymara, nos nahuatls e tojolabal, nas línguas dos povos africanos escravizados que foram agrupadas na língua imperial da região ...” (p. 291)


Na reflexão sobre opções descoloniais Mignolo distingue dois grupos de palavras chaves: desenvolvimento, diferença e nação e interculturalidade e descolonialidade. “O primeiro grupo pertence ao imaginário da modernidade ocidental (nação, desenvolvimento) e pósmodernidade (diferença), enquanto o segundo pertence ao imaginário descolonial.” (p. 292)


Desenvolvimento: “outro termo na retórica da modernidade para esconder a reorganização da lógica da colonialidade: as novas formas de controle e exploração do setor do mundo rotulado como Terceiro Mundo e países subdesenvolvidos” (p. 293), depois que os EUA tomaram o poder dos Ingleses e Franceses após a II Guerra Mundial.


O ser subdesenvolvido agora é o que antes era o ser da colônia é ser tão invisível como as colônias.

“A retórica da modernidade (da missão cristã desde o século XVI, àmissão secular de Civilização, para desenvolvimento e modernização apósa 2ª Guerra Mundial) obstruiu (...) a perpetuação da lógica da colonialidade, ou seja, da apropriação massiva da terra (e hoje dos recursos naturais), a massiva exploração do trabalho (da escravidão aberta do século dezesseis até o século dezoito, para a escravidão disfarçada até o século vinte e um) e a dispensabilidade de vidas humanas” (p. 293).


Oposição ao conceito liberal de desenvolvimento:

  • “... durante a Guerra Fria o conceito liberal de “desenvolvimento” corporificou a reorganização da lógica da colonialidade (...) e encontrou a Teoria da Dependência e a Teologia/Filosofia da Libertação como seu oponente”.
  • “Após o fim da Guerra Fria, novos projetos desenvolvimentistas (nesse momento em termos de Acordo de Livre Comércio [FTA] ou outro tipo diferente) encontraram uma resistência violenta pelos      projetos políticos e econômicos emanados das Nações Indígenas, principalmente na região andina da América do Sul.”
  • “Globalmente, Acordos de Livre Comércio tiveram a oposição de vários movimentos sociais sob a bandeira do “sim à vida” como resposta aos “projetos de morte” incorporados nos FTA.” (p. 295).
Para entender a lógica moderna de desenvolvimento Mignolo cita Gunther Rodolfo Kusch que reporta uma experiência feita por Garci Diez, um dominicano, em Lupaca uma região andina no século XVI e que com indignação relata “o fato de que as mulheres irão produzir tejidos, costurando a pedido de Mallku (a autoridade suprema da região), sem receber, aos seus olhos, nada mais do que um pouco de comida e outros pequenos reconhecimentos. Garci Diez acredita que as mulheres devam receber um salário pelo seu trabalho e é isso que os espanhóis vão lhes dar, ao invés de apenas comida e outros pequenos reconhecimentos variados. Mas, ó infelicidade, as mulheres se recusaram a lidar com os espanhóis, não estão interessadas em salário, e somente farão o trabalho para e quando Malku as pedir para fazê-lo.”


Aqui temos duas lógicas, duas percepções de mundo. O que o dominicano não entende é que o que para ele (segundo sua visão de mundo) é exploração, não o é para as mulheres e que “elas optaram por uma economia qualitativa de reciprocidade comuna, ao invés de uma economia quantitativa na qual o produto do trabalho é recompensado por um salário; uma economia na qual o foco é no objeto e no tempo de trabalho e não em um sistema econômico que funciona de acordo com outra lógica, que produz diferentes subjetividades, e que foca no bem estar da comunidade ao invés de acumulação privada e pessoal” (p.307).


Mas nem todo indígena se identifica com isso, já muitas comunidades indígenas e nativas foram convertidas ao capitalismo, mesmo assim isso não significa que todos tenham sido convertidos. Uma economia pode ser apoiada por indígenas ou afros como também uma economia de reciprocidade comunal poderia ser apoiada por mestiços, crioulos e brancos. A pergunta  segundo Kusch é: “O que seria o impacto de uma economia qualitativa sobre uma economia quantitativa? Qual é o real significado da agitação revolucionária corrente por toda a América. Será apenas um caso de infiltração estrangeira?” (p. 308)


A resposta é superar a política da identidade e substituí-la por uma identidade em política.

“A política da identidade opera na suposição de que identidades essenciais entre as comunidades marginalizadas (por razões raciais, de gênero e sexuais) são as que merecem reconhecimento. Em geral, política de identidades não se compromete em nível de Estado e permanece na esfera da sociedade civil. Identidade em política, ao contrário, desliga-se da jaula de ferro dos “partidos políticos” como tem sido estabelecido pela teoria política moderna/colonial e eurocentrada. (p.312)


Para Mignolo na Bolívia a consciência de que o poder não pode ser tomado (como lembra Dussel), porque o poder não está no Estado, mas nas pessoas politicamente organizadas é alta e clara entre lideres e participantes de questões indígenas.


(Em seguida reporto citações do texto do Mignolo que são mais esclarecentes do que minhas anotações)

“Por isso quero dizer que, na Bolívia, como em qualquer outro lugar hoje da América do Sul e do Caribe, mesmo com a possibilidade de que Evo Morales não termine seu período como presidente, não se mudará de forma alguma a organização política e a mobilização da população indígena. O que conta não é que Evo Morales tenha sido eleito presidente (...), mas a mudança radical que está tomando lugar pela inscrição da identidade em política”. (313)


“Identidade em política, na Bolívia, também deixou clara a fenda entre as versões diferentes da esquerda marxista e os projetos descoloniais indígenas. E isso é basicamente o que está em risco no “levèe éthnique”: descolonização (uma palavra que tem uso corrente nos Andes) não significa mais que o Estado estará nas mãos da elite local (que terminou no “colonialismo interno” da América do Sul durante o século XIX, e na Ásia e na África após a 2ª Guerra Mundial). Descolonização, ou melhor, descolonialidade, significa ao mesmo tempo: a) desvelar a lógica da colonialidade e da reprodução da matriz colonial do poder (que, é claro, significa uma economia capitalista); e b) desconectar-se dos efeitos totalitários das subjetividades e categorias de pensamento ocidentais (por exemplo, o bem sucedido e progressivo sujeito e prisioneiro cego do consumismo)”. (p.313)


“A quebra epistêmica descolonial é literalmente algo mais.

As coisas começaram a mudar quando os povos indígenas ao redor do mundo clamaram por sua própria cosmologia na organização do econômico e do social, da educação e da subjetividade; quando os afro-descendentes da América do Sul e do Caribe seguiram um caminho semelhante; quando os intelectuais islâmicos e árabes romperam com a bolha mágica da religião, da política e da ética do ocidente.” (p.315)


Eles seguiram a opção descolonial “que está acontecendo em escala global pela simples razão de que a lógica da colonialidade (ou seja, capitalismo, formação de Estado, educação de uni-versidade, informação e mídia como mercadoria, etc.) tem e continua “nivelando o mundo” (de acordo com a expressão entusiasta cunhada por Thomas Friedman)”. (p.315)


“A mudança radical introduzida pela opção descolonial se move, se desconecta da idéia ocidental de que as vidas humanas podem ser descartadas por razões estratégicas e da civilização da morte (comércio escravo massivo, fomes, guerras, genocídios e eliminação das diferenças a qualquer custo, como se vem testemunhando no Iraque e no Líbano), em direção a uma civilização que encoraje e comemore a reprodução da vida (...) a comemoração da vida no planeta, incluindo organismos humanos que têm sido “separados” da natureza na cosmologia da modernidade européia; cf. Francis Bacon, Novum Organum, 1605.” (pgs.315-316)


A partir daqui desenvolveu-se um debate sobre o que seria colonização e colonialidade no qual me lancei e parei de anotar o que estava sendo exposto, talvez a co-relatora Renata possa contribuir com algumas observações.

Autores citados no texto de Mignolo reportados no relatório:


DUSSEL, Enrique. 20 tesis de política, Mexico: Siglo VXI, 2006. Introdução e notas de


Vicent Carreta. London: Penguin Books, 1999.

FRIEDMAN, Thomas. The world is flat. A brief history of the twentieth first century.


New York: Farrar, Strauss and Giroux, 2006.


A obra de Gunther Rodolfo KUSCH se estende de 1952 (La seducción de la barbarie) a 78 (Geocultural del hombre Americano,1976, e Esbozo de una antropología Filosófica Americana, 1978). Nesse intervalo ele publicou seus três maiores livros: América profunda (1963), Pensamiento indígena y pensamiento popular en América (1973). O que se segue é um resumo das idéias que ocorrem na obra de Kusch, aqui e assim também como em artigos e entrevistas que ele deu na Argentina e na Bolívia, principalmente.
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Relatório GEAD  11.10.2013
Pautas de discussão:
Ø      A importância de aprender a desaprender enquanto uma prática de desobediência epistemológica.
Ø     A teoria não é suficiente para produzir mudanças e preciso ações. A descolonialidade é uma ação.
Ø     O pensar descolonial é também um fazer descolonial, não é apenas um blá blá blá, é um fazer exige prática, ação, experiência.
Ø     O uso de categorias, de vocabulários enquanto forma de permitir o diálogo e a compreensão do outro. Comparação com o livro Marcelo, martelo, marmelo no qual o personagem cria outra língua só sua e não consegue mais se comunicar com seus pares.
Ø     A desobediência epistêmica não é a negação de tudo o que foi feito, mas olhar as outras possibilidades/coisas.
Ø     Pensamento de fronteira – ninguém cria algo novo do nada.
Ø     Para insurgi você precisa esta dentro.
Ø     Diferença entre superar e romper – É preciso ter sentimento de ruptura, mas saber que o processo e de superação.
Ø     Os jogos de poderes quanto mais sútil mais violento é, comparação do caso do prefeito que pagava pra matar os cachorros e a atitude da UFC de mandar o centro de Zoonose retirar os gatos.
Ø     A identidade é uma construção dentro de um jogo político.
Ø     Podemos usar o conceito de colonialidade para qualquer processo de dominação?
Ø     Atitude descolonial, pensar como pluriuniversal não com universal.
Ø     Opções descolonial: antiuniversalismo; pluriuniversal, pluralidade de explicações e ações, entender que há percepções sociais diferentes.
Ø     Colonialidade tem a ver com dominar o outro negando esse outro, coisificação do outro, dominar o imaginário ao ponto de que o outro negue a si mesmo.
Ø     Discussão sobre a necessidade de quando a um texto pra reunião se faço o esforço de ler.
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